[CÂNCER DE MAMA] Jane Bernardo

Jane Bernardo, diagnosticada com câncer de mama, nos enviou este depoimento a fim de dividir sua experiência e, quem sabe, ajudar outras pessoas que estejam passando pela mesma experiência.

 

Leia abaixo a história de Jane Bernardo.

 

Eu sou Jane Bernardo, tenho 25 anos, moro no litoral sul de Santa Catarina, em uma cidade chamada Imbituba. Sou formada em Estética e trabalhava na área antes do diagnóstico. Gosto de conhecer pessoas, viajar e ler.

 

Fui diagnosticada com câncer de mama, em novembro de 2013. Eu já havia sentido um "caroço" no meu seio direito no mês de agosto/2013, na época pensei que era do período menstrual e esqueci disso por uns meses. Em novembro, eu estava brincando com meu irmão e ele bateu no meu seio, sem querer, naquele momento voltei a prestar atenção no nódulo e percebi que ele havia crescido. Marquei consulta com o mastologista para a semana seguinte. A médica fez o exame clínico, percebeu que o nódulo era grande mas me tranquilizou, pois na minha idade é pouco comum câncer de mama e minha família não tem casos. Ela pediu que eu fizesse um ultrassom, com o resultado do ultrassom, pediu a biópsia. Quando fiz a biópsia, pesquisei bastante sobre câncer de mama e sobre o tratamento. É claro que naquele momento a possibilidade de ser câncer, na minha cabeça, era mínima, mas por outro lado, essa pesquisa me colocou a par de algumas coisas sobre o câncer. O resultado da biópsia saiu 5 dias após, foi minha irmã  que pegou o resultado e passou pra mim, quando eu li carcinoma já sabia do que se tratava.

 

Quando recebi o resultado chorei um pouco, me senti sem chão, perdida, mas reagi muito rápido. A minha cabeça funcionou da seguinte forma "o que eu tenho que fazer agora?". Como até então eu havia feito tudo particular e não tenho convênio, procurei a saúde pública, já com o diagnóstico, o que facilitou para que eu fosse atendida no CEPON (Centro de Pesquisas Oncológicas) que fica na capital Florianópolis. Foi o que eu fiz, agir, ir em busca de informação e tratamento.

 

A minha maior preocupação era saber qual estágio do câncer, eu tinha lido sobre metástase e morri de medo disso. Tive ânsia de saber logo onde estava o câncer. Fiz todos os exames antes de iniciar a quimioterapia e o câncer estava localizado na mama somente, o médico mastologista acredita que será necessário fazer o esvaziamento axilar mas isso será definido na cirurgia.

 

Iniciei o tratamento pela quimioterapia, três dos médicos mastologistas com quem consultei aconselharam que fosse feito dessa forma, então me convenci de que seria o melhor. A quimioterapia neoadjuvante é indicada para pacientes mais jovens para diminuir o nódulo e melhorar a qualidade da cirurgia, segundo eles. Descobri em novembro mas só iniciei a quimioterapia em janeiro/2014. Até agora já fiz as 4 quimioterapias vermelhas e estou na quarta das 12 sessões da branca, também tomo o herceptin, pois sou triplo positivo.

 

Até agora a quimioterapia tem sido o tratamento mais difícil, principalmente as vermelhas. Os enjoos, a fraqueza, acho que isso caracteriza que estou doente, porque o câncer mesmo não é aparente e nem têm sintomas. A quimioterapia e o processo de cura me deixou vulnerável e a perda de cabelo foi a tacada final da exposição, a que sentença de que estou doente, não só para o mundo, mas também pra mim, me olhar no espelho careca me lembra da condição que estou vivendo neste momento.

 

Os efeitos colaterais para mim foram menores do que ouvi falar, tive enjoos, vômito e fadiga, mas eram só nos três dias após a aplicação, depois passava. O meu paladar mudou muito e com isso passei a comer menos. Para mim, o pior é a fraqueza, ficava três dias na cama durante a quimio vermelha.

 

Tenho uma boa relação com os dois médicos que me acompanham, o mastologista e o oncologista. Levo um monte de perguntas e eles sempre são pacientes e explicam o processo. O local onde faço tratamento é uma excelente instituição, sempre fui muito bem tratada lá, desde a recepção. As enfermeiras da quimioterapia também, são todas, sem exceção, cuidadosas, dedicadas e amorosas.

 

Por enquanto não faço acompanhamento psicológico. Também não procurei a nutricionista, embora na instituição tenha os dois profissionais, caso eu procure.

 

Farei quimioterapia até julho, depois vou operar. O tratamento com herceptin será durante um ano e também vou fazer radioterapia.

 

Minha vida atualmente está parada em relação ao que era antes. Eu havia pedido demissão um mês antes de receber o diagnóstico, então decidi junto com a minha família que não iniciaria um novo trabalho durante o tratamento. Estou na casa da minha mãe, passo os dias envolvida com meu blog, que é uma forma de me entreter, divulgar informações sobre o câncer de mama, fiz amizades virtuais com mulheres que estão em tratamento, isso tem me ajudado muito. Também leio bastante e faço yoga.

 

Provavelmente farei o esvaziamento axilar, o que certamente me impedirá de trabalhar com massagens estéticas, meus planos para o futuro em relação ao trabalho é montar um negócio próprio, não sei em qual área, estou pesquisando bastante. Eu quero trabalhar com algo que me permita ter mais tempo para mim, para minha família e o principal, que permita que eu viaje.

 

Minha orientação para quem recebe um diagnóstico desses é que tenha o máximo de calma possível, pois o avanço da medicina permite que vários casos sejam curados, eu penso que quando a gente consegue ter calma para enfrentar este problema, as coisas se tornam menos difíceis, mais claras, percebemos que o câncer não é uma sentença de morte. Aprender a conviver com a doença e até mesmo com o tratamento é o mais importante agora. Vivencie o presente, o que passou não volta mais, e o que vai ser também não podemos adivinhar, quando me concentro no presente vivo melhor, esta é a minha experiência com a doença.

 

A informação é fundamental, ter diálogos com os médicos e uma rede de apoio com informações confiáveis é de extrema importância para mim. Quando a médica me pediu a biópsia, comecei a pesquisar na internet, li blogs, artigos que encontrei na página do INCA, só depois conheci o Oncoguia, que também me ajudou muito. Achei o site nas pesquisas do google.

 

Não tenho sugestões para o Oncoguia, nem reclamações. Gosto da apresentação da página, acho ela clara e bastante esclarecedora.

 

Com base na experiência que tenho com a saúde pública, a partir do câncer, gostaria de parabenizar a instituição CEPON pelo trabalho de qualidade que eles prestam. Já aos políticos do meu estado, especialmente a Secretária da Saúde do Estado de Santa Catarina, gostaria de pedir que agilizassem as autorizações para a quimioterapia, eu esperei por 20 dias para que a mesma entregasse a assinatura para o CEPON, sendo que o prazo que eles (secretária) dizem que entregam é de 4 dias. Aquele período de espera foi o mais angustiante que já passei, pois estava com todos os exames feitos, e aguardar apenas por um carimbo foi no mínimo humilhante.

 

Obrigada e parabéns pelo trabalho de vocês!