[CÂNCER DE OVÁRIO] Juliana Vargas

Juliana Vargas, diagnosticada com câncer de ovário, nos enviou este depoimento a fim de dividir sua experiência e, quem sabe ajudar outras pessoas que estejam passando pela mesma experiência.
 
Leia abaixo a história de Juliana Vargas.
 
Meu nome é Juliana Vargas, tenho 27 anos, moro em Brasília – Distrito Federal. 
  
Tive câncer de ovário - Tumor misto de ovário E: Disgerminoma + Coriocarcinoma,  CID C56 estágio II.  
 
Em 2012, aos 25 anos eu levava uma vida normal, cursava a universidade, trabalhava, corria 3 vezes por semana, ia pro cinema, pro bar, pra casa dos amigos..., ou seja, vivia a vida como qualquer jovem da minha idade.
 
Até que em setembro de 2012 tudo mudou. Acordei um dia sentindo uma pontada na barriga, na região do baixo ventre. Era uma dorzinha leve, pensei ‘devo estar ovulando, pode ser uma cólica... nada demais’. Com o passar dos dias a dor foi aumentando, as pontadas deixaram de ser esporádicas e passaram a ser cada vez mais frequentes e com maior intensidade. Devido a aversão que eu sempre tive de hospital, fui negligenciando a dor, achando que ela ia passar.
 
Quero aqui deixar uma mensagem para todas as pessoas que estão lendo esse depoimento: Gente, prestem atenção no seu corpo, não façam como eu, o corpo fala, ele sinaliza quando alguma coisa não vai bem. Por isso sempre que sentirem um desconforto, uma "dorzinha” constante, procurem um médico. Pode não ser nada, assim como pode ser indício de alguma doença grave, e quanto mais cedo vocês descobrirem maior serão as chances de cura. Estejam sempre atentos aos sinais.
Depois de uns 15 dias sentindo muita dor, uma sexta feira saindo do trabalho eu decidi dar uma passada na emergência de um hospital. A médica me examinou, pediu uns exames de sangue, e pro meu espanto o diagnóstico anunciado por ela foi: Você está grávida!  
 
Eu achei muito estranho, contestei, pois estava solteira há alguns meses e além disso tomava anticoncepcional há vários anos. A médica foi incisiva, me mostrou o exame de BHCG 'positivo', fez uma ultrassonografia e deduziu que o caso era 'gravidez ectópica', ou seja, uma gravidez nas trompas, e que precisava ser interrompida imediatamente, pois o meu ovário estava muito inchado e corria o risco de se romper dentro de mim. Assim, fui internada e levada ao centro cirúrgico na mesma noite. Após a operação, mandaram o material retirado para a biópsia. A cirurgia foi bastante complicada e o pós operatório mais ainda, acordei com um dreno na barriga, que foi colocado com o objetivo de eliminar o sangue acumulado na cavidade abdominal, porém como não estava resolvendo, os médicos decidiram me operar novamente para conter o sangramento.
 
Fiquei internada 14 dias na maternidade do hospital sem um diagnóstico correto, os médicos simplesmente se contentaram com o diagnóstico de gravidez, devido ao BHCG positivo, esquecendo-se porém, que o BHCG além de ser um indicador de gravidez, em altas quantidades é também um indicador tumoral! E isso eu fui descobrir só depois no Google. Mesmo com o marcador de BHCG altíssimo os médicos não suspeitaram de nada.
 
Após 15 dias retornei ao hospital para pegar o resultado da biópsia e foi quando veio o susto; no resultado constava que o que estava no meu ovário não era um feto, era um tumor, e era maligno!   
Foi uma das piores sensações da minha vida! Eu tinha ido sozinha no hospital esse dia, então pra mim foi muito difícil receber a notícia de que eu estava doente e não ter ninguém ao lado pra segurar a minha mão, me dar um apoio. Lembro que sai desnorteada do consultório, parei em frente à rua sentei no meio fio e fiquei olhando para o céu, como quem pergunta: E agora? Não tinha a mínima ideia do que fazer naquele momento. 
 
Telefonei para uma tia, depois cheguei em casa e contei para minha família o resultado dos exames e todos ficaram muito chocados. Praticamente não existiam casos de câncer na família o que deixou as pessoas muito apreensivas e sem saber como agir.  
 
No dia seguinte já comecei a procurar oncologistas e logo em seguida comecei a fazer uma bateria de exames, como exame de sangue, tomografia computadorizada e ressonância magnética dos pés a cabeça. Como o diagnóstico foi tardio, o receio dos médicos é que o tumor pudesse ter espalhado para outros órgãos (metástase), devido às complicações da primeira cirurgia. 
 
E graças a Deus, indo contra todas as suspeitas, os resultados mostraram que os meus órgãos estavam intactos. O tumor estava 'encapsulado' como eles chamam, localizado na região do meu ovário esquerdo, todo o restante do meu corpo estava preservado. Foi uma vitória e um alívio muito grande.  
 
Após isso, os médicos me explicaram que somente a cirurgia não iria resolver e que, portanto, eu precisaria fazer quimioterapia. Pode parecer bobagem, mas para mim uma das coisas mais difíceis de aceitar foi saber que meu cabelo iria cair. Foi um choque muito grande. Eu que sempre tive um cabelão, e ainda mais sendo jovem, vaidosa, me imaginar careca era praticamente o fim do mundo. 
 
Acho que por isso o câncer é tão desafiador, porque além de ser uma doença difícil por si só, devido aos sintomas, os enjoos, a toxicidade do tratamento... , é uma doença que te descaracteriza, muda a sua fisionomia; o cabelo, os cílios, os pelos do corpo, todos caem, as unhas ficaram rochas, meus pés ficaram dormentes, dentre outras coisas.  
 
Ouvi muitas pessoas falarem: "Ah, mas cabelo é bobagem! Isso é o de menos” Me desculpa, mas é bobagem pra você que esta com o seu aí na cabeça. Pra uma mulher com câncer, não é. É o tipo de coisa que a gente não precisa ouvir!! Cabelo é SIM importante! Torna a sua aparência mais saudável, faz com que você sinta confiança, eleva a autoestima. Ninguém quer ficar careca!
 
Eu me lembro de acordar de manhã, ir escovar os dentes olhar para o espelho e não me reconhecer. Isso é muito difícil, porque além de enfrentar os efeitos físicos do tratamento, existem também os efeitos psicológicos e emocionais que a doença traz. É muita coisa de uma vez só!!
 
Semanas depois, implantei um cateter no peito e comecei a quimioterapia. Fiz 28 sessões de BEP: Bleomicina, Etoposídio e Cisplatina. Foi um período de muitas mudanças e adaptações. Eu não conseguia comer nada nos primeiros dias. Era muito enjoo, muita tonteira e fraqueza. A quimioterapia é praticamente uma bomba de medicamentos entrando nas suas veias. O corpo todo sente o impacto, as células doentes e as saudáveis também.
 
Ao final da quimio, tive que fazer uma outra cirurgia para retirar o que sobrou do tumor, que era um tecido morto - necrose. A cirurgia não foi nada simples, o tecido necrosado chegou a atingir o meu intestino, fazendo nele uma abertura, por isso tive que levar alguns pontos depois. Devido a isso fui parar na UTI, fiquei 3 dias sem poder comer nem beber absolutamente nada, pois não podia forçar o intestino porque ele poderia abrir de novo. Os médicos me mantiveram somente com soro. 
 
A parte da UTI foi um momento de muita aflição. Após um período lá, a médica que me operou foi me visitar e me disse que ainda não sabia se eu estava de fato curada, porque devido a essa abertura no intestino era possível que alguma micro célula cancerígena tivesse migrado para lá através da corrente sanguínea, ou seja, só a biópsia do material recolhido iria dizer se eu estava curada ou não. E lá estava eu, mais uma vez esperando o resultado de outra biópsia, cheia de angustias e incertezas.    
 
Em um momento de extrema tristeza na UTI eu fechei os meu olhos e chorei, chorei muito e pedi ajuda de Deus. Lembro-me de ter falado: ''Deus, eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, eu fiz quimioterapia, cirurgias, me mantive alegre e otimista durante quase todo o tratamento, fiz tudo, tudo o que eu podia ter feito, mas se o Senhor não me ajudar, eu não vou conseguir. Por favor, me tira desse lugar, eu quero sair daqui.'' 
 
E o que aconteceu depois, pra mim foi uma grande resposta. Não deu 10 minutos, o médico responsável pelo plantão chegou, entrou no meu leito e me deu alta naquele dia.  (eu não tinha previsão de alta, então aquilo pra mim foi um sinal, um sinal de que Deus ouviu a minha prece). Eu quero frisar aqui que eu nunca fui a pessoa mais fervorosa na fé, pelo contrário até, mas naquele dia eu senti uma grande conexão com Deus, senti que não estava sozinha ali. 
 
Lembro que no hospital muita gente ia orar por mim, muitos pastores conhecidos da minha mãe, um padre, gente que eu nem conhecia direito, pessoas que disponibilizaram um pouco do seu tempo, que saíram das suas casas, abdicaram o tempo com suas famílias para ir num hospital orar e conversar com uma mera desconhecida. Tudo isso me comoveu muito, todo esse amor e esse carinho sem dúvida me deram muita força.  
 
Depois de uns 10 dias, saiu o resultado final da biópsia, e lá constava que: "No material analisado não há nenhum sinal de neoplasia." A árdua caminhada tinha chegado ao fim. Eu estava curada. Parece que a ficha não caiu na hora, foram tantas dificuldades que eu demorei a acreditar, rs.
Hoje faz 1 ano e 3 meses que eu estou curada, faço exames de controle a cada 2 meses e não tomo nenhum remédio, mas devo ter que fazer reposição hormonal. 
 
Sempre me perguntam qual foi a parte mais difícil no tratamento; bom, foram tantas.., mas acho que a parte mais difícil, a pior de todas foi o diagnóstico. Ouvir que você tem câncer é um choque! Inicialmente foi como ouvir a minha sentença de morte. E quando se é jovem, cheia de planos, de sonhos, de expectativas com o futuro, é muito difícil lidar com a ideia de que o futuro pode não chegar. 
 
Eu li muitas coisas no período da doença, cito aqui dois livros que me ajudaram muito: A Cura Quântica, do Deepak Chopra e Anticâncer – Prevenir e vencer usando nossas defesas naturais, do David Servan-Schreiber, além de vários artigos médicos sobre câncer de ovário. Acho que a questão de querer se informar ou não sobre a doença depende muito de cada um. Tem pessoas que se deprimem quando começam a ler sobre o assunto, comigo foi o contrário, o conhecimento me ajudou a entender o câncer, os efeitos da quimio, como lidar com os enjoos, etc. Não gostava da ideia de ser só mais uma leiga no consultório médico em busca de tratamento, eu queria entender, afinal era o meu corpo, a minha vida. Mas como disse, isso é muito pessoal e varia de pessoa pra pessoa. Se para você for muito doloroso, não leia nada sobre câncer, leia literatura, revistas, vá ao cinema, ao teatro, ocupe sua cabeça com o que te faz bem.
 
Paras mulheres que estão passando por essa doença, acho que o importante é manter a mente positiva, buscar o tratamento e acreditar. 
 
Uma vez ouvi que a doença nada mais era que um deserto, um deserto que eu tinha que atravessar. Eu me apeguei a essa metáfora. Encarei a doença como um caminho cheio de percalços, com altos e baixos, ventos e tempestades, porém sabia que era só um pedaço da estrada, que tudo ia passar, a única coisa que eu precisava fazer era continuar caminhando.
 
Acredito que a doença seja isso, um pequeno deserto da vida, que nós temos que atravessar, com coragem, aceitação e confiança. O câncer é uma doença muito difícil, que te desafia em todos os sentidos, e justamente por isso, acredito que também seja uma oportunidade para o aprendizado, para trabalhar nossos apegos, um convite para o auto conhecimento, para cultivar a paciência; sim, pois todo esse processo requer muita paciência; paciência para esperar o tratamento fazer efeito, para ficar curada, para esperar o cabelo crescer depois, todo esse processo requer tempo e temos que ter a paciência necessária para enfrentar isso. E claro, não é tarefa fácil. Ás vezes eu tinha a sensação de que a vida estava passando e eu ali, deitada numa cama, doente, careca vendo tudo pela janela; porém, hoje eu vejo como essas 'esperas' me fortaleceram e foram importantes para que eu pudesse perceber que tudo tem o tempo certo para acontecer.
 
Para as mulheres que estão fazendo tratamento, o meu conselho é: tente manter uma rotina de exercícios físicos, eu fiz ginástica durante a quimioterapia e isso me ajudou bastante, pois além de fortalecer os músculos, os exercícios funcionam como uma injeção de ânimo, aumentando a sensação de bem estar; bebam muita água, pois a água limpa o organismo e ajuda os rins a expelir o excesso de medicamento; tentem comer, nem que seja um pouquinho (eu sei como é difícil), dê preferência a alimentos saudáveis, com maior densidade nutritiva, tire um tempo para se manter em contato com a natureza, tire foto do arco-íris, veja o pôr do sol, observe as sutilezas, sinta-se abençoada. Procure também se cercar de pessoas alegres, que te coloquem pra cima. Eleve o seu astral! Ouça sua músicas preferidas, vista suas roupas preferidas e principalmente: SE AME!! Seja com cabelo, sem cabelo, gorda, magra... Lembre-se que mesmo com todas essas mudanças físicas que o tratamento impõe, você continua sendo você! E você é muito especial e mais forte do que imagina.
 
Acredite no seu poder de superação, na sua força interior! Cultive a sua fé, faça orações, e tenha certeza que tudo isso vai afetar o seu corpo e a sua saúde de forma muito positiva! Deus habita em você!
 
Gostaria de parabenizar o trabalho do Instituto Oncoguia, que se dedica a nobre tarefa de orientar e acolher os pacientes com câncer. Esse apoio é muito importante! Fico muito feliz de poder participar e fazer parte dessa campanha de amor, força e solidariedade.
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