Câncer Colorretal: desafios e prioridades para enfrentar as desigualdades no acesso
No dia 22 de setembro, sexta-feira, o Oncoguia realizou um encontro entre especialistas e pacientes para fomentar debates sobre como as desigualdades de acesso afetam a jornada do câncer colorretal, do diagnóstico ao acesso ao tratamento e seus impactos na qualidade de vida.
O encontro, que aconteceu na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), foi moderado pela liderança do Oncoguia e contou com a presença de gestores de saúde nacionais, médicos especializados em câncer colorretal e pacientes que convivem com a doença.
O câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino ou de cólon e reto, é o segundo mais incidente no Brasil em homens e mulheres (sem considerar os tumores de pele não melanoma e tumores de mama e próstata). De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), as estimativas para o triênio de 2023 e 2025 são de 45.630 novos casos por ano no país.
Este tipo de câncer é prevenivel e facilmente rastreável a partir de exames específicos, além de ser altamente curável caso detectado no início do seu desenvolvimento. Entretanto, alguns obstáculos impedem o diagnóstico precoce e fazem com que mais de 75% dos pacientes comecem o tratamento em estádios avançados da doença. Fora isso, o câncer colorretal está entre os que mais matam no Brasil, com 9,56 mortes por 100 mil habitantes.
Diante disso, a implementação de um programa nacional de rastreamento e de conscientização da população estão entre as medidas apontadas para minimizar os impactos do câncer colorretal na saúde dos brasileiros.
Câncer colorretal: cenário e principais desafios
O ponto de partida do evento ficou a cargo do cirurgião colorretal Hélio Moreira Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Em sua fala, o médico alertou que as taxas de incidência e mortalidade do câncer de intestino vêm aumentando gradativamente ao longo dos anos em todas as regiões do Brasil.
Um dos motivos, de acordo com o especialista, é o crescimento de ultraprocessados na dieta do brasileiro, assim como o grande consumo de carne vermelha. Isso também faz com que o câncer colorretal seja mais incidente em regiões mais desenvolvidas. Em São Paulo, por exemplo, Moreira diz que a incidência é de 33 casos a cada 100 mil habitantes por ano, enquanto a média no país é de 21 casos por 100 mil habitantes. “Trazendo os números para a prática, isso significa que uma a cada 40 pessoas que vivam além dos 75 anos em São Paulo terá câncer de intestino”, disse o médico.
Entre os principais desafios para o diagnóstico precoce e tratamento desse tipo de câncer, Moreira listou:
- Condições socioeconômicas desfavoráveis da maioria da população brasileira;
- O desconhecimento sobre o câncer colorretal (que inclui sintomas, histórico familiar, riscos qual especialista procurar, etc…);
- O estímulo cultural à automedicação que pode mascarar os sintomas da doença;
- E a disponibilidade insuficiente de profissionais, centros e exames para o rastreamento e diagnóstico da doença.
Além disso, o oncologista Diogo Bugano, coordenador do Hospital Municipal Vila Santa Catarina, em São Paulo, também apontou as desigualdades de acesso ao sistema de saúde como um grande entrave.
Segundo ele, o principal gargalo no sistema público de saúde é o acesso a especialidades médicas necessárias em um único centro de atendimento, como ocorre nos Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon). “Uma maior taxa de sobrevida do paciente está ligada a uma melhor integração multidisciplinar durante o tratamento. Mas isso não é a realidade no país, nem todo paciente vai ser tratado no Cacon”, afirmou Bugano.
Rastreamento do câncer colorretal: o que é possível fazer?
O evento do Oncoguia também recebeu gestores de saúde nacionais para debater o que é possível fazer em relação ao rastreamento do câncer colorretal no Brasil.
Participaram do debate Renata Maciel dos Santos, chefe da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede de Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA, Fernando Maia, coordenador-geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer do Ministério da Saúde e as especialistas Denise Guimarães, médica endoscopista do Hospital de Câncer de Barretos, e Carmen Manzione, vice presidente da Associação Brasileira de Prevenção de Câncer de Intestino (ABRAPRECI).
Entre os pontos levantados, os gestores públicos enfatizaram a necessidade de uma divulgação ampla dos sintomas de alerta para a população, além da capacitação de profissionais de saúde e acesso imediato aos procedimentos de diagnóstico dos casos suspeitos
Em relação ao rastreamento, Maia afirmou que não há uma diretriz nacional clara sobre isso, o que faz com que o rastreamento não seja realizado de forma organizada. Sobre isso, Maia e Santos ressaltaram que um programa nacional de detecção precoce de câncer colorretal está em elaboração pelo Ministério da Saúde em colaboração com o INCA.
Em seguida, as especialistas colaboraram com a discussão trazendo os desafios do uso da colonoscopia como exame de rastreamento do câncer colorretal.
Segundo as palestrantes, um programa de rastreio em que a colonoscopia é o exame principal para o diagnóstico precoce não é custo-efetiva a nível populacional. Para o cenário brasileiro, é preciso que o programa considere exames iniciais menos invasivos e com menos necessidades de preparação, como o exame de sangue oculto nas fezes, segundo avaliação de Manzione e Guimarães. Nesse caso, a colonoscopia entraria como exame de investigação secundário para pacientes que testaram positivo para sangue oculto.
E o câncer entrou na minha vida…
O evento foi finalizado com os depoimentos emocionantes de voluntários do Oncoguia e pacientes de câncer colorretal presentes: Beatriz Suzuki, voluntária da ONG há 4 anos, e Farley Lopes, voluntário desde 2022.
Em seus depoimentos, tanto Beatriz como Farley enfatizaram a importância da rede de apoio durante a jornada com o câncer, que ambos encontraram na família e em outros pacientes através do Oncoguia.
Outro ponto levantado pelos voluntários foi como a falta de acesso à informação sobre suas doenças levou a complicações que poderiam ter sido evitadas.
“O paciente não tem emocional para ir atrás de informação, mas essa falta tem consequências”, disse Beatriz. “Se eu tivesse me inteirado antes, não teria tantas complicações cirúrgicas. A partir do momento que me informei sobre meu caso, a jornada foi mais tranquila, as consultas mais proveitosas. Mas a gente não nasce sendo um paciente ativo e responsável.”
O evento “Câncer Colorretal: desafios e prioridades para enfrentar as desigualdades no acesso ao cuidado” contou com transmissão ao vivo pela TV Oncoguia. A gravação já está disponível aqui.
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