Alimentos ultraprocessados aumentam o risco de câncer?
Cada vez mais, a ciência tem evidenciado os efeitos a longo prazo de uma alimentação desbalanceada e nutricionalmente pobre para o organismo, principalmente quando a base é composta por alimentos ultraprocessados e embutidos.
Segundo o Ministério da Saúde, alimentos ultraprocessados são aqueles com índices elevados de gordura, açúcar e substâncias sintetizadas, como conservantes e corantes. Refrigerantes, sopas instantâneas, salsicha e bacon são alguns exemplos desses alimentos.
Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia emitido um alerta sobre o consumo de alimentos embutidos como peito de peru, bacon e presunto, que foram classificados como grupo 1 de alimentos carcinogênicos, alcançando o mesmo patamar dos carcinógenos já conhecidos, como o tabaco, amianto e fumaça de óleo diesel.
Para a classificação do agente, são realizados estudos em seres humanos e animais, além de serem feitas pesquisas sobre quaisquer aspectos que sejam significantes, como patologia do tumor, fatores genéticos, metabolismo e toxicologia do agente. Com base nessas informações, é feita a classificação e inserido o agente em um dos seguintes grupos:
- Grupo 1: O agente é carcinogênico a seres humanos;
- Grupo 2A: O agente provavelmente é carcinogênico a seres humanos. Quando existem evidências suficientes de que o agente é carcinogênico para animais e evidências limitadas ou insuficientes de que ele é carcinogênico para seres humanos;
- Grupo 2B: O agente é possivelmente carcinogênico a seres humanos;
- Grupo 3: O agente não é classificado como carcinogênico a seres humanos;
- Grupo 4: O agente provavelmente não é carcinogênico.
Mudança de hábitos
No Brasil, o consumo de alimentos desse tipo vem aumentando e mudando o comportamento alimentar da população, que aos poucos troca o arroz e feijão,por alimentos congelados e instantâneos.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e dados de mortalidade dos brasileiros permitiram que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) calculassem o impacto do consumo de ultraprocessados na população. O cruzamento de informações estimou que 57 mil pessoas morrem prematuramente a cada ano por consumirem alimentos ultraprocessados, o que corresponde a 10,5% de todas as mortes precoces de adultos entre 30 e 69 anos no Brasil.
Câncer de intestino e embutidos
Samuel Aguiar Jr., líder do Centro de Referência de Tumores Colorretais do A.C.Camargo Cancer Center, alerta que o consumo desenfreado desses alimentos tem causado um aumento nos casos de câncer de estômago.
“O consumo de carne processada (embutidos) aumenta em até 70%, o risco de câncer colorretal, de acordo com o maior estudo europeu publicado no ‘Journal of the National Cancer Institute’ com mais de 500 mil indivíduos. Além disso, os alimentos ultraprocessados vêm sendo investigados como fator de risco associado ao aumento significativo na incidência de câncer colorretal considerado precoce (abaixo dos 50 anos) nos últimos anos, provavelmente pela antecipação do seu consumo ainda na infância e adolescência”, esclarece.
Qual a relação com o câncer?
Isso ocorre porque o processamento da carne pode formar compostos químicos cancerígenos, como os N-nitrosos e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, que são nocivos ao organismo. “Esses aditivos causam danos nas células da mucosa intestinal e afetam a estrutura do DNA. Com isso, elas podem se multiplicar de maneira desordenada”, explica o dr. Samuel.
A nutricionista Camila Vasconcelos Pereira afirma que o perigo dessas carnes são o próprio processo industrial a que esses alimentos são submetidos ou os aditivos acrescentados a esses alimentos para agregar sabor ou características visuais mais atraentes.
“Carnes que não seriam vendidas in natura são submetidas a diversos processos industriais, em geral por meio de salga, cura ou defumação. No processo de cura são adicionados os nitritos, potentes bactericidas responsáveis pelo aumento da prateleira (validade) dessas carnes. No nosso organismo, os nitritos reagem formando as nitrosaminas, compostos associados a danos celulares e câncer”, explica a nutricionista.
Existe consumo seguro?
A maioria dos órgãos de saúde determina que não existe um consumo considerado seguro. O Instituto Nacional do Câncer (Inca), por exemplo, recomenda não consumir carnes processadas/embutidos em nenhuma quantidade.
A organização World Cancer Research Fund International recomenda o consumo mínimo ou zero de carnes processadas e que a carne vermelha seja limitada a cerca de três porções semanais (um total de 350 a 500 gramas).
“Esses alimentos não devem fazer parte da dieta regular. Devem ser consumidos excepcionalmente, em eventos sociais esporádicos, mas nunca incorporados à dieta regular do dia a dia”, alerta o dr. Samuel.
Para muitas pessoas talvez seja difícil abolir totalmente os embutidos do cardápio, porém, dadas as evidências científicas, isso é altamente recomendável. Comece aos poucos e, se for o caso, procure um nutricionista para ajudá-lo no processo de transição alimentar.
Fonte: Drauzio Varella
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