[CÂNCER DE MAMA] Lilian Carla A. Basqueira

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
 
Lilian Basqueira - Meu nome é Lilian Carla Arguello Basqueira, 40 anos, moro em Guaíra, interior do Paraná. Sou Pedagoga na rede Estadual de Ensino e professora na Municipal, o que me dava uma carga horária de trabalho acirrada. Sou casada com um ser maravilhoso, Dirceu, meu anjo da guarda que me cuida e ampara sempre. Sou mãe de 4 lindos filhos, Jean de 21 anos, Rafaela de 18, Gabriela de 10 e Matheus de 4 anos, razões do meu viver. Sou filha, irmã, amiga, mulher, gente. Filha amada de Deus, ou não estaria aqui, minha vida é um milagre. E eu só tenho a agradecer por isso.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Lilian Basqueira - Apesar de não amamentar a tempos eu ainda tinha leite, a mama esquerda começou a não dar mais vazão a ele, quando apareceram nódulos. Em consulta, a suspeita recaiu em "leite empedrado”, uma inflamação nos ductos mamários... Tratamento para infecção, para inflação, secar o leite... Nada resolvia.  Eu sentia dor. O peito ardia, crescia, estava endurecendo... O sinal de alerta foi ligado, poderia ser câncer. Câncer? Minha mãe havia morrido de câncer há 3 anos. Para a família era como se a história fosse se repetir.

Fomos às biópsias. A primeira punção deu uma infecção que não justificava o seio deformado, inchado, mamilo retraído, pele com aspecto de laranja. Fizemos o Core Biopsy e o material foi insuficiente para diagnosticar possível mastite ou carcicoma. Então foi realizada a biópsia cirúrgica, no dia 12 de abril de 2010 veio a confirmação: Carcicoma Ductal Invasor, Grau III.
Bummmm!!!! E o médico com aquela calma: É Lilian, você tem um tumor. 
  
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?
 
Lilian Basqueira - A sensação é horrível, o mundo para, por mais que eu tivesse esperando, existe sempre aquela esperança. Fiquei cheia de dúvidas, como assim tumor? Maligno? Câncer? Meu seio está enorme, passou tanto tempo, tenho chances? Grau III é grave? Tumor inoperável? O que? Ãh? Como assim tirar a mama toda? Tratável? O que isso quer dizer?
 
Instituto Oncoguia - O que sentiu?
 
Lilian Basqueira - Senti muito medo. Me desesperei, chorei, mas ao mesmo tempo  fiquei aliviada, enfim eu sabia o que eu tinha e poderia tratar.
 
Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?
 
Lilian Basqueira - De ficar boa, de me apegar em Deus com toda força, pelos meus filhos. Eu tinha tantas coisas ainda para fazer.
 
Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já realizou o tratamento?
 
Lilian Basqueira - Sai do consultório sem chão, agarrada a meu marido, sem saber ao certo o que fazer e como conseguir parar de chorar. Não tive muito tempo para nada, depois do diagnóstico, eu já iniciei a primeira quimioterapia, o esquema seria 4 vermelhas (adriamicina) cirurgia e 4 taxol, mas já na primeira quimioterapia me senti muito mal devido a um problema cardíaco e o esquema teve que ser mudado, fiz 4 quimioterapias taxol, mastectomia radical e esvaziamento axilar, mais duas taxol e 33 sessões de radioterapia. Terminei dia 30 de dezembro de 2010. Depois disso, viria o tamoxifeno por 5 anos.
 
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?
 
Lilian Basqueira - A quimioterapia tem seus efeitos colaterais, o pós cirúrgico e o bendito dreno... Tudo incomoda! Mas estamos em casa, perto dos seus e de suas coisas. Então para mim, o tratamento mais difícil foi a radioterapia. Ela nos deixa mais fraca, a pele queima, a fome some. Moro a 160 km da cidade mais próxima onde há tratamento ou eu me deslocava pra lá todos os dias ou ficava na casa de apoio, ia na segunda e voltava na sexta-feira. Tive que optar por ficar, e ficar significava deixar casa, marido, meus filhos, todos sozinhos e também ficar sozinha lá. Foi o período que mais sofri, os dois meses mais difíceis de aguentar.
 
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Lilian Basqueira - Tive vômitos, enjôos, diarréias, prisão de ventre, fome exagerada, inapetência, cansaço. É claro que não tudo ao mesmo tempo, ao longo do tratamento, também fiquei careca, sem sobrancelhas, cílios,  odiava quando me diziam que cabelo cresce e que isso não é nada, é um fase de perdas... A feminilidade e a sexualidade vão pro espaço. Fere muito olhar no espelho e não se reconhecer. Com o tempo aprendemos a lidar com tudo isso, eu tinha lenços lindos e amigos mentirosos pra me dizerem que eu estava linda. Mas a dor foi o pior efeito colateral, o taxol me fazia sentir muitas dores, a sensação era de ter sido atropelada por um caminhão e em seguida por um trem.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Lilian Basqueira - O centro de oncologia que me tratava atende pelo SUS e atende muita gente, o atendimento é muito deficiente, consultas rápidas, não gostava da falta de contato com os médicos, temos que ter confiança neles, nos procedimentos que fariam. Eles, porém, eram extremamente econômicos nas palavras; apesar de tudo, sempre fui bem tratada. Não muito ouvida, mas bem tratada.
   
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Lilian Basqueira - Fui atendida por um excelente oncologista que me chamava pelo nome e me ouvia, mas infelizmente ele não podia fazer meu tratamento, pois só em outra cidade havia a infra-estrutura necessária. Não fosse por ele, talvez eu não estivesse mais aqui. No Centro Oncológico há uma equipe e quando um falta o outro atende seus pacientes e eu fui vítima desse bate e volta. (Logo vão entender porque).

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Lilian Basqueira - Eu fazia antes de saber que estava com câncer, tinha síndrome do pânico, mas ironicamente, eu nunca mais tive crises, mas acho que grandes centros oncológicos deveriam ter a disposição, de fato, de seus pacientes de um psicólogo, de alguém que oriente, que na hora do diagnóstico explique as coisas, na quimioterapia, informe tudo e dâ amparo aos nossos cuidadores, porque ninguém lembra das pessoas que cuidam de nós, elas sofrem mais do que a gente.
   
Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Lilian Basqueira - Não procurei nutricionista, mas mantinha uma alimentação saudável para manter minha imunidade estável, o que às vezes era difícil, por causa dos efeitos colaterais. Mas tiveram épocas em que a única coisa que eu conseguia comer era pizza, sorvete, e eu fazia o sacrifício, rsrsrsrs.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Lilian Basqueira - Depois de toda essa saga, em janeiro deste ano (2011), fui ao médico e pela enézima vez reclamei dos nódulos que sentia na outra mama, o médico (substituto) apertou e disse não ser nada, me receitou tamoxifeno e mandou eu voltar depois de 3 meses. A minha teimosia, porém, me dizia que aquilo não era certo. Voltei ao médico que atende pelo meu plano de saúde porcaria de professora estadual, e ele me alertou. Fizemos exames e foi confirmado que eu tinha Carcicoma Ductal Infiltrativo grau III. Está bom pra você?

Estava com câncer de novo, agora na outra mama, não que eu tivesse medo da doença, morria de medo era de sentir toda aquela dor; eu só repetia "tudo de novo não”, "tudo de novo não”. Mas sim, recomecei o tratamento tudo de novo agora no dia 15 de março de 2011. Mas não está sendo tudo igual, me trato na Uopecann em Cascavel, com a equipe do Dr. Emerson Wander Silva Soares, e o queridíssimo Dr. Fernando Luiz Motter, que cuida das quimios e me atende com todo carinho e dedicação, olha nos meus olhos, ouve minha dor, até me dá bronca quando faço arte. O esquema da quimioterapia é o CFM (combinação de ciclofosfamida, metotrexate e fluoracil) não sinto as tão temidas dores, mas sinto enjôo e vômitos demais, nada insuportável. O tumor tem diminuído. Seria mentira se eu dissesse que recomecei com coragem o tratamento, mas recomecei com fé e confiança na equipe maravilhosa que me atende e no poder de Deus sobre a minha vida, sobre a vida de todos nós.                                                                                                                                                                                                                       
 
Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Nos conte sobre seu trabalho e planos para o futuro.
 
Lilian Basqueira - A minha retomada ao trabalho estava marcada para maio de 2011, mas devido a retomada no tratamento, eu não tenho mais previsão de volta. Sinto muita falta dos meus alunos, da escola, de ser útil, mesmo em casa, em meus afazeres domésticos. Não foi fácil tolerar a reincidiva do câncer, quando está tudo encaminhado para essa volta, digamos que ela foi adiada, eu fiz um combinado com Deus, eu perco estes meses e ele me dá uns 40 anos de brinde. Já fiz este caminho, já venci. Vencerei novamente.

Não deixo de sonhar, inclusive em breve estarei de casa nova. Um velho sonho, mas não faço mais projetos para futuros muito distantes, meu futuro é o agora, meus projetos são curtir minha família, meus filhos, estar perto deles e é claro, viver ainda muitos anos e todos eles com saúde e na graça de Deus.
 
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?
 
Lilian Basqueira:
  • Calma, antes de entrar em pânico, saiba que não está condenado a morte; esta pode ser, com certeza, uma grande oportunidade de crescimento e aprendizado. Normal pirar, viajar na maionese, chorar, espernear. Mas depois de tudo isso, pise no freio, respire e decida. Você tem duas opções, sentar, chorar e se lamentar ou arregaçar as mangas e lutar. Por você, pela vida que é maravilhosa, pelos filhos, amigos. Não vai ser fácil, mas vai passar.
  • Algumas pessoas vão se afastar de você, não as odeie, algumas são covardes mesmo, mas no geral elas simplesmente não conseguem dizer a palavra câncer, quem dirá conviver com alguém que tenha e pior ... que viva bem com isso. Ajude-as a quebrar o paradigma de que Câncer é sentença de morte. Pelo contrário, enxergamos tão melhor a vida.
  • Acostume-se com os olhares. Por vezes eles vão te ferir. Nem todo mundo é capaz de fazer a empatia com a sua atual condição, foque no tratamento.
  • Os amigos sumiram? Surpreenda-se com gestos carinhosos dos lugares mais inusitados.
  • Não se deixe enganar por tratamentos alternativos, não abandone o esquema que seu médico fez para você, mas receba os santinhos, os chazinhos, as garrafadas, as orações.
  • Fuja de quem quiser impor a sua cura por conversão a esta ou outra religião, mas busque-a. Só a fé em Deus, só a crença no poder Dele sobre a nossa vida pode nos fortalecer.
  • Vai ter sempre alguém contando um ‘causo’ da prima da cunhada da vizinha que teve Câncer e morreu, releve, e lembre você não é a prima da cunhada da vizinha.
  • Encontre algo bom em tudo isso, o câncer me salvou, me tirou de uma vida louca onde mal tinha tempo para meus filhos, hoje vou em reunião, assisto pica-pau com o menor, canto Justin Bieber e Luan Santana com a do meio, costuro modelitos pra mocinha ir para a balada, me permito chorar horas, desistir de tudo (sem desistir), vou pescar com o marido (sem gostar) e volto feliz da vida com meu peixão.
  • Permita-se sofrer, viver, rir.
  • Não se feche, não se isole, não se culpe por esse ou aquele pecado mortal, Deus não está te punindo por nada, foque suas forças em lutar e muitas vezes toda essa força ainda não será suficiente. É tudo muito penoso, cansativo, mas não precisa ser triste, há vida após diagnóstico, tudo isso é só uma passagem, e a escolha é sua entre passar tudo isso com coragem, otimismo e fé, ou deixar-se levar por tudo que envolve a doença.
  • Siga sua intuição. Na primeira vez, tive dois resultados negativos, pela deformação da mama era evidente que tinha algo errado, mas na segunda vez, mudei de médico, passei por paranóica e foi essa insistência que culminou no diagnóstico.
  • Cuide pra não ficar paranóica, tosse pode não ser Câncer de pulmão, dor nas pernas nos ossos, dor de cabeça um tumor no cérebro, esses são fantasmas que vão sempre nos assombrar, mas não dê ao Câncer o valor que ele não tem.
  • Tenha força, muita força. Perseverança, bom humor, paciência e mais um bocadinho de força.
  • Cerque-se de pessoas, lugares, coisas, tudo que for querido e te faça feliz.
  • Faça um blog.

Instituto Oncoguia - Mais alguma coisa que você gostaria de nos contar?

Lilian Basqueira - Tenho um blog. Fiz ele quando conheci uma amiga numa comunidade do Orkut, eu do Paraná e Bibiana do Rio Grande do Sul. Nestas comunidades encontramos pessoas maravilhosas, que se ajudam, inclusive estou usando uma prótese que uma amiga mandou de Natal, ganhei peruca, corrente de orações. Notamos que havia pessoas muito pessimistas, então resolvemos contar nossa trajetória, nossa maneira de enfrentar a doença com bom humor apesar de tudo. O blog foi primordial na minha recuperação, pois embora ninguém possa mensurar a dor do outro, podemos compartilhar a nossa experiência com base na dor. Essa troca nos faz sentir fortes, não nos deixa sentir só. É um mundo a parte, há muitos blogs, de tantos titãs, guerreiros, vencedores, lutadores dos mais diversos tipos de câncer. Amigos virtuais, tão reais quanto o nosso amor uns pelos outros. Uma boa pedida pra quem gosta é montar o seu e se unir nessa blogosfera, garanto que jamais se sentirá só.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Lilian Basqueira - É primordial, mas nada de ficar buscando no Google e acreditando em tudo. A internet pode ser uma grande aliada, mas é preciso cuidado! Muito cuidado com o que se lê e qual o seu estado de espírito ao ler. Nada, nenhuma leitura substitui a opinião médica, cada caso é um caso.  Uma leitura, que não respeite estes princípios pode obter resposta contrária, ao invés de acalmar, tranquilizar, pode causar desespero e aflição em vão. Pergunte tudo ao médico, faça uma listinha e não tenha vergonha, isso vai te tranquilizar e não esqueça de que cada um é um, cada caso é diferente e o que aconteceu comigo, pode não acontecer com você.

Alguém no auge de seu desespero pode, ao ler algo que se identifique com o que sente e passa, tomar tudo como verdade, sem observar nossa individualidade.  50% da nossa cura depende de nós, da Fé, de nosso estado emocional, maneira de lidar com a doença e enfrentar o tratamento. O bom senso deve prevalecer. Filtre o que lê. Não deixe o desespero cegar você. Não escute opinião de pessoas desequilibradas.
 
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Lilian Basqueira - Sim, eu busquei todo tipo de literatura, fiz pesquisas e encontrei pessoas no Orkut em comunidades de mulheres que tinham câncer, elas me ajudaram muito, lá fiz amizades muito sólidas, somos unidas pela mesma dor, mesma luta, a empatia é imediata. Há também a blogosfera, nome dado ao mundo dos blogueiros, pessoas que abriram blogs, como uma maneira de fazer um diário sobre a doença, de dividir informações sérias, compartilhar experiências, encontramos respostas sim, mas também coisas absurdas como tabelas de taxa de sobrevida, pessoas pessimistas, loucos em potencial, pessoas que quiseram impor a sua religião em troca de minha cura (aqui vale uma ressalva, religião e fé são coisas distintas), pessoas que se apegam a doença, que se entregam a ela, e gente guerreira que luta, que não desiste, gente amiga. Há tantos tipos de Câncer, crianças lutando ferozmente, jovens com toda vida pela frente... Conhecer essas pessoas nos obriga a sair do papel de vítima e ir à luta.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?
 
Lilian Basqueira - Quando soube do câncer, fui procurar respostas, visitei sites médicos, de hospitais especializados em câncer,e foi assim que conheci o Oncoguia.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Lilian Basqueira - O site é maravilhoso, confiável. As informações mantidas nele ajudam principalmente a nós que moramos longe dos grandes centros. Não há muito a modificar, apenas atualizar sempre. Informação é tudo. Sempre compartilho as informações no blog.

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