[CÂNCER DE MAMA] Patricia Figueiredo

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Patricia Figueiredo - Me chamo Patricia Figueiredo, tenho 41 anos, sou natural do Rio de Janeiro. Gosto de praticar esportes, entre eles correr, musculação, natação e spinning, também gosto de maquiagem (sou maquiadora profissional) e como toda boa carioca, adoro praia. Também amo viajar,  ler e escrever.

Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer?

Patricia Figueiredo - Tive um câncer da mama tipo carcinoma ductal infiltrante.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?


Patricia Figueiredo - Descobri que tinha câncer na minha viagem de férias na Alemanha. Como disse, o meu oncologista, na verdade tirei férias pra tratar da saúde (só não sabia disso),  perdi as férias , mas ganhei minha vida .  

Aconteceu assim:  Senti um  nódulo no seio durante o banho, procurei uma mastologista, que me pediu os exames de mamografia e ultrassonografia e segundo ela, era um nódulo  benigno e apenas teríamos que controlar a cada seis meses.

No entanto, ao chegar na Alemanha de férias, fiquei na casa de uma amiga brasileira e por insistência dela, marcamos uma consulta no médico que a atendeu anos atrás. Na mesma hora ele fez uma mamografia e biopsia e o resultado saiu dois dias antes da viagem de volta.
Adiei a minha viagem pra fazer a cirurgia no  dia 8 de julho de 2014 (durante a copa), já que o meu nódulo já tinha 4 cm palpáveis e 8 no total.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?


Patricia Figueiredo - O telefone tocou, era da clinica Ostalb-klinikum. Certamente  iriam dar o resultado da biópsia. Enquanto a minha amiga conversava com eles em alemão, eu tentava sentir uma entonação diferente,  uma expressão facial, algo que me desse uma pista do resultado. Meu coração batia tão acelerado que quase  podia escutá-lo. Acho que no fundo eu já sabia a resposta. Estava pressentindo... Quando ela desligou o telefone, foi direta, sem rodeios : - É câncer , amiga.

Faltou o chão... Não podia ser... Não queria acreditar...  A única coisa que pensava era que não queria morrer...  Não, eu não chorava, urrava!  Não me lembro de ter chorado tão alto e tão sentido em toda a minha vida! Não conseguia pensar em nada mais, só a ideia da morte preenchia o meu pensamento... E com ela, a sensação de fracasso, de que ainda não realizei a metade do que gostaria, que a vida tinha passado  muito rápido. Só pensava que não queria morrer!

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?


Patricia Figueiredo - À tarde, fomos à clinica, o médico queria conversar comigo pessoalmente. Me explicou uma série de coisas, mas estava tão aérea que captei muito pouco. Do que ficou na memória do diagnóstico do médico: - você recebeu uma má notícia. Precisa ser forte , mas a boa notícia é que nós conhecemos o inimigo e sabemos como combatê-lo. Na verdade, eu não sabia nada do que estava acontecendo comigo e tinha que me preparar rápido para a batalha. Tinha que aprender tudo o que pudesse sobre o inimigo para vencê-lo. Essa foi a minha preocupação inicial.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?


Patricia Figueiredo - Fiz a mastectomia total com reconstrução e esvaziamento axilar lá na Alemanha mesmo e voltei para o Brasil para iniciar o meu tratamento.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?


Patricia Figueiredo - Já. Fiz 4 ciclos de quimioterapia vermelhas e 12 brancas e vou começar as rádios.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil?

Patricia Figueiredo
- Todo o tratamento desde o diagnóstico é muito difícil. Quem disser que tirou um câncer de letra está mentindo. Mas acho que pior que os efeitos colaterais, é o estigma  que essa doença carrega. E o isolamento que às vezes ela acarreta. Muitas das vezes, menos pelos efeitos colaterais, e mais pelo preconceito das pessoas. Muita gente não sabe lidar com um familiar ou um amigo com câncer e por isso se afasta.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Patricia Figueiredo
- Tive vários efeitos. Fiquei careca três semanas depois do primeiro ciclo da vermelha. Na vermelha sentia enjoo, insônia, desanimo e cansaço. Nas brancas, senti dores nas articulações, insônia, muita fome, coceiras e urticárias, especialmente nas mãos, pés e pernas. Fui administrando cada efeito, dentro do possível. Me acostumei a ficar careca. E acho que até que fiquei uma carequinha estilosa... rsrsrs

Se tinha insônia, aproveitava para ler... Se tinha as coceiras, tomava remédio, e assim ia. Acho que o pior foi o desânimo, o cansaço e as dores. Porque me impediam de levar uma vida dentro do "normal".

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?


Patricia Figueiredo - Minha relação com meu médico é excelente!  Ele é um anjo! Me deixou fazer praticamente tudo que pedi durante o tratamento. Fui à praia, fiz natação, stand up, e até pintei de loiro os meus fiapinhos  que nasceram na químio branca!

Já na primeira consulta, ele me explicou sobre as limitações que teria por conta da cirurgia e do tratamento e explicou que a partir de então eu seria uma princesa! Adorei! Kkkkk

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?


Patricia Figueiredo - Tenho a minha fisioterapeuta que me ajudou muito depois que fiz a mastectomia com esvaziamento axilar.

Quando cheguei nela , quase não movimentava o braço operado. Já na primeira sessão, ela pegou o meu seio operado e rodou! Quase morri do coração! Tinha medo da prótese sair do lugar. A melhor coisa que ela fez por mim, foi me ensinar a perder o medo, me tocar e incorporar esse novo seio ao meu corpo. Hoje movimento o braço sem nenhuma restrição e já voltei até a dormir de bruços.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?


Patricia Figueiredo - Somente na Alemanha quando fiz a cirurgia. Mas foi de grande utilidade, pois ainda estava tentando entender o que havia acontecido comigo.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?


Patricia Figueiredo - Tenho sim, uma nutricionista especializada em pacientes oncológicos que tem me acompanhado. E me ajudou muito a manter a imunidade em alta e a manter o meu peso sob controle.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?


Patricia Figueiredo
- Vou iniciar a radioterapia em breve. E farei hormonioterapia por 5 anos.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?


Patricia Figueiredo
- Minha vida deu uma guinada de 360 graus... Eu estou aprendendo a desacelerar e a dar valor ao que realmente importa: À família, aos amigos, às pequenas coisas da vida.

Tenho aprendido que precisamos de muito pouco para sermos felizes.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.


Patricia Figueiredo - Fechei uma microempresa que administrava há 15 anos. E que trabalhava em torno de 10 horas por dia de segunda à sábado e me dava muito stress. Na verdade, não estava satisfeita, mas empurrava com a barriga por comodismo. Estava na minha zona de conforto.

Decidi tirar um ano sabático para priorizar o meu tratamento.

Redescobri o hábito da leitura, coisa que me dar um imenso prazer,  mas com a vida que levava antes, não tinha tempo. E o mais legal: voltei a escrever. Hábito esquecido desde o término da minha faculdade. Estou escrevendo um livro sobre tudo o que tenho aprendido com o câncer. E também tenho um blog para compartilhar as minhas experiências: Das coisas que tenho aprendido.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Patricia Figueiredo - Calma! Parece o fim do mundo, mas não é!

Respira fundo! Você verá que irar encontrar forças onde pensa que não tem.

E às vezes não terá mesmo. Mas nessa hora, seus familiares, amigos e todos os que são importantes para você, te darão toda a força que for necessária!

Se apegue em Deus, independente de religião, Ele também irá te carregar no colo quando você estiver muito cansado.

Não se isole. Tenha amigos , e se tiver amigos, mesmo que virtuais, que estejam passando pelo mesmo processo que você, você não se sentirá tão só . É muito bom ter com quem dividir desde coisas corriqueiras, tipo, essa sensação de assadura no sovaco depois do esvaziamento axilar é normal? Qual o  desodorante que você está usando? Até questões mais profundas, tipo, como é viver com um câncer. Como falar com os filhos, etc...  Mas sobre tudo, esses amigos de destino, nos dão a certeza de que não somos  nenhum ET.

Aproveite esse período para cuidar não só da sua saúde. Faça um balanço da sua vida e aproveite para mudar o seu estilo de vida. Se tiver muita coragem, mude tudo o que não te faz feliz. Se um câncer se instalou em você, algo não estava bem. Toda doença é fruto de algum desequilíbrio, não só físico.

Não deixe de se exercitar. Sempre digo que se um esporte não me livrou de um câncer, ao menos, tem me dado qualidade de vida durante o tratamento.

Cuide muito bem da sua alimentação. Seu corpo vai precisar.

Agarre-se em pessoas que você ama e coisas que você gosta de fazer, elas te lembrarão o porquê de você estar lutando.

E o mais importante: Não desista. Não sem lutar!

Hoje em dia a medicina está muito avançada, as chances de curas são enormes e o tratamento é difícil, mas não é impossível.
 
Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Patricia Figueiredo
- Acho fundamental que o paciente saiba de tudo, sobre a doença, tratamento e prevenção. E participe ativamente do processo de cura.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?


Patricia Figueiredo
- Muito! E me informo até hoje. Quero saber o que aconteceu e o que acontece comigo e como posso colaborar para que essa doença nunca mais volte!
Pesquisei pela internet em sites confiáveis e li alguns livros.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Patricia Figueiredo
- Pesquisando na internet
 
Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?


Patricia Figueiredo
- Criar uma mídia social para pacientes oncológicos, para que haja mais trocas e mais interação .

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?  


Patricia Figueiredo - Infelizmente, não acredito em nossos políticos. Penso que a mudança que o nosso país merece virá da nossa sociedade. Mas penso que é no mínimo inteligente e mais econômico investir mais em prevenção, que no cuidado da doença já instalada. Em países como o Japão, a mamografia é oferecida pelo governo à toda a população a partir dos 35 anos.
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