[Câncer de Ovário] Karine Ferreira
Aprendendo com Você
- Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Karine - Meu nome é Karine, tenho 25 anos, sou solteira e ainda não tenho filhos. Sou psicóloga, no momento desempregada e moro em Cachoeiras de Macacu, cidade do estado do Rio de Janeiro.
- Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Karine - Em setembro de 2016, ao fazer exames de rotina, foi detectado um "cisto" no meu ovário esquerdo. Até o momento não apresentava risco de malignidade e tinha possibilidade de ser eliminado na menstruação, mas minha médica sugeriu que fosse acompanhado para saber se teria alguma mudança. Meses depois, já no ano de 2017, realizei novos exames e o tumor estava muito diferente, com características que indicavam chance de ser um câncer.
- Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Karine - Inicialmente, antes de saber da possibilidade do câncer, eu sentia dores leves na pelve e um incômodo no abdômen, mas esses são sintomas que podem ser confundidos com coisas mais simples. Ovulação, gases e infecção urinária eram algumas das hipóteses. Além desses sintomas também sentia dores de cabeça com frequência, dor e sangramento durante as relações sexuais. Com o tempo, enquanto aguardava os exames, esses sintomas foram ficando mais fortes e comecei a sentir também dor nas costas.
- Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Karine - O câncer de ovário é muito difícil de ser diagnosticado, pois não é possível realizar biópsia e os exames de sangue e de imagem não são suficientes para fechar o diagnóstico. Então, apesar de ter grande possibilidade de ser maligno desde o resultado das últimas ultrassonografias, o diagnóstico só foi fechado após a primeira cirurgia. A cirurgia foi feita em outubro de 2017, na qual foi retirado o tumor, e também o ovário, pois já estava muito comprometido.
- Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Karine - Quando recebi o diagnóstico, após o laudo das biópsias feitas do tumor que foi retirado, fui inundada por um misto de emoções... O tumor era maligno, era um câncer, um adenocarcinoma seroso grau 1. Medo, incertezas, tristeza e até raiva (o famoso "por que comigo?"). Mas ao mesmo tempo senti um alívio por não precisar fazer outro tratamento além da cirurgia, alívio seguido de mais uma onda de desespero quando recebi a notícia de que precisaria fazer outra cirurgia para saber se ainda tinha células malignas nas áreas próximas de onde estava o tumor.
- Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Karine - Minha maior preocupação no momento foi com relação ao resultado dessa segunda cirurgia que seria feita, o medo de encontrarem células malignas. Mas, felizmente, a cirurgia foi feita em dezembro de 2017 e não foi encontrada mais nenhuma célula maligna. Nessa cirurgia foram retirados meus linfonodos da região pélvica, abdominal e para aórtica para análise. Nessa época eu estava nos períodos finais da faculdade e por conta da doença precisei abrir mão de algumas coisas, como o tão sonhado estágio, e muitas vezes pensei em desistir, pensei que não fosse conseguir. Chorei, ah como chorei! Mas venci! Me formei, sem atrasar, 3 meses após a segunda cirurgia e tive duas grandes vitórias: resultado negativo das biópsias e o meu diploma.
- Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Karine - Após o resultado da segunda cirurgia segui em acompanhamento, fazendo exames e fisioterapia devido aos cuidados que a retirada dos linfonodos requer. Em um desses exames descobri que o tumor havia voltado, no ovário direito. De novo a mesma história, não tinha como saber se era maligno ou não até que fosse feita a cirurgia e saísse o resultado da biópsia. Operei novamente em abril de 2019 e essa cirurgia me causou grande angústia, pois envolveu a retirada do meu outro ovário e optei também por retirar o útero por precaução. Visto que não tenho filhos e tinha o desejo de gerar, essa foi uma grande batalha que precisei enfrentar. Feita a biópsia após a cirurgia, dessa vez se tratava de um tumor borderline, no limite entre o benigno e o maligno. Mais uma vez não precisei de outros tratamentos, como quimioterapia e radioterapia e ainda estou em acompanhamento. Não tenho qualquer sintoma, nem as consequências da menopausa precoce decorrente da última cirurgia são tão cruéis. Sinto calores, apenas, nada além disso e não ganhei peso, como dizem que é comum. Descobrir um câncer tão nova, passar por 3 cirurgias e a rotina de exames e consultas foi difícil, muito difícil. Mas com fé e uma rede de apoio sólida as coisas se tornam mais leves. Acredito que o segredo para que eu não desabasse no meio desse turbilhão de mudanças e acontecimentos foi não me entregar, não paralisar, mas me permitindo sentir. Buscando o equilíbrio, sempre driblando os pensamentos negativos e pensando que tudo terminaria bem. Pensamento e energia positivas são fundamentais.
- Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Karine - Os médicos pelos quais passei sempre me orientaram muito bem com relação a doença e sobre as possibilidades de intervenções e consequências.
- Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Karine - Tive também a ajuda de uma psicóloga, primordial nesse processo. É inegável a importância do acompanhamento psicológico, sobretudo nessa fase da vida. São muitos sentimentos, mudanças... Ninguém como um psicólogo para nos ajudar nesse processo de resignificação e aqui falo como psicóloga e paciente.
- Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Karine - Hoje dou muito mais valor a vida do que antes, não gasto tanta energia com coisas que não valem a pena. Valorizo os pequenos momentos tanto quanto os grandes, aprecio as coisas mais simples da vida com olhar de gratidão constante e faço questão de demonstrar meu amor pelas pessoas. Não digo que foi bom passar pelo câncer, e não! Não foi mesmo! Mas digo que, não podendo escolher passar ou não, eu sou grata por aprender a ser alguém melhor.
- Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Karine - Como moro longe do hospital, tenho direito ao transporte municipal da saúde, um serviço extremamente necessário.
- Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Karine - Tenho dois grandes projetos para o futuro: conseguir um emprego na minha área (psicologia) e adotar duas crianças. Tenho fé que vou conseguir realizá-los!
- Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Karine - Para quem está recebendo o diagnóstico de câncer, eu gostaria de dizer que VOCÊ VAI PASSAR POR ISSO! As dificuldades podem vir, mas foque na sua cura. Não escute histórias negativas, não absorva essas energias. Conheça seu caso, mude seus hábitos, não paralise, pense numa vida pós câncer, porque sim! Existe uma vida pós câncer! E ela vai ser incrível!
- Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Karine - Eu conheci o Oncoguia através do Instagram e sou imensamente grata pelas histórias e orientações compartilhadas.
- Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Karine - Aos políticos brasileiros, eu peço que deem a devida atenção à saúde! Que não haja corte de verbas, que os recursos sejam liberados e devidamente direcionados. Que tenham consciência de suas responsabilidades como gestores!
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