[Leucemia Mieloide Aguda (LMA)] Silas Oliveira Dos Santos

Compartilhando Experiência
  • Instituto Oncoguia - Conte-nos um pouco sobre você. (idade, onde mora, o que faz, o que mais quiser) Silas - Tenho 52 anos, moro no Rio de Janeiro e trabalho como administrador. Eu gostaria que meu depoimento ajudasse alguém.
  • Instituto Oncoguia - Quem em sua família tem/teve câncer? Silas - Minha esposa, a Sandra, de 53 anos.
  • Instituto Oncoguia - Sabemos que o diagnóstico de um câncer também tem um impacto grande na família, como você tem lidado e ou lidou com esse momento? Silas - Nós temos dois filhos, dois meninos e nossa vida sempre foi uma luta. Ao completarmos 30 anos de casados, os meninos já tinham dado um rumo na vida deles e achamos que íamos relaxar e curtir a vida.
    Então veio essa pancada da doença. Tive que tirar força de onde não tinha para ajudar, hoje me sinto destruído, parece que fui atropelado por um caminhão. Ainda não tive como ir ao médico ou no psicólogo.
  • Instituto Oncoguia - Quais foram os principais desafios enfrentados pelo paciente? Silas - A quimioterapia é uma coisa muito difícil, deixa a pessoa muito debilitada. A queda do cabelo, a primeira internação dela... foram dois meses direto e ela não se olhava no espelho. Na primeira alta dela quando  chegou em casa (tem um espelho enorme no meu quarto), quando ela se olhou, eu nunca a vi chorar tanto igual aquele dia. Estava careca, 30 quilos mais magra, choramos junto com ela.
  • Instituto Oncoguia - De que forma você ajudou seu familiar? Silas - Ajudei em tudo no total entre o tratamento da leucemia em um hospital e o tranplante de medula em outro. Foram cinco meses de internação, mas ela não ficou sozinha nenhum dia. Ela tem duas irmãs e nunca deixei elas fazerem nada em casa pra mim, assumi toda a responsabilidade de lavar, passar, cozinhar, cuidados com ela quando foi necessário. Enfim, fiz tudo que pude, ainda faço, pois hoje ela ainda só tem nove meses do transplante.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou se informar sobre a doença? Isso lhe ajudou? Silas - Sim, ajudou muito pouco, achei que faltam informações sobre a leucemia e sobre o transplante. Acho que todas as pessoas que fazem o tranplante de medula ou familiares deveriam gravar vídeos e postar no youtube. Acho que ajudaria muito, entender que cada caso é um acaso.
  • Instituto Oncoguia - Quais foram as principais dificuldades que você enfrentou como familiar cuidador? Silas - Foram muitas, desde a primeira alta que o médico falou que ela poderia ter febre e se desse tinha que correr para o hospital por causa da netropenia, até hoje dois anos depois, que está tudo bem. Eu ainda durmo colocando a mão nela pra ver se não está com febre. Até hoje toda vez que chego no hospital, para as consultas de rotina, me dá dor de barriga. Acho que meu psicológico ficou muito afetado.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou formas de se cuidar melhor? Se sim, quais? Silas - Sempre fui ansioso extremo eu reconheço, e o ansioso vê um palito de fósforo e enxerga um fogueira, isso fez muito mal pra mim. Dia 7 de fevereiro eu estava no INCA fazendo a internação dela para o transplante e meu sobrinho meu ligou de São Paulo e  falou que minha irmã caçula tinha sido assassinada, dois meses depois disso meu pai infartou de um dia pro outro, e eu cuidando dela com todos aqueles protocolos pós transplante. Ainda não conseguir me cuidar, me sinto muito mal, apesar de tudo estar bem, me sinto destruído.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou apoio psicológico? Se sim, de que forma isso lhe ajudou? Silas - Ainda não consegui fazer isso, me sinto muito mal, muito pesado. Não reclamo de ter cuidado dela, sei que ela faria dez vezes mais por mim, mas me sinto doente. Não me vejo diante de um profissional me abrindo, sempre fui muito fechado.
  • Instituto Oncoguia - Que conselho ou dica você daria para um familiar que está enfrentando o câncer em casa? Silas - Baseado em minha fé, eu digo que a última palavra é de Deus. Os médicos podem falar o que quiserem, mas a última palavra é dele. A fé é uma força poderosa, a fé faz vencer. O amor tudo sofre, tudo suporta, tudo espera, eu vi minha esposa careca duas vezes, magra, mas eu olhava para ela e via a menina que eu conheci quando a gente tinha 16 anos. Isso faz toda diferença.
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