[ARTIGO] Tumores

Caro leitor, vou abordar abaixo os maiores avanços da oncologia ocorridos no ano de 2008, e como estes avanços podem influenciar a sua vida ou a de um parente ou amigo que esteja doente. Separei o texto por diagnóstico, de modo que você possa ir diretamente para o que lhe diz respeito.

Tumores cerebrais

Tumores cerebrais do adulto são tratados em princípio com cirurgia seguida de radioterapia, sendo a radioterapia acompanhada de uma medicação denominada Temozolamida, que é continuada por mais 6 meses após a radioterapia. Lamentavelmente a grande maioria dos tumores acaba recidivando (voltando). Algumas publicações de estudos relativamente pequenos mostraram que a associação de duas medicações já usadas para outros tipos de tumor, Bevacizumabe e Irinotecano, retarda a progressão (piora) da doença e proporciona diminuição do tumor em número significativo dos casos. De fato, na prática do dia-a-dia temos observado respostas importantes com este esquema, mas ainda há limitação ao acesso a estas drogas para este tipo de tumor pela falta de estudos maiores que comprovem definitivamente que pacientes de fato vivem mais e também, pelo elevado custo do tratamento.

Tumores de cólon e reto

Descobriu-se que a presença de determinada mutação (alteração) em um gene chamado de KRAS impede que uma determinada medicação que vinha sendo utilizada com certa frequência em câncer de cólon metastático (disseminado) tenha atividade anti-tumoral. A medicação, denominada de Cetuximabe, agiria somente em pacientes cujos tumores não apresentam esta mutação (para a qual já existem testes no Brasil), mas agiria bem contra tumores que não têm a mutação. Embora não pareça um avanço, é sim um imenso avanço pois poupa um grande número de pacientes de efeitos colaterais da medicação que não estaria agindo, e evita um gasto importante de recursos ao economizar os custos do tratamento daqueles que não se beneficiariam da medicação em questão. Como esta medicação, Cetuximabe, também é utilizada em outros tumores (cabeça e pescoço, pulmão), provavelmente poderemos prever melhor quem deve e quem não deve ser tratado com a droga nestas doenças também.

Tumor de pâncreas

Este tipo de tumor é tratado com cirurgia sempre e quando possa ser retirado em sua totalidade. Foram publicados estudos que mostram que pacientes operados que recebiam uma medicação chamada Gemcitabina por 6 meses após a cirurgia tinham menos recidiva (volta da doença) e viviam mais que os que não recebiam a medicação. Da mesma maneira, aqueles que não podiam ser operados, quando tratados com radioterapia associada a Gemcitabina, viviam mais que aqueles que apenas recebiam radioterapia. Desta maneira, pacientes com este diagnóstico, certamente devem discutir com seus médicos a opção de se utilizar esta droga como parte do tratamento. A medicação não é nova, e já era utilizada rotineiramente em casos de doença avançada.

Câncer de cabeça e pescoço

O maior avanço nesta área não foi de tratamento e sim na compreensão de uma das causas do aparecimento do câncer. Descobriu-se que o vírus HPV, o mesmo que causa câncer de colo de útero, e que é transmissível por via sexual, está intimamente relacionado ao desenvolvimento do câncer de cabeça e pescoço. Este achado não elimina o fato de que a grande maioria dos tumores ainda é diretamente causada por tabagismo e etilismo. Os tumores causados pelo HPV aparecem em idade mais jovem, e via de regra parecem responder melhor ao tratamento com radioterapia. A grande implicação desta descoberta reside no fato de que possivelmente a mesma vacina que previne o câncer de colo de útero também poderá prevenir parte dos tumores de cabeça e pescoço, embora isto ainda não tenha sido demonstrado.

Tumor de tireóide metastático

A grande maioria dos tumores de tireóide são curados com cirurgia e iodo radioativo. Apesar disso, alguns casos sofrem progressão da doença e quando param de responder a iodoterapia, apresentam poucas opções terapêuticas. Em 2008 se descreveu que uma classe de drogas, chamadas inibidoras de angiogênese (inibidoras de crescimento de vasos) leva a uma significativa taxa de resposta (diminuição do tumor) e prolongamento do tempo em que o tumor permanece sob controle. Embora os dados sejam preliminares, como antigamente nenhum tratamento tinha resultados expressivos, esta novidade abre caminho para um tratamento com maior sucesso nesta situação rara.

Câncer de pulmão

O câncer de pulmão continua sendo um imenso desafio no campo da oncologia, mas em 2008 foram publicados dados que mostram que pacientes com doença metastática tratados com quimioterapia associada a uma terapia alvo denominada Cetuximabe, tinham uma maior chance de retardar a progressão de doença. Embora isto de maneira nenhuma represente cura, é mais um dado alentador em relação a uma doença sabidamente de difícil tratamento.

Rafael Kaliks
Oncologista Clínico
Diretor Científico do Instituto Oncoguia
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