[CÂNCER COLORRETAL] Silvio Klinguelfus Junior

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Silvio Junior - Em julho próximo futuro, completarei 45 anos de idade, sou um cara feliz, formado em Economia e Direito, trabalho como escrevente em um Tabelionato de Notas de Sorocaba, gosto muito do meu trabalho, devido à possibilidade que ele me traz de poder ajudar aos outros; também gosto muito de ler e de andar de moto aos finais de semana.

Instituo Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer colorretal?

Silvio Junior - Durante um check-up que fiz ao me aproximar de completar 40 anos de idade, tudo estava ótimo, os resultados dos exames estavam excelentes, quando o médico cardiovascular, me perguntou se existia algum caso de câncer em minha família. Respondi positivamente, que minha mãe havia morrido aos 63 anos de idade, devido a um câncer de intestino.

Ele então me pediu uma colonoscopia, explicando que esse exame normalmente é feito quando o homem completa 50 anos de idade, mas devido ao meu histórico familiar, iria antecipá-lo.

O resultado dos exames, todos já devem ter imaginado. Sinceramente creio que Deus tenha soprado aos ouvidos do médico para que ele me fizesse a pergunta sobre o câncer.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Silvio Junior - No exato momento, foi tranquilo, mesmo porque ainda não era definitivo, precisavam de outros exames, e como a esperança é a última que morre, me apeguei a ela.

Porém, após a confirmação, um filme da minha vida passou diante dos meus olhos, e eu não gostei sinceramente do que eu vi.

Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Silvio Junior - Só conseguia pensar em minha filha Ana Paula, então com 09 anos de idade, e também de como seria duro à vida para a minha esposa, caso ela ficasse viúva.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Silvio Junior -Durante esse período entre os novos exames e a cirurgia, algo imponderável aconteceu em minha vida, encontrei o melhor médico e psicoterapeuta de todos: "JESUS”.

E Ele me guiou e orientou, de como eu sozinho deveria proceder durante maior de todas as cirurgias, pela qual eu iria passar, a minha "CIRURGIA MORAL”.

Gosto muito da frase do ex-vice-presidente do Brasil o Sr. José de Alencar, que sabiamente disse: "Por mais mal que o câncer tenha me causado, nem se aproxima do bem que ele me fez”.

Para mim, que não era ateu, mas um atoa, o câncer ajudou-me a transformar-me em um pai melhor, em marido melhor, em um profissional melhor, enfim, em uma pessoa melhor.

Como disse, precisei da dor, para voltar para Deus, e lá fiquei pelo amor.

Vejam bem, em nenhum momento durante essa entrevista toquei no assunto religião, muito menos o faço em meu blog, pois para mim, pouco importa a religião das pessoas, o que é realmente importante é a religiosidade delas, seus atos e reações.

A única verdade é "DEUS” de resto, sempre digo, até breve...

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Silvio Junior - Operei no dia 17/03/2009, após quase doze horas de cirurgia, quando voltei, estava com um novo acessório, chamado bolsa de colostomia.

Essa bolsa me acompanhou durante todo o tratamento, que durou exatamente nove meses, findo esse tempo, como em um período de gestação, eu nasci novamente e juntamente com esse nascimento disse adeus à bolsa de colostomia, a qual me ajudou muito.

Para aqueles que são ostomizados definitivos ou não, tenho um recado para vocês, essa bolsinha que parece ser a pior coisa do mundo, e a sua carta de alforria para o mundo, ela te salva e te liberta, imagine se ela não existisse como seria a sua situação; você prefere usar essa bolsa, ou ficar em uma cama ou em uma cadeira de rodas.

Quanto a mim, queria tirá-la a todo custo, mas os médicos que me acompanhavam diziam que seu a tirasse iria sofrer muito durante o tratamento, devido às complicações e os efeitos colaterais oriundos do tratamento.

Dito e feito, ao final agradeci e muito a ambos, por terem me convencido a ficar com a bolsinha durante o tempo que durou o tratamento.

Observava outros pacientes sofrendo com diarreias homéricas, e imaginava se eu estivesse sem a bolsinha, e com diarreia, e a pele na região anal totalmente em carne viva devido à radioterapia.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Silvio Junior - A quimioterapia sem dúvida é chata, não durante a sua aplicação, que no meu caso, além de passar no Hospital durante algumas horas, ainda ia embora com uma bomba de infusão e com ela fica por mais 48 horas tomando a quimio, o problema era depois, ela realmente baqueia, e quando estamos melhorando, lá vem o próximo ciclo.

Mas eu pensava assim, poxa a quimio não é ruim, ela está me curando, então vamos lá, que ela me ajude.

Agora a radioterapia, parecia boazinha, a aplicação dura aproximadamente 10 segundos, no começo, tiramos de letra, mas no final, a pele não aguenta, literalmente ela derrete, fica pastosa, fico imaginando por dentro, como deve ter ficado, portanto, creio que a rádio seja pior do que a quimio, mas ambas são suportáveis, e são para o nosso bem, então, nada de desespero.

Por estes motivos, que digo que a bolsa de colostomia, foi a melhor coisa que podia ter ocorrido para mim durante o tratamento, ela evitou que eu sofresse.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Silvio Junior - A lesão causada pela rádio está entre as piores, outros efeitos chatos, foi a perda do paladar, que já voltou ao normal, e também devido à droga usada na quimio, não podia pegar nada gelado que tomava choque e só podia tomar líquido em temperatura ambiente, pois a glote fechava ao tomar algo gelado, fazendo como que eu não conseguisse respirar.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Silvio Junior - Foi essencial, tanto com o Gastro (Dr. Celso Simonetti) quanto com o Oncologista (Dr. Gilson Luchesi Delgado), este último chorou junto comigo, me amparou, me abraçou, me acolheu nos momentos mais difíceis. Tive sorte de ter médicos assim ao meu lado.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Silvio Junior - Nutricionista, dentista, assistente social e enfermeiros.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Silvio Junior - Comecei a pedido da minha esposa, entretanto, a psicóloga me disse que eu estava melhor que ela, e era eu que a estava ajudando diante do meu exemplo de superação e determinação.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Silvio Junior - Segue tranquila com relação ao câncer, tudo normal, tirando um susto, há nove meses, apareceram alguns nódulos no fígado, o coração bateu mais forte, mas depois de um exame "Pet CT” graças a Deus não foi detectado atividade celular nesses nódulos, e após três exames posteriores de ressonância magnética a cada três meses, descartada a possibilidade de recidiva.

O que me incomoda sinceramente é uma sequela chata, que o médico sempre diz ser claro da cirurgia e também reflexo da radioterapia que ressecou parte do meu intestino, fazendo com que eu vá mais vezes ao banheiro, essa sequela tem diminuído lentamente.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Silvio Junior - "ESQUECER O MAL, CRER NO BEM, SERVIR COM AMOR”.

Em 2010 despretensiosamente escrevi um texto, sobre as minhas experiências, e enviei por e-mail para alguns amigos, a surpresa veio, com a resposta de um deles, ele me disse: "Silvio, estava a ponto de colocar uma bala na minha cabeça, quando li o seu texto, e se você passou por tudo isso, eu também vou conseguir.”

E a partir dai resolvi criar um Blog, para tentar ajudar outras pessoas, na mesma situação que a dele; se esse meu amigo, foi a única pessoa que se beneficiou de um texto meu, já me dou por satisfeito.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Silvio Junior - Ter fé, palavrinha pequena, mas que tem uma forma inacreditável. Crença é acreditar naquilo que não vemos. A fé nada mais é do que uma crença, entretanto, ela tem um fator a mais, que é a "CONFIANÇA”. Então além de crer você confia, isso é fé.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Silvio Junior - Sinceramente, creio que toda e qualquer informação é válida, porém, nem todos são capazes de discernir, de concatenar as ideias, diante de informações que desconhecem. A internet, por exemplo, se você digitar "câncer colorretal", ao terminar de ler os tópicos é capaz de suicidar-se. Os casos que não deram certo são infinitamente superiores aos que acabaram bem, então, não creio que esse tipo de informação ajude.

Agora consultar mais de um médico, ou mesmo pacientes que conseguiram sobreviver dai sim é válido.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Silvio Junior - Antes de saber que era câncer, pesquisei na internet e infernizei o meu médico com muitas perguntas. Até que a ficha caiu, que isso não estava me levando a lugar algum, depois de diagnosticado o câncer, evitei acessar qualquer página na internet, foi a minha salvação.

Aconselho aos demais a não o fazerem também.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Silvio Junior - SIGAM EM FRENTE - #TAMOJUNTOSEMPRE

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