[CÂNCER DE MAMA] Luiza Polessa

Instituto Oncoguia - Luiza, conte-nos um pouco sobre a sua história. Como e quando surgiu a ideia de escrever o livro?

Luiza Polessa - Gosto muito de escrever. Minha primeira graduação foi em Letras, sou Mestre em Literatura Brasileira. Tenho por hábito registrar as coisas que me acontecem, sobretudo as que me mobilizam. Fiz várias anotações sobre minha entrada no universo oncológico, como paciente, desde que suspeitei do diagnóstico de câncer de mama – carcinoma ductal infiltrante. A decisão de escrever foi determinada por uma urgência de organização interna. Pude situar, identificar e elaborar o turbilhão de sentimentos que me invadiam através da escrita. Já a decisão de publicar o livro surgiu do interesse em estabelecer uma interlocução com as pessoas que convivem, direta ou indiretamente, com a realidade do câncer. Tudo o de que necessitamos neste momento é ouvir de quem conhece a doença, como ela é enfrentada.

Instituto Oncoguia - Como surgiu a ideia do nome do livro? Qual o principal enfoque do livro?

Luiza Polessa - O título Entre Nós surgiu da intenção de se criar um ambiente de intimidade, cumplicidade e confidência entre as pessoas que adentram no universo do câncer. Quis promover uma interatividade discursiva. Como num bate-papo, de forma que o leitor também fosse incluído na conversa. Desde que o livro foi publicado, já recebi algumas dezenas de e-mails de leitores que estabeleceram diálogos preciosos com o texto e que me oferecem a oportunidade de rever, de atualizar minha história com a doença.

O livro tem dois enfoques, daí ser dividido em 2 partes.

Na primeira, falo sobre minha experiência pessoal com o câncer. Relato desde o momento em que percebi que os resultados dos exames não seriam favoráveis até o momento em que entreguei os originais para a editora, com 2 anos de tratamento. Por saber do efeito terapêutico que a escrita exerce sobre mim, solicitei a algumas pessoas muito próximas que escrevessem sobre o que estava sendo para elas estar ao meu lado nesse momento tão especial de minha existência. Estes depoimentos, de familiares, amigos e profissionais de saúde integram esta primeira parte.

Na segunda, o foco recai sobre minha experiência profissional. Já era especialista em Psico-Oncologia pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO) há alguns anos quando recebi o diagnóstico de câncer. Sugeri a algumas pacientes que estavam sendo atendidas por mim que registrassem sua trajetória com a doença. A partir de seus relatos abordo conteúdos como medo, perdas, morte, insegurança, fragilidade, sexualidade, família, tratamentos, relacionamentos.

Instituto Oncoguia - Como você descobriu a doença?

Luiza Polessa - Descobri a doença através de meus exames de rotina. No ano anterior estavam normais. Daí a importância de realizarmos anualmente exames de ultrassonografia e mamografia. Com um diagnóstico precoce as chances de cura são maiores e os procedimentos menos invasivos.

Instituto Oncoguia - Que impacto o diagnóstico de câncer teve em sua vida?

Luiza Polessa - O maior impacto foi a perda da fantasia de imortalidade. Senti a morte de perto pela primeira vez em minha vida. Outro grande impacto foi a perda de minha identidade. Estava muito identificada com a saúde. Perder o status de saudável provocou em mim um abalo muito profundo. No momento, terminados os tratamentos, os 5 anos de hormonioterapia, vivo sob o gratificante e revelador impacto de ser uma sobrevivente.

Instituto Oncoguia - Qual foi a fase mais difícil do seu tratamento?

Luiza Polessa - Foi a fase dos efeitos colaterais dos tratamentos, a radio e a hormonioterapia. Devido à leucopenia, sofri infecção por herpes zoster, que acarretou uma paralisia facial. A astenia e o ressecamento cutâneo e mucoso também foram difíceis de ser enfrentados.

Instituto Oncoguia - Você acha que o câncer alterou a sua vida? De que forma.

Luiza Polessa - Não se passa impunemente por uma doença que traz tantas ameaças, sofrimentos. Um sentimento que me marca muito particularmente é o da alegria de poder renascer a cada momento na própria vida. Poder fazer tudo o que eu fazia antes com a consciência de finitude que hoje guardo de mim e de quase todas as coisas tornou minha existência nova, instigante, desafiadora.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação entre você e a sua equipe médica? Você acredita que durante o tratamento uma orientação multiprofissional é fundamental para promover a qualidade de vida do paciente?

Luiza Polessa - A relação entre mim e a equipe médica se construiu ao longo do tempo. Fiz em janeiro 6 anos de cirurgia e estou com a mesma equipe, que me atende de forma cada vez mais satisfatória. No início, eram todos desconhecidos. E eu vinha de uma relação de 30 anos com profissionais que eram minha referência, o ginecologista, homeopata e acupunturista. Logo na primeira consulta com o oncologista houve um impasse, ele solicitou outros pareceres para definir se me encaminhava ou não para a quimioterapia, o que me fragilizou ainda mais. Os sentimentos hostis que tive em relação a sua conduta foram superados com muitas conversas, esclarecimentos e hoje temos uma relação de muita confiança, seriedade, solidariedade, respeito e amizade. Posso afirmar que estes profissionais, mastologista e oncologista são hoje minha grande referência.

Não podemos mais pensar em saúde, tratamento, sem orientação multiprofissional. Alopatia, homeopatia, acupuntura, ortomolecular, fisioterapia, nutrição, fitoterapia, exercício físico contribuem para o restabelecimento, amenização e eliminação de sintomas. Mas devem estar submetidos à supervisão e orientação médica, sobretudo do oncologista, pois sabemos que algumas substâncias interagem com os medicamentos, podendo alterar-lhes as respostas previstas.

O psicólogo, sobretudo o psico-oncologista, tem um papel fundamental na promoção do equilíbrio, bem-estar, melhora na qualidade de vida, seja do paciente, de um familiar, ou da própria família como um todo.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Luiza Polessa - Que se cerque de profissionais competentes e humanos para ser bem orientado e bem acolhido em seus medos, dúvidas, questionamentos. Que enfrente sua fragilidade, respeite seus sentimentos. Que tenha coragem para lidar com os estigmas da doença. Que peça ajuda sempre que precisar. Que não se envergonhe de estar doente. Que se permita receber as manifestações de amor, afeto, solidariedade. Que procure se informar sobre sua doença, pois esta é uma atitude que facilita a interação com médicos e permite a quebra dos tantos tabus, mitos e fantasias existentes em torno do câncer. Que compartilhe sua experiência. Que procure enriquecer a vida com esta experiência. E aproveite a oportunidade de se conhecer mais e melhor através de tudo o que está sendo vivido, sentido, sofrido a partir da doença e apesar dela.

Instituto Oncoguia - Teve alguma coisa que você fez durante o seu tratamento que fez a diferença? Que é fundamental?

Luiza Polessa - Sim, minha atividade espiritual e minhas práticas de meditação. Sem este esteio teria sido mais difícil. O que observo em minha clínica nas pessoas que não têm intimidade com o seu interior, que não promovem um encontro genuíno com sua sabedoria interna é que elas ficam mais desorientadas, acovardadas, sem esperança.

Outra coisa que fez a diferença foi poder usufruir de tantos laços afetivos construídos. O apoio de meu marido, familiares e amigos foi fundamental na minha recuperação.

Instituto Oncoguia - E como psicóloga, o que mudou no seu trabalho? Você continua atendendo pacientes com câncer?

Luiza Polessa - Minha atividade clínica está cada vez mais voltada para a oncologia. O fato de eu ter tido um câncer aproximou-me de forma muito singular de meus pacientes. Meu adoecimento, segundo uma de minhas irmãs, foi um estágio avançado em Psico-Oncologia que realizei. Hoje, não importa qual a demanda dos que me procuram, se oncológicos ou não, aproveito toda oportunidade para assinalar a importância dos vínculos afetivos estruturados, estruturantes, amorosos, solidários em nossas vidas, sem os quais o inverso da doença é muito rigoroso. Hoje realizo um trabalho preventivo que tem como base a conscientização da necessidade de mudança e transformação de tudo o que não está contribuindo para nosso equilíbrio, bem-estar e alegria de viver.

Instituto Oncoguia - O que você achou do Oncoguia? Tem alguma sugestão a fazer?

Luiza Polessa - O Oncoguia presta à população um serviço de utilidade pública. É um portal completo para o paciente oncológico, familiares, amigos, cuidadores. Também os profissionais da oncologia e áreas afins podem dele se beneficiar, sobretudo de sua abordagem multiprofissional. As informações sobre a doença e os tratamentos são bem fundamentadas e atualizadas. Sua abordagem multiprofissional permite ao interessado o acesso à informação sobre nutrição, odontologia, fisioterapia, psicologia, atividade física, direitos dos pacientes com câncer. O portal oferece, ainda, dicas sobre o dia-a-dia do tratamento, sobre como melhorar a qualidade de vida. Também disponibiliza o fale conosco, onde profissionais qualificados esclarecem as dúvidas dos interessados. Além dos colunistas e entrevistados.

O caráter interativo do Oncoguia permite a troca entre os pacientes, tão cheia de confidências, tão rica em suporte que só quem está com os pés na mesma estrada pode oferecer. Aliás, este é o mote do ENTRE NÓS, compartilhar saberes, sentimentos, experiências. A parceria com a Rádio Mundial permite ao Oncoguia alcançar um público mais abrangente e heterogêneo com o programa: Conversando sobre o Câncer.

A sugestão que quero fazer diz respeito à espiritualidade, à meditação. Talvez seja interessante somar aos tantos conteúdos já existentes, textos sagrados, técnicas de meditação, de relaxamento, de respiração. A hipnose também contribui muito para a melhora da qualidade de vida do paciente oncológico, sobretudo com suas técnicas para o alívio de muitos sintomas físicos presentes nos tratamentos, como dor, náusea, insônia.

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