Linfedema

O linfedema é o acúmulo de líquido linfático no tecido adiposo. Isso causa inchaço (edema), mais frequentemente nos braços ou pernas. O linfedema também pode acometer o rosto, pescoço, abdome e órgãos genitais. É importante saber que uma vez que o linfedema se torna crônico, não é mais possível ser curado. Lembre-se de conversar com sua equipe médica sobre os riscos de desenvolver linfedema e o que pode ser feito para diminuí-los. Portanto, uma intervenção precoce e cuidadosa poderá diminuir os sintomas e em casos de linfedema já instalado, evitar que piorem.

      O sistema linfático

O sistema linfático faz parte do sistema imunológico do corpo. Nosso organismo tem uma rede de vasos linfáticos e linfonodos que coletam e transportam o líquido linfático, composto de proteínas, sais minerais, água e glóbulos brancos do sangue. Nos vasos linfáticos, válvulas unidirecionais trabalham junto com os músculos do corpo para ajudar a movimentar o líquido através do corpo. Os linfonodos são pequenas coleções de tecido que funcionam como filtros para substâncias nocivas e nos ajudam a combater infecções.

      Como o linfedema começa?

Em pacientes oncológicos, o acúmulo de líquido linfático pode ser causado por:

  • Cirurgia oncológica, principalmente quando os linfonodos são removidos.
  • Radioterapia que pode lesionar tecidos próximos, podendo incluir os linfonodos ou os vasos linfáticos.
  • Infecções que danificam o tecido circundante ou provocam cicatrizes.
  • Outras condições clínicas, como doenças cardíacas ou vasculares, artrite e eczema.
  • Alterações genéticas ou mutações que envolvam o sistema linfático.
  • Lesão ou trauma em uma determinada área do corpo.

Para pessoas com risco de desenvolver linfedema

O linfedema relacionado ao câncer é frequentemente provocado pela remoção de linfonodos durante a cirurgia do câncer ou pelo próprio tumor, que pode bloquear parte do sistema linfático. O aumento dos glóbulos brancos devido a leucemia ou infecção também pode restringir o fluxo linfático e provocar o linfedema.

Os pesquisadores ainda não sabem exatamente porque alguns pacientes são mais propensos a ter problemas com o acúmulo de líquido do que outros, o que poderia levar ao desenvolvimento do inchaço e linfedema.

Pacientes que tiveram muitos linfonodos removidos e/ou realizaram tratamento radioterápico têm um risco maior de desenvolver linfedema a longo prazo, mas não há como prever quem irá desenvolvê-lo.

O linfedema pode se tornar um problema após a cirurgia ou radioterapia em qualquer tipo de câncer. Porém, está mais relacionado com o tratamento para câncer de mama, próstata,cânceres da região pélvica (como câncer de bexiga, pênis, testículo, endométrio, vulva ou colo do útero), linfomas, melanoma e de cabeça e pescoço.

O linfedema é mais frequente nos braços ou pernas, mas pode acometer outras partes do corpo:

  • Se ele ocorrer após o tratamento do câncer de mama, pode afetar o tórax e axilas, bem como o braço do lado da mama afetada.
  • Após o tratamento de câncer na região abdominal ou pelve o linfedema pode aparecer como inchaço do abdome, órgãos genitais ou em uma ou ambas as pernas.
  • O tratamento de tumores na região da cabeça e pescoço tem sido associado com linfedema na face, boca, olhos e pescoço.

      Prevenção do linfedema

Não existe uma maneira segura de prevenir todos os casos de linfedema relacionados ao câncer. No entanto, existem técnicas cirúrgicas para remover os linfonodos que diminuem o risco de desenvolver o linfedema:

  • O mapeamento reverso axilar é uma técnica que usa um corante azul administrado na parte superior do braço durante a cirurgia para o câncer de mama para investigar os linfonodos que drenam o braço. O cirurgião, se possível, tentará evitar a retirada desses linfonodos para que o líquido linfático possa drenar normalmente.
  • A biópsia do linfonodo sentinela e a dissecção de linfonodos axilares são procedimentos usados ​​para diagnosticar se estão acometidos pela doença. Em caso positivo será removida a cadeia ganglionar afetada. Se o câncer não for encontrado nesses linfonodos, esses procedimentos limitarão o número de linfonodos removidos, para que o risco de linfedema seja menor.

      O que procurar

É importante conhecer os sinais e sintomas do linfedema e diagnosticá-lo precocemente, para iniciar o tratamento imediatamente. Inicialmente a pele pode se tornar mais macia e, ao elevar a parte do corpo afetada, pode diminuir o inchaço. É possível que a área inchada se torne quente, avermelhada e enrijecida. Se o linfedema não for tratado, o movimento e o uso da parte do corpo afetada podem ser limitados e existem riscos de infecção e problemas na pele.

Os sinais e sintomas comuns do linfedema são:

  • Sensação de peso em alguns locais do corpo, como tórax, braço, perna ou abdome.
  • Alteração da textura da pele, como enrijecimento e vermelhidão..
  • Dor, formigamento ou outro desconforto na região.
  • Diminuição dos movimentos e da flexibilidade nas articulações próximas, como mãos, pulsos ou ombros.
  • Edema.
  • Sentir que roupas e sapatos parecem apertados sem qualquer ganho de peso, assim como colares, anéis, relógios ou pulseiras.

      Reduzindo o risco de linfedema

Não existe uma maneira segura de prevenir o linfedema relacionado ao câncer, mas existem maneiras de diminuir o risco e a chance de piorar.

      Consultas médicas regulares

As consultas regulares devem incluir o rastreamento para linfedema. Nessas consultas, leve sempre as medidas da circunferência dos membros afetados (braço, perna) que você registra, em intervalos regulares, isso serve de parâmetro para determinar se existe aumento ou diminuição do edema da região afetada do seu corpo.

      Comunicando alterações ao médico

Após a cirurgia oncológica ou outros tratamentos você aprenderá a reconhecer as alterações na região afetada do seu corpo. Comunique imediatamente o seu médico sobre qualquer mudança no tamanho, cor, temperatura e sensação ou condição diferente na pele.

      Mantendo um peso saudável

Sabe-se que pacientes obesos têm maior risco para linfedema. Converse com seu médico a respeito e descubra  o seu peso ideal  ou como alcança-lo, reduzindo assim o seu risco.

      Exercícios

Alguns tipos de exercício auxiliam na redução do risco de linfedema e outros podem ajudar a melhorá-lo já que o uso da musculatura também auxilia a circulação do líquido linfático. Se você já realizou tratamento cirúrgico ou radioterápico, pergunte ao seu médico quando poderá iniciar a prática de atividade física e que tipo de exercícios são recomendados.

      Evitando infecções, queimaduras e ferimentos

Seu corpo responde à infecção, queimadura ou ferimento enviando líquido extra e glóbulos brancos para a região afetada. Se os linfonodos e vasos linfáticas foram ressecados, é mais difícil para o organismo fazer com que o líquido circule, o que pode desencadear ou agravar o linfedema.

Para as mulheres que fizeram mastectomia, recomenda-se, sempre que possível, evitar a medição da pressão arterial, a coleta de amostras de sangue, administração de soro, injeções ou vacinas no braço afetado.

      Fique atento aos sinais da inflamação

Você sabia que o nome “celulite” é dado à inflamação das células e não aos buraquinhos da pele?  Então, fique atento aos sinais desse problema como vermelhidão, calor local, febre, dor e sintomas parecidos com os de gripe. Comunique imediatamente seu médico caso perceba a presença de, no mínimo, três desses sintomas.

A celulite pode provocar ou agravar o linfedema. Na verdade, se torna um problema crônico e antibióticos podem ser usados para manter tudo sob controle.

      Evitando a pressão ou constrição

A constrição ou compressão do braço ou perna pode aumentar a pressão dos vasos sanguíneos e linfáticos próximos e isso  pode levar ao aumento de líquido e do edema. Alguns profissionais associam esse fato ao início do linfedema.

      Dicas se o braço apresentar linfedema:

  • Use joias soltas, assim como roupas e luvas. Não use nada que aperte seu braço, antebraço e pulso. Certifique-se de que a roupa de compressão se encaixa bem e é usada corretamente.
  • Não carregue malas, bolsas e sacolas penduradas no ombro.
  • Use um sutiã com alças acolchoadas e com folga.
  • Não deixe medirem sua pressão arterial no braço afetado. Se ambos os braços estiverem afetados, a pressão arterial pode ser medida na perna.

      Dicas se a parte inferior do corpo ou perna apresentar linfedema:

  • Use roupas largas. Evite qualquer coisa que se encaixe com muita força ou faça pressão em torno da cintura, pernas ou órgãos genitais, como roupas íntimas ou calças com faixas elásticas apertadas.
  • Sempre use sapatos fechados e bem ajustados, ao invés de sandálias ou chinelos. Evite andar com os pés descalços.
  • Mantenha seus pés limpos e secos. Use meias protetoras macias (de algodão ou tipos acolchoados).
  • A maioria das pessoas com linfedema nas pernas pode se beneficiar usando meias de compressão para se locomover.  Elas ajudam na circulação do líquido linfático pelos vasos remanescentes antes de chegar à circulação central. A meia deve ser bem colocada para aplicar a pressão certa, evitando demasiado aperto perto do topo da meia. Pergunte ao seu médico ou fisioterapeuta como você deve colocá-la.
  • Evite meias soquetes, roupas íntimas ou calças com elástico apertado.
  • Tente não ficar em pé ou sentar em um lugar por muito tempo (mais de 30 minutos). Não cruze as pernas quando estiver sentado.

      Roupas de compressão

Roupas de compressão consistem em mangas ou meias que podem ajudar a controlar o linfedema. Essas roupas ajudam a prevenir e reduzir o inchaço, fazendo circular o líquido linfático do braço ou da perna comprometido. É importante tomar cuidado ao colocá-las e seguir as instruções de sua equipe médica sobre o uso e os cuidados com o vestuário.

As roupas de compressão são frequentemente usadas por pacientes que já apresentam linfedema, mas também servem em casos de redução da chance de desenvolver o edema em determinadas situações onde o risco é aumentando. Por exemplo, viagens aéreas, possivelmente devido às alterações da pressão barométrica. Mas, existem prós e contras para o uso de roupas de compressão em voos longos ou frequentes. Portanto, pergunte ao seu médico se você pode usá-las e se no seu caso, existem fatores negativos. Sob quaisquer circunstâncias, não use roupas de compressão que se encaixem de forma inadequada, pois isso pode aumentar o risco de desenvolver linfedema ou piorá-lo.

Geralmente não é necessário o uso de roupa de compressão para evitar o linfedema durante os exercícios físicos. Mas, se você notou inchaço durante a prática, fale com seu médico.

Para pessoas com linfedema

O linfedema associado ao câncer é mais comumente causado pela remoção de linfonodos durante a cirurgia do câncer ou pelo próprio tumor que pode bloquear parte do sistema linfático. O aumento dos glóbulos brancos devido a leucemia ou infecção também pode restringir o fluxo linfático e provocar linfedema.

      Linfedema agudo ou temporário

O linfedema pode começar logo após a cirurgia oncológica, o que pode ser denominado linfedema agudo ou temporário (de curto prazo). Pode começar poucos dias, semanas ou alguns meses (até um ano) após a cirurgia, geralmente é leve e desaparece por conta própria ou com alguns tratamentos.

Embora esse tipo de linfedema geralmente desapareça com o tempo, informe seu médico imediatamente. A área inchada pode aparecer vermelha e quente, o que pode ser um sinal de um coágulo sanguíneo, infecção ou outro problema que precisa ser investigado e tratado.

Se não existirem outros problemas que causem o inchaço, o linfedema temporário pode ser tratado elevando o braço ou a perna, fazendo exercícios leves e tomando os medicamentos prescritos pelo médico para reduzir o inchaço (inflamação).

      Linfedema crônico

Essa forma de linfedema se desenvolve lentamente ao longo do tempo, podendo aparecer muitos meses (ou até mesmo anos) após o tratamento do câncer e o inchaço pode variar de leve a severo. O líquido linfático que se acumula na pele e tecidos subjacentes pode impedir que os nutrientes cheguem às células, interferindo na cicatrização de feridas e levando à infecções, tornando-se algo muito desconfortável ao paciente.

O linfedema pode ser um problema a longo prazo, mas existem maneiras de ser controlado. Ainda temos muito a aprender sobre linfedema, mas sabemos que existem coisas que você poderá fazer para cuidar de si mesmo e ajudar a diminuir o seu risco, como reconhecê-lo o mais precocemente possível e assim iniciar o tratamento

      Tratamento do linfedema

Existem diversos tipos de tratamentos para o linfedema, como reduzir o inchaço, evitar a evolução do linfedema e diminuir o risco de infecção. O tratamento é prescrito pelo médico e realizado com orientação de um fisioterapeuta.

O fisioterapeuta também pode ajudar o paciente com os cuidados com a pele, massagens, bandagens especiais, drenagem linfática, exercícios e acessórios especiais.

      O que o paciente pode fazer

  • Evite usar muito o braço ou perna do lado operado.
  • Observe atentamente seu corpo na frente de um espelho, comparando ambos os lados do seu corpo e procurando alterações no tamanho, forma ou cor da pele. Se notar qualquer um desses sinais informe, imediatamente, seu médico.
  • Cuide da sua pele para evitar o risco de infecção. Use sempre protetor solar com FPS de pelo menos 30 e evite a exposição aos raios ultravioleta (UV) entre às 10 e 16h.
  • Certifique-se que as roupas de compressão se encaixam adequadamente e que sejam usadas corretamente, para não piorar o linfedema.
  • Se o seu braço começar a doer, deite-se e levante-o acima do nível do seu coração.
  • O exercício regular é parte essencial do tratamento do linfedema, mas procure não cansar demais o ombro e o braço.

      O que os cuidadores podem fazer

  • Fique atento aos primeiros sinais de infecção, como pus proveniente de um corte ou um arranhão, erupção cutânea, manchas vermelhas ou estrias, inchaço, aumento de temperatura do local, sensibilidade, calafrios ou febre. Entre em contato com seu médico imediatamente se você suspeitar que possa ser uma infecção.
  • Ajudar a proteger o ambiente doméstico de possíveis quedas para evitar lesões na pele ou fraturas ósseas.
  • Se o paciente tiver animais de estimação, mantenha as unhas dos animais aparadas para evitar que ele arranhe a pele do paciente.
  • Evite que o paciente seja exposto a temperaturas extremas, como compressas de gelo ou bolsas térmicas de aquecimento sobre a área afetada, limite o tempo de utilização até entender como seu corpo irá responder.

      Quando entrar em contato com o médico

Entre em contato com seu médico ou fisioterapeuta se perceber algum dos sinais de linfedema ou qualquer uma das alterações abaixo:

  • Alguma parte da área afetada, como braço ou perna, ficar quente, vermelha ou inchada de repente. Esses podem ser sinais de infecção (celulite) ou de um coágulo sanguíneo. Você pode precisar iniciar o tratamento imediatamente.
  • Ter um aumento de temperatura não relacionada a um resfriado ou gripe.
  • Apresentar uma nova dor sem causa conhecida na área afetada.

Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, em 01/02/2020, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.

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