[ENTREVISTA] Dr. Eduardo Weltman fala sobre a Radioterapia

A radioterapia é uma parte do tratamento oncológico pela qual a grande maioria dos pacientes passa. É por isso que sugerimos a você, que iniciará ou já iniciou o tratamento, que esclareça todas as suas dúvidas sobre esta abordagem terapêutica.

Para ajudá-lo, o Portal Oncoguia conversou com o coordenador da radioterapia do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), Dr. Eduardo Weltman, que esclareceu quais são os papéis da radioterapia e os tipos mais comuns desse tratamento, como o paciente é acompanhado pelo rádio-oncologista (médico responsável pelo tratamento de radioterapia) e qual a relação deste profissional com o seu oncologista clínico, entre outros.

Confira a entrevista na íntegra e converse com seu rádio-oncologista sobre qualquer dúvida que tenha! E caso quiser saber mais sobre este tratamento, aqui no Portal Oncoguia você encontra uma página exclusivamente dedicada ao tema.

Tudo sobre a radioterapia

Instituto Oncoguia - Quais os papéis da radioterapia no tratamento do câncer?

Dr. Weltman - A radioterapia pode ser utilizada tanto de forma exclusiva como coadjuvante com a cirurgia e/ou quimioterapia, por exemplo, no tratamento do câncer de laringe inicial, a radioterapia chega a ser curativa em mais de 90% dos casos quando empregada isoladamente, mas, no mesmo tumor de laringe, agora avançado, ela deve ser utilizada em conjunto com a quimioterapia e a cirurgia, seguindo diversas possibilidades de sequência temporal: radioterapia e quimioterapia isoladas; quimioterapia seguida de cirurgia e após de radioterapia; cirurgia seguida de radioterapia e quimioterapia, etc. Em geral o que se faz na boa prática médica é seguir condutas protocolares de cada Serviço de Oncologia, condutas estas baseada ou na melhor prática consagrada ou em protocolos de pesquisa.

Instituto Oncoguia -  Como se dá o planejamento do tratamento radioterápico?

Dr. Weltman - Uma vez feito o diagnóstico preciso e estadiado o tumor (determinada a extensão local e a distância), o caso deve ser discutido em uma reunião multidisciplinar, onde será indicada a radioterapia. Após esta fase, o próximo passo é o paciente ser avaliado clínica e laboratorialmente pelo médico rádio-oncologista. Segue-se então o planejamento da radioterapia, via de regra nos dias de hoje iniciando com uma tomografia computadorizada da região a ser tratada. Na sequência do planejamento, o rádio-oncologista (antigamente denominado médico radioterapeuta) delineia o volume a ser tratado e os órgãos de risco a serem protegidos a partir dos dados clínicos do paciente, da tomografia computadorizada de planejamento e dos demais exames de imagem (ressonância magnética, PET-TC etc.). O passo seguinte é proceder ao planejamento técnico aos cuidados da equipe de física (físicos em medicina e dosimetristas) e posterior aprovação pelo médico radio-oncologista. Dependendo da técnica de radioterapia empregada, pode ser necessário após a aprovação do plano, um teste rigoroso de qualidade antes do início do tratamento. Como pode-se ver, esta é uma das fases mais nobres da radioterapia e demora, dependendo do caso, de dois a cinco dias úteis e não deve ser apressada sob risco de falhas técnicas.

Instituto Oncoguia - A radioterapia é um tratamento multiprofissional, certo? Que profissionais estão envolvidos?

Dr. Weltman - Do ponto de vista operacional estrito, além dos médicos rádio-oncologistas, participam da radioterapia os físicos em medicina, os dosimetristas e os operadores de aparelho de radioterapia, sendo os últimos com formação em biomedicina ou nível superior assemelhado seguidos de um curso de especialização. Participam também do suporte aos pacientes em radioterapia os enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e o pessoal de secretaria e atenção básica ao paciente.

Instituto Oncoguia - Como se dá a interlocução entre rádio-oncologista e oncologista clínico?

Dr. Weltman - Preferencialmente em discussões multidisciplinares dos casos clínicos que devem incluir além dos rádio-oncologistas e oncologistas clínicos, os cirurgiões oncológicos e toda a equipe multiprofissional para apoio físico e psicológico. Em situações onde não haja uma estrutura formal para o atendimento multidisciplinar, deve-se seguir os preceitos atuais da melhor prática médica, promovendo sempre que possível e sempre que houver indicação de radioterapia, uma discussão multidisciplinar a respeito das indicações deste tratamento.

Instituto Oncoguia - Quais são os tipos mais comuns de tratamento de radioterapia?

Dr. Weltman - Sessenta por cento dos pacientes com câncer vão receber radioterapia no decorrer do seu tratamento. A radioterapia, dependendo do tipo de tumor pode ser aplicada por técnicas de teleterapia, onde a radiação é gerada em aparelhos externos ao paciente (a radiação vai de fora para dentro) ou através da braquiterapia, onde o material radiativo é colocado dentro ou em contato com a lesão a ser tratada (a radiação é de dentro para fora).

Instituto Oncoguia -  Existe, entre os pacientes, muitas dúvidas a respeito do efeito do tratamento de radioterapia nas células saudáveis do corpo. O tratamento pode causar danos irreparáveis às células? Quais são as estratégias de minimização de riscos de danos a tecidos saudáveis?


Dr. Weltman - A radiação pode lesar qualquer tecido do organismo. O que se faz para evitar que isso ocorra e que haja um efeito terapêutico no sentido de curar o paciente com o mínimo de sequelas, é usar de técnicas e fracionamentos da radioterapia que proteja os tecidos normais ao mesmo tempo em que lesam os tumorais.

Instituto Oncoguia -  Falamos bastante no Portal sobre os efeitos adversos da radioterapia, quando aplicada em cada órgão acometido pelo câncer. Mas, de forma geral, quais são os mais comuns e possíveis de acontecer? São administráveis, assim como muitos dos efeitos da quimioterapia? Pacientes questionam: em termos de reações adversas, a radio é  mais ‘leve’ ou ‘pesada’ que a químio?

Dr. Weltman - Em geral, a radioterapia, por ser um tratamento localizado, causa menos efeitos colaterais que a quimioterapia. Entretanto, é muito difícil em um texto genérico especificar cada uma das situações adversas que podem ocorrer em pacientes recebendo radioterapia. O que pode-se generalizar é que todos os tratamentos devem visar o maior benefício possível com o mínimo de reações colaterais e sequelas. Neste sentido, todos eles devem ser administráveis com medicações específicas, sem comprometer em demasia a qualidade de vida do paciente.

Instituto Oncoguia -  Por fim, como se dá o acompanhamento do paciente pelo rádio-oncologista após o término do tratamento?


Dr. Weltman - Terminada a radioterapia, o rádio-oncologista deve seguir o paciente em paralelo ao médico de origem, com um retorno um mês após o término da radioterapia e, após este, retornos periódicos por tempo indeterminado com frequência a ser determinada pelo tipo de caso clínico. Quando houver a possibilidade de reirradiação ou a necessidade de acompanhamento da evolução de lesões tratadas, estes retornos devem ser tão frequentes como os feitos ao cirurgião ou ao oncologista clínico.
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