[CÂNCER DE MAMA] Evelin de Moraes Scarelli

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
 
Evelin Scarelli - Me chamo Evelin de Moraes Scarelli, tenho 23 anos, estou no último ano do meu curso de fisioterapia e ainda não conquistei muitos objetivos nessa vida, mas descobri recentemente que também posso ser blogueira. Risos.

Instituto Oncoguia - Como você descobriu que estava com câncer?

Evelin Scarelli - Foi um processo diferente. Como sou muito jovem e não tenho histórico familiar, realizei o que até então o meu ginecologista, que também é mastologista, acreditava ser uma cirurgia apenas para retirada de um nódulo benigno.

A primeira vista, o médico não acreditou no resultado e então, sem que nós soubéssemos, encaminhou o exame para revisão com outros patologistas. Demorou um pouco mais de um mês até que o resultado da biopsia chegasse em nossas mãos.
 
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? 
 
Evelin Scarelli - É anestésico. A gente já sabe que tem alguma coisa errada mesmo antes de tudo se revelar. Passava as férias da faculdade na casa da minha avó em Atibaia, cidade do interior de São Paulo. Meu pai ligou em meu celular pedindo discrição, dizendo que estava na cidade sem a minha mãe e que estava a me esperar na esquina de casa para irmos ao médico. Não me lembrei da biopsia, apenas pensei: "Meu pai, me acompanhando ao ginecologista?” Risos!

Chegando ao consultório, nem o médico conseguia nos dar a notícia. Lembro que ao ver o meu pai chorar, minha primeira reação foi a de abraçá-lo e de pedir muitas, muitas desculpas. A verdade é que todo esse momento de receber uma notícia como essa é surreal, você pensa: "Isso está acontecendo mesmo comigo, será que estou sonhando?”.

Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação no momento em que te deram a notícia?

Evelin Scarelli - Definitivamente passar a notícia a diante. Só conseguia pensar na minha família, na carga que eles teriam que sustentar ao me assistir passar por todo processo que estava por vir. São muitas informações recebidas pelo médico logo após o recebimento do diagnostico: cirurgia inicialmente para a retirada das duas mamas, quimioterapia, exames pré-operatórios, consultas com outros médicos especialistas da área... E eu ali, parada, com a cabeça longe, pensando na minha mãe que estava em casa sem saber de nada.

Instituto Oncoguia - Quais foram os passos tomados após o recebimento do diagnóstico?

Evelin Scarelli - Pedi uma semana para colocar as ideias no lugar, mas o médico disse que estávamos no tempo certo de correr atrás de todas as coisas. A verdade é que ele foi um parceirão, resolveu todas as coisas burocráticas sem que a minha família precisasse encostar no telefone. Ele marcava os exames, conversava com os médicos e agendava tudo, apenas nos comunicando as datas e os horários.

Passei aquela segunda feira e o resto da semana fazendo uma bateria de exames e consultando outros médicos sem que a minha família soubesse. Foi uma correria, o que tornava tudo mais surreal ainda.

Instituto Oncoguia - Em que momento do tratamento você se encontra agora? Quais tratamentos você já realizou?

Evelin Scarelli - Estou a caminho da última sessão quimioterápica. Ganhei muitos presentes no decorrer desse processo e um deles foi a decisão da médica oncologista a respeito da redução dos ciclos. O que seriam seis passaram a ser quatro. Nessa fase a gente faz festa e comemora tudo. Essas reduções foram importantíssimas para mim, mas sei que ainda tenho cinco anos de tratamento pela frente.

Após uma semana de cada sessão quimioterápica, faço uso do Filgrastine, uma medicação para aumentar a produção de glóbulos brancos e auxiliar no sistema imunológico. Cinco doses, uma por dia, todas custeadas pelo convênio médico e aplicadas dentro do hospital.

O mastologista optou por realizar a mastectomia unilateral antes de qualquer tratamento oncológico. Operei três dias antes da virada do ano e como não precisei de radioterapia, também não precisei fazer uso do extensor.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?
Evelin Scarelli - Acredito que não exista tratamento mais difícil. O que o torna ser difícil ou não é a nossa cabeça em relação a cada um deles. Todos têm o seu período de tormenta, porque as limitações passam a ser físicas e não mentais. O famoso "querer não é poder”.

É ai que a coisa complica e o estresse por vezes dita as regras do jogo. Saber que estamos em uma fase "dependente”. Nessas horas, o melhor que podemos fazer é contar com a mesma mente que te estressa. É imaginar que o melhor esta por vir e pensar em todos os valores e novos amigos que passamos a ter graças ao câncer.

Disse isso em meu blog: o câncer chegou, trouxe um monte de coisas boas e só levou a minha mama. Quanto às cicatrizes, elas me servem de lembrança de toda essa linda fase de entendimento e serenidade da minha vida. Não tenho medo de dizer isso.

É claro que as dores e limitações físicas também existem, mas a gente precisa ter firme em nossa consciência de que isso também é passageiro. O segredo é se agarrar na esperança de viver um dia de cada vez, sabendo que o amanhã será melhor.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Evelin Scarelli - Sim. E esses são os momentos de tormenta em que escrevi a pouco. Cada vez mais, acredito na ideia de que o nosso organismo não esteja acostumado a tantas agressões internas. O meu não estava. E a minha cabeça em relação as mudanças também não. Leva um tempo até você se acostumar e dizer que é natural. E esse tempo pode ser rápido para uns – como foi para mim- e extremamente lento para outros.

Por algum motivo, optei por fazer a minha primeira sessão quimioterápica as escuras. Inicialmente, pedi para entrar sozinha e só conforme assistia a preparação das enfermeiras para a aplicação, as questionava sobre o processo. E foi incrível, voltei para casa e não senti nada alémm de constipação e a tão temida queda de cabelo.

Conversar com as pessoas sobre os efeitos colaterais da quimioterapia foi uma das piores besteiras que já fiz. Demorei muito para entender que cada organismo responde a ação da quimioterapia de uma forma. O processo é individual e ao se apegar aos efeitos dos outros, o medo de sentir o mesmo te consome, mudando o foco do tratamento. O que antes era um líquido entrando em sua circulação sanguínea para te salvar, passa a te fazer sentir medo do estará por vir, gerando assim, mais efeitos colaterais.

Depois comecei a sentir as respostas do meu organismo, mas através dos meus amigos, consegui métodos alternativos que me auxiliaram muito em todos eles. Acupuntura para as tonturas e outras reações durante as primeiras 72 horas pós quimioterapia, uso de pedras (como a turmalina preta, que auxilia na desintoxicação), respirações, exercício de apertar bolinhas para "calibrar” as veias que já ficam difíceis de encontrar acesso, entre muitas outras coisas. Se todas as coisas funcionam de forma comprovada eu não sei, mas comigo tem dado muito certo.

Instituto Oncoguia - Como é a sua relação com o seu médico?
 
Evelin Scarelli - Descobri que não existe muito essa de médico-paciente. Somos todos iguais, buscando o nosso espaço dentro do coração das pessoas. Graças a isso, o meu contato não só com a Dra., mas com toda a sua equipe médica, é tão aconchegante quanto o seio familiar. Todos os profissionais deveriam entender isso: Nessa fase, quanto mais carinho recebemos, melhor à resposta do tratamento.
 
Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento com equipe multiprofissional?

Evelin Scarelli - Sim. Uni o útil ao agradável em relação ao meu peso, procurando uma nutricionista. Sempre fui extremamente magra e estou feliz por ganhar cada vez mais um pouco de peso.

Também, aproveitei para conhecer o universo da fisioterapia oncológica após a mastectomia, onde precisei de acompanhamento durante algumas sessões. Quanto à terapia, antes mesmo do diagnóstico eu já fazia um acompanhamento. Estava em uma busca incansável para encontrar o meu espaço no mundo e para isso, senti que precisava de uma ajuda profissional.

Instituto Oncoguia - Na sua opinião, o que é mais difícil de enfrentar durante o tratamento e por quê?

Evelin Scarelli - Não existe nada mais difícil dentro desse universo do que a nossa própria limitação mental. Tudo depende da forma como você encara a vida. Pra mim, conviver com essa experiência fez com que eu olhasse para dentro, com que buscasse em mim não o que me causou o câncer, mas que pudesse analisar em quem o câncer me transformou.

Muitas pessoas acham que a parte mais difícil do tratamento é o medo da morte, mas eu também defendo que todos nós deveríamos pensar que amanhã, por algum motivo, podemos não estar mais nessa dimensão. Essa proximidade com a morte é o que nos faz sentir mais e mais vontade de viver e descobrir a vida com os olhos da emoção, do tal "sentir”.

Todos aqueles sentimentos ruins que antes tinham grande importância na sua vida passam a ser pequenos, praticamente insignificantes, porque você só quer viver... Você percebe que não tem mais tempo para se preocupar com o que os outros lhe fizeram ou fazem, por que você quer se doar a tudo. De corpo e alma, com intensidade.

Instituto Oncoguia - O que foi fundamental e lhe ajudou a enfrentar o câncer?

Evelin Scarelli - Existe um amor que você só descobre quando passa por alguma situação mais difícil: o amor próprio. É através dele que você consegue enfrentar o mundo. Graças a ele, você consegue se olhar no espelho todos os dias e agradecer pela sobrevivência. Eu não sabia o meu tamanho e o meu lugar no mundo antes de ficar doente. Quanto mais a gente se ama, mais a gente consegue amar o próximo. Você se importa menos com o preconceito e a opinião dos outros em relação ao câncer, por que você sabe que através do testemunho do seu sorriso, conseguirá mostrar que existe felicidade diante ao inesperado.

Após isso, entender que você pode ser amado é uma das melhores sensações do mundo. É ai que o sentimento da gratidão aparece. Quanto mais amor e solidariedade você recebe, mas o seu coração só consegue agradecer. Quantas surpresas inesperadas você recebe com o também inesperado amor das pessoas. Você não tem noção disso até conseguir enxergar a alma falando através dos olhares e das palavras de carinho que recebe das pessoas. Cada convivência, cada mensagem, cada "Eu fiz uma sopinha pensando em você”, cada cafuné, graças as emoções que ficam a flor da pele, te fazem chorar um choro sincero, gostoso.

Depois, mas não menos importante, vem o incrível e incansável colo do namorado, o infinito apoio da família, as sopas da amada sogra e as surpresas que a gente recebe nas manifestações de carinho dos amigos e conhecidos.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Nos conte sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Evelin Scarelli - A minha centelha tem hoje uma carga de conhecimento e um entendimento da vida que antes era desconhecido. Minha postura como ser humano mudou e meus conceitos em relação ao mundo também.

Hoje, todos os meus planos são tão sem conflitos dentro do meu peito e da minha mente assim como a mágica da matemática do 2+2=4.

Quando não estou no hospital, passo grande parte do tratamento afastada de todos, apenas conectada ao meu blog e mesmo assim não consigo me sentir sozinha. A solidariedade das pessoas também foi outra surpresa do diagnóstico.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Evelin Scarelli - Respire fundo. Nada é o que parece. Somos crescidos, sabemos que durante a jornada da vida muito nos é dado e também nos é tirado. E se ainda não somos, que consigamos nos apoiar e usar da força dos que estão ao nosso lado.

As dores físicas existem e existiram sempre aqui na Terra, independente de você ter um
câncer ou não. Não existirá nenhuma dor diferente das que você já passou no decorrer da vida. Existirá sim, com toda certeza do mundo, uma nova chance de encarar os seus conceitos em relação a ela. Se você apenas se permitir, o sol passará a ser mais bonito, o seu amor em relação a todas as pessoas aumentará e o seu desejo de descobrir os sabores da vida será infinito. Tudo isso virá a partir do momento em que você passar a enxergar esse diagnóstico como uma oportunidade de renascimento e não como um castigo.

Todos nós: pacientes, familiares, amigos, conhecidos...ou seja, mais de 7 bilhões de pessoas nesse planeta, estamos todos aqui, sobrevivendo, em busca de algum objetivo. Aproveite esse descanso para meditar se você tem fechado todos os seus ciclos. Mas leve o seu tempo, agora depende só de você.

Seus familiares e amigos estarão por perto, mas saiba que você será o guia dessa caminhada. O processo é individual, mas você poderá deixá-lo mais fácil se permitir que a boa vontade de todos que estão ao seu lado chegue até o seu coração. Permita-se.

É uma experiência bonita, acredite em mim. E com a mesma rapidez em que a surpresa do câncer chegou, ele irá embora. Deus nos deu a oportunidade de conviver aqui na Terra com o tempo, que está aqui nessa dimensão apenas para que consigamos usar da Paciência. Tenha paciência. Saiba esperar por aquilo que inevitavelmente irá acontecer: A sua cura.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Evelin Scarelli - A informação tem os seus dois lados. Ela pode tanto nos deixar para baixo quanto nos animar para o resto dos dias. Nessas horas a gente não quer saber quantas pessoas são mortas pelo nosso tipo de câncer por ano, não queremos saber o que nos causou tudo isso, ou seja, queremos saber de qualquer informação que nos remeta a vida, não a morte.

Queremos um pouco de conforto e segurança dentro de todo o tratamento, até dos que ainda estão por vir, através dos estudos da medicina e dos seus cientistas.

Vibramos por novos tratamentos no futuro, porque estamos pensando também em aliviar um pouco a carga do próximo, no que ainda será acometido pelo susto inicial de receber o diagnostico.

Vibro por saber que este poderá ouvir no futuro de seu médico: "Encontramos algumas células malignas em seu corpo, mas passe na farmácia tome essa nova medicação e volte dentro de alguns dias para sabermos se elas já foram eliminadas do seu organismo"

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira? 
 
Evelin Scarelli - Inicialmente, quando soube através da equipe médica que o meu tipo de câncer associado a minha idade era considerado relativamente raro, passamos a procurar pessoas dentro da minha faixa etária. Os médicos, através dos prontuários e entre conversas fechadas com outros profissionais da área, e eu, dentro do universo da internet. Não obtivemos muito sucesso.

Encontrei apenas alguns blogs, pouquíssimos narrando com alto astral essa nossa jornada. Quando me deparei com alguns "escuros”, mostrando o lado depressivo e decadente do câncer e vi que estava me harmonizando com eles, parei de buscar informações. Hoje só busco contatos, pessoas que independente da faixa etária, enfrentam toda essa doença também de forma positiva.

Acredito e aceito tudo o que a minha médica oncologista recomenda e prescreve. É através dela que obtenho todas as informações necessárias no meu tratamento.

Instituto Oncoguia - Como você acredita que o trabalho do Oncoguia ajuda os pacientes? Te ajudou/ajuda de alguma forma?

Evelin Scarelli - Ter um site que não é direcionado somente a explicar doença já mostra que existe um diferencial. Grande parte do sucesso do tratamento vem do apoio que recebemos dos amigos, familiares, da equipe multiprofissional e, por que não, da internet. Um site que dá voz ao paciente oncológico, definitivamente merece muito mais do que respeito. Merece um muitíssimo obrigado de todos nós. Através desse contato e dessa troca de informações, sabemos que existe esperança. Obrigada a vocês, equipe do Oncoguia, por nos mostrarem que existe felicidade dentro do câncer. Existem batalhadores e guerreiros reais nessa jornada, não apenas estatísticas.        

Este conteúdo ajudou você?

Avaliação do Portal

1. O conteúdo que acaba de ler esclareceu suas dúvidas?
Péssimo O conteúdo ficou muito abaixo das minhas expectativas. Ruim Ainda fiquei com algumas dúvidas. Neutro Não fiquei satisfeito e nem insatisfeito. Bom O conteúdo esclareceu minhas dúvidas. Excelente O conteúdo superou todas as minhas expectativas.
2. De 1 a 5, qual a sua nota para o portal?
Péssimo O conteúdo ficou muito abaixo das minhas expectativas. Ruim Ainda fiquei com algumas dúvidas. Neutro Não fiquei satisfeito e nem insatisfeito. Bom O conteúdo esclareceu minhas dúvidas. Excelente O conteúdo superou todas as minhas expectativas.
3. Com a relação a nossa linguagem:
Péssimo O conteúdo ficou muito abaixo das minhas expectativas. Ruim Ainda fiquei com algumas dúvidas. Neutro Não fiquei satisfeito e nem insatisfeito. Bom O conteúdo esclareceu minhas dúvidas. Excelente O conteúdo superou todas as minhas expectativas.
4. Como você encontrou o nosso portal?
5. Ter o conteúdo da página com áudio ajudou você?
Esse site é protegido pelo reCAPTCHA e a política de privacidade e os termos de serviço do Google podem ser aplicados.
Multimídia

Acesse a galeria do TV Oncoguia e Biblioteca

Folhetos

Diferentes materiais educativos para download

Doações

Faça você também parte desta batalha

Cadastro

Mantenha-se conectado ao nosso trabalho