[CÂNCER DE MAMA] Ana Lúcia

Instituto Oncoguia - Como você descobriu que estava com câncer de mama?

Ana Lucia - Fui diagnosticada com câncer em julho/2012, aos 32 anos.Inicialmente, em dez/2011, notei meus seios (os dois) estranhos e doloridos. Em janeiro de 2012, eles pareciam de tamanhos diferentes, e havia uma cavidade que se formava no seio direito, quando levantava o braço. Fiz uma consulta com meu ginecologista, que fez o exame clínico no consultório e disse que não havia problema algum, porém comecei a notar que saia secreção do seio direito.Não contente com a resposta do médico, decidi procurar outro caminho, e em abril, o médico do trabalho passou em visita na empresa, comentei essa preocupação e ele me fez um pedido de ultrassom de mama, pois era o que ele, enquanto clínico geral, podia pedir, e me orientou a procurar um ginecologista com o resultado, caso fosse necessário, para mais exames.Em maio/2012 fiz o ultrassom onde o radiologista notou cistos "com conteúdo espesso", e me orientou a refazer o exame a cada 6 meses. Com esse resultado, não me preocupei, e resolvi aguardar os tais 6 meses...Em julho saímos de férias e durante uma viagem comecei a notar um caroço no seio, no autoexame. Ao voltar, marquei uma consulta com um mastologista, que me pediu mamografia e ressonância magnética. Com esses resultados, procurei uma ginecologista, amiga de faculdade da minha mãe (minha mãe é médica clínica geral), em que eu tinha confiança, embora não atendesse pelo meu convênio. A partir daí as coisas aconteceram muito rápido. Ela já suspeitou de tumormaligno e me pediu a biópsia e, enquanto aguardava o resultado me pediu uma lista de outros exames (PET-CT, densitometria óssea, ultrassom de mama (atual),abdome e uma lista imensa de exames de sangue) para adiantar. Saindo o resultado da biópsia, me encaminhou para um oncologista com todos os exames necessários e em agosto já comecei o tratamento.

Instituto Oncoguia - Qual foi sua reação ao descobrir o diagnóstico? O que sentiu?

Ana Lucia - Minha cabeça ficou uma confusão de pensamentos. Por um lado eu pensava na tristeza de deixar meus filhos órfãos, e por outro, lembrava de uma tia-avó que já teve 3 vezes câncer de mama e está aí, firme e forte!

Instituto Oncoguia - Qual foi sua maior preocupação neste momento?

Ana Lucia - Minha preocupação foi em deixar meus filhos e meu marido tranquilos. Eu estava "com uma doença", mas não estava "doente". Me pareceu importante deixar claro que eu não sentia dor física e que eu estava forte para procurar tratamento.Para que se entenda: Em 2011, meu sogro veio a falecer devido a um câncer no cérebro, depois de 3 anos de tratamento e meu marido, assim como toda a família, ainda estavam muito abalados. Ele sofreu muito, chegando a perder a consciência em algumas épocas, sem saber quem era, quem eram os filhos e netos, e o que estava acontecendo. Ainda era uma experiência muito recente e procurei apontar as diferenças entre os tipos de câncer, enfatizando que as reações eram diferentes, e as chances de cura/sobrevida também. (Eu sobrevivo sem um seio, mas não sem o cérebro).

Instituto Oncoguia - Quais foram os passos tomados após o recebimento do diagnóstico?

Ana Lucia - Primeiro procurei explicar para os meus filhos a situação. Exatamente pela morte do meu sogro, não queria alarmá-los, mas eles precisavam saber o que estava acontecendo. De maneira que eles entendessem,expliquei que ia fazer a quimioterapia, e como os remédios eram muito fortes, o cabelo ia ficar fraco e cair. Depois falei da cirurgia, com ajuda de metáforas (mostrei uma maçã com uma partezinha apodrecida e expliquei que o câncer é como essa parte. Nós podemos tirar essa parte e salvar o resto da maçã, mas se não tirarmos, e maçã inteira irá apodrecer). Em agosto/2012 comecei o tratamento com quimioterapia que se estendeu até outubro. Foram 4 sessões, com intervalos de 21 dias entre elas, mas cada uma muito intensa, com muitas reações.Em novembro/2012 fiz mastectomia radical do lado direito. E em janeiro/2013, comecei a radioterapia.

Instituto Oncoguia - Em que momento do tratamento você se encontra agora?

Ana Lucia - Hoje, 06 de fevereiro de 2013, fiz a minha 23 sessão de radioterapia (de um total de 25), e estou tomando Tamoxifeno há 2 meses, que tomarei por um total de 5 anos. Depois de passar essa fase farei mastectomia preventiva do lado esquerdo e reconstrução.

Instituto Oncoguia - Quais tratamentos você já realizou?

Ana Lucia - Quimioterapia / Mastectomia / Radioterapia / Hormonioterapia.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

Ana Lucia - Sem dúvida o tratamento mais difícil é a quimioterapia. As reações são muito desagradáveis e os remédios debilitam muito. Depressão à parte, você não sente vontade de sair da cama e, quando sai, é tomada por tonturas e náuseas, que não são naturais. Os remédios para combater os sintomas não são 100% eficientes. Quando vai chegando a data da próxima aplicação, o corpo não está totalmente recuperado e vai batendo um desespero de passar por tudo aquilo de novo.

Instituto Oncoguia - Você realizou seu tratamento pelo SUS ou plano de saúde?

Ana Lucia - O tratamento (químio e radio) foi feito pelo plano de saúde, assim como as consultas nos oncologistas que acompanharam esses procedimentos, e as consultas médicas na ginecologista e a cirurgia, particulares, em hospital do convênio.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Ana Lucia - Sim, muitos. Na quimioterapia: náuseas, tonturas, fraqueza, falta de apetite pela náusea e a baixa da imunidade, a cada sessão, me provocava sintomas diversos, de resfriados a reações alérgicas. Na cirurgia, saí com perda da mobilidade do braço, pelo esvaziamento axilar. Na radioterapia, estou sentindo ressecamento da pele, o que está me alterando a mobilidade do braço novamente, pelo limite da pele, ao esticar.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Ana Lucia - Minha ginecologista me passou muita confiança e segurança pela experiência que tem nesse tipo de tratamento eme indicou um oncologista que também foi excelente, ambos explicando os procedimentos, sem desmerecer o lado emocional.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Ana Lucia - Procurei ainda orientação de um cirurgião plástico para me informar sobre a reconstrução da mama. Fiz fisioterapia para voltar o movimento do braço, ainda que não total.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento com equipe multiprofissional?

Ana Lucia - Não senti necessidade de procurar esses profissionais, embora tenha lido alguns livros e artigos na internet que me passaram informações muito úteis para apoio no tratamento, como alimentos benéficos ou prejudiciais, entre outros.Recomendo, entre esses, o livro Anticâncer, que colei no final, fala principalmente sobre a alimentação e exercícios físicos no pós-câncer, para prevenir recaídas, com resultados de estudos feitos nos EUA.

Instituto Oncoguia - Durante o tratamento do câncer, o que foi mais difícil de enfrentar e por quê?

Ana Lucia - Foi difícil aceitar que eu passei pelo meu médico, 6 meses antes de descobrir a doença, já com sintomas e ele me dispensou. A ideia de que poderia ter começado a me tratar antes, se isso tivesse acontecido, teria sido menos traumático, menos agressivo.

Instituto Oncoguia - O que foi fundamental e lhe ajudou a enfrentar o câncer?

Ana Lucia - O pensamento na família.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Ana Lucia - Estou licenciada pelo INSS até o final do tratamento, me dedicando à família e a casa. Devo voltar ao trabalho em dois ou três meses e estou ansiosa por isso. Eu e meu marido estamos fazendo planos para viajar nas próximas férias, o que nos deixa felizes e nos permite ficar, mas próximos das crianças, participar mais da vida delas, e curtir a vida em família. Estou renovando minha carteira de motorista para "deficiente" por causa do braço. Logo volto a dirigir!

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Ana Lucia - Pare. Respire fundo. Você não está sozinho. O mundo não está conspirando contra você. Primeiro é preciso cuidar da saúde imediatamente. Siga corretamente as orientações do seu médico. E comece a rever o que você está fazendo de errado, e que pode estar sendo prejudicial para a sua saúde, alimentação carregada de fast-food,estresse, fadiga física e mental. O corpo está dando sinais de que você precisa mudar.Repense sua vida, dê valor para as coisas que parecem pequenas, aproveite bem suas férias, curta seus filhos,cônjuge...

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Ana Lucia - É necessário saber o que vai acontecer. Dá mais segurança. Nos deixa preparados para o que está por vir. Meu oncologista disse antes de começar a quimioterapia: "-Seu cabelo vai cair no 16º dia." No 15º dia não havia caído um fio. No 16º dia começou uma avalanche de cabelo. A credibilidade no médico aumenta.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Ana Lucia - Sim. No início, é uma adrenalina e uma avalanche de informações, muitas desencontradas. A internet por um lado tem muito material, mas por outro, tem muita bobagem. Então fui focando nas orientações da minha médica, que afinal de contas era ela que tinha assumido meu tratamento e mais do que ninguém ela que tinha a experiência para me orientar de maneira correta. Hoje ainda recebo várias matérias, reportagens e pesquisas por e-mail e facebook de amigos querendo nos ajudar, mas dou uma filtrada e pesquiso primeiro a veracidade das informações e confirmo ou corrijo algumas pesquisas que já li sobre o assunto.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Ana Lucia - Conheci o Oncoguia por indicação da minha ginecologista.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão para nos dar?

Ana Lucia - Sim. É muito bom dividir os problemas, torna o nosso fardo menor para se carregar. Porém, acho de extrema importância campanhas de prevenção e diagnóstico precoce do câncer. Gostaria de poder divulgar histórias (e sensibilizar) quem acha que não está nos grupos de risco, por que é jovem ou não tem histórico familiar.Quem está nesse "universo", já sabe como funciona, quem descobriu recente que tem câncer, está correndo atrás de informações, mas quem não tem não se preocupa e não dá atenção à possibilidade. Incentive o autoexame! Consultas médicas de rotina com ginecologista, urologista... E por que não, com cardiologista, para prevenir problemas no coração, gastro para prevenir problemas no estômago, etc.Os convênios médicos desestimulam a consultar muitos médicos, pois gera custos para eles, porém cuidar da saúde é necessário!

Instituto Oncoguia - Mais alguma coisa que você gostaria de contar?

Ana Lucia - Existem algumas coisas que nos dão respaldo nesse momento. Uma delas foi mandar fazer a peruca. Não estou usando, para falar a verdade usei apenas uma vez, mas me dava segurança saber que ela estava ali. Quando algo diferente está para acontecer, não sabemos qual vai ser a nossa reação e precisamos de um 'porto seguro'. Porém, estar careca, abria espaço para as pessoas perguntarem e questionarem sobre o câncer e acho inclusive que ajudei a disseminar informação com isso. (Brincava que era bom estar careca, ninguém reparava se eu tinha derrubado molho na blusa, ou se a calça não combinava, afinal de contas, eu estava careca!) Outra coisa foram as próteses no sutiã depois da cirurgia. Aqui em Campinas, achei na loja MaCom, para ficarmos pelo menossimétricas!! Também achei maiôs com prótese, que a loja Aqua Brasil coloca sem custo na compra do maiô - serve em um modelo específico.

Segue nome do livro que mencionei: Anticâncer – Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais, de David Servan-Schreiber, Editora Fontanar.
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