[CÂNCER DE MAMA] Vania Castanheira

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Vania Castanheira - Tenho 32 anos. Sou formada em Jornalismo e trabalho como Administradora de uma empresa de tradução.  Nascida em Moçambique, criada em Portugal, estudei na Itália e moro no Brasil (em São José dos Campos) há 9 anos. Sou casada há quase 2 com um marido maravilhoso. Em Janeiro deste ano, desejosa de me tornar mamãe, descobri um câncer de mama.  A estatística diz que 10% das mulheres desenvolvem um câncer de mama, mas que 80% delas só depois dos 50. Eu sempre tive uma vida saudável. Pratico esporte e me alimento bem. O meu câncer foi emocional. Um acúmulo de estresse e mágoa que guardei para mim, não compartilhei e não fiz questão de alterar o que estava errado. Deixei passar e o meu corpo reclamou.
 
Instituto Oncoguia - Qual o seu tipo de câncer?

Câncer de Mama. Triplo Negativo.
 
Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Vania Castanheira - Todos os anos faço ultrassom da mama, como prevenção. O último exame destes que fiz foi em Setembro do ano passado. Estava tudo ok! No meio de outubro, senti um caroço na mama esquerda, quadrante inferior, perto do tórax. Algo que dava para "ver a olhos vistos”.  Me assustei, pois não estava ali no mês anterior. Foi meu marido que foi buscar o resultado (Carcinoma ductal grau II) e me ligou. Ligou-me aflito, pois não sabia o que significava aquilo. Fui ao Dr. "Google” e lá estava o significado: Câncer nos ductos, estágio moderado! Ao que respondi: "Amor, estou com um câncer”.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?

Vania Castanheira - Os meus pés saíram do chão, o cérebro da cabeça e, principalmente, os olhos, esses saíram do meu corpo e começaram a ver o mundo de outra perspectiva.
Foi assim que descobri que tinha câncer e foi ali que decidi que não me ia deixar abater e que iria enfrentar tudo e todos. Jamais pensei que fosse morrer e jamais me questionei "Porquê comigo?!”. Aconteceu e agora temos que enfrentar! Vamos que vamos. O mais curioso é que tinha marcada consulta para dali a 2 dias com a ginecologista para me preparar para engravidar este ano. E engravidei… de 11 e congelei-os!
 
Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

Vania Castanheira - Não queria que existisse a hipótese de não ser mãe e também pensei "o que aconteceria à empresa?". Empresa da qual me demiti!
 
Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Vania Castanheira - Mandei um SMS à Ginecologista que me mandou ir ao consultório dela imediatamente para me encaminhar para o Mastologista (que me mandou fazer ressonância e biopsia a outro pequeno nódulo que não era nada e doeu para valer). Fiz quadrantectomia, depois uma setorectomia e congelei embriões. Fiz 4 quimioterapias vermelhas e 12 brancas. Agora estou terminando a radioterapia.
 
Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Vania Castanheira - Sim.
 
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Vania Castanheira - A danada da quimioterapia vermelha. Quando recebi a lista completa dos efeitos colaterais da quimioterapia, principalmente da vermelha, desejei ser uma ursa. Queria hibernar durante os 6 meses seguintes. Fiquei com receio de não seguir 100% as "milhares” instruções ou de ter o azar de pegar alguma infecção. Infecções essas que quando estamos bem, temos defesas para combatê-las, mas quando estamos frágeis, como em QT, podem ser mortais. Já que a doença não me tinha matado, não queria que a cura o fizesse! Acreditem que a doença não assusta tanto quanto o processo de cura, o tratamento com quimioterapia.
 
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Vania Castanheira - ENJOOS, NÁUSEAS e VÔMITOS – O pior efeito possível e imaginado! O meu rosto até se contorce só de lembrar. Até do cheiro do marido enjoei! E conseguia adivinhar o que as pessoas tinham comido, estando a um metro de distância delas! As paredes tinham cheiros, tudo tinha cheiro, os vizinhos passavam o dia a cozinhar, o mundo cheirava a comida e a baunilha! E não adiantava fechar o nariz, pois o cheiro também vinha de dentro de  mim. Esta foi a pior fase. Pensava 24h, durante 4 dias, em formas de negociar com o oncologista para não ter que fazer mais aplicações desta poderosa "Rainha de Copas”! Esta poção mágica que só ela poderia ter inventado! E ursa, queria ser uma ursa!  Depois destes 4 dias esquecia a negociação, mas não me importava de ser ursa na mesma.  Nunca vomitei. Consegui controlar. Ufa!
 
Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Vania Castanheira - Não poderia ter sido melhor. Um apoio excelente. Ate por whatsapp conversamos.
 
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Vania Castanheira - Para além de oncologista e mastologista, relacionei-me com ginecologista, especialista em fertilização humana, nutricionista, farmacêutica, psicóloga, dermatologista e proctologista.
 
Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Vania Castanheira - Sim. Da equipe, padrão.
 
Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Vania Castanheira - Sim
 
Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Vania Castanheira - Diferente. Melhor. Em recuperação, mas melhor. Com novos planos e objetivos que penso que me farão uma pessoa mais feliz e melhor.
 
Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Vania Castanheira - Demiti-me da empresa para a qual trabalhei desde 2008, como administradora. Criei o blog em 30 de Junho de 2013 e uma campanha social, os Lenços da Solidariedade. Quero transformar o Minha Vida Comigo em um produto. Estou negociando algumas parcerias para as campanhas sociais e para profissionalizar o trabalho que faço com o blog. Ressuscitar a minha profissão de Jornalista.
 
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Vania Castanheira - Desespere se sentir vontade, mas lembre-se que hoje tem cura! A sua cabeça pode ser a sua melhor aliada ou a sua maior inimiga. Você decide. Não se deixe abater pelo nome do diagnóstico nem pelos efeitos do tratamento na sua aparência. É possível manter a autoestima e ser bonita durante o tratamento. Nós temos o poder de decidir se queremos ser felizes, mesmo em situações precárias. Sem vergonhas. Este é apenas mais um desafio. Lembre-se que você é brasileira e brasileiro não desiste nunca!
 
Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Vania Castanheira - Fundamental! Por isso leio muito, pesquiso, devoro livros de vários autores e de vários países, e publico estudos e conclusões que acho pertinentes.
 
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Vania Castanheira - Junto de médicos, livros, estudos certificados, profissionais
 
Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Vania Castanheira - Passeando pela internet
 
Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?

Vania Castanheira - O PETSCAN deveria ser recomendado para qualquer tipo de câncer. Todas as cidades deveriam ter os aparelhos de radioterapia mais avançados para que as pessoas não tenham que se deslocar para se tratar. Todas as mulheres, a partir dos 20 anos, deveriam ser obrigadas a fazer ultrassom da mama anual e mamografia a partir dos 30.