[ARTIGO] Diretamento da ASCO 2010: saiba o que está acontecendo no congresso americano

Todos os anos a comunidade mundial de médicos que tratam de pacientes com câncer se encontra no congresso da academia americana de oncologia (ASCO) para compartilhar novidades relacionadas ao diagnóstico, prevenção e tratamento do câncer. Mais de 30.000 médicos do mundo todo prestigiam este congresso, e para os que não vão, o acesso às informações na internet é extremamente fácil. Este ano, o encontro está sendo realizado entre os dias 4 e 8 de Junho, em Chicago, de onde escrevo.

Antes de começar a descrever ao leitor as novidades apresentadas no congresso, vale explicar como e quando estas novidades podem repercutir na saúde de um paciente no Brasil:

Quando se trata de uma pesquisa com uma medicação nova, mesmo que esta nova droga tenha eficácia muito importante e aparentemente seja muito melhor que as alternativas comuns, costuma levar entre 2 e 5 anos para que ela seja disponibilizada comercialmente para uso pelos pacientes. Assim, nestes casos a expectativa é positiva se pensarmos nos pacientes que precisarão do tratamento em alguns anos, mas não se pensarmos naqueles que precisam da nova medicação agora. Mesmo que esta medicação seja disponibilizada nos Estados Unidos ou na Europa, sua venda no Brasil depende de aprovação pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que pode demorar de meses a anos. E mesmo que a ANVISA aprove a medicação para uso no Brasil, esta não necessariamente é disponibilizada na rede de saúde pública (o SUS,  onde são tratados 80% da população). Quem determina que drogas podem ou não ser disponibilizadas na rede pública é o Ministério da Saúde, embora estados e municípios possam decidir ampliar estas listas com recursos próprios.

Quando se trata da descoberta de eficácia de uma droga que já era aprovada mas agora em uma doença para a qual antes não era conhecido o benefício, ainda assim pode demorar até um ano a disponibilização da droga para esta nova indicação, já que a ANVISA tem de aprovar seu uso para a doença em questão.

Quando se trata de pesquisa demonstrando eficácia de combinações novas de drogas já aprovadas, aí sim o médico pode proceder imediatamente com a utilização desta nova combinação. Mas vale dizer que é pouco provável que drogas antigas sejam combinadas de maneira inovadora levando ao grande sucesso, pois o benefício destas drogas provavelmente já atingiu seu pico.

Quando se trata de novidades determinadas pela utilização de radioterapia, a disponibilização do tratamento depende de equipamentos e profissionais habilitados. Lamentavelmente, na rede do SUS ainda existe uma grande deficiência no que tange a disponibilidade de radioterapia em diversas regiões do País, mesmo para tratamentos já consagrados e considerados padrão. Cabe a você, paciente e eleitor, cobrar isto dos candidatos.

Quando se trata de novidades relacionadas a novos testes (sejam testes laboratoriais sejam radiológicos), existe a dependência da compra destas novas tecnologias (frequentemente caras), o que pode levar vários anos, além da necessidade da aprovação da ANVISA.

Você deve estar se perguntando: será que esse congresso pode então trazer alguma novidade útil para alguém que precisa de novidades AGORA?

A resposta é SIM, mas depende de você: na grande maioria das vezes, novas descobertas desencadeiam estudos clínicos onde um novo grupo de pacientes tem de receber a droga nova, e estes estudos clínicos com novidades cada vez mais estão disponíveis no Brasil, em diversos centros de pesquisa clínica. Cabe a você procurar se informar, nos centros próximos à sua casa* se existe ou não a disponibilidade de um estudo com novas medicações na qual você se encaixa.

Cabe também a você se informar sobre as ideias de candidatos a presidência e governos estaduais quanto a políticas de saúde, o que pretendem fazer quanto à assistência oncológica no SUS, o que pretendem fazer sobre a demora na aprovação de novos estudos no país. 

Nos próximos dias passaremos a descrever as novidades apresentadas, classificando-as de acordo com o nível de disponibilidade (utilidade imediata, futura) e separadas por doença. Vale dizer que aqui também cabe a você, paciente, perguntar direta e abertamente ao seu médico se o congresso trouxe alguma novidade útil para seu caso. Isto é especialmente importante em casos de cânceres raros, que não poderão ser abordados aqui, mas que cabe ao seu médico investigar entre os mais de mil trabalhos apresentados.

Rafael Kaliks
Oncologista Clínico
Diretor Científico do Instituto Oncoguia
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