[CÂNCER DE MAMA] Regina Maria

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Regina Maria - Meu nome é Regina Maria, tenho 33 anos, sou casada, tenho uma filha de 13 anos e sonhamos em ter um menino, sou aposentada, gasto minhas horas vagas falando com Deus, lendo a bíblia, fabricando bijuterias, bombons, tortas e outras guloseimas, faço também um trabalho na igreja na área social, onde ministramos cursos de artesanato para que as famílias de baixa renda tenham sua própria renda. É maravilhoso ver as pessoas motivadas realizando seus trabalhos e obtendo resultados satisfatórios, podendo dar uma vida melhor pra sua família. Estou agora cursando o curso de serviço social e pretendo fazer parte de uma ONG, que venha fazer a diferença na vida de todos os que passarem por ela. 
 
Instituto Oncoguia - Regina, como foi que você descobriu que estava com câncer?

Regina Maria - Em 2001, nesta época, trabalhava na Tok & Stok, era operadora, trabalhava na parte de supervisão e controle, trabalhava bastante, gostava muito do que fazia, mas cheguei a uma fase de stress, quando fui ao médico com fortes dores de cabeça que nunca passavam, passei por uma bateria de exames neurológicos e o médico chegou à conclusão que se tratava de um quadro de stress, sugeriu que a minha gerente me colocasse de férias para descansar e me tratar, então durante as férias, senti um incômodo no seio esquerdo, tinha um nódulo há pelo menos dois anos, a qual recebi vários diagnósticos errados, um deles relata que era a minha costela que estava se expondo, um absurdo! O último disse que era um cisto simples e me mandou voltar depois de um ano para novos exames, e após oito meses comecei a sentir incômodos e voltei ao médico, ainda estava de férias, fiz a punção e quinze dias depois estava eu com o resultado que me preocupou bastante: Carcinoma ductal invasivo de mama, grau III. Com 26 anos os médicos ficaram pasmos, esse diagnóstico é natural em mulheres com a idade a partir dos quarenta. 
 
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Regina Maria - Fiquei anestesiada, o médico a princípio não me falou do que se tratava, percebi seu nervosismo e surpresa, mas nem imaginava o que seria, fui encaminhada a outro médico especialista da área, mas chegando em casa recorri ao dicionário pra ver o que significavam aquelas palavras, estava sozinha, meu marido estava no ensaio do louvor da igreja, e minha filha com seis anos dormia, então fiquei surpresa, e a primeira coisa que fiz foi ligar para minha pastora Marta Janete, uma pessoa maravilhosa, relatei a ela o fato, e choramos juntas ao telefone, lembro-me que suas palavras muito me confortaram, quando meu esposo chegou estava sentada no chão da sala chorando e falando com Deus, nos abraçamos e choramos juntos, o apoio do esposo é importantíssimo nestas horas, a família é a nossa base aqui na terra, e Deus nosso tudo no céu. Pensei mil coisas naqueles momentos, nunca tinha conhecido sequer de longe alguém que sofreu de câncer, então era tudo novo pra mim, o que eu ouvia e via na Tv sobre o câncer era basicamente o que eu sabia, e era tudo muito sofrido, em um dado momento algo que me marcou foram as palavras do meu esposo, ele me disse: Amor, Deus tem muitas promessas em nossas vidas que ainda não se cumpriram, então você não vai morrer, porque Deus é fiel o que Ele promete ele cumpre!! Apeguei-me com toda força a estas palavras, e toda vez que pensava que não iria conseguir, me lembrava dessas palavras e isso me recobrava as forças e me fazia seguir em frente. A minha maior preocupação era deixar minha filha tão pequena de uma forma tão terrível. 
 
Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento?

Regina Maria - Depois da notícia foi me dito que precisava fazer a cirurgia o quanto antes, mas quando fiz os exames pré – operatórios descobri que estava com anemia, então fiz algumas sessões de ferroterapia para resistir à cirurgia, quinze dias depois estava na mesa de cirurgia, no dia 11 de setembro de 2001 (dia da queda das torres gêmeas), até então o médico ainda não havia decidido se tiraria apenas um quadrante da mama ou a mama inteira, sentia que ele estava abalado pela situação e pela minha idade, então quando estava no centro cirúrgico ele me falou que precisaria retirar toda a mama, faria uma mastectomia radical com esvaziamento axilar, este foi um momento muito difícil pra mim, lembro-me de ter chorado muito, aos 26 anos ficar sem um dos seios, mas pedi a Deus que saísse viva daquele centro cirúrgico, e Ele me atendeu, depois da cirurgia, após quinze dias comecei a quimioterapia, e depois a radioterapia, continuei por cinco anos com o bloqueio hormonal, tomando o tamoxifeno e o zoladex, que além de bloquearem os hormônios alteram todo o nosso metabolismo, fiquei na menopausa induzida, que acarreta em frieza no casamento, isolamento, ás vezes mal humor, e ai vai. 

Instituto Oncoguia - Qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

Regina Maria - A quimioterapia pra mim foi o tratamento mais difícil, pois fiquei super debilitada, perdi o cabelo e ganhei vinte kilos, a auto-estima vai embora, e só Deus pra nos sustentar, não controlava mais meu humor, um dia estava bem outro dia estava mal, amanhecia triste e depois ficava bem, às vezes nem eu mesma me aguentava com tanta variação no meu estado emocional. 
 
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Regina Maria - Neste período tive vários efeitos colaterais, o pior foram os enjôos que não me deixavam comer, me alimentava super mal, uma vez fiquei quase uma semana sem comer, tudo virava dentro do meu estômago, tinha insônia, dormia normalmente pela manhã, me sentia muito fraca nos primeiros dias após a quimioterapia, depois ia recobrando as forças pra poder suportar a próxima sessão que acontecia a cada 21 dias. Este foi pra mim um momento de superação, cada dia pra mim era uma vitória, era menos um dia de tratamento e assim foi até o final. Me ative não na dor, mas ficava ali falando bem baixinho, vai passar, vai passar, e ali mesmo adormecia e realmente passava. 
 
Instituto Oncoguia - Como era a relação com o seu médico?

Regina Maria - A minha médica Dra. Luci Ishii é uma profissional exemplar, e uma pessoa linda, uma vez ela foi ao hospital numa sessão de quimioterapia pra fazer minha sobrancelha e me maquiar, pra eu ficar bonita quando chegasse em casa, uma médica super preocupada com o bem estar de seus pacientes, possui um conhecimento inigualável nesta área. 
 
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Regina Maria - Relacionei-me com vários, enfermeiros que pareciam ser da família, a equipe da Dra. Luci é muito boa, desde a recepcionista até os médicos, todos estão sempre lá pra te ajudar, meu mastologista da época também uma pessoa maravilhosa, Dr. Hélson Albernaz. 
 
Instituto Oncoguia - Como você está agora que tudo já passou?

Regina Maria - Após seis anos do início de tudo, me sinto outra pessoa, mais madura, aprendi alguns valores tão importantes, aprendi a valorizar as pequenas coisas, os momentos simples que podem ser transformados em momentos inesquecíveis, aprendi a confiar mais em Deus, aprendi que a estética não é tudo, o importante é você estar bem consigo mesma e com Deus, parei de me preocupar excessivamente com o meu corpo e me dediquei mais ao meu interior que precisava ser transformado, e foi, aliás, têm sido a cada dia, fiquei mais aberta ao aprendizado. 
 
Instituto Oncoguia - Você sente que tudo voltou ao normal? Como está a sua vida hoje?

Regina Maria - Após o tratamento ficamos com algumas limitações, isso é bem verdade, mas o que se aprende é tão mais precioso do que isso, que acabamos valorizando mesmo é o aprendizado, às mudanças que Deus promove em nossa vida como um todo, além de trabalhar por fora Ele trabalha por dentro também, isso homem nenhum consegue fazer, transformar o coração... 
 
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Regina Maria - Quero relatar que passei por todo esse processo, e hoje posso dizer que sou vitoriosa, tenho saúde, alegria, uma família linda que me ama, e mais, o que segundo a ciência não poderia acontecer comigo, aconteceu, estou gestante de 40 dias, e o meu médico me disse que em dez anos de profissão nunca viu um caso igual ao meu, mais um motivo pra não desistirmos. Passaremos pela tribulação agora, mas viveremos milagres lá na frente. Se não superarmos esta fase difícil do agora como viveremos os milagres que nos aguardam ao longo do caminho? Você que porventura recebeu este diagnóstico recentemente, ou que já iniciou o tratamento, quero incentivá-la a não desistir, principalmente não desistir de você mesma, não se deixe abater com a aparência, com a falta de atenção, com as dores, com os incômodos, com as adversidades, mas pegue tudo isso e transforme em energia pra você superar os seus próprios limites e ir além de tudo isso, busque refúgio em Jesus, ele sempre está de braços abertos pra nos ajudar. Ele jamais nos abandona, Ele é o nosso amigo fiel. Ele me curou completamente e pode curar você também, basta crer e seguir em frente...
 
Um grande abraço cheio de amor,
Regina, uma mulher vitoriosa!
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