[CÂNCER DE MAMA] Débora Rodrigues Monteiro

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar? Débora

Débora -
Olá, com prazer compartilho minha história. Sou Débora Rodrigues Monteiro, 43 anos, moro em Santo André, SP. Sou Assistente Social, Fisioterapeuta e Terapeuta. Tenho dois filhos, de 8 e 15 anos. Geminiana, descontraída, adoro novidades, brincar, curto ser mãe, viajar, ler, dançar, trabalhar, estudar e viver a vida em todos os aspectos.

Instituto Oncoguia - Qual é o seu tipo de câncer?


Débora -
Câncer de mama (esquerda). Carcinoma ductal invasor.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Débora - Há 12 anos, fiz na mama esquerda uma cirurgia para retirada de microcalcificação, mas nada de malignidade. Nunca fiquei um ano sem fazer mamografia e ultrassom.  Frequentemente, realizava o auto exame. Início de 2012 os exames estavam ok, porém, no decorrer do mesmo ano, notei um nódulo, dolorido, região com leve hiperemia (vermelhidão), com irradiação para o braço. No período pré-menstrual, incomodava mais, o que é natural e em consulta o médico nada notou.

Não eram dores constantes, porém, me chamaram atenção, pois nunca havia tido esses sintomas. Sempre notei que durante o ultrassom os médicos ficavam muito tempo analisando, mas como essa mama tinha cicatrizes da outra cirurgia, acabava passando despercebido. Procurei outro mastologista, pedi para repetir os exames. No ultrassom já veio o diagnóstico em BIRADS grau IV. Em janeiro de 2013, fiz biópsia, em fevereiro, mastectomia total com reconstrução (cujo resultado foi muito bom, por sinal!) e em março esvaziamento axilar. Fiz de abril à outubro quimio e terminarei em novembro as rádios.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?

Débora - Minha intuição não falhou, eu tinha certeza que em 2013 teria uma missão totalmente nova em minha vida. Quis ir sozinha buscar o resultado e ao chegar na calçada, já abri, vi o resultado e pensei: é, realmente é câncer. Um filme relâmpago da minha vida se passou em minha mente. Silêncio absoluto e total.

Curioso, mas não tive medo, nem revolta. Na hora, ACEITEI O CÂNCER. Senti que, a partir daquele momento, eu tinha que ser forte, que teria um longo caminho a percorrer  e esse caminho seria só meu. Deus tinha seu propósito para mim e eu não era vítima da situação.  Pelo contrário, a vida estava me dando uma grande oportunidade de mudança. Vim para casa pensando em como falar para os filhos e família. Pedi serenidade a Deus e coragem e que dali em diante, eu faria a minha parte diante do diagnóstico.

Tive FÉ EM MIM, passei a chamar o câncer de "Cacá” e conversava sempre com ele: "olha, "Cacá”, você está aqui de passagem pelo meu corpo, ok? Aprenderei com você, não entrarei em guerra. Simplesmente, prometo que farei o melhor por mim!

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?


Débora - Encontrar um local de referência para tratamento, que fosse possível conciliar com meu convênio. Encontrar uma equipe de confiança, pois isso é muito importante nessa fase, me sentir segura e amparada. Procurei mudar várias coisas na alimentação, também, e levar minha vida normalmente, sem me desesperar.

Aconteceu justamente dessa forma. Por vários momentos, desde o início até hoje, eu esqueço que estou em tratamento de câncer. Sim, eu esqueço!

FOCO O MEU TRATAMENTO, NÃO O CÂNCER.
FOCO A MINHA VIDA, NÃO O SOFRIMENTO.
FOCO A FÉ, NÃO O DESESPERO.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Débora - Inúmeras consultas, exames, reorganizar o ano de 2013. Pesquisei muito na internet, conheci outras pessoas com o mesmo histórico. Procurei absorver o que era positivo nas histórias que lia e ouvia. A partir desse momento, passei a ser paciente de mim mesma, a usar toda teoria que usava com as mulheres que atendia com câncer. Eu dizia a elas: tenha fé, não desista de sua vida, ela é mágica, única e um presente de Deus. Aproveite-a! Esse é meu lema.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Débora - Iniciei a quimio em abril, fiz a última dia 01/10. Foram, ao todo, 16 sessões, onde as 4 primeiras vermelhas foram a cada 21 dias. As outras 12 sessões foram semanais (taxol). Farei 28 sessões de radio e após 6 meses do final das rádios, farei simetria das mamas.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?


Débora - A 1ª sessão de quimio foi a mais desafiadora, pois receber uma droga tão forte, que iria atingir todo o organismo, sem saber como iria reagir, cria uma grande ansiedade e expectativa. As demais sessões foram tranquilas, pois passei a ter ideia do que era e do que poderia sentir.

Procurei pesquisar de que forma amenizar os sintomas e preservar minha qualidade de vida. Não me preocupei com os cabelos. Via a queda dos cabelos como algo que fazia parte dos efeitos colaterais. Trabalhei o desapego, cortei mais curtos antes da quimio e me arrependi por não ter cortado curto antes! Hoje me pergunto: pra que tanto apego ao cabelo? Não esperava curtir tanto minha carequinha. Aderi aos lenços, que são charmosos, versáteis e práticos. Mas saio muito sem lenço, não me importo com os olhares e comentários. Os cabelos estão crescendo muito rápido e já passei a maquininha nº 1, por 2 vezes, para ir igualando aos poucos.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Débora - Diante dos inúmeros efeitos colaterais causados pela quimio, graças a Deus os que tive foram dentro do normal. O que mais sentia era tontura, sono, por 2 dias corpo muito dolorido, fadiga, indisposição, torpor na cabeça, ondas de calor e frio, muita sede, memória e raciocínio mais lentos. O apetite alterava muito, ora com excesso de fome, ora com inapetência. Desejos inesperados por diversos tipos de alimentos. Percebi sensibilidade auditiva e visual. Sentia meu emocional à flor da pele. A cada sessão, os sintomas variavam. Após uma semana de aplicação da quimio vermelha, eu já estava 90% restabelecida. Mantive as atividades físicas, vida social e, realmente, só ficava de cama quando era necessário. Soube lidar com cada reação, pois não adiantava me desesperar. Sabia que iria passar. Assim foi, a cada dia que não estava bem, tinha certeza que no dia seguinte estaria melhor.

As quimios brancas causam também sono, tontura e senti leve neuropatia em mãos e pés (formigamento).

Ganhei peso, devido aos medicamentos e às alterações alimentares que senti. Mas procurei controlar, dentro do possível, para que não excedesse o padrão normal de peso.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Débora -
Eles são objetivos, falam e explicam pouco. Percebi que eles esperavam meu interesse em saber mais detalhes. Eu levava uma lista a cada consulta com as dúvidas, pois cada vez que saia da sala, novas dúvidas apareciam. Passei a me sentir mais à vontade a cada consulta e hoje tenho eles como meus companheiros.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Débora - Nutróloga e Dermatologista.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?


Débora - Já fazia antes do diagnóstico.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?


Débora - Pesquisei sozinha sobre alimentação e fui adaptando meu cardápio, pois seguir um roteiro alimentar durante a quimio não me agradou. O desejo alimentar oscila demais nesse período. Impossível, pra mim, seguir um cardápio específico. Comia de tudo, com moderação. Muito suco, frutas, vegetais, legumes.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?


Débora - Ainda estou fazendo radio, de 2ª à 6ª feira.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Débora - Normal em todos os sentidos, só não voltei a trabalhar. Não realizo mais trabalhos pesados e repetitivos em casa, para preservar meu braço de um possível linfedema. Sinto muita fadiga, pelo efeito da quimio. Respeito meu limite procurando fazer as atividades em ritmo mais lento, pois as tonturas surgem repentinamente. Esporadicamente, sinto dores leves no corpo. Com o tempo e com a alimentação, vou me desintoxicando e a cada dia estou melhor.
Parece que vou reencaixando meu corpo aos poucos.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.


Débora - Como disse, do trabalho estou afastada. Meus planos para minha vida nunca foram alterados, permanecem da forma que sempre foram. Deus sabe o que será melhor para mim e qual será minha missão daqui pra frente.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Débora - Em primeiro lugar, ACEITE O CÂNCER. Não se revolte, não se culpe nem culpe outra pessoa por você estar com câncer. Você não é vítima, nem uma pessoa "doente”. O CÂNCER ESTÁ EM VOCÊ, MAS VOCÊ NÃO É O CÂNCER. Há uma grande diferença nisso tudo. Tenha FÉ EM VOCÊ, pois não adianta ter fé em Deus e não acreditar em você. Você é capaz de superar todos os degraus que tem pela frente. Deus te dá forças, agarre-as, erga a cabeça e siga adiante. Ele nunca te abandonará. Faça a sua parte. Busque ajuda com outros profissionais. Mantenha atividades físicas leves, pelo menos uma caminhada. Passeios, pessoas positivas são bem vindas!

Não se isole. Mantenha a autoestima e o amor próprio sempre presentes. Você não se resume a uma mama que estava comprometida. Você é um ser muito maior e iluminado. Ame-se, viva a vida! A FÉ TRAZ SUA AUTOESTIMA E TE LIBERTA DO MEDO. CONFIE!

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?


Débora - É fundamental ter informação, pois nos prepara para o que vamos enfrentar. Nos fornece respaldo e nos dá segurança.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?


Débora - Através de sites, pessoas, pesquisas. Por motivação médica, de familiares e amigos, fiz uma página no Facebook (Razões de ser, eu e o câncer), onde trocamos experiências e vivências. Isso é extremamente importante e gratificante.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  

Débora - Eu já recebia informação há muito tempo, pois havia preenchido em um consultório uma pesquisa sobre câncer. Quem diria que um dia estaria aqui, passando minha história. A vida é realmente surpreendente! Nem por isso ela deixou de ser linda, mágica e abençoada.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?


Débora - Somente que mantenham essa qualidade de divulgação, conscientização e incentivo aos pacientes. Gosto muito do trabalho do Oncoguia, pelo profissionalismo e respeito que dedicam aos pacientes.

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?  

Débora - Agilidade e prioridade no atendimento das pessoas diagnosticadas. Presenciei com algumas pessoas que conversei, longo tempo na lista de espera por uma consulta. O câncer não para de sofrer mutações, o tempo é precioso nesse momento, ter mais campanhas por ano, de mamografia, Papanicolaou, abertas à rede pública, dignidade ao atendimento e ao tratamento, para todos os diagnósticos, ter uma abordagem multidisciplinar acompanhada por uma equipe especializada, que inclua médicos (cirurgião, oncologista clínico e um radioterapeuta), enfermeiro, psicólogo, nutricionista, assistente social e fisioterapeuta. O câncer de mama é uma doença complexa, ela envolve não só o paciente, mas todo um complexo familiar, que também necessita de orientação.
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