[ENTREVISTA] Mamografia dói, mas é possível minimizar o desconforto
O Dr. Waldemir Rezende, especialista em Obstetrícia, Ginecologia e Mastologia, conversou com o Portal Oncoguia sobre as maneiras possíveis de minimizar a dor ocasionada pela compressão das mamas. Optar pela realização do exame fora do período menstrual é uma saída, diz o médico. "Quanto mais próxima do ciclo menstrual, por retenção de líquido ou por uma questão hormonal, a mulher pode sentir-se mais desconfortável”.
Leia a entrevista na íntegra e multiplique a informação!
Instituto Oncoguia: A mamografia causa mesmo dor, ou é mais um preconceito, um medo, assumido pelas mulheres?
Dr. Waldemir Rezende – O exame em si, a técnica do exame, exige que haja uma compressão do tecido mamário. Então, se eu falar que não dói é uma inverdade. A sensibilidade é individual, ou seja, algumas pacientes sentirão mais e outras menos dor. Isso dependerá também de alguns fatores, como a faixa etária e o período menstrual. Quanto mais jovem a mulher, maior o seu tecido glandular e, portanto, a dor pode ser mais intensa; quanto mais próxima do ciclo menstrual, por retenção de líquido ou por uma questão hormonal, a mulher pode sentir-se mais desconfortável. Ainda mais se a retenção de líquido coincidir com a presença de cistos, ou seja, a retenção ocasionando a formação de pequenas bolinhas de água na mama (alteração fibrocística), o que pode provocar uma dor significativa. No entanto, há algumas alternativas para que se possa reduzir essa dor.
Instituto Oncoguia: E quais são elas, Dr. Waldemir?
Dr. Waldemir Rezende – Fazer o exame sempre após o período menstrual; quando possível realizar uma ultrassonografia antes da mamografia, para verificar a presença e o tamanho dos cistos - e se forem maiores que 2 cm esvaziá-los antes da mamografia - e fazer uso de um medicamento antinflamatório ou analgésico duas horas antes de realizar o exame, algo que não existe contraindicação, para as mulheres que tem uma sensibilidade importante. Essas são algumas medidas.
Instituto Oncoguia: O Sr. citou que o uso de antinflamatório ou analgésico pode ser interessante às mulheres mais sensíveis. Mas elas podem usar, também, posteriormente à realização do exame, caso a dor persista, ou apenas antes?
Dr. Waldemir Rezende – Na realidade a dor não deve persistir, já que é causada pela compressão das mamas. Se acontecer, o que é difícil, uma bolsa de gelo pode aliviar. Na realidade, o processo do exame é muito simples e a dor é passageira.
Instituto Oncoguia: Mais alguma sugestão para o alívio da dor e desconforto às mulheres muito sensíveis?
Dr. Waldemir Rezende – Pode ajudar, também, a alimentação rica em ácido linoleico e gamalinoleico, que estão presentes em alimentos como salmão, sardinha, castanha do Pará, e azeite extra virgem, 2 meses antes da realização do exame. Com a presença desses ácidos é possível observar-se a redução do efeito dos hormônios das mamas, o que pode atenuar a dor. Mas é fundamental, também, que o equipamento e a técnica utilizada para a realização do exame estejam adequados.
Instituto Oncoguia – Como, Dr. Waldemir?
Dr. Waldemir Rezende - Em mama jovem, obrigatoriamente a mamografia deveria ser digital. O equipamento da mamografia digital é mais moderno, exige menor compressão mamária e a imagem é obtida com maior facilidade, sendo praticamente desnecessário realizar compressões adicionais das mamas. Na mamografia digital, a imagem obtida permanece armazenada em computador, permitindo ao radiologista ampliar ou mudar a posição da imagem, contrastar as cores e comparar com exames anteriores.
Instituto Oncoguia – Mas o equipamento de mamografia digital é amplamente acessível no Brasil?
Dr. Waldemir Rezende - A mamografia digital é uma realidade inevitável. Os laboratórios e mesmo as unidades do SUS estão adquirindo esses equipamentos e, com isso, esta modalidade de exame está disponível tanto na rede pública quanto privada. Mas a prioridade de uso da mamografia digital são as mulheres com idade menor do que 50 anos, por conta da densidade da mama que faz com que a mamografia convencional não consiga detalhá-la de forma conveniente.
Instituto Oncoguia – E há muitos casos em que o exame dá falso negativo?
Dr. Waldemir Rezende - Tem uma frase que é importante frisar: melhor não fazer a mamografia a fazê-la da forma incorreta. Isso porque, a mulher fica com a falsa sensação de estar "protegida” por aderir ao rastreamento corretamente. Mas se o equipamento não estiver adequado, o técnico que o utiliza não estiver preparado para realizar o exame e o médico que interpreta as imagens não for atento aos detalhes e classificar a mamografia adequadamente, confirmando a sua validade, pode haver resultados falso negativos.
Instituto Oncoguia – Isso é algo que íamos mesmo perguntar, sobre a qualidade dos exames de mamografia praticados no país. Como uma mulher pode ter certeza que está realizando o exame com qualidade? Há um padrão de qualidade monitorado no país?
Dr. Waldemir Rezende - Teoricamente, tanto o equipamento quanto as unidades que realizam o exame são monitorados por Órgãos Públicos como ANVISA e Vigilância Sanitária, além da Sociedade Brasileira de Radiologia (SBR) conferir um selo de qualidade para esses serviços. Qualquer pessoa pode, inclusive, encontrar na internet informações sobre o serviço de radiologia onde realizará o exame.
Instituto Oncoguia – Aliás, Dr. Waldemir, um equipamento mal calibrado pode ser, também, a razão de uma dor muito intensa?
Dr. Waldemir Rezende - Na realidade, quanto mais moderno o equipamento e melhor treinado o técnico, melhor, mais fácil e mais acurado será o exame. Existe, com certeza, uma relação.
Instituto Oncoguia – E como a mulher pode estar mais segura de que está realizando a prevenção corretamente, sendo que pode haver problemas com o mamógrafo?
Dr. Waldemir Rezende - Sim. Isso é importante. É importante lembrar que a mamografia é um exame complementar, assim como a ultrassonografia. Existe uma média de 15% a 20% de exames de mamografia aparentemente normais, mas que na realidade são falsos negativos, principalmente em mulheres muito jovens, com as mamas densas. O exame físico, em casos como esses, muitas vezes é mais importante que a mamografia. É importantíssimo o mastologista realizar o exame físico detalhado, para garantir que não haja falsos negativos e falsos positivos – um nódulo que na verdade é um cisto, e que gera uma notícia de um tumor.
Instituto Oncoguia - Falando sobre os mitos que ainda estão atrelados à realização do exame. Muita mulher afirma não fazer a mamografia porque aumentaria a sua chance de ter um câncer. Existe alguma relação?
Dr. Waldemir Rezende - A dose de radiação da mamografia não é suficiente para desencadear o câncer de mama. Nós estamos em uma fase em que, cada vez mais, realiza-se o exame mais precocemente, por conta de antecedentes familiares, fatores de risco genéticos, identificação de câncer em mulheres com menos de 30 anos (...) com isso, há uma preocupação em proteger a glândula da tireoide, que é sensível à radiação. Isso acontece hoje. É obrigatório que as unidades que realizam o exame protejam a glândula. Eu desconheço qualquer trabalho científico que ligue a mamografia ao risco de desenvolvimento de um câncer de mama, ou a qualquer outro tipo de neoplasia. Agora, se uma mulher realiza sempre o exame em local onde o mamógrafo não é calibrado, o técnico não é habilitado e que, por isso, ela tem que repeti-lo por diversas vezes, pode haver problemas futuros.
Instituto Oncoguia - Como nunca é demais repetir, qual a importância de se fazer a mamografia?
Dr. Waldemir Rezende - Uma regra básica é que o início da mamografia de controle deve ser por volta dos 40 anos de idade, ou, uma regra prática, dez anos antes que o câncer de mama foi diagnosticado em parente de primeiro grau (mãe ou irmã). A importância da mamografia é a redução da mortalidade pelo diagnóstico precoce. A mamografia identifica alterações iniciais do câncer de mama, permitindo a realização do tratamento em fase muito precoce, ideal, de forma a obter a cura (...), com estadiamento inicial, o que significa um tumor com menos de 2 cm. E a mamografia consegue identificar microcalcificações, nódulos ou características desse nódulo que podem permitir o tratamento precoce e a cura. Infelizmente, no Brasil, o número de mamógrafos digitais parece não ser ideal, e a mamografia convencional ainda é realizada tardiamente em muitos casos. E assim aparecem tumores de 4, 5, 10 cm, os quais até mesmo o autoexame poderia identificar. Com isso, o diagnóstico tardio mantém a mortalidade por câncer de mama elevada. Por fim, sempre é importante ressaltar que a mamografia aumenta as chances de cura, pois promove o diagnóstico precoce.- Conitec abre consulta pública para o rastreamento de CCU
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