[5º FÓRUM] Um olhar global
O Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, pela primeira vez debateu este ano a necessidade de medidas globais para combater a expansão do câncer. "Abrimos um caminho para levar à área da economia um tema tão importante que é o controle do câncer, um desafio global que representa uma ameaça crescente à saúde pública mundial”, diz o diretor-geral do INCA, Luiz Antonio Santini (foto).
Hoje, milhões de pessoas morrem por câncer em todo o mundo – 40% a mais que o observado duas décadas atrás, segundo dados publicados no The Lancet Oncology (Vol. 16, No.2, p133–134, Feb 2015). É a doença que mais cresce no mundo, ao lado das cardiovasculares. A grande diferença é que existe um decréscimo mais acelerado nas taxas de morte por doenças cardiovasculares em relação às taxas de morte por câncer. A agência de pesquisa da OMS prevê que em 2030 serão diagnosticados 22 milhões de novos casos de câncer, com 13 milhões de mortes.
"Esse impressionante peso da doença na população global representa um gasto global estimado hoje em 2 trilhões de dólares, aproximadamente 1,8% do PIB mundial. Nem os países mais ricos do planeta conseguem pagar a conta. Existe uma crise na estratégia atual de enfrentamento do câncer e das concepções da sociedade a respeito do problema”, acredita Santini, do INCA.
Durante o 5º Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia, o diretor-geral do INCA esclareceu os principais encaminhamentos do Fórum de Davos e mostrou em números o argumento que põe em xeque a sustentabilidade do modelo atual de enfrentamento do câncer. Nos Estados Unidos, cada tratamento oncológico custa em média 10 mil dólares por mês e existem 14 milhões de pessoas sobreviventes de câncer. "É um forte sinal de alerta que não pode mais ser ignorado. A própria Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em relatório de 2014, reconheceu a necessidade de mudanças”, prosseguiu o gestor do INCA. "Hoje, os progressos na redução da mortalidade por alguns tipos de câncer vêm sendo feitos com um volume de gastos extremamente elevados. Nos Estados Unidos, o mesmo resultado é obtido com o dobro de gasto em relação à Europa”, argumenta Santini.
Paradoxos e Soluções
Cai por terra o estereótipo do câncer como doença de países ricos para privilegiar um olhar sobre o câncer como a doença que rapidamente vem se tornando a principal causa de morte da atualidade. O pior é que países menos desenvolvidos e de baixa renda consomem 5% dos recursos gastos em câncer e apresentam 80% do peso da doença.
Por tudo isso, a sociedade europeia reafirmou em 2012 a importância de prevenir o que pode ser prevenido, tratar o que é tratável e melhorar a qualidade de vida, com a criação do Fórum Mundial de Oncologia, que tem a participação do Brasil, através do INCA.
Estamos ganhando a guerra contra o câncer? Infelizmente não. As atuais estratégias de controle de câncer são largamente insuficientes. Assim, foi lançado o desafio "Stop the cancer now/ Pare o câncer agora”, formulado dentro das diretrizes das Nações Unidas, de reduzir 25% das mortes por câncer até 2025. O esforço vai além das propostas de prevenção primária e detecção precoce, diagnóstico e tratamento. O Fórum propôs também um novo modelo de pesquisa, com foco nas reais necessidades dos pacientes, com a ideia de promover o desenvolvimento de modelos mais sustentáveis de P&D e de parcerias de desenvolvimento público-privadas que possam encontrar novas terapias anticâncer e de fato fazer a diferença na vida dos pacientes.
As recomendações do Fórum Mundial de Oncologia preveem práticas baseadas em evidências, e propõem priorizar a detecção precoce, o diagnóstico básico e a cirurgia de alta qualidade, com profissionais treinados. O Fórum também recomenda proporcionar o acesso à radioterapia e instituir cuidados paliativos, que podem ser ampliados com treinamento adequado de equipes de atenção primária, saúde comunitária e saúde da família, segundo as orientações. No entanto, o Fórum vê com reservas o otimismo gerado pelas novas drogas-alvo. "Uma avaliação mais sóbria dos resultados mostra o desafio de superar a resistência, o que motiva uma chamada ao mundo acadêmico para que assuma mais espaço na descoberta e no desenvolvimento inicial de drogas. Para vencer o mecanismo de resistência são necessários processos muito caros e muito arriscados. O setor comercial é avesso a riscos, daí a necessidade de trazer para esse processo parcerias que vão além da indústria”, defende Santini.
Diante de questões que desafiam globalmente o controle do câncer e do impacto econômico representado hoje pelas neoplasias, o tema do câncer chegou a Davos e saiu de lá com a proposta de criar um Fundo Global para o Controle do Câncer, no esteio de exemplos de sucesso, como o Fundo Global da Luta contra HIV/AIDS, Tuberculose e Malária; o Fundo Global de Vacina, e o UnaAids, outro fundo dirigido ao financiamento à saúde adotado como benchmark dessa estratégia global.
O papel da América Latina foi reconhecido na Suíça, assim como a criação da rede dos Institutos Nacionais de Câncer na região é mais uma iniciativa do Fórum de Davos, que tem promovido articulações para a troca de experiências e o enfrentamento do câncer.
UICC
A União Internacional de Controle do Câncer há tempos argumenta em defesa de ações globais, com a presença de 830 organizações, de 155 países. A meta é assegurar globalmente 25% de redução de mortalidade por câncer até 2025. "A palavra de ordem é trabalhar em rede”, diz Maira Caleffi, que representou a UICC no 5º Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia promovido pelo Oncoguia.
As previsões da UICC alertam para 4 milhões de mortes precoces pelo câncer, em pessoas com 30 a 69 anos, em plena idade produtiva. "Esse é o peso global do câncer, com enorme impacto social e também econômico, que se impõe como um desafio para todos nós”, acrescenta Maira.
Por Valéria Hartt/OncoNews
Hoje, milhões de pessoas morrem por câncer em todo o mundo – 40% a mais que o observado duas décadas atrás, segundo dados publicados no The Lancet Oncology (Vol. 16, No.2, p133–134, Feb 2015). É a doença que mais cresce no mundo, ao lado das cardiovasculares. A grande diferença é que existe um decréscimo mais acelerado nas taxas de morte por doenças cardiovasculares em relação às taxas de morte por câncer. A agência de pesquisa da OMS prevê que em 2030 serão diagnosticados 22 milhões de novos casos de câncer, com 13 milhões de mortes.
"Esse impressionante peso da doença na população global representa um gasto global estimado hoje em 2 trilhões de dólares, aproximadamente 1,8% do PIB mundial. Nem os países mais ricos do planeta conseguem pagar a conta. Existe uma crise na estratégia atual de enfrentamento do câncer e das concepções da sociedade a respeito do problema”, acredita Santini, do INCA.
Durante o 5º Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia, o diretor-geral do INCA esclareceu os principais encaminhamentos do Fórum de Davos e mostrou em números o argumento que põe em xeque a sustentabilidade do modelo atual de enfrentamento do câncer. Nos Estados Unidos, cada tratamento oncológico custa em média 10 mil dólares por mês e existem 14 milhões de pessoas sobreviventes de câncer. "É um forte sinal de alerta que não pode mais ser ignorado. A própria Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em relatório de 2014, reconheceu a necessidade de mudanças”, prosseguiu o gestor do INCA. "Hoje, os progressos na redução da mortalidade por alguns tipos de câncer vêm sendo feitos com um volume de gastos extremamente elevados. Nos Estados Unidos, o mesmo resultado é obtido com o dobro de gasto em relação à Europa”, argumenta Santini.
Paradoxos e Soluções
Cai por terra o estereótipo do câncer como doença de países ricos para privilegiar um olhar sobre o câncer como a doença que rapidamente vem se tornando a principal causa de morte da atualidade. O pior é que países menos desenvolvidos e de baixa renda consomem 5% dos recursos gastos em câncer e apresentam 80% do peso da doença.
Por tudo isso, a sociedade europeia reafirmou em 2012 a importância de prevenir o que pode ser prevenido, tratar o que é tratável e melhorar a qualidade de vida, com a criação do Fórum Mundial de Oncologia, que tem a participação do Brasil, através do INCA.
Estamos ganhando a guerra contra o câncer? Infelizmente não. As atuais estratégias de controle de câncer são largamente insuficientes. Assim, foi lançado o desafio "Stop the cancer now/ Pare o câncer agora”, formulado dentro das diretrizes das Nações Unidas, de reduzir 25% das mortes por câncer até 2025. O esforço vai além das propostas de prevenção primária e detecção precoce, diagnóstico e tratamento. O Fórum propôs também um novo modelo de pesquisa, com foco nas reais necessidades dos pacientes, com a ideia de promover o desenvolvimento de modelos mais sustentáveis de P&D e de parcerias de desenvolvimento público-privadas que possam encontrar novas terapias anticâncer e de fato fazer a diferença na vida dos pacientes.
As recomendações do Fórum Mundial de Oncologia preveem práticas baseadas em evidências, e propõem priorizar a detecção precoce, o diagnóstico básico e a cirurgia de alta qualidade, com profissionais treinados. O Fórum também recomenda proporcionar o acesso à radioterapia e instituir cuidados paliativos, que podem ser ampliados com treinamento adequado de equipes de atenção primária, saúde comunitária e saúde da família, segundo as orientações. No entanto, o Fórum vê com reservas o otimismo gerado pelas novas drogas-alvo. "Uma avaliação mais sóbria dos resultados mostra o desafio de superar a resistência, o que motiva uma chamada ao mundo acadêmico para que assuma mais espaço na descoberta e no desenvolvimento inicial de drogas. Para vencer o mecanismo de resistência são necessários processos muito caros e muito arriscados. O setor comercial é avesso a riscos, daí a necessidade de trazer para esse processo parcerias que vão além da indústria”, defende Santini.
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UICC
A União Internacional de Controle do Câncer há tempos argumenta em defesa de ações globais, com a presença de 830 organizações, de 155 países. A meta é assegurar globalmente 25% de redução de mortalidade por câncer até 2025. "A palavra de ordem é trabalhar em rede”, diz Maira Caleffi, que representou a UICC no 5º Fórum Nacional de Políticas de Saúde em Oncologia promovido pelo Oncoguia.
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Por Valéria Hartt/OncoNews
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