[ENTREVISTA] Multidisciplinaridade: Odontologia na Oncologia

Você sabia que a atuação de dentistas em equipes multidisciplinares de tratamento do câncer é extremamente importante?  

Pois é....

Embora não exista, hoje, a especialidade oncologia na área da odontologia, dentistas têm ampla atuação neste universo, que abrange desde a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de boca, até as diferentes fases terapêuticas  – a fim de tratar complicações decorrentes da quimioterapia e radioterapia.

O Portal Oncoguia conversou com o odontologista Marcos Curi, Doutor em Oncologia pelo Hospital A.C Camargo e responsável pelo setor de Estomatologia do serviço de Oncologia do Hospital Santa Catarina (SP). Dr. Curi atua há mais de duas décadas na odontologia oncológica.

Dr. Curi traçou um paralelo entre autocuidado das mamas e autocuidado da boca, como formas de prevenção do câncer e explicou as razões pelas quais é fundamental que pacientes oncológicos sejam acompanhados por dentistas. 

"... por exemplo, o paciente tratado com radioterapia na região da cabeça e pescoço necessita de tratamento odontológico cirúrgico como extrações, implantes dentários, ou cirurgias reparadoras. Essas situações clínicas exigem grande atenção do dentista em razão de complicações por falta de capacidade de cicatrização do local operado, podendo desencadear, inclusive, quadros de necrose óssea”.

Confira a entrevista na íntegra e, caso ainda não tenha se consultado com um dentista, converse com seu oncologista à respeito.

Instituto Oncoguia - O que é autocuidado ou autoexame da boca?


Dr. Marcos Curi - Autocuidado, ou melhor dizendo, autoexame da boca baseia-se na inspeção (visualização) da boca pelo próprio paciente algumas vezes durante um mês. Explicando melhor, o cirurgião-dentista pode orientar seu paciente a examinar sua boca após escovar os dentes em frente ao espelho, olhando todas as estruturas, como por exemplo, a língua, bochecha, os lábios, o "céu da boca” e até mesmo a pronunciar a palavra "Aaaaa” para visualizar a parte mais posterior da boca. O objetivo deste autoexame é que o paciente se habitue com o padrão normal destas estruturas e, caso identifique alterações, (nódulos, manchas, úlceras, etc.) procure o dentista que saberá interpretar sua queixa e estabelecer o diagnóstico e tratamento correto. É o mesmo princípio do autoexame das mamas pelas mulheres.

Instituto Oncoguia- Muitos acreditam que os aparelhos ortodônticos podem causar câncer. Isso é verdade?

Dr. Marcos Curi -O uso de aparelho ortodôntico não causa câncer, no entanto a sua remoção pode ser indicada/solicitada durante o tratamento oncológico devido as mucosas orais estarem sensíveis nesse período. Exemplo, durante o tratamento radioterápico de tumores de cabeça e pescoço é frequente os pacientes apresentarem quadro de mucosite (inflamação das mucosas orais devido à radiação), que associada aos aparelhos ortodônticos causa mais inflamação e irritação local, piorando a dificuldade de fala e ingestão de alimentos. Outro exemplo: pacientes que serão submetidos a transplante de medula óssea recebem a quimioterapia de alta dosagem, tornando-se, comumente, imunossuprimidos e com mucosite (advinda da quimioterapia). Nessa situação os aparelhos ortodônticos devem ser removidos.

Instituto Oncoguia - Qual o papel do dentista e sua intervenção nos pacientes portadores de câncer?

Dr. Marcos Curi - A odontologia tem ampla atuação na Oncologia, que envolve desde a prevenção e o diagnóstico precoce do câncer de boca, até o acompanhamento do paciente durante todo o tratamento oncológico (radioterapia e quimioterapia), prevenindo e tratando complicações bucais decorrentes das terapias.

Instituto Oncoguia - Quais são essas complicações?


Dr. Marcos Curi - Podemos listar várias complicações bucais como boca seca, mucosite, cárie de radiação, osteonecrose dos maxilares, trismo e assim por diante. Ainda, a odontologia deve estar presente na reabilitação dos pacientes com câncer, mais especificamente, na reabilitação dos pacientes tratados de tumores de cabeça e pescoço que evoluíram com deformidades bucais (dentárias) e faciais, por meio de próteses buco-maxilo-faciais convencionais e implanto-suportadas (Implantes). Portanto, apesar de não existir uma especialidade odontológica voltada para o paciente com câncer, deve haver uma formação e capacitação do dentista para atuar nessa área por meio de estágios ou residências.

Instituto Oncoguia - Então não existe uma especialização? Como se dá o trabalho do dentista dentro de centros de tratamento de câncer?

Dr. Marcos Curi
- Não existe uma especialidade da odontologia para o atendimento oncológico. Acho que várias especialidades odontológicas têm espaço para atuar junto ao paciente oncológico, como, por exemplo, a cirurgia, a prótese, o diagnóstico e assim por diante. A coordenação desta equipe odontológica deve ser de um estomatologista, cirurgião-dentista especialista no diagnóstico de lesões bucais. Nesse momento, tramita pelo Congresso Nacional, um projeto de lei que torna obrigatória a presença do cirurgião-dentista nas Unidades de Terapia Intensiva dos hospitais públicos ou privados. Falta somente a sanção da presidente! Esse pode ser um importante passo para atuação dos dentistas dentro dos Hospitais e assim melhorar o atendimento da saúde para a população em geral!

Instituto Oncoguia - O atendimento de um paciente "comum” e um portador de neoplasia é diferente? Por quê?

Dr. Marcos Curi
- O atendimento odontológico em pacientes com câncer é diferente de uma pessoa sem a doença, devido algumas situações clínicas. Exemplo, paciente em tratamento quimioterápico que evolui com quadro de imunossupressão (queda da resistência do organismo) é bem frequente. Nesse momento alguns procedimentos odontológicos invasivos (cirurgias de extração dentária, implantes, etc.) são contra indicados devido ao risco de desenvolvimento de infecções locais e/ou sistêmicas. Outra situação oncológica é o paciente tratado com radioterapia na região da cabeça e pescoço que necessita de tratamento odontológico cirúrgico, como extrações, implantes dentários ou cirurgias reparadoras. Essas situações clínicas exigem grande atenção do dentista em razão de complicações por falta de capacidade de cicatrização do local operado, podendo desencadear quadros de necrose óssea.

Instituto Oncoguia - Essas são situações graves, certo Dr. Marcos? Há outras mais comuns e que, ainda assim, requerem a atuação do odontologista?

Dr. Marcos Curi - Sim. Os exemplos acima são de consequências graves, mas também temos alterações menos graves mas não menos importantes em pacientes oncológicos, como, por exemplo, a xerostomia (falta de saliva na boca) uma complicação bucal comum e que altera drasticamente a qualidade de vida. A xerostomia faz os pacientes perderem a função protetora da saliva tornando-se suscetíveis às cáries rampantes (cáries de rápida progressão e destruição dos dentes).

Instituto Oncoguia - E qual a sua recomendação aos pacientes oncológicos?


Dr. Marcos Curi - O meu conselho aos pacientes oncológicos e médicos oncologistas é a prevenção de todas as complicações bucais decorrentes do tratamento oncológico por meio de uma consulta odontológica especializada, antes do início da terapia.
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