Entenda porque o Outubro Rosa (e outros meses) são tão necessários
Aos 60 anos, Laura Maria Dias de Lima notou que seu mamilo estava “para dentro”. Ela nos conta que chegou a pensar que a alteração no seio havia sido causada por ter dormido de bruço. Como, depois de uma semana, o bico não tinha voltado ao normal, ela pesquisou na internet o que poderia ser e descobriu que a inversão do mamilo poderia ser um sinal de câncer. Foi então que resolveu procurar um médico.
Era maio de 2019 quando ela foi a um posto de saúde de Carapicuiba, em São Paulo, para agendar uma consulta com ginecologista, mas foi informada de que só havia data disponível para agosto.
Laura então entrou em contato com o Oncoguia para pedir ajuda para saber como conseguir uma consulta mais rápida. Ao ser orientada pela nossa especialista de atendimento do canal Ligue Câncer, Vilmena Cruz, a procurar a ouvidoria do posto de saúde, ela conseguiu um encaixe para 28 de maio, dois dias após falar com a ouvidoria. Na consulta, a médica solicitou alguns exames como Papanicolaou, ultrassonografia vaginal e dos seios e mamografia.
“Acho que fazia uns 20 anos que não ia no ginecologista, desde o nascimento da minha caçula. Além disso, eu estava com um sinal e mesmo assim a médica nem levantou da mesa dela, não me examinou, não olhou meu seio, nem apalpou, só pediu os exames.”
Além do medo e da vergonha de ir ao ginecologista, Laura relata que não achava que poderia ter um câncer de mama considerando que era saudável, não fumante, não tomava hormônios e sem histórico da doença na família. “Eu me tocava, mas nunca senti nenhum caroço, nada suspeito. A inversão do meu mamilo aconteceu, literalmente, de um dia para o outro”, conta.
Desafios da paciente
Laura diz que no começo, quando ainda estava com medo e não havia contado sobre a suspeita de câncer para ninguém de sua família, passou a ligar quase toda semana para o canal Ligue Câncer. “A Vilmena me ouvia, me acalmava e me ajudou a não passar por isso sozinha. Ela me estimulou a seguir e contar pra minha família.”
Após sair da consulta com a ginecologista, disseram para Laura que entrariam em contato para agendar os exames. Mais de duas semanas se passaram e ninguém a procurou. Preocupada, ela resolveu fazer os exames de forma particular. A mamografia evidenciou um nódulo denso de 6 cm, porém deu Birads 0. Laura voltou ao posto de saúde para que a médica olhasse seus exames, mas a médica não a atendeu por não ter consulta marcada. Laura então decidiu pagar por uma consulta com mastologista particular para avaliar os resultados. O médico disse que tinha 90% de chance de ser câncer e pediu uma biópsia. Sem condições de pagar o procedimento, ela voltou ao SUS.
Mais demora e dificuldade
Ao retornar ao posto de saúde mais uma vez, aos prantos, conseguiu um encaixe com a ginecologista que a orientou a passar por um mastologista do próprio SUS, o que aconteceu em julho. Após realizar exames de sangue e conversar com um anestesista, Laura retornou ao mastologista no início de agosto quando foi agendada a realização da biópsia com quadrantectomia apenas para 10 de outubro, quase 5 meses depois do aparecimento do sinal e da primeira consulta com a ginecologista, no Hospital Geral de Carapicuíba. No dia 18 de outubro, o resultado da biópsia apontou um carcinoma de mama grau 3. Agora, Laura passará por um novo procedimento para retirada de linfonodos sentinelas em novembro.
Informação como aliada
“No começo eu não sabia nada e quando a gente não sabe de nada sobre a doença, imagina o pior. Achei que fosse morrer, por isso não quis contar para os meus filhos. Depois que encontrei o Oncoguia, passei a entender que o tratamento do câncer avançou muito e hoje câncer não é mais uma sentença de morte, mas temos que correr atrás para poder tratar a tempo de ficar bem. Conversando com a Vilmena, vi que muitas pessoas têm câncer e vivem bem e com qualidade de vida. Agora não sinto mais medo e também não me sinto sozinha. Vocês foram o melhor amigo que tive nesse momento.”
Apesar de ter familiares que cobravam para que ela se cuidasse, Laura assume que era relaxada em relação à saúde. “Agora eu aconselho todo mundo a se cuidar, ir no ginecologista, fazer mamografia quando chegar na idade e se cuidar. Depois do que aconteceu comigo, até fiz um plano de saúde para minhas filhas também se cuidarem.”, finaliza.
Laura faz parte do grupo de risco (50-69 anos) que é inclusive priorizado pelo Ministério da Saúde para o acesso a mamografia de rastreamento, ela não deveria ter enfrentado tantas dificuldades. Sua história mostra a triste realidade enfrentada por muitas mulheres que dependem do SUS: a desinformação e o medo, a dificuldade de conseguir atendimento de qualidade e com rapidez mesmo quando apresentam sinais suspeitos de câncer. E se você também encontrou dificuldades para ser atendida, saiba que você não está sozinha! Entre em contato com o Ligue Câncer pelo 0800 773 1666 que podemos ouvi-la e orientá-la.