[CÂNCER DE MAMA] Thalita Cárceres

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar? 

Thalita Cáceres - Meu nome é Thalita Cáceres, tenho 33 anos, moro em Lauro de Freitas-BA. Sou empresária, possuo uma loja de produtos naturais e sou nutricionista de profissão. Adoro fotografia, cozinhar, estudar e cuidar do jardim, de minha horta e de meus bichos, tenho um cachorro e uma gata. 

Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer ?

Thalita Cáceres - Tenho um carcinoma ductal invasivo, triplo negativo na mama direita. 

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Thalita Cáceres - Em janeiro deste ano, fazendo o auto-exame descobri um nódulo. Antes disso, sentia um pouco de coceira e pequenas pontadas no local do tumor. 

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? 

Thalita Cáceres - Eu já estava sendo atendida pelo mastologista, que havia me alertado sobre a possibilidade do tumor ser maligno, mas eu ainda tinha esperança que não fosse. Quando recebi o diagnóstico eu estava sozinha, aguardando o resultado de outro exame. Foi uma sensação terrível, por um momento tive aquela sensação que o mundo todo parou, perdi o chão, chorei muito, porque sabia que precisava chorar como parte do processo de aceitação. Fui pra casa, e fui recebida por minha família, que compartilhou tudo comigo. 

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

Thalita Cáceres - Pensei em minha família. Fiquei preocupada em enfrentar todo o tratamento, medo de perder a mama, de perder os cabelos, tive medo que pudesse ser mais sério do que eu imaginava, medo de não poder trabalhar e fazer as coisas que eu gosto, apesar de me manter muito confiante o tempo todo.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Thalita Cáceres - O medo passou tão rápido quanto chegou. No mesmo dia que soube, depois de chorar muito, coloquei a cabeça no lugar, sequei as lágrimas e pensei, bom, agora preciso enfrentar. Impressionante como a força surge, a gente sempre pensa que vai ficar com muito medo, mas o instinto da sobrevivência parece ser muito maior. 

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Thalita Cáceres - Estou fazendo a quimioterapia neoadjuvante, que fazemos antes da cirurgia, pois o tumor tinha 5 cm em abril e meu médico sugeriu tentarmos a quimioterapia antes para tentar reduzir o tumor. Já fiz as 8 sessões, 4 da vermelha e 4 da branca, a última foi ontem. A decisão por esse tratamento não poderia ter sido mais acertada, na sexta sessão, conforme eu mesma havia apostado, o tumor já não era palpável. Acredito que poderei fazer uma cirurgia conservadora. Ainda vou aguardar a resposta do mastologista. 

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? 

Thalita Cáceres - Por enquanto só fiz a quimioterapia. Mas no primeiro dia com a oncologista, ao saber de tudo o que eu iria enfrentar, especialmente a questão da queda dos cabelos, foi um choque, mais difícil do que receber a biópsia. Pois quando você se vê com toda aquela informação sobre sintomas, efeitos, consequências, você cai na real que está com câncer. 

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? 

Thalita Cáceres - Na quimioterapia vermelha tive os sintomas gastrointestinais, náuseas, esofagite, aftas, prisão de ventre, mas que passavam após alguns dias. Eram sintomas muito ruins, mas o pior sintoma, para mim, foi com a quimioterapia branca, que começa uns 2 dias depois da sessão, com dores no corpo, calafrios, essas dores são mais difíceis de enfrentar para mim. No final do tratamento me senti mais debilitada também, isso contribuiu para que esses sintomas aumentassem. Mas isso foi apenas nos dias subsequentes à aplicação da quimioterapia, depois os sintomas passam.  

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Thalita Cáceres - Desde o começo com o mastologista e depois com a oncologista, tive uma relação de muita confiança. Me sinto muito tranquila com as decisões de ambos. Eles respondem carinhosamente a todas as minhas dúvidas e isso faz muita diferença. Meu tratamento está sendo pelo SUS e não podia esperar uma atenção melhor do que estou tendo. Todos os profissionais do hospital, desde a recepcionista, as secretárias, equipe de saúde ... são muito atenciosos, tenho um atendimento muito rápido nos exames, estou plenamente satisfeita com meu tratamento. 

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou? 

Thalita Cáceres - Tive atendimento psicológico no hospital também. À parte, fiz algumas aplicações de reiki. 

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Thalita Cáceres - Sim, a psicóloga do hospital foi muito atenciosa, até ia à sala de quimioterapia para me atender quando eu não podia ir ao consultório. Mas necessitei apenas no início, para lidar com todas as mudanças, depois já me sentia bastante confiante e o apoio da família e dos amigos foi e ainda é essencial. 

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Thalita Cáceres - Como sou nutricionista, fiz meu próprio tratamento, mas o hospital não oferece este tratamento.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Thalita Cáceres - Ainda estou em tratamento. Terminei a quimioterapia, depois vem a cirurgia e devo passar pela radioterapia devido ao tamanho do tumor no início do tratamento. O meu tipo de tumor, pelo que me informei, tende a ser um tumor agressivo, de crescimento rápido, mas que por outro lado, responde muito bem à quimioterapia, este foi meu caso. Por isso a importância do diagnóstico precoce. O êxito do meu tratamento, até agora, se deve à isso, pois não tive nenhum tipo de metástase, nem axilar. 

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? 

Thalita Cáceres - Estou trabalhando muito em casa, aproveitando para estudar bastante também, e sempre que estou disposta vou para a loja. Tenho evitado estar no meio de muita gente e fico mais em casa repousando, pois faz muita diferença no tratamento. No dia em que mais peguei pesado no trabalho tive febre e não foi legal, então procuro me manter ativa, mas em um ritmo bem mais lento, pois a fadiga é inevitável. Me alimento bem e procuro tomar um pouco de sol pela manhã, e continuar fazendo tudo o que gosto. Senti que quando ficava muito parada, especialmente nesta última fase da quimioterapia, sentia mais dores. 

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Thalita Cáceres - Desejo o mais rápido possível voltar ao trabalho a 100%, e tenho planos de no futuro próximo realizar um projeto de oferecer cursos para mulheres com câncer de mama, voltados à questão da alimentação, que faz muita diferença na prevenção e no tratamento, e por ser um tipo de câncer tão particular, muitas mulheres não entendem por que ganham peso, então, quero oferecer oficinas de culinária funcional que atendam às necessidades destas mulheres, além de criar algumas opções de receitas para cada fase do tratamento para tentar contribuir com a melhoria da qualidade de vida delas. 

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Thalita Cáceres - No primeiro dia da minha consulta com a oncologista, como disse, foi um tremendo choque e ela me disse que para todos os pacientes dela, ela pergunta no final do tratamento se foi tão ruim quanto pensamos nesse primeiro dia e 100% deles dizem que não. Meu conselho é que se permitam sentir tudo, chorem, recebam todos os tipos de sentimento, porque facilita o processo de aceitação. Mas não fiquem se perguntado por que comigo? Porque esta é uma resposta que nunca vão ter. Aceite o que está acontecendo, reúna todas as forças que tiver disponível, fique atento, pois as forças vão aparecer do nada e peça apoio de sua família, de seus amigos, esteja em contato com seu lado espiritual, seja indo à igreja, frequentando sua religião, meditando, conversando com si mesmo e faça tudo no seu tempo. Dedique-se à você, ao que você gosta de fazer, escute seu corpo, ele te dá sinais o tempo todo, coloque sua vida no topo de sua lista de prioridades e assim, enfrente tudo o que vier, nunca fique sozinho. 

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Thalita Cáceres - Extremamente importante. Quanto mais me informo, mais me sinto tranquila para enfrentar tudo. 

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? 

Thalita Cáceres - Li muito, busquei blogues, sites, livros, artigos científicos. Procurei informações confiáveis, pois isso é uma coisa para se ter cuidado. Logo no início, todo mundo queria me dar uma receita de alguma coisa, temos que ter muito cuidado, pois existem muitas fontes de informação que não são confiáveis e que não se aplicam a todos. Também selecionei bem os blogues que lia, pois alguns, com relatos de vida, acabavam me colocando mais pra baixo. 

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  

Thalita Cáceres - Através de um grande amigo, que teve câncer também. 

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Thalita Cáceres - Continuem com o excelente trabalho! 

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?

Thalita Cáceres - Tive muita sorte de ter um atendimento excepcional pela rede pública, mas vejo que em muitos lugares não é assim. O hospital onde recebo o tratamento trata os pacientes oncológicos com máxima prioridade, não pegamos fila para fazer exames, as consultas são marcadas com facilidade, por entenderem que se trata de casos prioritários e que pacientes em tratamento de câncer são mais susceptíveis a uma contaminação em ambientes insalubres. Este exemplo poderia ser seguido em outros locais. 

Apesar de tudo, não tive atendimento nutricional, e em muitos lugares este profissional não é incluído como parte do tratamento, apesar de constar no protocolo do SUS para os casos de câncer de mama, por exemplo. O nutricionista tem um papel fundamental no tratamento e pode melhorar muito a qualidade de vida do paciente, sua resposta ao tratamento e sua sobrevida após. Acredito que os esforços da administração pública poderiam ser mais eficientes neste sentido. 

Gostaria de deixar duas mensagens que se desejarem, podem divulgar:

Uma, que me ajudou muito especialmente agora na fase final do meu tratamento: "Eu tive câncer, mas o câncer não me teve".

E outra, principalmente para nós mulheres que somos tão sensíveis a este tratamento que afeta tanto nosso lado mais feminino: " Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses". - Rubem Alves. 
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