[CÂNCER DE MAMA] Idaisa Mota Cavalcantti

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar? Fale um pouco sobre você.

Idaisa Cavalcantti - Meu nome é Idaisa Mota Cavalcantti Fernandes, brasileira, casada, tenho três filhos, sou advogada e Procuradora do Estado do RN. Tenho 49 anos, moro em Natal/RN. Em junho de 2010 descobri um câncer de mama. Meu tratamento e cirurgia foram no Rio de Janeiro, onde tenho um irmão medico e porque não queria que minha doença atrapalhasse o ritmo normal da vida dos meus filhos e do meu marido. Alugamos apartamento no Rio, ao lado da casa de meu irmão, e iniciamos meu tratamento. Havia um revezamento de familiares e amigos, de modo que não fiquei nenhum dia sozinha e fazia às vezes de guia turístico. Por incrível que pareça, posso dizer que foi uma época muito boa e feliz, apesar do tratamento contra o câncer.

Quando iniciei o tratamento comecei a escrever um diário, onde relatava como estava me sentindo e como estava encarando a doença e o tratamento. Em seguida, percebi a dificuldade em encontrar literatura com relatos de pessoas que tiveram a doença e falassem de suas descobertas, bem como de encontrar a legislação que beneficiava os portadores de doença grave. Então resolvi que iria fazer um livro após o termino do tratamento e da cirurgia.

Em outubro de 2011, na abertura do Movimento Outubro Rosa, aqui em Natal/RN, lancei o Manual do câncer de mama – Dicas e Direitos para uma melhor qualidade de vida. O Manual contém um relato da minha experiência pessoal como portadora do câncer de mama e do aprendizado que tive no período do meu tratamento e da necessidade que senti de compartilhar com outras pessoas que tivessem a doença ou que tivessem amigos/ parentes com câncer, alentando-as para que não desanimem, nem percam a esperança, pois esse acidente de percurso pode ter um final feliz: o câncer tem cura! Animar

O Manual fala, também, da compreensão que tenho hoje sobre o que nos leva a adoecer e como podemos nos curar e elevar nossas defesas naturais. Inclui algumas dicas e recomendações práticas e uma seção sobre os nossos direitos específicos como pacientes e portadoras do câncer de mama, juntamente com a legislação pertinente à nossa situação.

A inspiração para escrever o Manual, também, foi fruto da leitura dos livros: Anticâncer - Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais, de DavidServan-Schreiber, e Força na Peruca! Tragédias e Comédias de um Câncer, de MirelaLinotti. Além de diversos outros relatos, em especial o de uma mãe, Rosimeire Rossi, que li na reportagem Vida Real, da Revista Marie Claire (setembro/2010).

O livro de Mirela Janotti é valioso porque desmistifica a doença através do humor. Gosto muito quando a autora, na apresentação do seu livro, se refere a "aquela doença que antigamente não era nem pronunciada”. É a mais pura verdade!

Outro grande objetivo do Manual é enumerar leis, decretos, portarias e instruções normativas, enfim descobrir a legislação que protege e beneficia as pessoas com câncer, pois, mesmo sendo advogada, tive inúmeras dificuldades em descobrir meus direitos como doente e como portadora de um câncer de mama. Percebi então que esta era uma dificuldade sofrida por todos e prometi a mim mesma fazer algo neste sentido. E, ainda, queria alertar toda a sociedade para a necessidade de se fazer exames preventivos e lembrar que é importante enfrentar a doença com determinação e sem autocomiseração.

Instituto Oncoguia - Como você descobriu que estava com câncer de mama?
 
Idaisa Cavalcantti - Ao fazer o autoexame em dezembro/2009, notei um nódulo diferente de outros que já tive, mas me faltava coragem para confirmar minha suposição. Assim, só fui ao médico cinco meses após descobrir este nódulo e somente um mês depois tive o resultado da biópsia, que confirmou minhas suspeitas: Eu realmente tinha um câncer.
 
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?
 
Idaisa Cavalcantti - Bastante tranquila! Inclusive tinha um compromisso social com minha filha de 14 anos, Bia, e sai com ela, depois fomos jantar em um Restaurante com amigos e quando falei ninguém queria acreditar...
 
Instituto Oncoguia - O que sentiu?
 
Idaisa Cavalcantti - Senti que era uma doença grave, mas que eu iria me tratar e ficar curada! E dizia a mim mesma: esta doença veio por alguma razão, então vou rever meus conceitos, minha vida, etc. E o principal: Não queria ninguém com peninha de mim, nem chorando, nem com "baixo astral”, afinal eu estava viva e queria continuar vivendo!
 
Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?
 
Idaisa Cavalcantti - Iniciar rápido o tratamento e deixar meus filhos e minha família tranquilos e otimistas, pois eu sentia que tudo iria dar certo! Era proibido chorar...
 
Instituto Oncoguia - Quais foram os passos tomados após o recebimento do diagnóstico?
 
Idaisa Cavalcantti - Falar com meu irmão que é médico do INCA no Rio de Janeiro, onde ele sugeriu que eu fosse para lá e mostrasse os exames a médicos amigos dele e, se fosse o caso, fazer outros exames. Fui. O diagnóstico foi confirmado e então decidimos que eu iria fazer o tratamento e a cirurgia no Rio.
 
Instituto Oncoguia - Em que momento do tratamento você se encontra agora?
 
Idaisa Cavalcantti - Já se passou um ano da minha cirurgia e me encontro fazendo quimio oral (Nolvadex D), além de revisão médica de quatro em quatro meses.
 
Instituto Oncoguia - Quais tratamentos você já realizou?
 
Idaisa Cavalcantti - Quimioterapia (julho a dezembro de 2010) e, mastectomia total com reconstrução da mama direita (janeiro/2011).
 
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual foi o tratamento mais difícil? Por quê? Você realizou seu tratamento pelo SUS ou plano de saúde?
 
Idaisa Cavalcantti - Não é fácil fazer quimioterapia, não é fácil a queda de cabelos. Este é o momento mais difícil. Mesmo sem eu ter tido náuseas, vômitos, diarreias, gripes e outros sintomas foi muito difícil reagir bem e com animação ao tratamento quimioterápico.
Mais difícil, ainda, foi ver a queda de meus cabelos dia a dia, até que um dia criei coragem e raspei a cabeça. A sensação que eu tinha era que a queda de cabelos não me deixava esquecer em nenhum momento que eu tinha câncer, era a mais autêntica representação do tumor, da doença...
 
Meu tratamento foi feito pela Unimed e os médicos foram particulares.
 
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?
 
Idaisa Cavalcantti - Sim, tive a queda de cabelos, "formigamento” nos dedos dos pés e um pouco de fadiga, mas comparando ao que podia ter sido eu digo que tive poucos efeitos colaterais e eles foram irrelevantes! Graças a Deus.
 
Instituto Oncoguia - Como foi à relação com o seu médico?
 
Idaisa Cavalcantti - Maravilhosa e de confiança total! Eu tinha uma equipe de médicos com oncologista clínico, o Dr. José Bines; cirurgião oncológico, Dr. Carlos Frederico e o cirurgião plástico, Dr. Paulo Leal. Eles foram fantásticos e super competentes.
 
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?
 
Idaisa Cavalcantti - Com meu irmão, que é médico (cirurgião torácico) do INCA, Aureliano M C Sousa. Foi médico, amigo e irmão...
 
Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento com equipe multiprofissional? (psicóloga, nutricionista, etc.).
 
Idaisa Cavalcantti - Sim, com a psicanalista Dra. Maria Regina Brandão e a nutricionista Priscylla Cassula. Acho que é de suma importância ter o acompanhamento com equipe multiprofissional! Ainda tive aulas de dança e de alongamento na Academia de Carlota Portela.
 
Instituto Oncoguia - O que foi fundamental e lhe ajudou a enfrentar o câncer?
 
Idaisa Cavalcantti - Querer viver, querer sorrir, querer ser feliz!!!
 
Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.
 
Idaisa Cavalcantti - Desde abril/2011, retornei a Natal e ao meu trabalho na Procuradoria Geral do Estado do RN. Gosto muito do que faço, por isto ainda não requeri a aposentadoria por invalidez.  Depois da doença tento levar a vida de uma maneira mais leve e mais festiva, evitando me irritar e me chatear com bobagens do dia a dia. Também virei "atleta”: faço academia/treinamento funcional e caminhada intercalada com pequenas corridas, além de uma alimentação saudável.
 
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?
 
Idaisa Cavalcantti - O câncer tem cura, então encare o tratamento e a cirurgia com disposição e resignação, inclusive buscando uma melhor qualidade de vida, uma alimentação saudável e que ajude as nossas defesas. E não esqueça: Você tem uma doença grave, mas está viva, então viva e tente ser feliz!
 
Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?
 
Idaisa Cavalcantti - A informação foi e é um aliado poderoso. Eu queria saber os que as pessoas que passaram pelo câncer sentiam; o que elas podiam transmitir; o que eu podia aprender com a doença e com elas. Enfim, queria está consciente de tudo e saber como podia melhorar minha qualidade de vida durante a doença e o pós-operatório.
 
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?
 
Idaisa Cavalcantti - Sim! Sou bastante curiosa e queria saber da doença, de como as pessoas doentes se sentiam e o que faziam, então comecei a buscar na internet, nos consultórios e nas clínicas médicas literatura que falasse neste assunto.
 
Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?
 
Idaisa Cavalcantti - Através de um panfleto com orientações para quem estava fazendo quimioterapia e, posteriormente, no site e no twitter, quando solicitei o livro Os Direitos dos Pacientes com Câncer, também editado por vocês.
 
Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?
 
Idaisa Cavalcantti - Que continuem aperfeiçoando o trabalho de vocês, principalmente estas divulgações que são feitas nas redes sociais. Excelente trabalho, parabéns.
 
Instituto Oncoguia - Você enfrentou, na pratica, alguma dificuldade ou problema para conseguir usufruir dos direitos dos pacientes com câncer?
 
Idaisa Cavalcantti - Vários! A maior dificuldade foi conseguir saber quais eram os meus direitos. E, após a minha mastectomia, quando fui comprar um carro com isenção do IPI, ICMS e IPVA, tanto é que somente agora, após um ano de minha cirurgia, é que recebi meu carro. Foram necessários diversos documentos, laudos, atestados, exames. A lição que posso transmitir é que quem estiver com uma doença grave guarde todos os documentos relativos à doença.
 
Instituto Oncoguia - Como foi estar do outro lado e poder ajudar os pacientes?
 
Idaisa Cavalcantti - Fico muito feliz quando me relatam que meu livro e minha história deram ânimo a outra pessoa que estava doente; quando me falam que marcaram de fazer logo a mamografia e a ultrassom porque se lembraram de mim. E mais recentemente duas pessoas que leram no livro como comprar o carro com isenção, obedecendo às exigências da Instrução Normativa da Receita Federal e conseguiram. Isto me deixa muito feliz e me faz ver que valeu a pena ter editado o Manual.
Instituto Oncoguia - Qual tem sido a receptividade do livro?
 
Idaisa Cavalcantti - A tiragem foi de mil exemplares que foram doados durante o mês do Movimento Outubro Rosa no ano passado em diversos locais e atingindo a todos os níveis de pacientes e interessados. A receptividade foi a melhor possível, o que para mim, foi uma grata surpresa. Inclusive já está sendo feita uma segunda tiragem de 500 exemplares que a UNICRED Natal comprou para distribuir com médicos e clientes no próximo mês de março.                                
 
Instituto Oncoguia - Como os pacientes podem ter acesso?
 
Idaisa Cavalcantti - Por enquanto não tenho disponível, mas já estou providenciando uma segunda edição para lançarmos no próximo mês de outubro e possivelmente iremos pôr à venda em livrarias.
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