[CÂNCER DE OVÁRIO] Tânia Soares Ribeiro

Tania Soares RibeiroInstituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
 
Tânia Ribeiro - Meu Nome é Tânia Soares Ribeiro, tenho 57 anos, moro em Hortolândia – SP, (bem pertinho de Campinas!), sou advogada, trabalho como Procuradora do Município da minha cidade. Gosto muito do meu trabalho, de estar com a casa cheia e de viajar com minhas amigas. Sou divorciada há 15 anos, tenho duas filhas, 28 (casada), 26, e um neto de quase 3 anos.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Tânia Ribeiro - Em junho de 2008 comecei a sentir um desconforto intestinal, maior que o de costume, pois sempre tive problemas com isso. E também um aumento de peso, que eu não conseguia eliminar. Já estava na época do controle anual com a ginecologista (minha médica há uns 30 anos), mas ela entrou em férias, depois foi a um congresso, acabou que só consegui marcar consulta para setembro. Dia 2 de setembro, na consulta ela identificou uma "massa”, pediu exames (ultrassonografia transvaginal) e com o resultado me encaminhou para um outro médico, pois precisaria de uma cirurgia e ela, pela idade, não estava mais fazendo.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?


Tânia Ribeiro -
Bem, depois de consultar com esse segundo médico e fazer mais alguns exames, ao receber o resultado ele me disse simplesmente assim: Não vou pode fazer sua cirurgia porque só faço por videolaparoscopia, e a sua deverá ser aberta porque você tem uma neoplasia. E eu perguntei: O que é uma neoplasia? Ele respondeu: É câncer!
Perdi o chão, sem saber o que falar ou como agir! Ele já ligou para outro médico, que marcou uma consulta para a segunda feira (era uma sexta), às 8hs, que fazia esse tipo de cirurgia. Saí do consultório atordoada, entrei no carro, peguei o celular e liguei para o meu irmão, que mora em outra cidade, contei tudo chorando, desesperada!

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?


Tânia Ribeiro -
Foi como contar para as minhas filhas. Na época, a mais velha ainda era solteira e ambas moravam comigo. O pai tem pouca ou nenhuma participação na vida delas, eu sabia que eu era o esteio e temia pelas suas reações.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Tânia Ribeiro - Depois disso, mais uma série de exames, problemas com o convênio, dores, preocupações, até  às vésperas da cirurgia marcada, quando o meu novo médico me ligou (Dr. José Carlos Torres), passando orientações para a preparação e internação, e eu perguntei se havia alguma chance de não ser câncer e ele respondeu: 5%! Acho que foi para não dizer 0%, porque ele tinha em mãos o resultado do CA125 (marcador de câncer de ovário), que o limite é de 35 U/ml, e o meu estava em 6.989 U/ml!
Fui para a cirurgia, que deveria durar 7 a 8 horas e durou apenas duas, porque, ao abrir, ele identificou que o tumor era irressecável, só tirou amostras para análise, fechou e deu a notícia à minha família, que eu teria 20% de chances de sobreviver.
Depois da comoção geral, a família reunida, até o ex marido, as amigas, todos chocados, recebi a notícia no dia seguinte e pedi para ir para casa.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Tânia Ribeiro - Na segunda feira seguinte fui ao consultório do Dr. Torres, com toda a família, e ele reiterou tudo que já havia dito, da gravidade da situação, das minhas chances e do tratamento: quimioterapia! Ainda disse que 20% a quimio iria fazer, o restante era comigo. Eu respondi que a minha parte, os 80%, estavam garantidos, porque, acima de tudo, eu tinha o meu Deus, tomando conta de tudo, minha família e uma legião de amigos me dando força e orando por mim. Fiz a série de 6 aplicações de taxol e carboplatina, que reduziu o marcador (159 U/ml) e o tumor. Foi quando me submeti a nova cirurgia, agora sim, com a histerectomia total.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?


Tânia Ribeiro - Bem, eu fiz quimioterapia e cirurgias, não fiz radio, então, pra mim, o pior é a quimio e suas conseqüências.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?


Tânia Ribeiro -
Nas primeiras aplicações fiquei bem mal, dores enjoos, intestino preso, indisposição total. Ficava de cama quase uma semana, no tratamento todo engordei (ou inchei) 25kg. Mas, penso que o pior foi a alopecia ou queda de cabelo. Nenhuma mulher merece isso! Embora eu tenha cortado meus longos cabelos antes de iniciar a quimio e feito uma peruca deles, que ficou perfeita, não me eximia de me olhar no espelho e não reconhecer aquela pessoa que me olhava! Mas, em meados de 2011, fiquei alérgica a Carboplatina e houve a necessidade de mudança de medicação para o Caelix e, para nossa alegria, o cabelo voltou a crescer!

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?


Tânia Ribeiro -
A relação com o cirurgião foi mais profissional, mas não posso reclamar, era atencioso na medida do possível, porque é um médico muito famoso e requisitado.
Com a oncologista, Dra. Laura, foi um amor. Jovem, atenciosa, carinhosa, sempre atenta aos detalhes, foi perfeita, até que por conta de alteração do convênio, tive que mudar, e hoje quem cuida de mim é a Dra. Nadia S. Siqueira, também ótima e temos um excelente relacionamento, também por conta do tempo de tratamento, quase três anos com ela, somos quase amigas, tenho total liberdade de falar sobre tudo com ela, nas consultas, por e-mail e até pelo seu celular.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Tânia Ribeiro - Médicos e minha psicóloga.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Tânia Ribeiro -
Fiz por um período, ela já era psicóloga de minha filha e nossa amiga, então fez um acompanhamento inicial comigo.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Tânia Ribeiro - Também, mas mais recente, por volta de 2011, procurei uma nutricionista para ajudar na alimentação, excesso de peso e aumento de imunidade.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Tânia Ribeiro -
Tive uma recidiva em 2010, recomecei o tratamento com quimio, que reduziu a doença a "micropontos”. Foi quando a minha oncologista me encaminhou ao Hospital A.C.Camargo, em São Paulo, para a equipe do Dr. Ademar Lopes, para realizar uma cirurgia citorredutora com quimioterapia hipertermica intraperitonial, não é só o nome complicado, a danada também é! Foram 12 horas de cirurgia, nas mãos abençoadas do Dr. Ranyell Spencer e sua equipe, mais quinze dias de internação, depois complicação na cicatrização, mais 24 dias de hospital, isso de julho a agosto de 2012.
Tínhamos esperança, eu e Dra. Nadia, de que a cirurgia, se não eliminasse toda a doença, ao menos desse um bom tempo de descanso. Engano nosso: Recidiva em fevereiro de 2013!
Os danados dos micropontos voltaram! Ou seja, estou novamente em tratamento, com quimioterapia! Inclusive, com a necessidade de mudança na medicação, do Caelix, para o Gencitabina, que acabou provocando nova queda de cabelos (dessa vez, não totalmente).
Resolvemos dar um descanso de um mês para o meu organismo, então tenho retorno para o dia 18 de setembro, onde discutiremos quais os procedimentos a seguir.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Tânia Ribeiro - Durante todo esse período de "doença”, tentei ao máximo manter a minha vida normal. Não parei de trabalhar, exceto nos períodos de cirurgia e alguns dias pós quimio. Passeio, viajo, saio com as amigas e curto minha família. Só tinha viajado até Buenos Aires, Argentina. Agora já fui para Miami, Toronto (duas vezes), Montreal, Quebec, Nova York e outras viagens nacionais. Nesse período também, Deus me deu de presente um neto, o Miguel! Sua chegada veio reforçar meu desejo de lutar e viver, e viver bem!

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.


Tânia Ribeiro -
Como disse, adoro o que faço. Não saberia o que fazer se deixasse de trabalhar. Meu superior é extremamente compreensivo comigo e facilita muito a minha vida, permitindo que eu tenha liberdade de horários, que também é próprio do meu cargo.
Meu plano mais próximo é terminar a reforma da minha casa, para receber minha amiga que mora no Canadá e virá passar o Natal e Ano Novo comigo, quando vamos aproveitar para fazer alguns passeios por aqui. Ma,s acima de tudo, acredito que Deus tem seus próprios planos para a minha vida e acredito que são melhores até que os meus. É a fé em Deus que tem me mantido na luta, disso não tenho dúvidas.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Tânia Ribeiro - Tente manter a calma, respire fundo e vá à luta! Não permita que o câncer seja maior que você, tenha fé, deposite toda sua fé e esperança em Deus ou naquilo que você crê. Olhe ao seu redor, vai descobrir que, primeiro você não é a única e segundo, depende muito do seu querer viver para enfrentar essa batalha.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?


Tânia Ribeiro -
A informação é importante, mas a obtenha de forma segura, com seus médicos e profissionais especializados. Se for buscar na internet, que seja em sites sérios e desde que você já tenha antes conversado com seu médico. Às vezes, a busca na internet mais assusta do que ajuda, se vc não estiver preparada para o que vai ler. Lembre-se, você nunca saberá em que lugar das famosas "estatísticas” você está! É assustador ler que 80% morrem  deCa de ovário. Quem disse que você não está entre os 20% que sobrevivem?
Costumo dizer que, pelas estatísticas, eu já deveria ter morrido, afinal, já se passaram cinco anos do diagnóstico! Mas, o que são as estatísticas senão números? E eu sou mais que um número!

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Tânia Ribeiro - Primeiro, sempre pedi que meus médicos fossem extremamente honestos comigo, perguntava sobre tudo, medicação, reações, etc. Li muito, também, livros, internet (Oncoguia é uma excelente fonte), compartilhei com outras mulheres na mesma condição.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  


Tânia Ribeiro - Pelo Facebook.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Tânia Ribeiro - Que continuem a estimular as pessoas que sofrem dessa doença, que mantenham profissionais especializados na ajuda para esclarecer dúvidas. Que a luta por mudanças na legislação em vigor sejam constantes, com empenho em mudanças que favoreçam os portadores de câncer.

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?  

Tânia Ribeiro - A maior dificuldade que encontrei durante todo esse tratamento é de ser respeitada pelo meu convênio, já precisei por duas vezes entrar na Justiça para obter o tratamento adequado. Entendo que deveria ser obrigatória a autorização, pelo convênio, de qualquer procedimento solicitado pelo médico, à pacientes portadores de câncer. Por vezes, perde-se tempo precioso em burocracia e quem sofre desse mal sabe que o tempo é essencial em nossos casos. Meu recado seria: Facilitar ao máximo a vida do portador de câncer. Por exemplo, só aposentados são beneficiados com isenção do recolhimento de Imposto de Renda. Como, no meu caso, muitas pessoas continuam a trabalhar, mesmo estando em tratamento e os gastos com isso são grandes. Por que não sermos também isentos? E descontos e privilégios na aquisição de veículos e pagamento de IPVA? Enfim, isso tudo é parte da minha história. Ficaria horas escrevendo sobre tudo que passei e ainda passo. Mas, como disse, acredito que tudo esteja nas mãos de meu Deus e Ele tem cuidado de mim até agora, me mantendo firme e forte nessa luta pela vida.
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