[CÂNCER DE MAMA] Lizete Morikawa

Logo depois de completar 34 anos, Lizete Morikawa recebeu o que seria o maior presente da sua vida: a descoberta de um câncer. Por mais que isso pareça estranho, ela o vê assim, um grande presente.
 
Foi durante um abraço carinhoso que o marido de Lizete sentiu um caroço acima do seu peito, quase perto do pescoço. Receosa, foi procurar um médico para ver do que se tratava. Afinal, sempre foi uma mulher cumpridora dos seus deveres: consultava-se regularmente e nada de anormal, até então, havia acontecido.
Depois de passar pelo seu médico, foram feitos exames de mamografia e ultrassonografia. Os dois mostravam um nódulo no seio.

Ao fazer a biópsia, o choque: tinha sim câncer de mama!
 
"Lembro que no dia que fui fazer a biópsia estava muito nervosa, afinal, seria esse exame que determinaria a minha vida dali para frente. Meu marido, que sempre me acompanhou em todas as consultas, estava comigo no dia e, aparentemente, tranquilo, se mantinha calmo conversando com outros maridos que aguardavam suas mulheres. Ele diz que ficou mais calmo ainda quando viu uma mulher saindo da sala com uma cara tranquila, com sorriso nos lábios. Para ele, eu sairia assim também, mas, para a surpresa dele, eu saí aos prantos.”
 
Lizete conta que foi mais o estresse que a fez sair chorando da biópsia. Ela não tinha recebido o diagnóstico ali, mas, apesar de neste momento não ter uma certeza de ser câncer, o que a deixou nervosa foi todo o processo da biópsia.
 
"Era um barulho ensurdecedor e senti dores por conta das anestesias e tudo mais. Quando sai da sala estava exausta e com muito medo. Eu, que nunca fui de chorar, choquei meu marido, para ele, eu já tinha recebido o diagnóstico.”
 
Os dias que se passaram até chegar o diagnóstico foram longos. Apesar de o resultado sair com certa rapidez, Lizete estava muito incomodada: ela tinha certeza que era câncer.
 
"Recordo-me do dia. Estava trabalhando e pedi para o meu marido pegar o exame para mim. Ele pediu que um motoboy fosse entregar. Me ligou e pedi para ele abrir o exame e ler. Estava lá, eu tinha câncer de mama.”
 
Era uma sexta-feira e Lizete conseguiu uma consulta com seu médico para segunda-feira. O sábado e o domingo foram os piores de sua vida.
 
"Passei dois dias chorando sem parar. Meu marido me consolava, mas, também estava com medo de tudo o que viria a acontecer depois do diagnóstico. Esse, com certeza, foi o pior momento de todos. O choque da notícia, alinhado com o medo que ela traz, é terrível.”
 
Depois deste final de semana de choro intenso e muitas dúvidas, acordou, na segunda, com mais confiança e foi ao médico. Lá, se sentiu mais tranquilizada e preparada para a batalha que iniciaria contra o câncer.

Foi nesta consulta que seu médico pediu, como forma de prevenção, um exame mais detalhado da outra mama também. E aí, outra descoberta surpreendente: tinha câncer nas duas mamas.
 
"Eu não acreditava no diagnóstico. Eu passei por duas vezes pelo choque da notícia. Primeiro que eu tinha câncer, depois que eu o tinha nas duas mamas. Isso não era tão comum assim e, para mim, não tinha outra saída, eu iria morrer.”
 
Mas, novamente, contou com a ajuda da família para superar mais esse choque e se fortalecer para o tratamento. Por falar em apoio familiar, Lizete diz que só está conseguindo vencer a doença por causa deles.
 
"Meu marido é tudo e sem ele eu não teria conseguido. Me acompanhou em todas as consultas, nas sessões de quimioterapia, me deu força quando eu estava mal, continuava me achando bonita (e dizia isso) quando eu estava sem cabelo e inchada por conta da medicação, foi meu porto seguro. Minha mãe e minhas irmãs também foram fundamentais. Elas tentaram levar a situação numa boa, nunca deixando transparecer pena ou tristeza. É claro que todos estavam tão tristes e apreensivos quanto eu, mas, tentaram levar com naturalidade e foi isso que me deixou serena para continuar e passar pelas fases difíceis do tratamento”.
 
Com o diagnóstico em mãos, Lizete foi aconselhada por seu médico para ir a um hospital de referência em São Paulo. Lá, foi muito bem tratada, mas, saiu de lá quando sentiu que precisava tomar as rédeas do seu tratamento.
 
"Eu me perguntava: Lizete, como você, bancária, contraria uma junta médica que diz para você fazer uma redução parcial dos seios? Eu sentia que precisava tirar todo o seio, não queria correr mais riscos, então decidi sair e procurar novas opiniões. Encontrei o Dr. Rafael que concordava comigo. Fiz mastectomia e foi constatado que eu tinha mais alguns nódulos com câncer que os exames não conseguiram detectar por conta do tamanho. Estava certa com minha intuição.”
 
Lizete diz que o tratamento foi bem mais tranquilo do que parecia. Para ela, saber que tinha câncer não dava medo só pelo risco de vida, mas, pelo que ele traria de problemas durante todo o tratamento e, de acordo com ela, não é o bicho de sete cabeças que todo mundo pensa.
 
"Não estou dizendo que é fácil, mas, não é tão terrível como se apresenta. A primeira fase da quimio, para mim, foi tranquila. Fiz questão de continuar trabalhando e seguir a vida normalmente. Depois, quando fui passando de fases, fui ficando cansada e precisando de mais tempo para me recuperar. Foi aí que meu médico pediu para me afastar e me guardar, desgaste desnecessário não iria me fazer bem. E tinha razão. Foram seis meses de tratamento, com momentos bons e ruins. Mas, eles passaram.”
 
O tratamento acabou em janeiro desde ano (2011) e está tudo bem. Lizete voltou a trabalhar e está super contente com o sinal de que ainda pode ser mãe: algo que não tinha em mente, mas, depois do câncer, começou a ser cogitado.
 
"Antes de eu começar a quimio meu médico perguntou se eu queria ser mãe. Ele me aconselhou congelar os óvulos para ter mais segurança caso o tratamento me fizesse ter uma menopausa precoce. Maternidade não estava nos meus planos, então, não quis. Durante o tratamento me arrependi, mas, não dava mais tempo. Restava-me aguardar e ver se eu tinha entrado na menopausa. Neste mês (julho) eu tive a resposta: menstruei e não consigo medir a minha felicidade. O câncer não me tirou nada.”
 
Por falar nisso, Lizete explica porque a descoberta da doença foi um grande presente.
 
"Hoje sou outra pessoa por causa do câncer e poder descobri-lo, além de ser uma oportunidade de vida, foi uma descoberta pessoal. Agora, dou mais valor à vida, às pessoas que amo e vivo a minha vida sem me preocupar muito com o futuro. É por causa da minha luta contra a doença que posso ser exemplo para outras pessoas. Atualmente, ajudo outras mulheres que estão passando pelo que eu passei. Falo da minha experiência e mostro que vai passar e que podemos sobreviver a ele. O câncer não é maior do que nós, mas é ele que nos faz ser maiores e bem melhores”.
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