[ARTIGO] Atualizações Pós-ASCO 2010 - Confira!

O que temos de novo para oferecer aos pacientes

Câncer de ovário - Foram apresentados inúmeros trabalhos relacionados ao câncer de ovário. Um dos mais importantes, apresentado por um grupo canadense, avaliou a eficácia de uma droga oral, ainda não disponível comercialmente em nenhum país, chamada Olaparib, em mulheres com câncer de ovário avançado do tipo seroso. Obtiveram uma diminuição da doença entre 23% (mulheres sem mutação de gene BRCA) e 41% (mulheres com mutação de BRCA). Estas porcentagens de benefício são bastante importantes no contexto da doença destas mulheres, no entanto vale ressaltar que ainda falta um bom tempo para que esteja disponível para uso no Brasil.
Um segundo estudo avaliou a utilização de medicação chamada de Bevacizumabe, um inibidor do crescimento de vasos, associado à quimioterapia tradicional, no tratamento de câncer de ovário e peritônio avançados. Embora as pacientes que receberam tratamento contendo Bevacizumabe concomitante a seis ciclos de quimioterapia e depois como droga única por mais 16 ciclos não tenham sobrevivido por mais tempo quando comparadas àquelas que somente receberam quimioterapia, a doença nestas pacientes demorou quase quatro meses a mais para progredir. A toxicidade deste tratamento foi aceitável. Embora este benefício seja importante, o alto custo do tratamento pode ser uma limitação importante à sua utilização rotineira. 

Câncer de próstata - Foram apresentados dados de um estudo onde pacientes com câncer de próstata chamado de localmente avançado eram divididos em dois grupos: um recebia apenas deprivação de hormônio (castração química ou cirúrgica) e o outro recebia deprivação de hormônio e também radioterapia na região da próstata. Após 7 anos de seguimento, mais homens no grupo que receberam radioterapia estavam vivos (a diferença era de 11%), mostrando que para estes homens o tratamento ideal deve incluir não só a hormonioterapia (castração química ou cirúrgica), mas também a radioterapia. Este trabalho deve mudar desde já a forma pela qual estes pacientes são tratados no Brasil. 

Um importante estudo que avaliou pacientes com câncer de próstata avançado, já refratário a tratamento com hormônio e com a quimioterapia padrão, demonstrou um benefício significativo com a utilização de uma nova medicação, chamada de Cabazitaxel. Como os pacientes tratados com esta nova droga viveram mais que aqueles tratados com a medicação alternativa, esta droga deve se tornar o novo padrão de tratamento nesta situação clínica de doença avançada. A medicação ainda está em fase de avaliação para ser liberada pela ANVISA no Brasil. 

Fadiga e Yoga - Estudo demonstrou que a prática de Yoga por pacientes após o término do tratamento oncológico melhora a fadiga e a qualidade do sono. Um grande estudo com 410 pacientes divididos em dois grupos, um que fez um programa de Yoga por 4 semanas e um segundo que não praticou Yoga. Tanto o grau de fadiga quanto a qualidade do sono melhoraram, sendo que mais pacientes do grupo que praticou Yoga pôde parar de tomar medicações para induzir sono.

Um segundo estudo, este apresentado por autor brasileiro, mostrou que cápsulas contendo uma quantidade padronizada de extrato de Guaraná ajudou a diminuir cansaço em mulheres com câncer de mama que estavam recebendo quimioterapia. Embora o estudo tenha sido pequeno, os resultados encorajadores devem levar à realização de estudos maiores em breve. 

Câncer de pulmão - Foi mostrado estudo que aborda a segurança e eficácia do tratamento quimioterápico de pacientes com idade entre 70 e 89 anos com câncer de pulmão avançado. O estudo comparou grupos de pacientes tratados com uma quimioterapia apenas com pacientes tratados com combinação de duas drogas. Embora se pudesse prever que a utilização de combinação de quimioterapia não seria bem tolerada por esta população, o estudo demonstrou não só que estes pacientes toleram o tratamento com duas drogas (embora seja mais tóxico que uma droga isolada), mas confirmou aquilo já observado em pacientes mais jovens, que é a superioridade do tratamento com duas drogas comparado com uma droga isolada. Pacientes que receberam duas drogas demoraram mais que o dobro para sofrer progressão da doença. Este conceito pode ser empregado imediatamente na prática diária. 

Um segundo trabalho, apresentado por um grupo japonês, dentre os mais importantes do evento, mostrou que um pequeno subgrupo dos pacientes com câncer de pulmão – aqueles pacientes cujo tumor apresenta determinadas alterações envolvendo um gene chamado ALK (mudanças presentes em 5% dos casos) se beneficiam em grande medida (muito superior a qualquer quimioterápico) da utilização de um inibidor oral de ALK, chamado de Crizotinibe. Praticamente todos os pacientes tiveram ao menos inicialmente uma redução na quantidade de doença, e em média a duração deste benefício foi de 5 meses. Esta droga nova foi extremamente bem tolerada pelos pacientes, mas deve demorar alguns anos para ser disponibilizada no mercado. 

Dr. Rafael Kaliks
Oncologista Clínico e Diretor Científico do Instituto Oncoguia
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