[CÂNCER DE COLO DO ÚTERO] Marilene

Marilene, diagnosticada com câncer no colo do útero, nos enviou este depoimento a fim de dividir sua experiência e, quem sabe, ajudar outras pessoas que estejam passando pela mesma experiência.

Leia abaixo a história de Marilene.

Olá guerreiros do Oncoguia! Primeiramente quero parabenizar pelo trabalho que vocês executam!

Bom, me chamo Marilene, tenho 29 anos, sou gaúcha nascida em Novo Hamburgo, mas faz 6 anos que moro em Concórdia - SC. O que mais gosto de fazer hoje é ajudar os outros compartilhando minhas experiências vividas, antes disso era uma pessoa que pensava em crescimento profissional, ou seja, somente em dinheiro.

Bom, há dois anos estava trabalhando normalmente e feliz, pois tinha passado numa seleção e tinha ganhado um bom cargo na minha empresa e, de repente, eu estava com um resfriado e procurei um médico. O mesmo me pediu para fazer um exame de sangue de rotina. O exame constatou uma leve anemia e o médico me receitou um tratamento.

Quatro meses depois eu já não era mais a mesma, estava pálida, tinha perdido 5 kg, não tinha mais agilidade para realizar simples tarefas, mas não tinha dor. Repeti o exame de sangue e constatou que a anemia tinha aumentado e muito! O Dr. resolveu me internar para realizar vários exames: fiz tomografia, ultrassom, raios X e meu ginecologista foi chamado para ajudar e realizar uma biópsia.

Sai do hospital bem e retornei a trabalhar, pois á biópsia iria demorar uns 15 dias para ficar pronta. Passaram os 15 dias e meu médico me ligou para eu ir até o consultório. Chegando lá eu vi que a cara do Doutor não era boa. Ele sorriu, tentou disfarçar, mas ninguém me engana, eu vejo no olhar das pessoas se estão bem ou não. Pedi para ler o resultado da biópsia, nunca vou esquecer, naquele momento sabia que estava com um Carcinoma Epidermóide com Células Escamosas, altamente avançado, ou seja, não poderia fazer cirurgia, que seria uma simples solução.

Meu chão caiu naquele momento, afinal, a gente nunca acha que vai ter um câncer! Pensei na minha família e na minha filha e pensei em Deus, pedi ajuda ao Senhor, pois só Deus para ajudar naquele momento. No mesmo dia procurei um oncologista, o Dr. Carlos Fernando Bernardi. Lá ele me informou mais sobre minha situação, pedi a ele para saber tudo nos mínimos detalhes o que me deu o maior apoio. Me informou que teria de fazer quimioterapia, daquelas bem fortes e, se eu concordasse, faria radioterapia e braquiterapia.

Cheguei em casa e falei para a minha família que estava com CÂNCER, mas falei que estava tudo bem e que era só uma passagem. Me doeu ver o desespero de minha família, a minha mãe chorava o tempo todo e a todo momento eu sorria e dizia que não era para se preocupar, pois Deus estava junto comigo.

Comecei a fazer a quimioterapia e em 15 dias perdi metade do meu cabelo, a outra metade eu mesma peguei a máquina do meu irmão, me tranquei no quarto e raspei a minha cabeça. Comprei peruca, lenços e, acredite, quando estava com a peruca ninguém percebia que era uma peruca. Na segunda químio eu comecei a fazer a radioterapia, 30 sessões. A cada dia que passava, durante o tratamento eu ia conhecendo vários pacientes, perdi a conta, a minha animação eu passava para todo mundo, pois, infelizmente, pude perceber que a grande maioria entrava em depressão. Efeitos colaterais? É difícil numerar, pois sentia de tudo: enjoos, o cheiro me incomodava bastante, etc. A medicação também era alta, tomava mais de 25 medicamentos por dia.

A cada dia que passava eu ficava mais fraca, não conseguia me alimentar. Terminei a radio e tinha 4 sessões de braquiterapia, isso sim foi terrível, esse é com certeza o pior tratamento. Quando chegou na décima quimioterapia eu já estava de cadeira de rodas, a dor era controlada através de morfina e eu e o médico em decisão mútua, resolvemos parar o tratamento. Neste dia me internei no hospital para fazer exames, aí, meus amigos, a morfina não fazia mais efeito, eu gritava de dor. Ali naquele momento eu não conseguia me controlar, me davam doses altas de morfina e nada resolvia. Chegaram os resultados dos exames.

Quando o Dr. entrou no meu quarto e me mostrou os resultados, o meu rim do lado direito estava bem dilatado, a minha bexiga estava toda queimada e o resto nem se fala. Neste momento eu me ajoelhava e pedia para Deus aliviar só um pouquinho a dor, pois já estava enlouquecendo com tanta dor e eu que pensava que ganhar a minha filha no parto normal seria a maior dor que eu iria sentir, que nada, a dor naquele momento era 10 vezes maior.

Naquele momento eu era acompanhada por um oncologista, um urologista, ginecologista, psiquiatra, psicóloga, nutricionista, e, posso afirmar que Deus me abençoou colocando o Dr. Carlos Bernardi (oncologista), Dr. Etsom Patslaff (urologista), Dr. Gilmar Zortéia (ginecologista), eles estavam ali a todo o momento. Quando a minha família se reuniu para falar com os médicos eu sabia que a minha situação era a pior possível, mas, mesmo assim, eu controlava a dor psicologicamente.

Passei duas semanas internada e fiz a biópsia, a qual não constatava se a doença tinha aumentado ou não. Conversei com meu médico e pedi para ir para casa. Em casa eu resolvi parar de tomar a morfina por conta própria, tremi uns 3 dias pois já estava viciada, com morfina ou sem morfina a dor era a mesma, mas, mesmo assim, pesquisando na internet, eu estava lendo sobre o Pet-CT e vi o quanto ele é importante para ver onde está o câncer, o tamanho e o lugar onde está instalado.

Procurei o médico, falei que queria fazer e ele me liberou. Com o resultado dele procurei os meus médicos e foi falado em cirurgia, mas também me falaram das possibilidades de ficar viva que eram muito poucas. Minha família era contra a cirurgia, mas eu, confiante na minha fé em Deus, fui adiante.

Chegou o dia da cirurgia e foi o mais feliz da minha vida. Eu sabia que naquele dia o meu sofrimento iria acabar, ou eu iria viver ou eu morreria anestesiada sem dor alguma. Depois de horas de cirurgia, me lembro do médico me acordando e dizendo: Marilene, deu tudo certo, o tumor foi retirado e você ainda está viva, e eu ouvia a comemoração dos médicos, das enfermeiras e do anestesista. Fui levada para UTI e lá me deram o Ventanil, que maravilha de remédio! A partir daí estou até hoje me recuperando, voltei a me alimentar, a caminhar novamente e a valorizar pequenas coisas do dia a dia, tipo olhar para o céu azul e achar lindo!

Faço acompanhamento médico a cada 3 meses e estou curada, graças a Deus, e a coragem dos meus médicos, que não desistiram de mim em nenhum momento e sempre diziam sim para as minhas ideias. Agradeço a eles pelo resto de minha vida e dou risada, pois a grande maioria que me viu não me dava muito tempo de vida e hoje ficam parados me olhando e vendo que estou viva e curada. Não tomo nenhuma medicação, graças a Deus.

No momento estou afastada do meu trabalho, pois eu acho que pelas palavras da médica do INSS, ela achou que eu não iria durar muito tempo. Planos para o futuro eu não tenho, aprendi a viver um dia após o outro. Abri uma conta no Facebook e ajudo a administrar um grupo que se chama Cura do Câncer, onde eu tento ajudar as pessoas, pois percebo que a grande maioria não tem acesso às informações como eu tive dos meus médicos e, também, converso com alguns pacientes pessoalmente, tento passar autoestima, falo sobre fé e pensamento positivo sempre, por mais difícil que seja, essa tem sido a minha vida ultimamente e feliz por poder ajudar outras pessoas que passam por isso.

Orientação para quem passa por isso, por mais difícil que seja o diagnóstico, não tenha medo e sim a certeza que pode sim ter um resultado positivo. E se precisar é só me procurar no Facebook que estarei lá para ajudar a falar sobre isso.

O Oncoguia eu conheci através do Facebook também. Busquei sempre me informar sobre tudo. A internet é uma grande fonte de conhecimento, mas conversar com os médicos é sempre bom.

Aos políticos, eu queria que implantassem mais equipamentos de radioterapia pelo Brasil, eu estou cansada de conhecer pacientes que estão morrendo esperando na fila de espera, equipamentos velhos e hospitais sem estrutura nenhuma, pois não adianta mais médicos se não tem equipamentos de radioterapia. Queria perguntar se eles tem noção da fila que se faz diariamente na frente de hospitais, de pacientes com câncer sem tratamento. Hoje em dia, o paciente não morre por causa do câncer e sim por falta de tratamento.

A vocês do Oncoguia, se precisarem estou à disposição de vocês, Que Deus abençoe a todos.

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