7º Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão

Por mais atenção ao câncer de pulmão: ciência, dados e parcerias

A 7ª edição do Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão buscou dar voz à visão de gestores públicos, especialistas, cientistas e ativistas sobre o tema. Ao longo da programação, foram discutidos temas como a evolução do cenário do câncer de pulmão no Brasil e no mundo, políticas públicas de prevenção e combate à doença, e os avanços científicos sendo realizados para o tratamento da doença. 

O Oncoguia também apresentou uma pesquisa inédita sobre as prioridades de pacientes com câncer de pulmão. Além disso, especialistas convidados apresentaram diversas experiências exitosas sendo desenvolvidas no tema da doença.

O evento aconteceu no formato híbrido, das 10h às 17h, e reuniu 120 pessoas para a programação presencial no Museu da Imagem e do Som (MIS).

Confira os melhores momento da programação abaixo:

Cenário do câncer de pulmão no Brasil: desafios, prioridades, e novidades 

Para abrir as discussões do dia, foi realizada uma apresentação do Dr. Roberto Gil, Diretor-Geral do Instituto Nacional do Câncer (INCA). O especialista frisou a importância de organizar a rede de serviços para garantir o atendimento adequado de pacientes no SUS. Demonstrou, também, preocupação com os gastos crescentes com medicamentos, e apontou para a necessidade de discutir estratégias para a garantia da sustentabilidade do sistema.

A seguir, a Dra. Clarissa Mathias abordou a visão internacional sobre o câncer de pulmão. Em diálogo com o Dr. Roberto Gil, apontou que as preocupações sobre a sustentabilidade do sistema de saúde também se reproduzem no cenário internacional.  Na sequência, a Dra. Sandra Marques apresentou a Política Estadual de Controle ao Tabaco do Estado de São Paulo, e frisou a importância do investimento público em programas sérios de prevenção e controle do tabagismo.

Luciana Holtz, então, apresentou a Pesquisa realizada pelo Oncoguia com pacientes de Câncer de Pulmão. O estudo revelou que a prioridade dos pacientes é estender o tempo de vida, se possível, maximizando a qualidade de vida.  Por fim, a Dra. Clarissa Baldotto apresentou as novidades do cenário do tratamento do câncer de pulmão, com destaque para as terapias-alvo que revolucionaram as perspectivas de vida dos pacientes. Destacou, no entanto, que ainda é necessário discutir estratégias para viabilizar o acesso a estas novas tecnologias.

Avanços que não chegam aos pacientes: meu SUS não é igual ao seu SUS

Introduzindo a tarde de discussão, Helena Esteves, gerente de Advocacy do Oncoguia, e Fernando Moura, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e membro do comitê científico do Oncoguia, apresentaram o recorte para o câncer de pulmão no estudo do “Meu SUS não é igual ao seu SUS”, destacando as desigualdades regionais e de acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. 

Os especialistas enfatizaram como as disparidades socioeconômicas, geográficas e culturais impactam a qualidade e a disponibilidade das novas tecnologias oferecidas aos pacientes oncológicos pelo sistema público.  

O questionamento da pesquisa era se houve avanços durante os 7 anos que separam a segunda da primeira versão do estudo. Para isso foi realizada uma nova coleta de dados demonstrando que os protocolos dos hospitais oncológicos atendem de forma satisfatória a DDT 2014, a qual se encontra com necessidade de atualização já que ocorreram novas incorporações durante os últimos 10 anos e que não constam na DDT. A falta de atualização da DDT nos traz uma importante reflexão dos avanços que não chegam aos pacientes, como a nova tecnologia da imunoterapia, frisada pelo Dr. Fernando Moura, que pode trazer melhor sobrevida e qualidade de vida ao paciente. “Mais direcionados, essas terapias geram menos internações, menores taxas de recidiva e de complicações, trazendo maior benefício clínico, tempo de vida e qualidade de vida aos pacientes e não são nem mencionadas na DDT”.

Essa mesa nos mostrou a necessidade urgente de atualização da DDT, seguindo as novas incorporações de tecnologias, como a revisão do pagamento das APACs, para que os pacientes possam ter a chance de uma melhor sobrevida e qualidade de vida durante o tratamento.

Iniciativas para mudar a realidade do câncer de pulmão

A segunda mesa da tarde demonstrou como experiências exitosas estão fazendo a diferença no rastreamento do câncer de pulmão em seus territórios, como a carreta Pro Pulmão, apresentada por Dr. Ricardo Sales, cirurgião torácico, professor pesquisador no Centro Universitário SENAI CIMATEC, responsável pelo programa Pró Pulmão em Salvador, com uma unidade móvel que impactou a quantidade de pacientes que foram diagnosticados precocemente e ressaltou a importância da atenção primária no apoio com os agentes comunitários de saúde. 

Em seguida, a Dra. Suzana Tanni apresentou o projeto Modelo Inspire - Saúde respiratória na cidade de Botucatu- SP, para a prevenção do câncer de pulmão e doenças respiratórias. O projeto consiste em ações voltadas para a governança, prevenção, capacitação, serviço multi e interdisciplinar, e a conexão da atenção primária com o centro de alta complexidade tornando o programa eficaz e sustentável.

Na sequência, o Dr. Gustavo Prado, doutor em pneumologia, coordenador da comissão de Câncer de pulmão da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), e o Dr. Daniel Bonomi, Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), apontaram o posicionamento das Sociedades Médicas sobre o cenário do câncer de pulmão e comemoraram a criação da Aliança para o Combate do Câncer de Pulmão. A iniciativa foi desenvolvida em favor do rastreamento do câncer de pulmão, enfatizando a implementação de um estudo de custo x efetividade, a fim de orientar o rastreamento como uma estratégia possível no Brasil para o diagnóstico precoce.

O cenário da patologia foi discutido pelo Dr. Clovis Klock, presidente da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), enfatizando o gargalo causado no diagnóstico por conta da falta de patologistas no Brasil. Além disso, ele também enfatizou a importância de avanços tecnológicos e inovações, como a patologia digital e soluções de Inteligência Artificial, para os laudos patológicos. Além disso, ele também menciona a biópsia líquida como o futuro dos diagnósticos patológicos. 

A mesa foi finalizada com a experiência da Dra. Evangelina Araújo, doutora em Patologia e idealizadora do Instituto Médicos pelo Ar Limpo, que trouxe a atuação do Instituto em políticas públicas no combate à poluição do ar e mudança do clima. O contato com a poluição atmosférica é a primeira entre 10 prioridades em saúde definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização das Nações Unidos (ONU) e é apontada como o primeiro fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis. 

Pulmão: o órgão vital que precisa de muita atenção

No fim da tarde, a Dra. Margareth Dalcolmo, presidente da SBPT, fez uma apresentação chamando profissionais de saúde para contribuir socialmente em causas de saúde. Para a médica, é preciso “sair dos casulos para criar e participar de linhas de cuidados para as pessoas”. Além disso, ela também alertou que “os homens estão sendo nocivos ao próprio homem”, mencionando que, no Brasil, houve uma diminuição de 40% para 10% de pessoas tabagistas na população, no entanto, a indústria investe pesado na criação de dispositivos eletrônicos para fumar (vapes), que seduzem o público, principalmente os mais jovens, com o único intuito de aferir lucro.

Para ela, o cuidado com a saúde não deve se limitar a pensar apenas em hábitos pessoais, com os quais a pessoa vai deliberadamente ficar adicta, mas em outras situações em que a pessoa, por não saber, a levam a adoecer. Por exemplo, causas ambientais como a qualidade do ar inspirado e a exposição a substâncias químicas durante o trabalho, que entra no combate a doenças ocupacionais. 

Dalcolmo convocou os presentes, como médicos, professores e especialistas, atuantes na sociedade civil, para discutir políticas de linha de cuidado e diagnóstico precoce, mencionando a iniciativa da Aliança. 

“O que queremos é uma ação conjunta em que cada brasileiro, ao chegar na assistência primária, seja do SUS ou da Saúde Suplementar, seja avaliado com relação a critérios de elegibilidade para o rastreamento do câncer de pulmão e seja encaminhado”.

Conversas sobre a realidade do câncer de pulmão e convidado especial 

Na última mesa do evento, Luciana Holtz chamou ao palco Claudia Lopes e Iane Cardim, voluntárias do Oncoguia e pacientes com câncer de pulmão, para dividirem suas vivências a partir do que foi discutido no dia.

Claudia começou contando que foi diagnosticada em 2014 de surpresa, achando o tumor durante uma tomografia de investigação de sintomas intestinais. Nunca foi fumante e mantém um estilo de vida saudável. E, após uma recidiva, descobriu que seu caso tinha uma mutação no EGFR. 

Iane, por sua vez, relata que seu diagnóstico demorou 6 meses, mesmo sendo fumante há anos, e precisou visitar diversos médicos até conseguir o diagnóstico correto. 

Por fim, a mesa também contou com a participação de Verônica Stasiak, paciente de pneumologistas. Fundadora e Diretora do Instituto Unidos Pela Vida, Verônica foi diagnosticada com Fibrose Cística aos 38 anos, um diagnóstico que hoje em dia pode ser feito pelo teste do pezinho. A doença genética rara é crônica e progressiva, caracterizada pela ocorrência de secreções espessas e viscosas que afetam diversos órgãos, principalmente os pulmões e o pâncreas.

Hoje ela representa pacientes com doenças pulmonares raras no Brasil, fundou uma organização que representa pessoas com fibrose cística e doenças pulmonares raras no país e contribui academicamente no processo de incorporação de tecnologia em saúde e aprimoramento do SUS.

Campanha Pulmão Herói

Durante o evento, o Instituto Oncoguia lançou a campanha “Pulmão: O herói invisível – Proteja Quem Te Protege”, que tem o objetivo de disseminar informações sobre este tipo de câncer de forma lúdica e incentivar práticas saudáveis e preventivas, principalmente entre a população jovem. A iniciativa busca ainda conscientizar sobre os malefícios do uso do cigarro comum e o eletrônico, conhecido como vape, e também sobre os impactos da poluição no órgão do sistema respiratório.

O lançamento contou com a apresentação do vídeo Pulmão, o herói invisível e com a presença do Pulmão Herói, o protagonista da campanha.

A ação acontece durante todo o mês de agosto, majoritariamente em ambiente digital, e prevê a distribuição de cartilhas especializadas, pesquisas e atividades interativas com o intuito de alcançar a população, políticos e gestores.

Outras 12 ONGs espalhadas pelo Brasil apoiam a iniciativa: Rede Feminina Nacional de Combate ao Câncer, Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer do Piauí e do Mato Grosso do Sul, Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília e Chapadão do Sul (MS), Fundação Antonio Dino, ASPEC – Ação Solidária às Pessoas com Câncer, ASFECER – Associação Feminina de Prevenção e Combate ao Câncer de São João Nepomuceno (MG), Associação Nossa Casa, Instituto Camaleão, IGCC – Instituto de Governança e Controle do Câncer e NASPEC – Núcleo Assistencial para Pessoas com Câncer.

O 7º Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão marcou também a entrega do Prêmio Ativista de Destaque na Causa do Câncer de Pulmão, tendo como homenageados: Margareth Dalcolmo, Verônica Stasiak Iane Cardim, Claudia Lopes, Sandra Marques, Clarissa Baldotto, Clarissa Mathias, Gustavo Prado, Daniel Bonomi e Ricardo Sales.

Assista o vídeo do evento na íntegra

7º Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão

O Fórum destacou os desafios na prevenção e cuidado do câncer de pulmão e deu palco para iniciativas que buscam mudar a realidade dos pacientes.

Veja as fotos do evento

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