[CÂNCER DE MAMA] Ruth Rendeiro

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Ruth Rendeiro - Ruth de Fátima Rendeiro Palheta, mas uso apenas Ruth Rendeiro, 52 anos, nascida em Belém do Pará, viúva, jornalista, dois filhos (Raul, 18 anos e Anaterra, 14), meu hobby principal é também a minha profissão: escrever. Também gosto muito de viajar, conhecer lugares, pessoas. Morei 51 anos da minha vida em Belém, conheço muitos lugares na Amazônia e há um ano e quatro meses moro em São Carlos/SP e pretendo, no próximo ano, mudar para Ribeirão Preto onde mora hoje meu filho que cursa Educação Física na USP.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Ruth Rendeiro - Trabalhei durante 26 anos na Embrapa (estou aposentada há um mês) e lá somos obrigados a fazer anualmente, uma série de exames. Entre eles a mamografia para as mulheres com mais de 40 anos. Foi este exame de rotina que detectou o nódulo, retirado e enviado para biópsia. Um mês depois veio a confirmação: era câncer !

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Ruth Rendeiro - Fiquei completamente apavorada quando tive a confirmação. Não pensava em outra coisa, achava antes de sair o resultado que seria câncer, mas ainda alimentava uma pequena esperança de que poderia ser benigno. Achei que ia morrer no dia seguinte, na semana seguinte, no mês seguinte. Não pensava em outra coisa. Chorava muito. Fiz promessas a Nossa Senhora de Nazaré, a padroeira dos paraenses. Voltei para a terapia e passei a tomar remédio pra não entrar em depressão. Minha maior preocupação era com meus filhos. Não queria deixá-los tão cedo !

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento?

Ruth Rendeiro - Passados os primeiros dias, levantei a cabeça e disse: vou à luta. Comecei procurando os médicos mais próximos para que me ajudassem a entender o que o exame histológico dizia. Descobri então que o meu câncer estava numa fase muito inicial e tinha todas as possibilidades de cura. Menos de 1 cm, linfonodos negativos. Só que eu tinha um problema que tornava qualquer tratamento mais complexo: o comprometimento do fígado. Um problema antigo que perdura até hoje. Hepatite crônica, esteatose hepática, enfim, fatores que poderiam me levar à morte caso fizesse uma quimioterapia naquele momento. Ouvi diferentes médicos e foi quando decidi ouvir a opinião de um especialista em São Paulo que não recomendou a quimio. Não pelo fígado, mas pelo contexto do tipo de câncer. Deveria fazer apenas a radioterapia. Porém, em Belém, infelizmente o sistema de saúde é mais precário do que se pode imaginar: apenas uma máquina de rádio atende os pacientes do Estado inteiro e mais os que residem no Amapá, parte do Maranhão, do Tocantins e fica mais tempo parada do que em funcionamento. Decidi então voltar para São Paulo, dessa vez para Campinas, para a Clínica Radium. Estava começando a rádio, quando meu marido, Manoel Dantas, de 50 anos, adoeceu em Belém. O que aparentemente era apenas uma dengue, na verdade era uma leucemia mielóide aguda. Abandonei o tratamento e voltei pra Belém. Lá decidimos transferi-lo para o Hospital ACamargo, em São Paulo. Um mês depois eu voltei a fazer o tratamento em Campinas só que substituindo a radioterapia tradicional pela braquiterapia. Ele em São Paulo e eu indo diariamente a Campinas e recebendo a radiação mais concentrada e em menor tempo. Infelizmente ele faleceu logo em seguida. Optei então por deixar Belém e ir morar em São Carlos e assim fazer um acompanhamento que de fato me permita uma qualidade de vida melhor.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Ruth Rendeiro - Como não fiz quimio, não posso comparar. A cirurgia é complicada, ainda tenho sequelas da braquiterapia, como intumescimento de tecido e dores, mas nada que seja considerado insuportável. Tomar o tamoxifeno talvez seja o mais prejudicial pra mim pela sua toxidade e efeitos que causam no meu fígado. Sinto dores nas juntas, nas pernas e atribuo tudo a ele.

Instituto Oncoguia - Como é seu relacionamento com seus médicos?

Ruth Rendeiro - Mudei de médico com a saída de Belém. Os que me tratam em Campinas são excelentes. O oncologista (Luiz Carlos Teixeira) e o mastologista (Emílio) me dão muita confiança e me deixam à vontade para perguntar, tirar dúvida e me passam segurança de que o tratamento que fiz e o controle são os recomendáveis para o meu caso.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou? Você fez acompanhamento psicológico? E com nutricionista?

Ruth Rendeiro - Tão logo soube do câncer procurei a psiquiatra que já me tratara há alguns anos. Precisava desabafar, entender, aceitar. Tomei remédio durante algum tempo, mas depois que encarei de frente a situação, resolvi abandoná-lo. Só depois da morte do meu marido, com a volta à rotina em São Carlos é que procurei outros profissionais como nutricionista e personal trainer.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Ruth Rendeiro - Aos poucos volta à normalidade. Mas é quase impossível não viver com o fantasma do câncer sempre nos rondando. Acredito que quem teve câncer teme até uma unha encravada. Mudei minha vida por completo: cuido mais de mim, estou mais saudável e vejo a morte com mais naturalidade. Temo apenas sofrer.

Instituto Oncoguia - Que sugestões você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Ruth Rendeiro - Que não se desespere. Não faça como eu que deixei que a ansiedade antecipatória me detonasse e me paralisasse por muitos dias. Morri antes do tempo. Hoje, dois anos e dois meses depois, já vivi muito. Chorei muitas vezes de saudade (do meu marido, dos amigos que deixei em Belém, da minha terra), mas também já tive muitos momentos felizes como a aprovação do meu filho na USP com apenas 17 anos e depois de ter passado por tantas mudanças.

A medicina hoje tem muitas alternativas e o câncer já não é uma sentença de morte como há alguns anos. A vida mudará, é claro. A cada nova fase de exame é um novo teste de resistência. O medo volta, mas acredito que viver cada dia e buscar o que ele pode nos trazer de bom, é o melhor de todos os remédios. Estou tentando!

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