[Câncer de Mama Avançado] Karine Shiroma
Aprendendo com Você
- Instituto Oncoguia - Comece fazendo uma breve apresentação sobre você? idade, profissão, se tem filhos, casadoa, onde você mora... Karine - Me chamo Karine Shiroma, tenho 24 anos completados recentemente (recebi de aniversário um diagnóstico de câncer de mama), sou estudante terminando a faculdade de Relações Internacionais. Atualmente moro em São Paulo, mas minha faculdade fica em Franca e meu estágio em Jundiaí. Não tenho filhos e sou solteira.
- Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Karine - A minha trajetória até descobrir o câncer passou primeiro por um nódulo palpável na mama. Eu senti o nódulo, estava consideravelmente grande quando eu comecei a sentir, mas não passou pela minha cabeça que poderia ser câncer, porque ninguém na minha família teve histórico de câncer de mama, eu havia feito no mesmo ano, logo no início, ultrassonografia das mamas e não havia nada de errado. O nódulo era o único sintoma, não havia mais absolutamente nenhum outro sintoma que poderia indicar ser câncer, não tive mama invertida, não saia líquido, nada! Como minha rotina era de viagens constantes, eu demorei um pouco pra realmente conseguir ir no médico, fui no mês seguinte só.
- Instituto Oncoguia - Você enfrentou dificuldades para fechar o seu diagnóstico? Se sim, quais? Karine - Fui na mastologista e ela me indicou fazer uma US mamas apenas e depois retornasse, mas não disse mais nada. Fiz a ultrassonografia e deu que o tamanho já estava em 6 cm, ela pediu pra fazer uma core biópsia, mas não mostrou nenhuma preocupação, falando que seria mais provável que fosse um fibroadenoma complexo, tanto pela minha idade, meus hábitos saudáveis, e por não apresentar nenhum outro sintoma que indicasse câncer. Então eu estava tranquila. Fiz a core biópsia e o resultado foi Fibroadenoma complexo, um tumor benigno que com cirurgia seria facilmente resolvível. Passei em outra mastologista pra conseguir marcar essa cirurgia o quanto antes e ela me examinando notou que o tamanho do tumor estava parecendo ser maior do que indicado no ultrassom. Ela pediu pra que eu fizesse uma ressonância magnética pra conseguir identificar o real tamanho antes de realizar uma cirurgia. Fiz a RM mamas e o tamanho realmente tinha aumentado de 6cm da US para 9cm da RM em pouco menos de um mês. Na RM ainda tinha indicado a existência de mais 2 linfonodos na axila. A médica achou suspeito e pediu pra que eu realizasse a core biópsia novamente (ainda bem! se fosse só a revisão de lâminas, jamais teria descoberto o câncer). Na segunda core biópsia não tinha jeito, era câncer.
- Instituto Oncoguia - Como você ficou diante do diagnóstico? Quer nos contar o que sentiu, o que pensou? Karine - Eu já estava nessa loucura de exames, consultas há quase três meses e nunca passou pela minha cabeça que poderia ser câncer. Nem nos últimos segundos antes do resultado eu pensei que poderia ser, eu só tenho 24 anos, tenho hábitos saudáveis, não tenho familiares com câncer, não seria EU que teria sido a escolhida. Bem.. foi! Foi e ainda foi no dia seguinte do meu aniversário que eu recebi o diagnóstico. Eu ja tinha acesso ao resultado e quando saiu eu mandei pra minha mastologista. Ela me ligou. Eu tava no metrô. Ela falou que é câncer e me passou o contato de uma oncologista. Tudo por telefone e eu na estação de metrô. Só chorava e chovara lá mesmo, bem no horário de pico da linha vermelha. Fiquei por pelo menos 2 horas lá, sentada chorando, sem saber como reagir, pra quem contar, o que fazer, só eu e meus pensamentos. Tudo passava na minha cabeça. Tudo mesmo. Uma sensação de desespero e impotência gigantesca. Fiquei me questionando sobre tudo que tinha feito até então, por que eu? por que agora? perguntas que eu jamais saberei a resposta.
- Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Karine - Aderir ou não a quimioterapia. Lutar ou não contra o câncer. Naquele momento do choque e na minha total ignorância sobre câncer eu só pensava se valeria a pena eu tentar lutar contra essa doença que já estava em estágio avançado e bastante agressivo fazendo uma quimioterapia e me deixando debilitada pra viver de fato a vida, ou seria melhor eu não aderir ao tratamento e deixar o câncer ir tirando aos poucos minha qualidade de vida até não dar mais? Pensava que com essa segunda opção eu poderia pelo menos viver livremente, apesar de pouco tempo, seria uma vida que eu estaria disposta, não estaria enfrentando os efeitos colaterais da quimioterapia. Seria uma vida que eu saberia que tenho prazo, mas como eu não estava sentindo nenhum outro sintoma além do nódulo, fazia sentido pra mim. Mas seria egoísta demais viver assim. Eu não tinha contado pra ninguém até então, guardei por uns dias pra mim mesma.
- Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Karine - Eu já iniciei o tratamento. Por se tratar de um câncer que a princípio gerou dúvidas médicas se tratava de um carcinoma ou sarcoma, eu iniciei com a fase vermelha da quimioterapia o quanto antes, porque o tumor já estava com 11cm, até que o diagnóstico correto saísse. Então me encontro na fase vermelha da quimioterapia.
- Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é/foi o tratamento mais difícil? Por quê? Karine - Por ora só fiz a fase vermelha da quimioterapia.
- Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral do tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Karine - Estou tomando muita medicação para náuseas, mas mesmo assim ainda senti um pouco de enjoos leves. Muito cansaço, indisposição, fraqueza. Pra tentar não sentir isso tento fazer caminhadas, mas depois que fiz uma caminhada até a farmácia sozinha e me deu tontura e minha pressão caiu, eu fico um pouco receosa de sair pra caminhar.
- Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Karine - É uma relação de paciente - médico mesmo, é uma pessoa atenciosa e solícita.
- Instituto Oncoguia - Você se relacionou com outros profissionais? Se sim, quais e por quê? Karine - Até de fato absorver que eu iria fazer quimioterapia, eu passei por outros oncologistas e mastologistas pra ter certeza que eu não teria outra saída. Então tive avaliação e contato com mais de uma oncologista, até ter a certeza de onde e com quem fazer o tratamento.
- Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Karine - Sim, já fazia antes de receber o diagnóstico. Ter o acompanhamento psicológico tem sido crucial, sobretudo nessa nova fase da minha vida que ainda tudo é recente. Manter a cabeça bem é o que mais me preocupava pra enfrentar todo o processo que eu ainda preciso enfrentar. Sempre tive muito equilíbrio emocional, então qualquer coisa que abale meu emocional eu saio totalmente da minha zona de conforto e entro em desespero. Eu sabia e ainda sei que, manter a minha cabeça saudável é a solução pra eu vencer o câncer, ele vai me ajudar em todo o resto estando bem.
- Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Karine - Entediante. Eu tenho 24 anos e sempre vivi uma vida muito agitada, até antes do meu diagnóstico era eu fazendo viagens semanais de São Paulo, Franca e Jundiaí. Do nada eu me encontro em uma cama todos os dias. Tenho vontade de fazer planos, pensar grande, agitar minha vida, mas eu não posso, o que deixa tudo muito frustrante, ainda mais quando eu vejo nas redes sociais meus amigos saindo, se divertindo, paquerando e eu não conseguindo fazer isso. Parece que estou limitada ao agora e cada dia é um dia novo, tudo parece muito demorado e os dias só não passam.
- Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Karine - Eu ainda estou fazendo estágio, meus chefes foram super compreensíveis. Então ainda me mantenho, mas não com a mesma escala híbrida que eu tinha, agora totalmente home office e muito mais leve a carga, mas sei que logo menos vou ter que sair, porque estagiário não tem direito nenhum e eu sinto que só sou um peso na equipe.
- Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Karine - Chore. Coloque tudo tudo pra fora, tudo mesmo. Considere seu tempo, considere suas vontades e pense exclusivamente em você. É o seu momento, é o momento pra você entender o que sente e colocar sua vida e sua saúde em primeiro lugar, física e psíquica. Fale sobre isso, converse com alguém, bota pra fora seus sentimentos e suas angústias, ninguém jamais vai te julgar nesse momento e não se prenda ao pensamento que as pessoas vão ter dó de você. Talvez tenham, talvez enxerguem como coragem, mas quem liga? É o SEU processo, quem precisa julgar é você.
- Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Karine - Primordialmente, fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) para garantir o acesso universal à saúde de qualidade, ele é imprescindível pra saúde pública e invejável em outros países, realmente um sistema que devemos ter orgulho! Além tambem de promover a educação em saúde para que a população possa se informar sobre o câncer e tomar medidas para prevenir a doença, não importando a idade. No meu caso, eu não teria risco nenhum, tenho menos de 25 anos, não tenho histórico familiar e faço anualmente exames pra checkup. É uma doença imprevisível. Outro ponto que eu ressaltaria também é a reinserção dos pacientes curados do câncer no mercado de trabalho. Vi muitos relatos de pessoas que não conseguiram emprego por que a empresa questiona sobre o tratamento e pensa nos prejuízos com o plano de saúde que a empresa pode obter contratando. Então, vale a conscientização e sensibilização também sobre a reinserção dessas pessoas.
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