[ARTIGO] Caro paciente, Você precisa conhecer a sua doença!

A descoberta de novas medicações e novas técnicas de radioterapia têm possibilitado aumentar o tempo de vida de muitos pacientes com câncer, diminuído a toxicidade dos tratamentos, e certamente contribuído para o aumento da expectativa de vida em muitos países. Porém, o custo destas novas modalidades de tratamento é extraordinário para qualquer país rico, e de fato, impagável em qualquer sistema previdenciário... a não ser que seja usado de maneira racional.

Enquanto para um paciente individual a possibilidade de aumentar a sua vida em dois meses pode ser de importância extraordinária, o custo do tratamento de milhares de pacientes nesta situação pode não ser compatível com a saúde financeira do estado ou a viabilidade de uma empresa, nem das empresas de saúde. Vale mencionar que um dos responsáveis pela imensa crise da indústria automobilística americana é justamente a previdência e saúde de seus aposentados. Daí a negativa constante de convênios na aprovação de tratamentos prescritos pelo médico, e daí a impossibilidade de pacientes no SUS terem acesso a alguns tratamentos mais modernos e eficazes.

Cabe ao médico defender para seu paciente aquilo que ele acredita ser melhor, baseado na ciência disponível.

Cabe ao governo estipular o limite do que ele está disposto a pagar pela saúde de sua população, e tentar ser coerente no que diz respeito à disponibilização de novos tratamentos no SUS. Medicações que aumentam significativamente a sobrevida não deveriam ser negadas no SUS.

Ao paciente e seus parentes cabe se informar de todas as opções de tratamento, colocar as informações em um contexto realista – por exemplo, perguntando ao médico se determinado tratamento vai de fato prolongar a vida ou melhorar a qualidade de vida do paciente- e finalmente, investigar sobre a possibilidade de participação em pesquisas de novas medicações, possivelmente ainda melhores que as já conhecidas.

De todos os envolvidos, cabe ao paciente e seus parentes a tarefa mais importante: passar de uma atitude de medo da informação sobre o câncer para uma atitude pró-ativa. Conheça a sua doença, pergunte exaustivamente ao seu médico sobre suas dúvidas; cobre do governo um sistema de saúde que ofereça a você tudo o que é adequado; cobre do convênio tudo o que é adequado.

Pacientes repetidamente dizem que enfrentaram a doença muito melhor depois que tomaram as rédeas do tratamento nas suas próprias mãos.

Rafael Kaliks
Oncologista Clínico
Diretor Científico do Instituto Oncoguia
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