Dia Mundial do Câncer: desafios econômicos e sociais impedem o acesso ao tratamento oncológico


Foto: Instituto Oncoguia

O Dia Mundial do Câncer 2024, campanha global liderada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC, na sigla em inglês), faz um alerta para as desigualdades existentes no acesso ao cuidado oncológico e ressalta a necessidade de ações para diminuí-las. O Instituto Oncoguia, ONG de apoio e informação ao paciente com câncer e um dos representantes brasileiros da campanha, organizou um ato público para reforçar a importância da discussão. 

Em 2024, o Dia Mundial do Câncer entra no último e terceiro ano da campanha “Close the Gap” ("Por Cuidados mais Justos", na tradução para o Brasil). Para marcar a ocasião, a UICC tira da invisibilidade o impacto das desigualdades no acesso ao cuidado do câncer em diversas regiões do mundo, além de fazer recomendações sobre como abordar essas questões para uma assistência oncológica mais justa e igual para todos .

No Brasil, o Instituto Oncoguia reforça a existência de barreiras de renda, moradia, raça e educação que prejudicam a busca e o acesso a um cuidado precoce e efetivo. Para jogar luz a esses obstáculos, a ONG organizou o ato público "O Câncer precisa de mais Atenção", que reuniu pacientes com câncer, seus familiares, profissionais de saúde e ativistas a fim de chamar a atenção da sociedade e do poder público. 

O ato foi realizado no Unibes Cultural, em São Paulo, no encerramento do 1º Congresso de Qualidade de Vida e Câncer do Instituto Oncoguia. 

“Reunimos os principais envolvidos para, juntos, chamarmos a atenção da nossa sociedade e também dos nossos governantes para a situação do câncer em nosso país. O câncer está na fila de espera no Brasil e os pacientes estão pagando com suas vidas. Isso tem que mudar, o câncer precisa ser tratado de forma prioritária com cuidados iguais e mais justos para todos", diz Luciana Holtz, presidente do Oncoguia. 

O câncer não escolhe. O acesso não deveria escolher

A ONG reforça que os obstáculos que impedem o acesso efetivo ao cuidado do câncer são mais presentes para as populações em situações de vulnerabilidade social. 

Isso pode ser observado na pesquisa “Percepções e prioridades do câncer nas favelas brasileiras”, de 2023, que buscou entender como os moradores de favelas brasileiras se informam e lidam com a doença. O estudo, feito pelo DataFavela a pedido do Oncoguia, segue o objetivo da entidade de mitigar essas desigualdades que afetam o acesso ao cuidado do câncer

A partir de dados quantitativos e qualitativos, a pesquisa constatou que 7 em cada 10 moradores de favelas não têm acesso a exames e médicos para prevenção e diagnóstico do câncer. 

Entre os principais obstáculos apontados, questões financeiras são algumas das mais recorrentes. Segundo a pesquisa, 85% dos participantes dizem que, se tivessem melhores condições financeiras, poderiam cuidar melhor da saúde, fazendo exames de rotina com maior frequência. Isso também afeta quem está em tratamento. 

“Convivemos diariamente com essa realidade dolorida em que pacientes, seja por falta de dinheiro, dispensa no trabalho ou por não ter onde e com quem deixar os filhos, faltam a exames ou perdem consultas. O que gera um impacto profundo em suas vidas diante de um diagnóstico de um câncer”, comenta Luciana Holtz, presidente do Oncoguia. 
O deslocamento para os equipamentos de saúde também foi um dos problemas destacados. Cerca de 82% dos participantes da pesquisa afirmaram que demoram mais de uma hora para chegar às UBSs e UPAs. 

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A demora para agendar consultas e exames também foi amplamente relatada pelos entrevistados. Cerca de 70% afirmam que tentam cuidar da saúde, mas nunca encontram médicos nas UBSs e postos de saúde e, quando conseguem consultas, os exames demoram muito. 

Por fim, desigualdades de gênero também afetam o acesso à assistência oncológica. Segundo a pesquisa, 44% das mulheres com filhos concordam que se tivessem com quem deixar as crianças, poderiam cuidar melhor da saúde. 

Como melhorar esse cenário?

Em seu relatório, a UICC fornece nove recomendações gerais aos governos para reduzir a lacuna de acesso no cuidado ao câncer. De acordo com os dados levantados pelo Oncoguia, duas dessas recomendações são urgentes para o Brasil:

  • Implementar uma estratégia nacional eficaz de combate ao câncer, fundamentada em evidências e que considere dificuldades financeiras e barreiras enfrentadas por populações desatendidas.
  • Abordar os determinantes sociais sistêmicos de saúde que impedem a capacidade de um indivíduo acessar a assistência oncológica, enfrentando preconceitos e suposições baseadas em diversos marcadores sociais.

“Para acabar com as desigualdades, há que se fazer mais e diferente para quem tem menos. Isso precisa ser prioridade em nossas políticas públicas para garantir o acesso igualitário a um cuidado que seja precoce, efetivo, integral e digno”, finaliza Luciana. 

Todas as recomendações e o relatório da UICC estão disponíveis em WorldCancerDay.org

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