Entre a fila do SUS e a vida: prazo para cirurgia mantém patamar recorde pós-pandemia, e espera pode durar até 634 dias em média

"Se tivesse feito a cirurgia no tempo certo, não teria sido mutilada", lamenta a cabeleireira Lígia Miranda, de 54 anos, que precisou retirar uma das mamas após ter um tumor diagnosticado em junho de 2022. Foram dois anos e dois meses — e uma sucessão de filas — no Sistema Único de Saúde (SUS) até que ela conseguisse realizar o procedimento, em um hospital de Brasília. A longa espera pelo tratamento na capital do país reflete um dos principais gargalos na rede pública, em que o tempo médio para cirurgia se mantém em um patamar recorde desde o fim da pandemia de Covid-19.
Números do Ministério da Saúde obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que pacientes precisaram aguardar, em média, 52 dias para realizar uma cirurgia no ano passado. O tempo é apenas um dia a menos do que foi registrado em 2023, o maior da série histórica iniciada em 2009. Esse prazo se refere desde o momento em que a solicitação é feita pelo paciente até a data do procedimento, sem contar a espera por consultas e exames prévios. Além disso, inclui tanto intervenções ambulatoriais, como uma cauterização, até mais complexas, como a retirada de um tumor no cérebro.
A partir dessa radiografia inédita do sistema de saúde do país, o GLOBO cruzou os dados para desenvolver uma ferramenta que permite consultar o tempo médio de espera em cada unidade da federação, tanto em caso de cirurgia como de consulta especializada, que bateu recorde no ano passado. Os números são do Sistema Nacional de Regulação (Sisreg), programa do Ministério da Saúde abastecido com informações enviadas pelos estados e municípios.
O levantamento mostra, por exemplo, que o tempo médio para uma cirurgia oncológica, como a realizada pela cabeleireira Lígia, pode ser de até de 188 dias a depender do estado, ou seja, mais de seis meses. A demora ocorre apesar de uma lei federal, aprovada em 2012, obrigar que pacientes diagnosticados com câncer tenham o tratamento iniciado em até 60 dias. A legislação prevê penalidades administrativas a gestores responsáveis pela demora.
A fila para a cirurgia, porém, é apenas uma das que Lígia tem enfrentado no seu tratamento contra o câncer de mama no SUS. Ela precisou voltar para a espera após a retirada do tumor para receber os medicamentos que destroem as células doentes. Desde dezembro, aguarda para iniciar a radioterapia.
— Fiquei muito tempo na fila esperando. Depois que eu fiz a cirurgia, eu precisaria fazer a quimioterapia em até três meses para matar o câncer de vez, mas eu fui chamada só sete meses depois. Aí o médico disse que, como havia passado muito tempo, seria melhor fazer radioterapia — disse Lígia.
O Ministério da Saúde afirma que a redução no tempo de espera de consultas com especialistas, exames e cirurgias no SUS é a prioridade do novo ministro, Alexandre Padilha, que tomou posse na segunda-feira no lugar de Nísia Trindade. A troca teve como um dos principais motivos as dificuldades da ex-titular da pasta em avançar com o Programa Mais Acesso a Especialistas, lançado em abril do ano passado com o intuito de tornar mais rápido o acesso da população ao atendimento em cinco áreas com mais demanda (oncologia, oftalmologia, cardiologia, ortopedia e otorrinolaringologia). Em busca de uma marca para seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cobrado resultados, pois quer transformar o programa em vitrine eleitoral em 2026.
Em nota, a pasta afirmou que tem adotado iniciativas que já ajudaram a reduzir as filas e, no ano passado, "registrou recorde histórico" de cirurgias eletivas. "Foram mais de 14 milhões de procedimentos realizados, um crescimento de 37% em relação a 2022", diz a nota.
Os dados indicam um salto no tempo de espera de pacientes para realizar cirurgias após a pandemia de Covid-19. Em 2019, um ano antes da emergência sanitária, a média considerando todos os tipos de procedimentos era de 31 dias. O prazo saltou para 51 dias em 2022, chegando a 52 neste ano.
Especialistas citam o fato de os agendamentos para cirurgias eletivas — aquelas que não representam urgência médica — terem sido suspensos durante a pandemia para que os leitos hospitalares fossem usados por pacientes de Covid. Com isso, houve um represamento que até hoje não foi resolvido.
Problema estrutural
Para a pesquisadora Marília Louvison, da Universidade de São Paulo (USP), porém, o alto tempo de espera reflete um problema estrutural do sistema, que não se justifica apenas pela pandemia.
— O SUS já vinha lidando com uma fila de espera grande há algum tempo. É um problema estrutural. E é preciso primeiro qualificar essa fila. Muitas pessoas estão na fila, mas já pagaram por cirurgias, por exemplo, e não tem ninguém que vai no sistema tirar uma pessoa da fila — afirma Louvison, que participa de uma pesquisa sobre atenção especializada encomendada pelo Ministério da Saúde.
O gargalo no tratamento da rede pública vai além das filas para cirurgias. Moradora de Maceió (AL), a consultora de estilo Amanda Frazão, de 37 anos, conta que conseguiu um antedimento célere no SUS ao ser diagnosticada com um tumor na mama, em julho de 2021. Depois da operação, no entanto, precisou esperar cinco meses para conseguir um agendamento para radioterapia.
Demorou bastante. Fiz a cirurgia em junho de 2022 e deveria fazer a radio logo depois, mas o maquinário estava quebrado. Só consegui fazer em novembro de 2022
— Amanda Frazão, que aguardou cinco meses para iniciar a radioterapia após passar retirada da mama
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Karen de Marca defende mais investimentos para a contratação de médicos especialistas na rede pública como solução para reduzir as filas. Ele aponta ainda que, em algumas localidades, falta infraestrutura necessária para a realização de cirurgias.
A cirurgia de glândulas endócrinas está entre as operações com maior tempo de espera em alguns estados, como no Rio Grande do Norte, onde a espera chegou a 313 dias no ano passado.
— A primeira coisa que a gente tem é déficit de profissionais. Os salários são muito abaixo do mercado privado. Além disso, muitas instituições não têm o suporte e infraestrutura para tantas cirurgias, não há salas reformadas. Talvez sejam os dois principais fatores: falta de locais para as cirurgias e falta de recursos humanos para trabalhar — afirmou Marca.
Fonte: O Globo
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