Hormonioterapia para Câncer de Mama
A terapia hormonal é uma forma de terapia sistêmica, o que significa que atinge células cancerígenas em qualquer parte do corpo e não apenas na mama. É indicada para mulheres com tumores receptores hormonais positivos.
A hormonioterapia é frequentemente utilizada após a cirurgia (terapia adjuvante) para ajudar a reduzir o risco da recidiva da doença. Às vezes, ela é iniciada antes da cirurgia (terapia neoadjuvante). Geralmente é administrada por pelo menos 5 a 10 anos.
A hormonioterapia também pode ser usada para tratar a recidiva da doença ou o câncer de mama avançado.
Cerca de 67% dos cânceres de mama são receptores hormonais positivos. Suas células têm receptores que se ligam aos hormônios estrogênio (RE+) e/ou progesterona (RP+), que ajudam as células cancerígenas a crescerem e se disseminarem.
Existem diversos tipos de hormonioterapia para o câncer de mama. A maioria dos tipos de terapia hormonal diminui os níveis de estrogênio ou impede o estrogênio de atuar sobre as células cancerígenas da mama.
Medicamentos que bloqueiam os receptores de estrogênio
Esses medicamentos agem impedindo o estrogênio de atuar nas células do câncer de mama:
Tamoxifeno
Esse medicamento bloqueia os receptores de estrogênio nas células do câncer de mama. Isso impede o estrogênio de se unir às células cancerígenas, que faz com que elas cresçam e se dividam. Enquanto o tamoxifeno age como um antiestrogênio nas células da mama, ele age como estrogênio em outros órgãos, como útero e ossos. Por isso é denominado modulador seletivo do receptor de estrogênio (SERM).
O tamoxifeno pode ser usado de diversas maneiras:
- Em mulheres com alto risco de câncer de mama, o tamoxifeno pode ser usado para reduzir o risco de desenvolver câncer de mama.
- Para mulheres tratadas com cirurgia conservadora da mama para carcinoma ductal in situ, com receptor hormonal positivo, administrar tamoxifeno por 5 anos diminui a chance de recidiva. Também reduz a chance de contrair um câncer de mama invasivo nas duas mamas.
- Para mulheres com câncer de mama invasivo receptor hormonal positivo tratadas com cirurgia, o tamoxifeno pode diminuir as chances de recidiva e aumentar a sobrevida. Também pode reduzir o risco de um novo câncer na outra mama. O tamoxifeno pode ser iniciado após a cirurgia (terapia adjuvante) ou antes da cirurgia (terapia neoadjuvante) e geralmente é administrado por 5 a 10 anos. Para câncer de mama em estágio inicial, é usado principalmente em mulheres que ainda não tiveram a menopausa.
- Para mulheres com câncer de mama hormonal positivo disseminado para outros órgãos, o tamoxifeno pode muitas vezes ajudar a diminuir ou bloquear o crescimento do tumor e reduzir alguns tumores.
Toremifeno. É outro SERM que age de forma similar, mas é usado com menos frequência e só está aprovado para tratar câncer de mama avançado. O toremifeno provavelmente não responde se o tamoxifeno já foi usado e deixou de responder. Esses medicamentos são administrados, por via oral.
Os efeitos colaterais mais frequentes do tamoxifeno e do toremifeno são ondas de calor e secura vaginal.
Algumas mulheres com doença disseminada nos ossos podem apresentar dor e inchaço nos músculos e nos ossos. Isso geralmente diminui rapidamente, mas em alguns casos raros, a mulher pode também apresentar altos níveis de cálcio no sangue que são difíceis de controlar. Se isso acontecer, o tratamento pode precisar ser interrompido por um determinado tempo.
Os possíveis efeitos colaterais são raros, mas importantes:
- Esses medicamentos podem aumentar o risco de desenvolver cânceres de útero em mulheres que já passaram a menopausa. Informe seu médico, imediatamente, se apresentar qualquer sangramento vaginal, um sintoma comum desses cânceres. A maioria das hemorragias uterinas não é câncer, mas esse sintoma sempre precisa de atenção imediata.
- Formação de coágulos sanguíneos são outro possível efeito colateral importante. Geralmente se formam nas pernas e são denominados tromboses, mas às vezes podem complicar e provocar embolia pulmonar. Entre em contato com seu médico, imediatamente, se apresentar sintomas, como dor, vermelhidão ou inchaço na perna, falta de ar ou dor no peito.
- Raramente, o tamoxifeno tem sido associado a acidentes vasculares cerebrais em mulheres na pós-menopausa. Portanto, informe seu médico se apresentar sintomas, como dores de cabeça severas, confusão ou problemas de fala ou para se movimentar.
Dependendo se a mulher já passou a menopausa (ou não), o tamoxifeno pode ter efeitos diferentes nos ossos. Em mulheres na pré-menopausa, o tamoxifeno pode provocar algum desgaste ósseo, mas em mulheres na pós-menopausa muitas vezes fortalece o osso. Os benefícios desses medicamentos superam os riscos para quase todas as mulheres com câncer de mama receptor de hormônio positivo.
Fulvestranto
O fulvestranto é um medicamento que bloqueia e elimina os receptores de estrogênio. Esse medicamento não é um SERM; age como um antiestrogênio em todo o organismo.
O fulvestranto é administrado:
- Isoladamente para tratar o câncer de mama avançado que não foi tratado com outra terapia hormonal.
- Isoladamente para tratar o câncer de mama avançado após outros medicamentos hormonais, como o tamoxifeno e, frequentemente, um inibidor da aromatase, pararam de responder.
- Em combinação com um inibidor de CDK 4/6 ou um inibidor de PI3K para tratar o câncer de mama avançado como hormonioterapia inicial ou após outros tratamentos hormonais terem sido tentados.
É administrado em injeções por via intramuscular. No primeiro mês, a cada duas semanas. Após é administrado mensalmente.
Os efeitos colaterais frequentes a curto prazo podem incluir:
- Ondas de calor ou sudorese noturna.
- Dor de cabeça.
- Náuseas.
- Dor óssea.
- Dor no local da injeção.
Tratamentos que reduzem os níveis de estrogênio
Alguns tratamentos hormonais agem diminuindo o nível de estrogênio no organismo. Como o estrogênio estimula o crescimento do câncer de mama receptor hormonal positivo, a redução do nível de estrogênio pode retardar o desenvolvimento do câncer ou evitar a recidiva.
Inibidores de aromatase
Os inibidores de aromatase são medicamentos que impedem a produção de estrogênio. Antes da menopausa, a maioria do estrogênio é produzida pelos ovários. Mas para mulheres cujos ovários não estão funcionando, seja devido à menopausa ou a determinados tratamentos, uma pequena quantidade de estrogênio ainda é produzida pela enzima aromatase no tecido adiposo. Os inibidores de aromatase agem bloqueando essa enzima.
Esses medicamentos são mais úteis em mulheres que já passaram a menopausa, embora também possam ser usados em mulheres na pré-menopausa se combinados com a ablação do ovário.
Existem três inibidores de aromatase indicados para o tratamento do câncer de mama:
- Letrozol.
- Anastrozol.
- Exemestano.
Esses medicamentos são administrados por via oral diariamente.
Uso em terapia adjuvante. A hormonioterapia pode ser administrada após a cirurgia para reduzir o risco da recidiva. Já foi demonstrado que administrar um inibidor de aromatase isoladamente ou após o tamoxifeno, tem uma resposta melhor do que administrar apenas o tamoxifeno por 5 anos.
Os esquemas de tratamento mais utilizados para esses medicamentos incluem:
- Tamoxifeno, por 2 a 3 anos, seguido por um inibidor de aromatase até completar 5 a 10 anos de tratamento.
- Inibidor de aromatase por 2 a 3 anos, seguido por tamoxifeno por 5 anos.
- Tamoxifeno por 5 anos, seguido de inibidor de aromatase por 5 anos.
- Inibidor de aromatase por 5 a 10 anos.
- Para mulheres que não podem usar um inibidor de aromatase, a opção é tamoxifeno por 5 a 10 anos.
Para a maioria das mulheres na pós-menopausa com câncer de mama receptor de hormônio positivo é indicada a terapia adjuvante com um inibidor de aromatase. Atualmente, o tratamento padrão é administrar esses medicamentos por 5 anos ou alternar com tamoxifeno por um total de pelo menos 5 anos, ou tomar na sequência tamoxifeno por pelo menos 3 anos. Para mulheres com alto risco de recidiva, pode ser indicado um inibidor de aromatase por 10 anos. O tamoxifeno é uma opção para mulheres que não usar um inibidor de aromatase. Administrar tamoxifeno por 10 anos é considerado mais eficaz do que por 5 anos, mas seu médico decidirá o melhor esquema de tratamento para o seu caso.
Possíveis efeitos colaterais. Os inibidores de aromatase tendem a ter menos efeitos colaterais importantes comparados com o tamoxifeno. Eles não provocam câncer de útero e raramente causam trombose. No entanto, os inibidores de aromatase provocam frequentemente dores articulares, que podem ser semelhantes aos sintomas de artrite em diferentes articulações simultaneamente. Esse efeito colateral pode melhorar trocando o inibidor de aromatase. Se isso acontecer, a maioria dos médicos indica o uso de tamoxifeno para completar os 5 a 10 anos de hormonioterapia.
Como os inibidores de aromatase removem todo o estrogênio após a menopausa, podem provocar osteoporose e até mesmo fraturas. Se você está tomando um inibidor de aromatase, seu médico pode prescrever medicamentos para fortalecer os ossos, como bisfosfonatos ou denosumabe.
Ablação ovariana
Para mulheres na pré-menopausa, remover ou desativar os ovários (ablação ovariana), a principal fonte de estrogênio, efetivamente a mulher entra na pós menopausa. Isso pode permitir que outras terapias hormonais, como os inibidores de aromatase sejam usadas.
Existem diversas maneiras de remover ou desativar a função dos ovários:
- Ooforectomia. Cirurgia para remover os ovários. É uma forma de ablação ovariana permanente.
- Análogos de LHRH (Receptor do hormônio liberador do hormônio luteinizante). Esses medicamentos são usados com mais frequência do que a ooforectomia. Eles bloqueiam o sinal que o corpo envia aos ovários para produzir estrogênio, provocando menopausa temporária. Os medicamentos análogos de LHRH incluem a goserelina e o leuprolide, que podem ser usados isoladamente ou com outros medicamentos hormonais (tamoxifeno, inibidores de aromatase, fulvestranto), como terapia hormonal em mulheres na pré-menopausa.
- Medicamentos quimioterápicos. Alguns medicamentos quimioterápicos podem danificar os ovários das mulheres na pré-menopausa que já não produzem estrogênio. Para algumas mulheres, a função ovárica retorna meses ou anos mais tarde, mas em outras, o dano aos ovários é permanente e leva à menopausa.
Todos esses métodos podem provocar sintomas de menopausa, incluindo ondas de calor, sudorese noturna, secura vaginal e alterações no humor.
Tipos menos frequentes de hormonioterapia
No passado, alguns outros tipos de hormonioterapia foram bastante utilizados, mas, atualmente, raramente são administrados. Esses incluem:
- Acetato de megestrol, um medicamento do tipo progesterona.
- Andrógenos (hormônios masculinos).
- Altas doses de estrogênio.
Essas podem ser uma opção se outras formas de hormonioterapia já não responderem, mas como quaisquer medicamentos podem provocar efeitos colaterais.
Para saber se o medicamento que você está usando está aprovado pela ANVISA acesse nosso conteúdo sobre Medicamentos ANVISA.
Para saber mais sobre alguns dos efeitos colaterais listados aqui e como gerenciá-los, consulte nosso conteúdo Efeitos Colaterais do Tratamento.
Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, em 18/09/2019, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.
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