[CÂNCER DE BEXIGA] Adelaide M. C. Glasser

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Sou Adelaide, vou fazer 46 anos no próximo dia 26. Sou secretária, casada e tenho um filho de 11 anos. Tudo que contarei aconteceu pela primeira vez há cinco anos e acreditem ou não, eu nunca entreguei os pontos. Não vou me deter em contar sobre enjôo, perda de apetite, cabelo, por que isso é de praxe, quero dar respostas esclarecedoras, para que pessoas que estejam passando por algo parecido possam aprender um pouquinho com a minha experiência. E o mais importante, sua atitude, pode fazer a diferença em seu tratamento! 

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Quantos anos você tinha?

A primeira vez, foi aos 41 anos, tive um tumor na bexiga e três dias depois do diagnóstico eu já estava operando para retirá-lo.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?

Arrasada, quando soube estava sozinha, mas depois da cirurgia, agradecida por ter descoberto a tempo de não ter se agravado mais. Tive total apoio e conforto de meu marido, o que certamente me ajudou muito.

Instituto Oncoguia - O que sentiu?

Nesta época, não sabia nada sobre o câncer e fiz tratamento com BCG por alguns anos, pois o câncer de bexiga costuma voltar em 80% dos casos no primeiro ano, 60% no segundo e assim sucessivamente. Lembro que me julgava agradecida por fazer parte das pessoas que estavam do lado de cá e não do lado de lá. Deixa-me explicar, a sala de tratamento era dividida ao meio, de um lado, pacientes que faziam tratamento com BCG e de outro os pacientes em quimioterapia. Mal sabia o que estaria para acontecer três anos mais tarde.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento?

Três anos depois, quando achava que tudo estava bem, descobri que estava com câncer de pulmão. Na verdade, já devia estar doente há mais tempo, pois meus ombros doíam demais e eu não podia mover os braços. Fiz vários tratamentos para os ombros, sem solução. Eles eram o próprio sintoma do meu câncer de pulmão e ninguém descobriu... Quando soube, outro baque! Este não seria mole. Novamente, eu e meu marido nos unimos e eu pensei que se houvesse alguém que haveria de superar esta doença no pulmão, este alguém seria eu. Afastei-me do trabalho e contei para todo mundo, pedi a todos que fizessem orações para eu me curar, para eu ter forças para aguentar o tratamento. A princípio, eu faria quimioterapia e radioterapia juntas, na tentativa de diminuir os tumores para eu poder fazer a cirurgia no pulmão (lobectomia). Passados mais ou menos uns três meses de tratamento, o médico que iria me operar pediu um exame chamado PET-CT. Neste exame, apareceu mais um tumor, desta vez na cabeça do fêmur. Não sei explicar com palavras o meu sentimento em relação à morte. Minha doença estava se agravando. Fiz uma biópsia e constatou-se que era uma metástase do pulmão. Neste momento, em conversa com meu oncologista, meu marido sentiu que ele estava muito desanimado. Resolvemos sair à caça de outro que não desistisse de mim. Nenhum médico tem o direito de desistir de você. Choramos um caminhão e acordamos renovados.

Instituto Oncoguia - Qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

Não houve tratamento difícil. Cada vez que eu chegava para a quimio, rádio ou no consultório do meu médico, eu agradecia por ter a oportunidade de estar ali. Isso é a pura verdade!

Instituto Oncoguia - Como você lidou com as mudanças na aparência?

Muito bem, logo arrumei uma peruca e igualzinha ao meu cabelo natural. Esse papo de andar careca para mostrar para todo mundo que não liga ou para mostrar que está com câncer comigo não funcionaria. Às vezes, no chuveiro, no calar da noite, dava uma choradinha básica.

Instituto Oncoguia - O que mais te incomodou?

Os quatro médicos que me desenganaram (até que eu achasse o meu atual). A convivência nas salas de espera da quimio e da rádio (acabei fazendo rádio no fêmur também). Vi muita gente derrotada, ouvi muita conversa fiada. Muita gente fazendo drama, se fazendo de vítima. Havia pessoas que nem se quer cumprimentavam as outras. Todo mundo que se sentava ao meu lado, quando saia era um pouco mais otimista do que quando havia chegado. A começar pela minha aparência e fisionomia, sempre animada e otimista.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Nada que valha a pena ser mencionado.

Instituto Oncoguia - Você continuou trabalhando ou não?

Não, se soubesse que seria assim, nunca teria saído de licença.

Instituto Oncoguia - Como era a relação com o seu médico?

É ótima, na base da franqueza e não da amizade.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Faço dieta com uma nutricionista, tenho ido frequentemente ao meu ginecologista, cardiologista, dermatologista, enfim, vida normal.

Instituto Oncoguia - Como você está agora que tudo já passou?

Não considero que tudo tenha passado.  Depois do primeiro diagnóstico, os exames rotineiros são sempre motivo de preocupação, mas eu encaro tudo sempre com muita alegria de viver. Isso tudo é uma grande oportunidade que estou tendo para servir de exemplo às pessoas que me cercam. Como experiência pessoal eu já tirei grandes lições. Hoje sou muito melhor do que era há cinco anos. Sempre sinto um friozinho, que antes não sentia, acho que esta é a diferença entre o antes e o agora.

Instituto Oncoguia - Você sente que tudo voltou ao normal? Como está a sua vida hoje?

Ainda quero voltar a trabalhar. Mas, se em dado momento souber que minha saúde não permitirá, terei que me conformar.

Instituto Oncoguia - Que sugestões você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Para não se lamuriar. Para chorar tudo que tiver que chorar, por um dia, dois, três, cinco, enfim... Lave sua alma. Mas depois, chega! Vá adiante, siga seu tratamento à risca. Se alimente direito! Se enjoar de uma comida, coma outra, se enjoar de outra tome uma vitamina. Coma a mesma coisa cinco dias se for o caso, mas não deixe de se alimentar. Isso é parte do sucesso de seu tratamento. Alimente seu espírito, procure ler coisas que elevem o seu pensamento. Conte o seu problema prá todo mundo que interessa. Não tenha vergonha, o câncer é uma doença democrática, atinge a todos. Não enterre sua família com o seu diagnóstico. Eles não merecem isso. Se arrume quando for ao médico, saia e se divirta. Trate bem as pessoas que atendem você. Compreenda que elas lidam com gente que acha que elas são culpadas por estarem ali e podem não ter muita paciência com você, não por você, mas por causa de um cretino que saiu um pouco antes de você ter chegado. É isso! Viva sua vida! Agradeça as pequenas grandes coisas que você tem. Não interessa quais oportunidades a vida lhe deu, faça as coisas por você, não se projete em ninguém. Você merece se curar!

Observações que considero importantes:

1) BCG pode causar tuberculose, se eu tivesse feito Raio X do tórax pelo menos de seis em seis meses, teria descoberto o meu tumor muito antes dele crescer. O médico, em três anos de tratamento, nunca me pediu um Raio X sequer.

2) O câncer de pulmão pode dar dores nas articulações superiores (ombros). Passei pelo menos um ano e três meses tomando antiinflamatórios de última geração e nada melhorava minhas dores horríveis. Nenhum ortopedista me pediu Raio X do tórax, mesmo eu relatando as dores e os remédios que já havia tomado e mencionado que havia feito hidroterapia sem sucesso por três meses. Só descobri meu tumor por que o último ortopedista iria fazer uma artroscopia em meus ombros e nos exames pré operatórios o Raio X está incluído. Lá estava ele.

3) Um dos efeitos da radioterapia é a Pneumunite Actínica, que pode acometer as pessoas submetidas a este tratamento mais ou menos seis meses após ter terminado. Aconteceu comigo e eu tomei doses maciças de cortisona e fiquei totalmente curada (deste problema).

4) Estes são apenas alguns exemplos de coisas que aconteceram comigo. Pergunte tudo, ninguém é adivinho. Encare o seu médico como um profissional que tem mais cem pessoas iguais a você para cuidar. Você é que tem que cuidar do seu problema. Guarde todos os seus exames, leve-os nas consultas, tenha-os a mão e em ordem em casa. Se entregar alguma coisa a ele, tire uma xerox, guarde seus cartões de rádio e de quimio. Muitos médicos mal anotam o tratamento que você está fazendo e será você que o ajudará quando ele lhe fizer alguma pergunta.

Agarre-se a sua vida! Ninguém pode agarrá-la por você! Nem mesmo Deus!

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