[CÂNCER DE MAMA] Liliana Costa

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Liliana Costa - Sou Liliana, tenho 35 anos, divorciada, vivo actualmente com o meu noivo. Trabalho numa Câmara Municipal como administrativa (no topo de carreira). Quando fiquei doente estava a terminar o curso superior de Gestão de Recursos Humanos (todo ele frequentado à noite, após o trabalho).

Sou alegre e bem disposta, e dizem que tenho olhar sereno. Não tenho filhos. Reconheço que sou exigente comigo e com os outros, mas muito afectuosa também. Ultimamente descobri o prazer do desenho e da pintura, que costumo consiliar com a leitura e alguns passeios ao ar livre. Adoro o campo e o contacto com a natureza.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Liliana Costa - Primeiro palpei um caroço no peito, depois fui ao médico do centro de saúde. Disse-lhe que me doía o peito e que tinha febres baixas há cerca de um mês. O médico disse-me que isso era impossível, primeiro porque estas coisas não doem – disse – depois porque não poderia ter tido febre durante um mês. Não palpou para verificar. Medicou-me para a gripe. Semanas mais tarde fui a outro médico, desta vez a um ginecologista. Fez ecografia e disse-me para ir fazer uma mamografia, para ficarmos com certezas.

A lista de espera era grande, demorou 3 semanas para poder fazer a mamografia. No dia disseram-me que teria de fazer uma biópsia. Não percebi porquê, não disseram, pensei que era rotina. Passaram dois dias e lá fui fazer a biópsia ao hospital onde trabalhava a radiologista. Picou-me 6 vezes, estava muito entusiasmada, estranhei. No final perguntei porque tinha sido necessário este procedimento. Disse que aquilo que eu tinha levaria a uma operação. Que era um carcinoma, e que a biópsia iria revelar a sua natureza.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Liliana Costa - Percebi o significado da palavra Carcinoma e fiquei petrificada. Chorei muito todo o dia. Fui a Fátima ver a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Rezei aos seus pés. O meu noivo rezou comigo, abraçou-me muitas vezes e baixinho segredava-me que iria estar ao meu lado sempre.

Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Liliana Costa - Não sabia como iria encontrar as palavras certas para dizer à minha mãe.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento?

Liliana Costa - O resultado da biópsia demorou 2 semanas a chegar. Telefonei para a radiologista, mas ela mandou dizer que não estava e que o resultado me seria entregue na consulta que ela havia marcado no hospital de Santarém (a minha cidade). O tempo custou a passar…os dias eram intermináveis !!!

A minha mãe entretanto entrou em desespero, telefonou à médica dela (endocrinologista) e contou toda a situação. A médica pediu à minha mãe que me levasse ao hospital de Santa Maria (em Lisboa), onde ela trabalhava. Fui. Á minha espera estava um cirurgião. Atendeu-me na sua hora de almoço. Viu a mamografia, palpou e disse o que achava que era e quanto media. Bateu tudo certo.

Passou-me alguns exames para fazer, raio-x de tórax, ecografia do fígado, eletrocardiograma, cintilografia e explicou-me que no meu caso o melhor seria a mastectomia.

Fiz os exames todos e em 12 dias tinha os resultados. Voltei ao hospital para lhe mostrar. Ele não estava, então fui ao Departamento de Oncologia com a minha mãe.(Importa referir que a minha mãe tem feocromocitoma e também é acompanhada pela endocrinologia e pela oncologia desse hospital, há algum tempo). A pedido dela a moça da recepção foi pedir ao médico para me ver.

O médico (director do hospital dia de oncologia) mandou uma assistente. Fui vista, mais uma vez na hora de almoço deles (foram formidáveis!!). O caso era preocupante, por isso o próprio director me veio ver mais tarde. Disse-me que era melhor eu começar a fazer quimioterapia o quanto antes. Lembro-me de me dizer que a primeira sessão seria dentro de dois dias.

Fiquei em pânico. Quimio? – perguntei – Mas porque não me tiram isto logo de uma vez? Quimio, antes?

Tenho medo!!! – admiti – e sentei-me numa cadeira a olhar para o chão.

Ouvi então a voz calma e reconfortante do médico dizer: Nós vamos estar aqui…

Dias depois começaria a quimio. A consulta para me anunciarem que tinha cancro e me entregarem o relatório da biópsia no hospital da minha cidade ocorreu depois. Fui á consulta na mesma, agradeci, e expliquei que já estava a ser tratada, noutro hospital.

Fiz 4 ciclos de FAC, de 21 em 21 dias. Fui mastectomizada em Agosto de 2008 e 4 semanas depois comecei a fazer quimio novamente. 6 ciclos de TC.

Em Fevereiro de 2009 comecei a fazer radioterapia, 25 sessões.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Liliana Costa - A quimioterapia é muito dolorosa e fisicamente é terrivel, mas a radioterapia afectou-me mais psicologicamente.

Não tiveram cuidado e muito embora eu me queixasse com dores, pela queimadura que se ía formando, não ligaram e acabei por fazer uma radiodermite bastante grave.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Liliana Costa - Na quimiterapia o pior eram as dores musculares e ósseas, que me impediam de andar, e a sensação que estava em ebulição por dentro. O mau estar que não conseguia explicar, o cansaço, os enjoos, que me obrigavam a ficar de cama durante 10 dias, também foram uma constante. A mucosite marcou a sua presença, impedindo-me várias vezes de comer sólidos e as aftas apareceram muitas vezes.

Instituto Oncoguia - Como é a relação com o seu médico?

Liliana Costa - É boa. É uma pessoa muito humana e um clínico excelente.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou? Você fez acompanhamento psicológico? E com nutricionista?

Liliana Costa - Só falei com o psicólogo uma vez. Como os tratamentos eram á tarde e o psicólogo só ia lá de manhã, não me marcaram mais consultas.

Também falei uma vez com um nutricionista através de uma associação de apoio a mulheres com cancro de mama. Pelo hospital, nunca falei com nenhum técnico da área.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Liliana Costa - Já acabei os tratamentos de quimioterapia e radioterapia. Estou a fazer hormonioterapia.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Liliana Costa - Estou ainda a recuperar da radiodermite, e a fazer exames, mas estou confiante no futuro. A luta foi renhida, mas acho que venci, pelo menos até agora os resultados indicam isso mesmo.

Só o facto de ter que ficar na menopausa é que me deixa triste, sou tão nova … mas é o preço que tenho de pagar por estar viva. O meu carcinoma era dependente de hormônios e com a indução da menopausa, deixei de produzir estrogênio e progesterona, esta é a melhor maneira de o matar.

No final de Maio irei retomar o meu trabalho e a vida voltará a decorrer com normalidade.

Daqui para a frente vou levar um dia de cada vez, com calma e muita fé. Se Deus quiser a barreira dos 5 anos passará rápido e sem precalços.

Instituto Oncoguia - Que sugestões você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Liliana Costa - Primeiro diria para a pessoa ter calma, para colocar todas as suas dúvidas num papel e ir perguntando ao médico. Diria para confiar no médico e acreditar sempre!

Instituto Oncoguia - Mais alguma coisa?

Liliana Costa - Obrigado por me permitirem partilhar esta experiência com outros doentes e familiares.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer? Você buscou se informar? De que maneira?

Liliana Costa - A informação para mim foi muito importante. Eu queria saber TUDO e muitas vezes entrei em confronto com a assistente do médico, pois a informação não era dada na totalidade.

Sei que nem sempre é fácil para os médicos, pois nem todos os doentes têm capacidade para entender bem a sua patologia, nem os tratamentos a que têm de ser sujeitos e por vezes evitam dar muita informação, mas acho importante o doente estar bem informado.

Quanto mais informação tinha, menos estressava com os efeitos secundários. Já sabia que poderia ser assim, que era normal. Partilhei a informação com a família mais próxima, que cuidava de mim e assim evitamos o pânico muitas das vezes.

Passei horas pesquisando na internet e falei com outras doentes oncológicas. Procurei Associações de apoio e falei com alguns médicos de outros hospitais que entretanto fui conhecendo.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Você tem alguma sugestão a nos dar?

Liliana Costa - Conheci através do vosso contato. O site está excelente, muito bem construído, esclarecedor e assertivo. Fazia falta um site assim em português. Parabéns!

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