[CÂNCER DE MAMA] Roberta

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar? 

Roberta - Meu nome é Roberta, tenho 32 anos, sou casada há 7 anos, tenho uma filha de 3,5 anos e um filho de 22 dias (meu filho Lucas nasceu no dia 30/05, 1 semanas após a segunda sessão da quimioterapia, a bolsa estourou, e ele nasceu! O parto estava programado para o dia 10/06, na 39ª semana de gestação, mas ele quis nascer antes, com 37 semanas. Hoje faz 3 semanas que ele nasceu, está muito bem, saudável, nasceu com 2,850 kg e 48cm. Já engordou mais de 500 g, cresceu 2 cm em 2 semanas!) Moro em Jaú, interior de São Paulo, sou arquiteta. Adoro trabalhar, amo minha família. Descobri o nódulo na 26ª semana de gravidez. Meu pai é meu obstetra e foi ele quem me deu o resultado do câncer.

Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer ?

Roberta - Carcinoma ductal grau III - mama direita.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Roberta - Ao coçar a axila, apoiei o braço sobre a mama e senti que estava bem duro. Apalpei e senti o caroço, bem grande. Liguei para o meu pai, que veio imediatamente até minha casa me examinar. Eram 11 horas da noite, do dia 12 de março, quarta-feira. No dia seguinte começamos os exames e na sexta-feira da semana seguinte, dia 21 de março, meu pai recebeu a ligação do dono do laboratório, informando o resultado positivo. 

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Roberta  - Fiquei triste pelo sofrimento dos meus pais, meu pai principalmente que ficou muito abalado, e eu sofro com o sofrimento dele. Mas em relação à doença fiquei muito calma, muito confiante que tudo iria ficar bem, como está ficando. Fiquei preocupada quando meu pai disse que talvez teria que tirar o bebê antes da hora, mas depois da consulta com o mastologista que informou que o tratamento poderia ser feito durante a gravidez, me acalmei mais ainda.

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

Roberta - Com o bebê que estava gerando e como iria cuidar da minha filha, no pós operatório, como ela iria reagir ao me ver sem a mama, e principalmente a reação dela quando eu ficasse careca.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Roberta - Corri para organizar minha vida, finalizar alguns trabalhos, avisar os clientes, organizar a mudança do meu escritório que era na minha casa e agora é em um prédio comercial. E principalmente fazer meu ensaio fotográfico da gravidez. Tentei fazer tudo o que já estava programando, montar o quarto do bebê, etc.. teve uma coisa que acabei desistindo de fazer, que foi o chá de bebê. Pelo tempo, muita coisa para organizar. Minha família fez a mudança do escritório, que está me aguardando quando eu puder voltar trabalhar. O ensaio ficou lindo!!! 

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Roberta - Sim, 12 dias depois do diagnóstico fiz a cirurgia, mastectomia radical com esvaziamento axilar, também em uma quarta-feira. Estava na 29ª semana da gestação. No dia seguinte tive alta e voltei pra casa. 4 semanas depois, também em uma quarta-feira, 33 semanas de gestação, fiz minha primeira sessão de quimioterapia; 3 semanas depois, 36 semanas de gestação, a segunda sessão. 1 semana antes da segunda sessão, começou a cair meu cabelo, e meu sogro que é barbeiro raspou minha cabeça. Foi um alívio, estava aflita de quando seria a queda. 

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? 

Roberta - O que me deixa um pouco ansiosa é a quimioterapia. Fico curiosa em saber qual serão os sintomas, se irei vomitar... mas graças a Deus não tive grandes efeitos colaterais, apenas sono e prisão de ventre. Sofri um pouco mas em 4 dias tudo se resolveu. Nas sessões que fiz foi difícil pela barriga, principalmente a segunda sessão, minha barriga doia bastante, não tinha uma posição confortável. E outra coisa bem ruim foi para puncionar minha veia, que naõ aparecem, e levei várias espetadas. Na maternidade sofri muito com isso, o parto demorou para começar pois não conseguiam puncionar a veia. Agora vou colar o catéter e isso não será mais problema.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? 

Roberta - Bem pouco, o pior foi o intestino preso. 

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Roberta - Excelente! Meu mastologista é uma pessoa maravilhosa! Na semana seguinte à cirurgia, passou de carro em frente a minha casa enquanto eu me despedia de uma amiga. Deu ré e voltou para me dar um abraço. Minha oncologista é especial, doce, carinhosa. Foi minha primeira visita no dia seguinte ao nascimento do bebê. Estou muito bem cuidada.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou? 

Roberta - Com a fisioterapeuta, minha amiga desde a adolescência, uma pessoa especial, iluminada, uma boneca que parece que vai quebrar, de tão meiga, mas com suas mãos suaves faz milagres!!!

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Roberta - Antes da cirurgia fui conversar com uma psicóloga, agora minha amiga, que me atendeu prontamente assim que liguei e disse "estou grávida, você sabe, e agora estou com câncer de mama. Quero uma ajuda de como devo contar pra minha filha de 3 anos que não teria mais o "tetê", e depois que ficarei careca!" A resposta dela foi "venha aqui hoje!!" Foi uma conversa maravilhosa, que me ajudou muito. 

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Roberta - Não

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Roberta - Estou em tratamento, faltam 6 sessões de quimioterapia, e talvez farei radioterapia também. Vou esperar a médica decidir.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? 

Roberta - Ótima! Recebo muito carinho, mensagens, principalmente pelo facebook. Desde o começo expus meu problema, prefiro assim pois tem mais gente rezando e torcendo por mim. As mensagens e orações estão me ajudando muito, minha família é maravilhosa e meus amigos, principalmente da igreja,  são especiais.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Roberta - Meu tratamento deve terminar até o final do ano, e ano que vem vida nova! Já estou programando o aniversário de 4 anos da minha filha em dezembro desse ano, o aniversário de 1 ano do meu filho no ano que vem, e também de 40 anos do meu marido que será junto. Meu escritório novo está me esperando para retomar os projetos, as obras, os clientes. Eu amo trabalhar, amo arquitetura, faço como se fosse pra mim. Quero trabalhar muito para poder viajar, curtir minha família, conhecer um resort all-inclusive na Bahia, ir com meu marido e filhos para a Disney, ir para a Europa e ver o Papa, ser feliz!!!! Meus sonhos não são de consumo, bens materiais, mas ser feliz, feliz, feliz.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Roberta - É uma fase e vai passar! Tem que encarar o tratamento, firme e forte, e mostrar para essa doença que mexeu com a pessoa errada! Deus só nos dá a cruz que podemos carregar e vai passar, vai ficar tudo bem.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Roberta - O mais importante é ter informações com o médico que vai tratar do paciente. Cada caso é um caso, cada tratamento é único. E também confiar na equipe que está cuidando do paciente. 

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? 

Roberta - Muito pouco. Não pesquisei nada na internet, google, etc ... quero saber do meu caso, com o meu médico, minha médica e o meu tratamento específico. Não sou da área médica, não entendo nada, então não quero encher a cabeça com coisas erradas e ficar preocupada sem necessidade. 

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  

Roberta - Pelo facebook, através do Espaço Cor de Rosa.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Roberta - Sugestão talvez não, mas uma mensagem às mulheres mais jovens, que façam o auto exame, e qualquer dúvida procurem um médico. Principalmente as que tem caso na família. E não esperem os 40 anos, tendo dúvida corram atrás. Ninguém imaginava que isso aconteceria comigo, 32 anos, grávida, sem caso na família e aconteceu! Descobrimos rápido, cuidamos rápido. Graças a Deus e principalmente ao meu pai, que é uma pessoa fenomenal, dedicada, cuidadosa. Como ele mesmo diz, as excessões sempre acontecem na família dos médicos. Em 36 anos como ginecologista e obstetra, eu fui a primeira paciente dele grávida com câncer de mama. Justo a filha dele! Mas nada é por acaso, Deus sabe o que faz e essa situação com certeza será uma lição de vida para todos nós. 

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?  

Roberta - Felizmente tenho plano de saúde, pude fazer tudo muito rápido, tanto a cirurgia quanto os exames pré cirúrgicos, o início da quimioterapia. Não pelo plano de saúde, mas pelo meu pai ser médico, um dos mais "antigos" da cidade e de muito prestígio; os colegas médicos, laboratório, clínica de diagnóstico ... todos foram muito atenciosos e prestativos conosco, também por consideração e respeito à ele. Eu nunca me aproveitei dessa situação, muito pelo contrário, nas consultas do meu pré-natal, nas duas vezes em que fiquei grávida, marcava consulta, esperava minha vez na sala de espera, com o meu próprio pai, era uma paciente como as outras. 

Mas meu recado aos políticos é que sejam mais humanos, tratem as pessoas por igual, as doenças com suas devidas importâncias. Não dá para esperar meses, após um diagnóstico, para iniciar um tratamento. Valorizem os médicos, a equipe de saúde, são eles que fazem a diferença. A vida é muito importante, a felicidade das pessoas, das famílias. O dinheiro não compra a felicidade, não cura uma doença sozinho. Um coração em paz, otimismo, a família unida, isso sim é fundamental para o resultado positivo do tratamento. 
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