[CÂNCER DE MAMA] Sabrina Frâncio Estrasulas Jardim

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Sabrina Frâncio - Meu nome é Sabrina Frâncio Estrasulas Jardim, mas pode me chamar de Sa! Sou professora universitária, tenho 34 anos, amo margaridas e borboletas. Sou (muito bem!) casada com o Cris, um amor que a vida me presenteou pra chamar de meu, e temos dois cachorros, o Ringo, um lhasa apso de dois anos e o Ozzy, um lulu da pomerânia que acabou de fazer 4 meses, que são maravilhosos e formam a nossa família, por enquanto.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Sabrina Frâncio - Em fevereiro de 2010 eu fui para uma consulta de rotina com meu ginecologista que apalpou "algo estranho” no seio direito e na axila. Me encaminhou diretamente para fazermos uma mamografia que não acusou nada. Não contente com o diagnóstico, o médico solicitou (para minha sorte!) exames de imagem, inclusive com contraste. Nestes exames, foram identificados nódulos, tanto no seio como na axila direita. Foi, então, a vez de fazer a biópsia (ô examinho mais dolorido!) Dores (físicas e emocionais) a parte, a espera pelo diagnóstico foi bastante angustiante... 

Dez dias que pareciam ser 10 décadas! O diagnóstico veio numa quinta-feira de sol, às 17h15h - "Carcinoma ductal infiltrante grau III de Scarf-Bloom-Richardson modificado por Elston e Ellis (grau histológico 3, grau nuclear 2 e índice mitótico 1). A lesão mede 2,5x1,5x1,5 cm. Presença de extensa invasão linfática. O nódulo, pardo rosado, firme e de bordos radiados mede 2,5x1,5x1,5 cm. Dista 1,5 cm do bordo cirúrgico profundo e 15 cm da pele. Carcinoma mestastásico para 3/12, sem extensão extracapsular. O linfonodo metastático maior e a metástase maior medem 2,3 cm.” Ou seja, eu estava com câncer de mama!

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Sabrina Frâncio - No primeiro instante em que recebi a notícia do diagnóstico, parece que um "buraco negro” se abriu diante de mim. Fiquei paralisada, atônita. Liguei imediatamente para o Cris, que era meu namorado (de seis meses) na época e em segundos ele estava do meu lado. Logo minhas duas queridas amigas-irmãs, Janaína e Rosane, vieram lá pra casa e choramos, juntos, por exatos 3 dias. Eu me dei este direito: não quis refletir, pensar, nada... só chorar... Depois deste "luto”, resolvi que teria apenas UMA alternativa: lutar com TODAS as forças que eu poderia. E assim foi...

Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Sabrina Frâncio - A maior de todas as preocupações era, obviamente, com a morte, com o lidar com todo esse desconhecido. E agora, pra onde eu vou?

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Sabrina Frâncio - Passei o ano de 2010 me tratando. Fiz 8 sessões de quimioterapia (4 vermelhas e 4 brancas), depois mastectomia total e esvaziamento axilar, reconstruí a mama na própria cirurgia com a utilização do músculo dorsal e fiz mais 42 sessões de radioterapia.

Minha família, meus amigos e o Cris foram fundamentais para esse processo todo e foram muitos os momentos especiais: seja quando eu fiquei careca, quando começaram as quimios, quando fiz a cirurgia, quando eu voltava de cada quimio, enfim...Amor em estado mais puro!

Passado o tratamento, tomei Tamoxifeno por quase dois anos, refiz o mamilo e a auréola do seio direito, casei, voltei ao trabalho em 2011, e estava vivendo tranquilamente até que, no finalzinho de março de 2012 comecei a sentir umas dores insuportáveis na região do quadril.

À primeira vista, pensei que era por causa do uso dos saltos... Só que não! As dores foram aumentando e, literalmente, me paralisando! Num repente, a vida virou de cabeça pra baixo. Muita dor, muletas, ossinhos parecendo craquelar no meu corpo... Exames (muitos exames), biópsia de osso e um novo diagnóstico: "carcinoma metastático nos ossos + partes moles". Hiperconcentrações do radiofármaco caracterizando aumento da atividade osteoblástica na calota craniana, cabeça umeral esquerda, ângulo da escápula esquerda, 2˚ e 4˚ vértebras lombares, articulações sacroilíacas, ilíaco direito, acetábulos e porções proximais de ambos os fêmures”. Eu estava, novamente, com câncer… Como assim? Não... peraí... era só uma dor... Como?

Tratamento? Radio? Quimio? Não pode ser... Muletas? Novos e velhos fantasmas vieram me visitar... Dúvidas, choro, tristeza, revolta, raiva, palavrões... muitos palavrões... E meu cabelo? E meu trabalho? E minhas atividades? E minha vida? Para tudo! (som de freada de carro... silêncio.). Bom…passado o susto inicial…Hora de levantar a poeira e, que venha o segundo round!

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Sabrina Frâncio - O tratamento teve início logo na sequência do diagnóstico com 20 sessões de radioterapia para conter as dores paralisantes. As sessões foram importantíssimas porque, na quinta ou sexta sessão já estava andando sem muletas. Junto à radioterapia, tomava medicações à base de morfina para conter as dores. As radioterapias terminaram no dia 22 de junho de 2012, dia que iniciaram as quimios. Fiz 27 quimios semanais com internação hospitalar, depois meu organismo não começou a suportar mais os medicamentos e resolvemos, em conjunto com a equipe médica, passar para a quimio oral, em casa, sem internações (aleluia!) que é eficiente e que tem me deixado MUITO bem! Não tenho dores, nada de medicamentos para dores, nada de morfina, nada de nada! Os efeitos colaterais são mínimos frente ao que já passei e o tratamento vai fluindo no corpo físico.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Sabrina Frâncio - Sem dúvida as "quimios vermelhas”. Elas te derrubam e você percebe que não tem controle algum do seu corpo físico. O cansaço, o enjoo  o mal estar geral, os vômitos, a fraqueza... Nossa! Olhar pra esse cenário agora parece muito surreal!

Nesse momento das metástases, o mais difícil tem sido não estar em sala de aula, "na ativa”, porém tenho aprendido, diariamente, a deixar este período fluir, simplesmente, e a viver com leveza utilizando meu tempo com sabedoria.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Sabrina Frâncio - Na primeira etapa tive todos os efeitos colaterais possíveis: mal estar, vômitos, náuseas, enjoos, fraqueza, queda de cabelos, cílios e sobrancelhas e por aí vai... Agora, com o novo tratamento, os efeitos foram menores: queda de cabelos, cílios e sobrancelhas, mal estar geral, fraqueza e diarreia. Em ambas as vezes, o pior é o mal estar geral, a fraqueza que te paralisa.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Sabrina Frâncio - Foi e ainda é de muita confiança. O meu oncologista é fantástico: super ativo, sempre atualizado, moderno, querido e um verdadeiro ser humano. Ele é parte da família, com toda a certeza.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Sabrina Frâncio - Com o mastologista, com o cirurgião plástico e com a fisioterapeuta. Todos eu ainda tenho contato, faço consultas periódicas, confio infinitamente e são anjos!

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Sabrina Frâncio - Sim, nas duas vezes. Acredito ser fundamental e parte do tratamento uma boa alimentação.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Sabrina Frâncio - Agora continuo em tratamento de quimioterapia. Faço a quimio oral, diariamente, por 14 dias consecutivos. Faço uma pausa de 7 dias, vou ao hospital para fazer uma aplicação intravenosa, como se fosse um reforço de quimio e assim vai seguindo o ciclo. Estou no terceiro ciclo e ainda não temos previsão de quando essa etapa se encerra.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Sabrina Frâncio - Eu estou me sentindo bem, sem dores e conseguindo me movimentar e fazer atividades de casa e alguns exercícios físicos, desde que não exijam esforços demasiados. Tenho aprendido a viver o dia a dia, o um a um, não como um fardo, mas como um presente divino. Muito me chateia a ideia de não estar trabalhando. Para mim, até há muito pouco tempo atrás, meus dias eram feitos do meu trabalho; meu trabalho me preenchia, me enchia, me envolvia, me arrebatava... Meu trabalho era meu dia! 

Minha vida era, apenas, meu trabalho! E só! Com o tempo passando, e as experiências também, percebi que a vida não é só o trabalho e que temos que conciliar todas as esferas que nos fazem um ser humano "adulto”: trabalho, amor, casa, família, amigos, vida social...enfim...obrigações e deleites de uma vida "normal” (será que alguém é, verdadeiramente, normal?)

Esta vida repleta de esferas veio se desenvolvendo até eu adoecer a primeira vez... Me tratei, "venci a batalha” (bordão oncológico, rs!) e consegui que todas estas esferas estivessem ativas, com mais ou menos intensidade, mas ativas. Muito bem... Até ficar doente de novo.

Dessa vez, as esferas da vida "adulta normal” foram estremecidas e a primeira coisa que "perdi” foi meu trabalho e, então, veio a pergunta, a cobrança interior: "Bom, Sabrina, se tu não trabalha, o que tu faz com os teus dias?” Somados à frustação da "falta de trabalho”, vieram a limitação de movimentos, a dor, as dúvidas, os anseios, as ansiedades... Um turbilhão junto, misturado e eu não soube lidar com tudo... A cobrança ficou maior... "o que tu fazes com os teus dias, Sabrina?” latejava a voz interior...

Latejava e lateja! Afinal...tem resposta pra isso? Tem uma resposta certa e ideal pra essa pergunta?

Acho que não! Só sei que nestes dias todos que se passaram desde o diagnóstico (quase 365) tenho, hoje, uma resposta pra essa pergunta. O que eu faço com os meus dias? VIVO! Horas mais, horas menos... horas com mais intensidade, horas com mais morosidade.

O que tenho feito com os meus dias? Aprendido a me respeitar, aprendido a me ouvir, aprendido a deixar fluir, simplesmente... (Re)aprendido a lidar com um cãozinho bebê quando já temos um "adolescente”... Aprendido sobre a doença, sobre o tratamento, sobre as pessoas, lido livros, escutado músicas... Aprendido a me doar.

O que eu tenho feito com os meus dias? Aprendido a esvaziar ao invés de encher. Esvaziar os gritos, as ansiedades, as cobranças, a perfeição... Esvaziar o barulho da mente, a inquietude que paralisa.

O que eu tenho feito com os meus dias? VIVIDO! Vivido como um ser humano que está longe da perfeição, ainda bem, (e será que ela existe?), que tem tentado aprender, que tem tentado ser mais humano!

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Sabrina Frâncio - Sou professora universitária apaixonada pelo que faço. Ainda não sei quando volto para a sala de aula, então, meus planos são continuar a escrever com intensidade no blog (que muito me ajudou e me ajuda, me fez conhecer pessoas fantásticas, histórias incríveis e a perceber que não sou a única), tentar retomar um projeto de escrever um livro e me dedicar a trabalhos voluntários com muito fervor. Hoje, no núcleo de oncologia do hospital que me trato, fundamos (eu e o núcleo de psicologia), um grupo de apoio ao paciente com câncer, que se chama Vida. O grupo ainda está engatinhando, mas tenho muitas ideias a desenvolver e é nisso que vou me engajar!

E, claro, quando essa etapa passar, a família vai aumentar, mas não mais com cachorrinhos...rs..

Ah! E meu plano de presente e futuro é VIVER! Viver na totalidade, com intensidade e amor!

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Sabrina Frâncio - Em primeiro lugar, diria que deixe fluir o sentimento de tristeza. Chore, esperneie, xingue mesmo... Deixa sair! Depois, se conscientize do diagnóstico, converse francamente com o seu médico e equipe, verifique os tratamentos, os procedimentos e se informe de toda a realidade, sem rodeios. E, então, ACREDITE! Faz o tratamento! Mesmo que te derem um dia de vida, faz desse dia o mais importante de todos!

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Sabrina Frâncio - Para mim, a informação é como o tratamento. Crucial. Você ter a orientação das tuas dúvidas de forma clara é imprescindível! A equipe médica deve auxiliar muito e, fora dela, sites confiáveis e sérios ajudam muito. Quando eu tive o diagnóstico a primeira reação, passado o susto, foi procurar a internet. Felizmente me deparei com o site do Instituto Oncoguia e foi como um "colo de mãe”. Linguagem séria, compreensível, simples e sofisticada. Além disso, ler e ouvir relatos de outros pacientes é fundamental.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Sabrina Frâncio - Muito e sempre! Sites, blogs, conversas com outros pacientes, com outros profissionais.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Sabrina Frâncio - No primeiro diagnóstico, numa busca por um buscador, escrevi as palavras "câncer de mama” e ele foi a opção inicial da minha pesquisa. Não demorou muito pra se tornar minha página principal de pesquisa.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Sabrina Frâncio - Quero agradecer a oportunidade e agradecê-los pelo trabalho sério, respeitoso e de tamanha qualidade. Beijos e que Deus continue os abençoando sempre!

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