[ENTREVISTA] Como conversar com o meu filho sobre o câncer?
Muitos pais sentem dificuldade em conversar com os filhos sobre o câncer. Sabemos que o diagnóstico de uma doença grave afeta todos os familiares, então, as crianças também precisam saber e entender o que está acontecendo. Entrevistamos a psicóloga Luciana Mazorra, uma das sócias do Instituto de Psicologia 4 Estações e ela nos falou um pouco mais sobre isso.
Instituto Oncoguia - Devo ou não contar para meu filho sobre o câncer?
Luciana Mazorra - É muito importante que você conte para seu filho, pois, confirmará para ele que é uma pessoa em quem ele pode confiar que lhe dirá a verdade, mesmo quando esta seja difícil. Além disso, a criança é muito sensível para mudanças no ambiente e, especialmente nos pais, portanto, perceberá que há algo de diferente, que os pais estão emocionalmente mobilizados pela descoberta da doença e, caso não lhe seja contado poderá ficar mais angustiada por não entender o que está acontecendo. Quando os pais contam sobre a doença estão ensinando à criança que é possível enfrentar os problemas e angústias, que não precisam ficar "debaixo do tapete”.
Instituto Oncoguia - Quem é a pessoa mais indicada para contar?
Luciana Mazorra - Você é a pessoa mais indicada para contar, caso sinta-se em condições. Ao contar ao seu filho, ele poderá perceber que você está enfrentando o problema. Para a criança isto transmite a segurança de que, mesmo que a doença seja grave, o genitor é forte e está lutando contra a doença.
Caso você prefira, pode pedir a ajuda de alguém para contar junto com você, de preferência o outro genitor da criança.
Instituto Oncoguia - Quando eu devo contar?
Luciana Mazorra - Você deve contar o mais breve possível, assim que se sinta em condições de fazê-lo. Os segredos na família geram insegurança e raiva nos filhos, que podem entender que os pais estão dando a mensagem de que eles não são capazes de dar conta disto e sentir-se enganados. Além disso, a revelação ajuda a preparar a criança para as mudanças na rotina da família e possíveis efeitos colaterais do tratamento.
Instituto Oncoguia - Como eu conto? Meu filho é uma criança de 5 anos. Será que ele irá entender?
Luciana Mazorra - As crianças nos guiam e fazem perguntas quando não entendem algo ou quando querem saber mais detalhes. Portanto, ouça o que seu filho quer saber e até que ponto quer saber. Tampouco é necessário dar mais informações do que ela pede e pode compreender. Use uma linguagem simples e clara. Em um primeiro momento diga que tem uma doença, qual é, e que irá tratar-se para curar-se desta doença e fique atento para suas perguntas a respeito. Diga também quais serão as mudanças na sua rotina e da família. Procure garantir que a rotina da criança mantenha-se o mais inalterada possível, pois isso lhe dá segurança.
Instituto Oncoguia - Devo pronunciar a palavra câncer?
Luciana Mazorra - Sim, deve. Não falar de que doença se trata a transforma em um tabu na família e pode provocar fantasias na criança de que a doença é mais grave do que de fato é e intensificar fantasias de culpa da criança.
Instituto Oncoguia - Até que ponto devo falar sobre a doença com a criança. Preciso contar tudo, todos os detalhes?
Luciana Mazorra - É importante mostrar-se aberto às possíveis perguntas da criança, podendo usar bonecos e livros especializados sobre o assunto e dirigidos para crianças para ajudar a esclarecer as questões. No entanto, tente não dar mais informações do que a criança está pedindo naquele momento. Talvez ela precise de mais tempo para digerir as informações até que queira saber mais detalhes. Além disso, há detalhes mais técnicos que a criança (e até mesmo o adulto!) pode ter dificuldade de entender e que, se forem explicados, devem ser traduzidos para uma linguagem que ela possa compreender.
Instituto Oncoguia - Existem formas diferentes de falar com crianças de diferentes idades? Por exemplo, como conversar com uma criança de 3 anos de idade ? E crianças dos 3 aos 7? E dos 7 aos 12?
Luciana Mazorra - Ao se falar com a criança deve-se levar em conta seus recursos cognitivos e de comunicação. A criança de 3 anos terá mais dificuldade de compreender a doença do que a criança mais velha e o adolescente. No entanto, ainda assim, é importante que lhe seja contado a respeito, em uma linguagem que lhe é familiar e responder possíveis perguntas. O uso de recursos que auxiliem a explicação, como livros ilustrados e bonecos também podem ser úteis. A partir dos 6,7 anos a criança tenderá a fazer mais perguntas para entender o funcionamento do corpo e da doença. O domínio cognitivo lhes dá uma sensação de mais controle e segurança e, portanto, é bom que os pais se disponham a fornecer estas explicações, embora não além do que é pedido. Como já tem uma vida social própria e está mais em contato com a mídia, provavelmente já ouviu falar sobre a doença ou pessoas que a tiveram. É importante explorar o que ela sabe a respeito e que fantasias têm sobre o câncer. O pré-adolescente, embora tenha mais recursos cognitivos para compreender a doença e acesso a ainda mais informação, está passando por um momento mais sensível, de transição, o que pode deixá-lo mais resistente a conversar a respeito. Ainda assim, abrir o diálogo e dizer que é possível falar a respeito, respeitando seus limites, ajudará o seu processo de enfrentamento.
Instituto Oncoguia - Meu filho está na adolescência. Estou com medo de conversar com ele sobre a minha doença. Tenho medo de sua reação. O que eu faço?
Luciana Mazorra - Você pode conversar abertamente com seu filho, falando a verdade sobre sua doença. Reações intensas de tristeza e medo são naturais e esperadas nesta situação, mas tanto você, como seu filho poderão lidar com estas reações. Muitas vezes o medo dos pais de contar sobre sua doença é o medo de entrar em contato com seus próprios sentimentos. Olhar para dentro de si mesmo, para os próprios medos e angústias, pode ajudá-lo a sentir-se mais capaz para lidar com estes sentimentos e com os sentimentos de seu filho.
Instituto Oncoguia - Como falarei dos efeitos colaterais da quimioterapia. Que o meu cabelo vai cair?
Luciana Mazorra - Procure falar de forma natural e honesta, explicando que é um efeito colateral do tratamento, mas que com o fim do mesmo seus cabelos voltarão a crescer. Você não precisa esconder seus sentimentos a respeito, mas pode enfatizar sua força e vontade de se curar. Pode dizer que embora seja muito chato e isso possa te deixar triste, sua vontade de se curar é muito maior e faz com que você possa enfrentar as coisas difíceis do tratamento.
Instituto Oncoguia - Devo conversar com a professora da escola do meu filho e contar o que está acontecendo?
Luciana Mazorra - É bom que ela saiba para que possa estar mais atenta às possíveis mudanças de comportamento e desempenho que costumam acompanhar momentos de mudança e de maior insegurança, e possa acompanhar seu filho mais de perto. No entanto, é bom contar a seu filho que irá conversar com a professora sobre isso porque considera importante que ela saiba.
Instituto Oncoguia - Como reconhecer que meu filho está sofrendo com o meu diagnóstico?
Luciana Mazorra - Conviver com a doença de um genitor provoca angústias e insegurança nos filhos diante da possibilidade de perda dos pais e de uma menor disponibilidade física e emocional decorrente dos efeitos e condições do tratamento. O diálogo aberto e um ambiente de confiança e continência para suas angústias são de grande ajuda para o enfrentamento da criança e do adolescente. No entanto, seu filho pode vir a precisar de ajuda profissional para lidar com o que está acontecendo e há determinadas reações que podem indicar isto: mudanças intensas de comportamento, queda no desempenho escolar, diminuição ou aumento de apetite, diminuição ou aumento do sono, regressão e perda de capacidades adquiridas antes da doença (por exemplo, voltar a urinar a cama e usar chupeta), hiperatividade, agressividade exacerbada ou passividade, comportamento autodestrutivo, tensão e ansiedade.
Dicas e orientações para os pais:
Instituto Oncoguia - Devo ou não contar para meu filho sobre o câncer?
Luciana Mazorra - É muito importante que você conte para seu filho, pois, confirmará para ele que é uma pessoa em quem ele pode confiar que lhe dirá a verdade, mesmo quando esta seja difícil. Além disso, a criança é muito sensível para mudanças no ambiente e, especialmente nos pais, portanto, perceberá que há algo de diferente, que os pais estão emocionalmente mobilizados pela descoberta da doença e, caso não lhe seja contado poderá ficar mais angustiada por não entender o que está acontecendo. Quando os pais contam sobre a doença estão ensinando à criança que é possível enfrentar os problemas e angústias, que não precisam ficar "debaixo do tapete”.
Instituto Oncoguia - Quem é a pessoa mais indicada para contar?
Luciana Mazorra - Você é a pessoa mais indicada para contar, caso sinta-se em condições. Ao contar ao seu filho, ele poderá perceber que você está enfrentando o problema. Para a criança isto transmite a segurança de que, mesmo que a doença seja grave, o genitor é forte e está lutando contra a doença.
Caso você prefira, pode pedir a ajuda de alguém para contar junto com você, de preferência o outro genitor da criança.
Instituto Oncoguia - Quando eu devo contar?
Luciana Mazorra - Você deve contar o mais breve possível, assim que se sinta em condições de fazê-lo. Os segredos na família geram insegurança e raiva nos filhos, que podem entender que os pais estão dando a mensagem de que eles não são capazes de dar conta disto e sentir-se enganados. Além disso, a revelação ajuda a preparar a criança para as mudanças na rotina da família e possíveis efeitos colaterais do tratamento.
Instituto Oncoguia - Como eu conto? Meu filho é uma criança de 5 anos. Será que ele irá entender?
Luciana Mazorra - As crianças nos guiam e fazem perguntas quando não entendem algo ou quando querem saber mais detalhes. Portanto, ouça o que seu filho quer saber e até que ponto quer saber. Tampouco é necessário dar mais informações do que ela pede e pode compreender. Use uma linguagem simples e clara. Em um primeiro momento diga que tem uma doença, qual é, e que irá tratar-se para curar-se desta doença e fique atento para suas perguntas a respeito. Diga também quais serão as mudanças na sua rotina e da família. Procure garantir que a rotina da criança mantenha-se o mais inalterada possível, pois isso lhe dá segurança.
Instituto Oncoguia - Devo pronunciar a palavra câncer?
Luciana Mazorra - Sim, deve. Não falar de que doença se trata a transforma em um tabu na família e pode provocar fantasias na criança de que a doença é mais grave do que de fato é e intensificar fantasias de culpa da criança.
Instituto Oncoguia - Até que ponto devo falar sobre a doença com a criança. Preciso contar tudo, todos os detalhes?
Luciana Mazorra - É importante mostrar-se aberto às possíveis perguntas da criança, podendo usar bonecos e livros especializados sobre o assunto e dirigidos para crianças para ajudar a esclarecer as questões. No entanto, tente não dar mais informações do que a criança está pedindo naquele momento. Talvez ela precise de mais tempo para digerir as informações até que queira saber mais detalhes. Além disso, há detalhes mais técnicos que a criança (e até mesmo o adulto!) pode ter dificuldade de entender e que, se forem explicados, devem ser traduzidos para uma linguagem que ela possa compreender.
Instituto Oncoguia - Existem formas diferentes de falar com crianças de diferentes idades? Por exemplo, como conversar com uma criança de 3 anos de idade ? E crianças dos 3 aos 7? E dos 7 aos 12?
Luciana Mazorra - Ao se falar com a criança deve-se levar em conta seus recursos cognitivos e de comunicação. A criança de 3 anos terá mais dificuldade de compreender a doença do que a criança mais velha e o adolescente. No entanto, ainda assim, é importante que lhe seja contado a respeito, em uma linguagem que lhe é familiar e responder possíveis perguntas. O uso de recursos que auxiliem a explicação, como livros ilustrados e bonecos também podem ser úteis. A partir dos 6,7 anos a criança tenderá a fazer mais perguntas para entender o funcionamento do corpo e da doença. O domínio cognitivo lhes dá uma sensação de mais controle e segurança e, portanto, é bom que os pais se disponham a fornecer estas explicações, embora não além do que é pedido. Como já tem uma vida social própria e está mais em contato com a mídia, provavelmente já ouviu falar sobre a doença ou pessoas que a tiveram. É importante explorar o que ela sabe a respeito e que fantasias têm sobre o câncer. O pré-adolescente, embora tenha mais recursos cognitivos para compreender a doença e acesso a ainda mais informação, está passando por um momento mais sensível, de transição, o que pode deixá-lo mais resistente a conversar a respeito. Ainda assim, abrir o diálogo e dizer que é possível falar a respeito, respeitando seus limites, ajudará o seu processo de enfrentamento.
Instituto Oncoguia - Meu filho está na adolescência. Estou com medo de conversar com ele sobre a minha doença. Tenho medo de sua reação. O que eu faço?
Luciana Mazorra - Você pode conversar abertamente com seu filho, falando a verdade sobre sua doença. Reações intensas de tristeza e medo são naturais e esperadas nesta situação, mas tanto você, como seu filho poderão lidar com estas reações. Muitas vezes o medo dos pais de contar sobre sua doença é o medo de entrar em contato com seus próprios sentimentos. Olhar para dentro de si mesmo, para os próprios medos e angústias, pode ajudá-lo a sentir-se mais capaz para lidar com estes sentimentos e com os sentimentos de seu filho.
Instituto Oncoguia - Como falarei dos efeitos colaterais da quimioterapia. Que o meu cabelo vai cair?
Luciana Mazorra - Procure falar de forma natural e honesta, explicando que é um efeito colateral do tratamento, mas que com o fim do mesmo seus cabelos voltarão a crescer. Você não precisa esconder seus sentimentos a respeito, mas pode enfatizar sua força e vontade de se curar. Pode dizer que embora seja muito chato e isso possa te deixar triste, sua vontade de se curar é muito maior e faz com que você possa enfrentar as coisas difíceis do tratamento.
Instituto Oncoguia - Devo conversar com a professora da escola do meu filho e contar o que está acontecendo?
Luciana Mazorra - É bom que ela saiba para que possa estar mais atenta às possíveis mudanças de comportamento e desempenho que costumam acompanhar momentos de mudança e de maior insegurança, e possa acompanhar seu filho mais de perto. No entanto, é bom contar a seu filho que irá conversar com a professora sobre isso porque considera importante que ela saiba.
Instituto Oncoguia - Como reconhecer que meu filho está sofrendo com o meu diagnóstico?
Luciana Mazorra - Conviver com a doença de um genitor provoca angústias e insegurança nos filhos diante da possibilidade de perda dos pais e de uma menor disponibilidade física e emocional decorrente dos efeitos e condições do tratamento. O diálogo aberto e um ambiente de confiança e continência para suas angústias são de grande ajuda para o enfrentamento da criança e do adolescente. No entanto, seu filho pode vir a precisar de ajuda profissional para lidar com o que está acontecendo e há determinadas reações que podem indicar isto: mudanças intensas de comportamento, queda no desempenho escolar, diminuição ou aumento de apetite, diminuição ou aumento do sono, regressão e perda de capacidades adquiridas antes da doença (por exemplo, voltar a urinar a cama e usar chupeta), hiperatividade, agressividade exacerbada ou passividade, comportamento autodestrutivo, tensão e ansiedade.
Dicas e orientações para os pais:
- Mantenha um ambiente de confiança em casa, no qual seja falada a verdade e seus filhos saibam que podem fazer perguntas quando desejarem.
- Não há problema em mostrar seus sentimentos para a criança; estar doente não é fácil e a criança pode entender isso. No entanto, tome cuidado para não torná-la sua fonte de apoio principal, pois ela não está em condições de fazê-lo. Mostre também sua força, e força de vontade de vencer a doença. Perceber a força do genitor deixa a criança mais segura.
- Procure manter a rotina da criança, sempre que possível.
- Conte com a ajuda de familiares e amigos.
- Momentos de distração da doença são importantes para todos. Procurem, dentro do possível, ter atividades prazerosas de lazer em família.
- Procure ajuda profissional para você e sua família, se sentir necessidade. Você não precisa enfrentar isso sozinho!
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