[ARTIGO] Ressurgindo das cinzas

Quem acredita em Papai Noel ?

Eu !!!!!!

Opa !! Isso é coisa para se confessar publicamente ?

Meus amigos dirão: Vamos interná-la !!!!

Será ?

O que as pessoas que estão lendo pensarão ?

Meus pretendentes a novo amor desistirão de mim ?

Eu vou desistir de mim ?

Por favor, não façam isso, vocês são os maiores tesouros que possuo.

Eu simplesmente gostaria que pudéssemos aproveitar plenamente os efeitos das imagens que brotam, quando damos ênfase a uma parte do mito cristão, ressaltando a morte e o ressurgimento do Cristo.

Vamos tentar olhar para essa história independentemente da escolha religiosa que fizemos.

Consideraremos uma das histórias universais que fazem parte do legado da humanidade, e que nos trazem informações importantes acerca da nossa experiência humana.

Complicado? Vou tentar explicar.

Comecei a pensar neste artigo quando no dia do lançamento do nosso livro "Temas em Psico-Oncologia” encontrei uma pessoa querida, minha colega de trabalho, uma psicóloga que trabalha com pacientes oncológicos, aliás, a quem declaro aqui minha admiração e respeito.

Careca, denúncia da quimioterapia, com um lenço em torno da cabeça, fazendo com que um enfeite feminino tivesse um brilho especial.

Quando eu a olhei e vi aquela criatura sorridente, conversando com pessoas ao seu redor, sem esconder a condição de uma "terapeuta ferida pela doença que ajuda a curar”, seguindo em frente com dignidade e esperança, meu coração ficou imenso dentro do peito.

Verdade. A gente consegue.

Toda vez que eu vejo isso, e vejo muito graças ao bom Deus, o brilho do humano que emerge quando assume sua vida e enfrenta situações facilitadoras ou dificultadoras, com finais desejados ou não, mas quando ele se coloca no centro da sua experiência, o brilho que emerge é gigantesco. É ele, o humano, pleno seguindo o seu Destino.

Entendo então, porque os deuses do Olimpo faziam qualquer coisa para descer para a Terra, viver experiências, emoções e sentimentos que só a condição humana podia ofertar.

Podemos pensar no Cristo como alguém que trilhou seu caminho, aceitando o que lhe fora destinado viver; como alguém que enfrentou situações de diversas ordens com coragem e envolvimento enquanto prosseguia sua vida; como alguém que viveu diversas mortes e mesmo assim ressurge transformado para outras experiências, ainda reservadas para ele ?

Essa é a história de diversos heróis mitológicos, heróis que de alguma forma deixaram sua experiência para nosso aprendizado.

Essa é nossa história de heróis e heroínas, quando enfrentamos nossas adversidades e mesmo assim continuamos caminhando.

A capacidade que o humano tem de ressurgir de uma crise com amplitude e possibilidades criativas, de resignificar acontecimentos da Vida, muitas vezes chocantes e ameaçadores, é impressionante!

Ressurgir das cinzas!!!

Essa é uma outra história que ilustra a transformação pessoal que pode ocorrer quando alguém completa um ciclo de sofrimento, renascimento e crescimento: o mito de Fênix.

Fênix era uma grande ave mitológica, o único animal da sua espécie.

Belo, parte de sua plumagem era de ouro e outra parte de um vermelho incomparável, exuberante; raro, pouco visto pois vivia nos desertos escaldantes da Arábia.

Quando percebia que sua vida estava chegando ao fim, construía um ninho com ervas aromáticas, que entravam em combustão ao ser exposto aos raios do Sol. Depois, atirava-se ao fogo para ser consumida até quase não deixar vestígios. De seus restos mortais, surgia milagrosamente uma espécie de verme que se desenvolvia de maneira rápida para se transformar em uma nova ave.

Renascer é o processo através do qual lamentamos nossas perdas e mesmo assim levantamos para começar tudo de novo. Enquanto processamos integralmente os aspectos físico, psicológico e emocional da decepção, da frustração, do sofrimento, da crise, começamos a notar que ainda estamos vivos.

Pensamos muitas vezes, que não podemos suportar aquela crise de jeito algum, porque é demais para nós. Pensamos que não vamos dar conta e que a qualquer momento vamos desistir.

Mas o dia passa e acordamos na próxima manhã com os raios do Sol, renovados feito Fênix.

E isso se repete enquanto sobrevivemos, e nos transformamos cada vez mais em ouro e em vermelho exuberante.

Esquecemos que o grande milagre se dá em nós, na nossa existência.

O fato de existirmos já é o milagre.

Bom, especialmente neste artigo, eu quero agradecer.

Ao Oncoguia, à minha querida amiga Luciana Holtz, batalhadora e generosa, única, pela oportunidade de me expressar.

Curvar-me frente a todos nós que sobrevivemos de crises e renascemos em nossas próprias cinzas.

Meu respeito e admiração por todos que lutam a batalha do herói e da heroína, voltando para seus lares e suas famílias, procurando fazer com que a vida siga seu curso.

À minha amiga querida que encontrei no lançamento do livro, que o Universo lhe proteja e abençoe.

Aos meus pacientes e a vocês leitores, oferto o meu coração, para sempre.

Com vocês, me faço melhor todos os dias.

Grata por permitirem que eu acompanhe de alguma forma, esse trajeto de renascimento dolorido, mas que possui nuances brilhantes de força e dignidade, tão importantes para que a Vida valha à pena.

E vejam, vejam...

Olhem para o céu... Quem é aquele... Quem, que vem vermelho rasgando essa pintura azul....

Ele dá voltas pelo ar, parece que voa.... O que é aquilo ?!!!!

Será Fênix ?

Será Papai Noel ?!!!!!

Passe na minha casa Papai Noel, por favor, por favor ...

Venha alimentar a minha criança interna, para fazer com que os meus olhos possam ver sempre com mais esperança no futuro.

E traga para todos nós força para enfrentarmos desafios; recursos criativos para transformarmos nossa vida; coragem para caminhar caminhos desconhecidos e muito, muito amor por nós mesmos e pelos outros, nossos parceiros de vida.