Judicialização consumiu de 30% a 100% da verba da saúde em mais de 250 cidades brasileiras

O número de ações judiciais no campo da saúde segue em curva ascendente. Entre 2022 e 2023, houve um aumento de 21,3%, de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A projeção é de 685 mil novas ações até dezembro de 2024, o que representa mais 20% em relação ao ano anterior.
Do mesmo modo que tem sido um caminho cada vez mais frequente para garantir o tratamento, a qualidade de vida e a própria vida dos pacientes, a judicialização pesa cada vez maior nos gastos públicos e nos custos da saúde suplementar.
No ano de 2020, ao menos 13 estados e quase a metade dos 5.569 municípios brasileiros empenharam até 10% do seu orçamento destinado à saúde na resolução de demandas judicializadas, como mostrou o levantamento que fiz com colegas do Instituto Cabem Mais Vidas , na base de dados nacional do poder judiciário, o DATAJUD.
Em 14% dos estados e 11% dos municípios, as demandas judiciais drenaram entre 10% e 30% do orçamento da saúde.
Já em 5% dos municípios (cerca de 270 cidades), entre 30% e até mesmo 100% dos recursos destinados à saúde foram consumidos por demandas judiciais.
A maior parte das ações foi motivada pela necessidade de fazer valer direitos descumpridos e corrigir distorções do sistema de saúde, como o acesso a tratamentos já incorporados ao rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS, que responde pelo setor privado), mas ainda não disponíveis.
Na saúde pública, no topo da lista está a busca pelo acesso a novos tratamentos e indicações aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ainda não avaliados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
Os gatilhos das ações
A imprensa retrata o aumento da judicialização nas suas manchetes, mantendo o assunto em evidência. Porém, o noticiário do dia a dia é fragmentado e não aprofunda o debate sobre as raízes do problema. Cabe aos profissionais da área da saúde e aos gestores cumprirem essa tarefa com urgência.
A pergunta a ser feita é quais são os fatores que continuam impulsionando a judicialização e se é possível manejá-los.
Na rede pública, os gatilhos mais potentes são a falta e o atraso na efetiva disponibilização dos medicamentos já incorporados pela Conitec. Ou seja, o direito existe, mas os processos para sua aquisição e distribuição não se efetivam.
Quando avaliamos pacientes com câncer de bexiga, por exemplo, 71,3% das ações judiciais nos últimos quatro anos se concentraram no acesso a medicamentos da classe das terapias-alvo e imunoterapia. Os medicamentos Pembrolizumabe (custo anual de R$ 312 mil, em média) e Avelumabe (R$ 719 mil/ano) lideram o ranking dos pedidos à justiça. Outros 20% das ações reivindicaram procedimentos cirúrgicos, como intervenções robóticas. A maioria dessas ações recebeu decisões favoráveis e bem fundamentadas.
Em relação ao tratamento do câncer de próstata, dados do CNJ indicam que, no setor público, 89% das ações entre 2019 e 2023 buscaram a obtenção de medicamentos. A maioria foi para ter acesso a substâncias da classe dos antiandrógenos orais de nova geração. São medicações que podem otimizar e tornar mais eficientes os tratamentos.
As consequências para os pacientes das dificuldades nas incorporações e no acesso começam a ser mensuradas. No início de maio deste ano, durante o 14º Fórum Nacional do Oncoguia, foram divulgados os primeiros resultados de um estudo sobre as desigualdades nos tratamentos de cinco tipos de câncer no SUS.
A análise das informações obtidas sobre o câncer de pulmão revelou que o tratamento da doença pelo SUS apresenta uma defasagem de 10 anos em comparação ao setor suplementar. Em anos de vida, a diferença pode chegar a quatro anos menos.
Medidas positivas
Existem ações que impactam positivamente a atualização dos tratamentos no SUS e ajudam a reduzir a judicialização. Uma delas é a experiência do Instituto Cabem Mais Vidas, instituição a qual estou ligado e que se dedica ao tratamento do câncer de bexiga.
Ali, em vez de adotar cegamente as indicações internacionais, tivemos a preocupação de adaptar protocolos de tratamento da doença à nossa realidade. Nós passamos a considerar informações como o tempo que os pacientes esperam nas filas para obter atendimento e as condições que apresentam no momento de iniciar a terapia, entre outros aspectos.
Com os ajustes dos protocolos à luz das condições regionais, conseguimos melhorar o tratamento de modo a aumentar de 60% para 97% as chances de os pacientes sobreviverem durante os tratamentos. Atualmente, essa iniciativa, surgida na região do ABC, em São Paulo, já alcança hospitais públicos de vários pontos do país.
Um outro exemplo na orientação dos melhores protocolos de tratamento foi o surgimento do NatJus, em 2018. Para amparar juízas e juízes diante de uma demanda cada vez maior, o Conselho Nacional de Justiça idealizou a criação de núcleos com especialistas em saúde vinculados aos tribunais.
Ao receber uma demanda sobre questões de saúde, o juiz pode encaminhar uma solicitação pelo sistema NatJus com os documentos anexados à ação para uma análise técnica. A partir daí, uma equipe especializada em saúde de hospitais parceiros do Tribunal de Justiça estadual elabora um parecer ou nota técnica para responder, de modo preliminar, a uma questão clínica sobre os potenciais efeitos de uma tecnologia para uma condição de saúde do indivíduo. A expectativa é que a equipe responda em até 72 horas do recebimento pela entidade parceira.
Mais participação
De modo geral, como enfrentar o problema da crescente judicialização no país? Amplamente, o setor de saúde suplementar e o ente público têm adotado a chamada estratégia do avestruz. Consiste em esconder a cabeça na areia e deixar o problema seguir seu rumo.
Recorrer a estratégias mais efetivas é necessário parar evitar que o dinheiro continue escorrendo pelo ralo e, em vez disso, seja melhor usado em benefício da oferta de um tratamento mais adequado e eficiente aos pacientes.
Publicado em abril de 2021, estudo que fiz com o oncologista Fernando Maluf sobre o aumento dos custos no câncer de bexiga na saúde brasileira evidenciou que a compra de medicamentos de alto custo por demanda, para casos individuais, e não negociada em larga escala, resulta em gastos quatro vezes maiores (400%).
O mesmo estudo apontou que o custo do tratamento por paciente subiu 2.367% em uma década (2011-2021) face aos avanços observados em pesquisas recentes com uso de imunoterapia na doença avançada, já em fase metastática. Passou de R$ 40 mil para R$ 951 mil reais por ano. No mesmo período, a judicialização teve um crescimento de 30%.
A disparada dos custos dos tratamentos é observada em relação a várias outras doenças, especialmente enfermidades raras, em que o advocacy e a mobilização dos pacientes é ainda mais intensa.
Na prática, muito precisa ser feito, mas não chegaremos a lugar algum que permita interferir no crescimento da judicialização sem o comprometimento de gestores de todos os níveis do SUS e da sociedade organizada. Afinal, é preciso haver disposição política, no seu sentido mais genuíno, para desburocratizar caminhos e criar rotinas assertivas para garantir que de fato as incorporações cheguem aos pacientes.
Quanto ganharíamos em tempo e qualidade na avaliação dos medicamentos, procedimentos e produtos candidatos à incorporação na rede pública, por exemplo, se fossem criados grupos por tipo de câncer compostos por representantes de sociedades médicas, hospitais públicos, universidades e terceiro setor? Por enquanto, seguimos com poucos braços, discutindo o acesso remédio por remédio, doença por doença.
A formação dessas estruturas é uma entre diversas ações que podem produzir impacto sobre a judicialização na área do câncer.
Mais medidas possíveis como a criação de protocolos clínicos e diretrizes nacionais de tratamento (as tão esperadas PCDTs), a implementação da negociação centralizada para a compra de medicamentos, a avaliação de protocolos de doses otimizadas e o estímulo ao desenvolvimento de centros de pesquisa clínica poderiam reduzir em muito a judicialização na saúde.
Diante dos rápidos progressos da ciência e da necessidade contínua de atualização dos tratamentos na rede pública, é preciso que todo o setor de saúde se envolva na busca de soluções compartilhadas e efetivas. Também é imprescindível que o Ministério da Saúde integre a sociedade ao desenvolvimento e gestão de soluções para a saúde pública. Caso contrário, continuaremos pagando o preço do atraso e enxugando gelo.
Fonte: The Conversation
- Corrida pela vacina da Covid-19 avançou tratamento de doenças como o câncer
- Pacientes com câncer podem ter isenção de IPI na compra de carros novos
- Uma em quatro mulheres com câncer de pulmão nunca fumou; qual a explicação?
- Câncer colorretal: sintomas, fatores de risco e opções de tratamento
- Câncer colorretal: sintomas, fatores de risco e opções de tratamento
- Exercício diminui risco de morte em pessoas com câncer
- Confira quais são os tipos de cânceres que mais ameaçam a saúde feminina
- Estudo revela possível estratégia para combater câncer cerebral agressivo
- Projeto isenta de IPI carro comprado por quem tem câncer
- Casos de câncer de mama devem disparar
- Cooperação entre células cancerígenas pode levar a crescimento rápido de tumor, sugere pesquisa
- Câncer de colo do útero: com 7 mil mortes evitáveis, Brasil se atrasa para cumprir meta da OMS
- Maioria das brasileiras não sabe como prevenir o câncer de intestino, o segundo mais comum entre as mulheres
- Com alta de casos, câncer anal pode ser evitado (inclusive com vacina)
- 7 a cada 10 brasileiros em tratamento oncológico sofrem com sintomas dermatológicos
- O papel da quimioterapia e da imunoterapia no tratamento do câncer de bexiga
- Câmara aprova projeto que prioriza pessoas com câncer na marcação de consultas e exames
- Casos de câncer de mama devem subir 38% e mortes 68% até 2050
- Maior parte dos novos casos de câncer em 2025 deve acometer mulheres
- Vacina do HPV zerou casos de câncer de colo de útero na Escócia, mostra estudo
- Mastectomia preventiva reduz risco de câncer de mama, mas não elimina chances da doença, diz especialista. Entenda
- Exames de prevenção do câncer do intestino têm de começar aos 45 anos
- Por que casos de câncer em jovens adultos estão aumentando?
- Conscientização sobre câncer de próstata pode chegar a estádios, bares e academias
- Paciente tem remissão de câncer por 18 anos com terapia CAR-T
- Comissão debate oferta de terapia nutricional para pacientes com câncer
- Entenda como o consumo de ultraprocessados pode aumentar risco de câncer
- Por que os casos de câncer de pulmão em não fumantes estão aumentando?
- Retorno ao trabalho após tratamento do câncer: desafios, adaptações e direitos
- A cada minuto, 40 pessoas são diagnosticadas com câncer no mundo
- Câncer de Pele e o Trabalho Exposto Ao Sol
- Compras centralizadas na oncologia devem crescer, diz secretário do Ministério da Saúde
- ANS abre consulta pública sobre cobertura de medicamento para câncer
- Ministério da Saúde publica regulamentação da Política Nacional do Câncer
- Oncologistas defendem não usar palavra câncer para certos tipos da doença em fase inicial
- O que a sua cintura pode dizer sobre o risco de câncer
- No Brasil, crianças indígenas morrem mais de câncer do que brancas, negras e amarelas
- A cada minuto, 40 pessoas são diagnosticadas com câncer no mundo
- Comissão debate a regulamentação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer
- Novo teste melhora a previsão de sobrevida do câncer de pulmão em estágio inicial
- Periodicidade de mamografias divide médicos e autoridades de saúde
- Vencer o câncer e seus tabus é um desafio para a sociedade brasileira
- Em 1 década, câncer de pênis levou a quase 600 amputações anuais no Brasil
- Alimentação pode ajudar pacientes a lidar com efeitos do tratamento de câncer; veja dicas
- Personalização no combate ao câncer de pulmão: o papel dos biomarcadores
- Os tratamentos ultrarrápidos contra o câncer que podem substituir a radioterapia no futuro
- Baseado em fatos “Câncer com Ascendente em Virgem” ganha trailer oficial
- Preta Gil passa a usar bolsa de colostomia definitiva em meio a tratamento contra câncer: Um desafio muito maior
- Câncer de cabeça e pescoço tem maioria de casos avançados no país
- Oncologistas franceses alertam para alta de casos de câncer em jovens adultos: é uma corrida contra o tempo
- Nova abordagem terapêutica poderia impedir metástase do câncer no cérebro
- Consulta da ANS sobre câncer oportuniza revisão de políticas de saúde
- Câncer com Ascendente em Virgem: filme com Suzana Pires e Marieta Severo ganha trailer e data de estreia
- Técnica de congelamento do câncer na mama mostra 100% de eficácia em estudo brasileiro
- INCA defende criação de política nacional para ampliar acesso à atividade física no SUS e fortalecer combate ao câncer
- Taxas de câncer de mama aumentam entre mulheres mais jovens
- Remissão ou cura? Como saber se um paciente está livre do câncer
- INCA prevê 600 mil novos casos de câncer no Brasil em 2025
- Câncer no intestino está aumentando em pessoas com menos de 50 anos. Saiba o que explica essa tendência
- Açúcar adicionado e sal aumentam risco de câncer de estômago, diz estudo
- IA avança no diagnóstico de câncer, mas desafios ainda persistem
- Câncer de pele: saiba qual é o sintoma pouco conhecido de uma das formas mais sérias da condição
- Exercícios físicos ajudam a prevenir, tratar e se recuperar de câncer
- Diagnóstico tardio torna câncer que matou Léo Batista um dos mais mortais
- EUA observam aumento ‘preocupante’ de câncer em pessoas mais jovens, especialmente entre as mulheres
- Os 6 tipos de câncer mais letais e quais os sintomas para se estar atento
- Câncer de intestino em alta entre as pessoas com menos de 50 anos; veja o que explica a tendência
- Saiba o que é câncer em remissão, como no caso de Kate Middleton
- Câncer de pulmão: I.A e outras terapias podem revolucionar tratamento da doença; entenda
- Vacinas contra o câncer tornam tratamentos mais precisos e eficazes
- Exercício regular pode reduzir evolução do câncer e risco de morte, diz estudo
- Câncer de mama: novo protocolo padroniza diagnóstico e tratamento no SUS
- Estudo mostra por que metástase de câncer ocorre com frequência no pulmão
- Mais de 32,5 milhões de brasileiros terão gestores comprometidos com o combate ao câncer
- Vacina e diagnóstico precoce são armas contra câncer de colo de útero
- Comissão aprova prioridade em teleconsultas para paciente com câncer em caso de atraso na consulta presencial
- O guerreiro tem direito ao seu descanso: a decisão de Mujica de não tratar câncer após metástase
- Sua dieta está matando seu DNA? Cientistas descobrem bomba-relógio do câncer de fígado
- Medicina de precisão: o novo capítulo no tratamento oncológico
- Células CAR-T e além: avanços e desafios futuros
- Casos de câncer de mama são encontrados em maior quantidade quando IA é usada em exame, indica estudo
- O tempo pode salvar vidas
- EUA: bebidas alcoólicas podem ter rótulo com alerta de risco de câncer
- Câncer de colo de útero está com os dias contados
- O futuro do tratamento do câncer passa pela terapia CAR-T
- Terapias alternativas contra câncer funcionam?
- Entenda as novas regras dos planos de saúde para alterações em rede hospitalar
- Câncer: estudo revela aumento de casos em pessoas com menos de 50 anos
- Ultraprocessados ricos em óleo podem ser uma das causas da epidemia de câncer colorretal em jovens
- Obesidade e câncer, como desfazer esta ligação perigosa
- Câncer de mama: fase do ciclo menstrual pode influenciar eficiência do tratamento
- Câncer: Anvisa aprova avanço de testes com terapia revolucionária desenvolvida pelo Hemocentro de Riberião Preto com o Butantan
- Jovem que teve câncer de intestino lista os 6 sinais que ele ignorou
- Por que câncer pode se tornar a doença que mais mata no Brasil - e que desafios isso traz
- Inovações tecnológicas e novo protocolo de tratamento reforçam o combate ao câncer
- Médicos de família podem ser aliados no tratamento do câncer, dizem especialistas
- Câncer de pulmão: novo tratamento reduz em 27% risco de morte
- Grupo da USP mapeia variantes genéticas associadas ao câncer de pâncreas em pacientes brasileiros
- Política nacional para rastrear câncer de pulmão pode salvar vidas
- Melanoma: tipo de câncer de pele mais perigoso é também mais comum entre mulheres mais jovens