Desafios para diagnóstico precoce do câncer de pulmão no Brasil

A tomografia computadorizada de baixa dose é hoje a melhor forma de fazer o diagnóstico precoce do câncer de pulmão. No Brasil, apenas 8,8% dos casos da doença são diagnosticados em estágio I (precoce). Um dos principais fatores que contribui para essa deficiência é a falta de disponibilidade de tomógrafos, principalmente na rede pública: 4,9 para cada 1 milhão de habitantes no SUS e 30,8 para cada milhão de pessoas no sistema privado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“No setor privado até que estamos bem, similar a países desenvolvidos. Mas no setor público há muita desigualdade na distribuição destes equipamentos, principalmente nas regiões Norte e Nordeste”, destaca Clarissa Mathias, médica oncologista e diretora da América Latina na Association for Study on Lung Cancer (IALSC).

Hoje, sabe-se que a realização da tomografia de baixa dose contribui para a redução em cerca de 20% da mortalidade de pacientes com câncer de pulmão. “Este tipo de exame é sim seguro e evita que façamos biópsia em todo mundo. Além disso, com a realização da tomografia de baixa dose, conseguimos melhorar os números de pacientes diagnosticados em estágio inicial da doença, aumentando as chances de eles terem a possibilidade de tratar com cirurgia, que oferece melhor chance de cura”, declara Ricardo Santos, Professor da pós-graduação Multidisciplinar e pesquisador no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP).

No entanto, Ricardo reforça o desafio em relação à baixa quantidade de tomógrafos disponíveis no Brasil, e ainda destaca a falta de programas de rastreamento como outro fator que contribuiu para o diagnóstico tardio.

Outros exames importantes

PET-CT é um exame que define o estadiamento do câncer de pulmão. A incorporação do equipamento foi mais um desafio enfrentado pelos pacientes. “Foram quatro anos de demora desde a aprovação do uso pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) até a incorporação do exame no SUS. Hoje, o Brasil tem 124 aparelhos distribuídos em 21 dos 27 estados brasileiros. Essa é uma prioridade para melhorar o tratamento com base no estadiamento da doença”, aponta Clarissa Mathias.

Outro exame, que ajuda a detalhar o tipo histológico do câncer de pulmão, é a broncoscopia. Um aspecto no qual o Brasil vai bem, de acordo com a oncologista. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), 56,7% dos pacientes realizaram 100 por ano, conforme recomendação internacional.

Já a realização de testes moleculares, fundamental para determinar a presença ou não de mutações genéticas em cada paciente com câncer de pulmão garantindo um tratamento mais personalizado, ainda é pouco praticada no país. (Confira nossa reportagem sobre testes moleculares para câncer de pulmão.)

Até 2014, menos de 50% dos pacientes passavam pela realização do teste, sendo que 60% pertencem ao sistema privado e 30% ao sistema público, segundo pesquisa publicada no Brazilian Journal of Pulmonology, em 2018. Na pesquisa feita pelo Oncoguia em 2016 com pacientes com a doença, cerca de 37,9% daqueles com convênios médicos e 48,5% do SUS não passaram pelo exame. “No Brasil, um em cada quatro pacientes pode ter a mutação, mas o acesso a certos medicamentos ainda é bastante escasso. Então de que adianta o paciente saber da mutação se não vai ter como tratar adequadamente? Aí acabam nem realizando o exame”, conclui Clarissa.

Além do Brasil, o diagnóstico precoce para o câncer de pulmão é um grande desafio para outros 11 países da América Latina, conforme demonstrou o relatório “Câncer de Pulmão na América Latina: pare de ignorar o problema”, do The Economist (confira a pesquisa). Além da falta de equipamentos adequados para o diagnóstico precoce da doença, o estudo aponta o treinamento e a qualificação de profissionais como uma deficiência que contribui para o atraso nos diagnósticos. Estes são ainda outros aspectos que contribuem com o cenário delicado do câncer de pulmão e que também precisam ser pensados e debatidos como medidas para melhorar o diagnóstico no Brasil e em outros lugares do mundo.
 

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