[CÂNCER DE OVÁRIO] Nanci Bueno Venturini

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Nanci Bueno - Meu nome é Nanci Bueno Venturini, sou de Santo André, São Paulo, tenho 48 anos, sou casada, mas não tive filhos. Sou uma mulher de fé, guerreira, virginiana e como não poderia deixar de ser, perfeccionista. Amo a vida, a natureza, os animais, a liberdade! Minha grande paixão é viajar, conhecer novas culturas, gente, cheiros, gostos, sensações... Estou sobrevivendo a um câncer de ovário e hei de vencê-lo, se Deus quiser!

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer de ovário?

Nanci Bueno - No dia 26 de novembro, uma sexta-feira, trabalhei normalmente até o final do dia, mas desde após o almoço eu começava a sentir um desconforto abdominal, como se alguma coisa que tivesse comido não caísse bem. No final do dia, uma sensação de estufamento começou a tomar conta de mim. Senti as roupas ficarem apertadas, comecei a ficar enjoada. Saí do trabalho e fui direto para casa. À noite, o mal estar piorou e passei o sábado e domingo com uma sensação de morte! Eu me auto medicava, mas nada adiantava. Era como se o meu corpo todo tivesse entrado em pane. Nada funcionava e atribuí todo aquele mal estar a uma possível semi-oclusão intestinal. Na segunda-feira, quando o mal estar já estava insuportável, decidi ir ao Pronto Socorro do Hospital Cristóvão da Gama, em Santo André. Por volta das 14h passei com o médico do PS que me solicitou um RX e um exame de sangue. Após analisarem os exames, que não eram conclusivos, decidiram me internar, pois havia uma suspeita de ascite (presença de líquido no abdômen)!

Eu, que nunca tinha ficado internada em toda a minha vida! Ficar internada? Aquela notícia me pegou de surpresa! Dois médicos do departamento de gastrologia começaram a acompanhar o meu caso. A primeira providência foi uma lavagem intestinal, após a lavagem, iniciou-se uma série de exames de sangue e urina, ultrassonografia, tomografia, endoscopia, colonoscopia, etc, etc. Eu já estava há cinco dias no hospital e estavam me virando do avesso. Foram realizados exames de marcadores tumorais e o CA 125 revelou-se muito alto. Ascite, associada a marcador tumoral elevado não é um bom sinal. Sentia a agitação dos médicos, mas ninguém me falava nada. O médico decidiu-se por uma videolaparoscopia, a qual foi realizada no sexto dia de internação. Após o procedimento, o médico informou que tinha sido retirado o meu ovário esquerdo e mais algumas "bolinhas" para biópsia, bem como todo o líquido que estava presente em meu abdômen. Tive alta no dia seguinte, em 07/12/2011.

No dia 13/12/11, retornei ao hospital para retirada dos pontos e a enfermeira me disse que o médico queria muito falar comigo! Como ela também não conseguia esconder a agitação, comecei a ficar nervosa e, a partir daquele instante, pude ter certeza que alguma coisa muito errada estava acontecendo. Entrei no consultório do médico e ele, sem rodeios, me disse que o resultado da biópsia tinha saído e que se tratava de um câncer de ovário já em estágio bastante avançado, e que o meu abdómen estava tomado de "pintinhas brancas". Ele rascunhou um encaminhamento para um médico ginecologista/ oncologista do próprio hospital e encerrou a conversa dizendo que esperava ainda me ver bem!

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Nanci Bueno - Pensei que eu fosse perder o chão com a notícia, mas uma força inexplicável tomou conta de mim! Sempre tive muita fé e acredito que eu estava sendo muito bem amparada naquele momento. Mas, depois que a ficha caiu, já em casa, fiquei pensando como isso pode acontecer, onde é que eu tinha errado, pois efetuava todos os exames regularmente! De onde é que tinha surgido aquele câncer? Ainda por cima em estágio avançado! Por que é que a vida tinha me pregado essa peça? Foi uma doença assintomática! Eu só sentia fortes cólicas menstruais e estava tendo, há alguns meses, alguns problemas gástricos, para os quais estava efetuando tratamento! Como? Como meu Deus?

Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Nanci Bueno - A minha maior preocupação naquele momento, por se tratar de um câncer em estágio avançado, era com a cirurgia e com o tempo que eu ainda teria de vida. Pensei que eu viveria de 3 meses a 1 ano no máximo.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Nanci Bueno - Muita coisa aconteceu depois disso. Resumindo a estória:

Já estava com a cirurgia de citorredução marcada no hospital Cristovão da Gama, mas, de última hora, decidi mudar para o Hospital AC Camargo. Em 19/12/11, passei em consulta com o Dr. Carlos Faloppa, ginecologisla oncologista do AC Camargo e, como o tempo urgia, a cirurgia foi marcada para o dia 07/01/12. Na primeira tentativa, a cirurgia teve que ser abortada em razão do grande acometimento do abdômen pelo câncer. Decidiu-se que, primeiramente, eu faria 4 ciclos de quimio para que o tumor fosse reduzido e, após, nova tentativa de cirurgia seria realizada. Fiquei arrasada, pois meu corpo precisaria reagir muito bem ao tratamento. O tumor precisaria reduzir pelo menos 70%! Realizei os quatro ciclos de quimio, e após concluídos, efetuei todos os exames de acompanhamento, cujos resultados se mostraram muito bons. O marcador tumoral CA 125, que no início passava de 600, caiu para 8, as tomografias já não apresentavam grande quantidade de massa sólida e de ascite. Levei os exames para o Dr. Carlos e ele ficou muito feliz com os resultados e decidiu que aquele era o momento ideal para realizar nova cirurgia, que foi marcada para o dia 28/04/12. A cirurgia foi realizada na data prevista, teve mais de 8 horas de duração e, segundo o médico, desta vez, ele tinha conseguido uma citorredução ótima. Após a cirúrgia, foram mais quatro ciclos de quimioterapia.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Nanci Bueno - Todo o tratamento foi difícil, tanto cirúrgico, quanto quimioterápico. A cirurgia foi bastante radical, vários órgãos foram removidos e a incisão foi bem grande, um corte na vertical, que se estende desde abaixo do seio até o início do púbis. Por ter sido um câncer em estágio IIIC (vai até o estagio IV) a quimioterapia também foi agressiva e sofri bastante com os efeitos colaterais.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Nanci Bueno - Sim, tive efeitos colaterais. Aliás, ainda tenho, após sete meses do término do tratamento. Durante as quimios eu sentia muitas dores no abdômen e nos ossos, que para mim foram as piores reações, intestino preso, enjoo, gosto metálico na boca, cansaço. Nas últimas quimios surgiu a neuropatia, que perdura até agora.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Nanci Bueno - Os médicos do AC Camargo são espetaculares, o tratamento é humanizado e além do mais eles procuram nos passar todas as informações sobre a nossa situação de forma clara. Tenho imenso carinho por todos os médicos que me acompanham: Dr. Carlos Faloppa – ginecologista; Dra. MILENA SHIZUE TARIKI – Oncologista: Dra. Sandra Caires Serrano – Cuidados Paliativos

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Nanci Bueno - Continuo me relacionando até hoje com as enfermeiras Ana Carolina e Fernanda e com a Auxiliar de enfermagem Catarina, pois mensalmente tenho que efetuar a limpeza do catéter. Além da relação profissional, temos também uma relação de amizade e mantemos contato pelo Facebook.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Nanci Bueno - Não fiz. Sou espírita Kardeccista e os ensinamentos da doutrina me auxiliaram muito durante este período, porém acredito que seja muito importante o acompanhamento.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Nanci Bueno - Não. Lí muito livros a respeito do assunto, inclusive o Anticâncer de David Servan-schreiber

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Nanci Bueno - Terminei os tratamentos cirúrgico e quimioterápico, mas os mesmos deixaram sequelas. Atualmente estou tratando estas sequelas, como a neuropatia e os intensos fogachos.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Nanci Bueno - Agradeço a Deus diariamente por estar viva, procuro levar uma vida mais saudável, mais leve. Procuro aproveitar mais a vida!

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.
 
Nanci Bueno - Continuo afastada do meu trabalho. Sou assessora executiva da reitoria da Universidade Federal do ABC e pretendo retornar. Tudo depende do que a minha médica decidir, mas não tenho pressa. O importante é estar bem. Já se foi o tempo em que o meu trabalho era prioridade para mim. Agora, o importante é eu me sentir bem!

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Nanci Bueno - Para ter fé, para crer que o diagnóstico não é uma sentença de morte, pois a medicina já evoluiu bastante e que, em muitos casos, já é possível a cura e que, quando não, já é possível prolongar a vida em muitos anos!

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Nanci Bueno - Tem pessoas que preferem ficar totalmente alienadas sobre a doença. Evitam até pronunciar a palavra câncer. Eu, ao contrário, preferi saber, em detalhes, com quem eu estaria lidando. Para mim a informação é tudo. Bem informada eu posso questionar o meu médico sobre o tratamento cirúrgico e quimioterápico, posso conversar com ele sobre as novas terapias em estudo, posso entender o que acontece dentro do meu corpo.
 
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Nanci Bueno - E muito. Ganhei do meu marido um notebook que passou a ser o meu instrumento de trabalho. Digo de trabalho porque todas as informações que encontrei sobre o assunto passei a divulgá-las em meu blog Câncer de Ovário: um mal silencioso.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Nanci Bueno - Buscando informações encontrei o Oncoguia, que me foi muito útil, pois me trouxe muitos esclarecimentos.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Nanci Bueno - Apenas continuar com esse trabalho maravilhoso. Talvez divulgá-lo em hospitais como no AC Camargo, por exemplo.

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