[LINFOMA DE HODGKIN] Carin Cristine Ottoni

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Carin Ottoni - Carin Cristine Ottoni, 31 anos, solteira, professora de educação infantil e de música, sem filhos, gosto de nadar, cantar, tocar, rir, abraçar, estudar, fotografar, viajar... Em tratamento para Linfoma de Hodgkin Clássico, Esclerose Nodular, estadio II B.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Carin Ottoni - Descobri o linfoma devido a gânglios que surgiram no meu pescoço, depois de passar por uma situação estressante, mas que não regrediram. O diagnóstico demorou porque eu negligenciei, e embora tenha me consultado com 3 médicas (clínica geral, endocrinologista e hematologista), quando cheguei ao cirurgião de cabeça e pescoço, as coisas se atrapalharam. Devido a um atraso de mais de 2 horas no atendimento médico e faltando ainda 6 pessoas para serem atendidas antes de mim, sem lugar na sala de espera, desisti da consulta (as consultas foram agendadas de 5 em 5 minutos). Como na ocasião não havia outro especialista no meu convênio, deixei o tempo passar, e depois de 6 meses é que me consultei com outro cirurgião, o qual foi super profissional e atencioso comigo.

Eu tinha um TCC para entregar e resolvi me concentrar nele, não foi muito produtivo... Mas enfim, depois de entregar a monografia eu marquei uma consulta com outro cirurgião de cabeça e pescoço para investigar o que acontecia comigo. O dr. Cláudio Roberto A. de Andrade foi muito objetivo, me pediu exames e com esses resultados marcou a biópsia do linfonodo.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Carin Ottoni - Quando finalmente recebi o diagnóstico fiquei bem, pois já estava preparada para isso, na fase de investigação pesquisei muito na internet e também em livros, então eu mesma já havia identificado as possibilidades. Lógico que me senti triste, com medo de sofrer, de fazer as pessoas sofrerem por mim, e tinha uma pontinha de esperança de que não fosse nada grave. Não queria com isso gerar angústias, aflições. Mas encontrei um cirurgião de cabeça e pescoço que me disse a frase certa no momento certo, que mudou minha perspectiva sobre a doença e seu tratamento: "linfoma é um ‘cancerzinho’ que a gente cura com quimioterapia”.

A partir daí as coisas começaram a melhorar, e fui encontrando a coragem que desconhecia em mim.

Na verdade, quando li o resultado da imuno-histoquímica, que dizia "Linfoma de Hodgkin Clássico, Esclerose Nodular”, fiquei feliz. Feliz por ser um dos tipos mais curáveis de linfomas, que são tipos de câncer que respondem muito bem aos tratamentos existentes atualmente. Fiquei feliz por saber que eu tinha grandes chances de não apenas sobreviver, mas de ter qualidade de vida durante e após o tratamento.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento?

Carin Ottoni - Sim, agora estou acabando o tratamento, já estou no 7º dos 8 ciclos de quimioterapia ABVD, cada ciclo tem 2 sessões com intervalos de 2 semanas, totalizando 16 aplicações da medicação.
 
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Carin Ottoni - O difícil é começar a tratar, enfrentar o próprio medo e agir. Em relação aos tratamentos, só posso falar da quimioterapia, pois ainda não fiz nenhum outro. A palavra quimioterapia assusta mais do que o procedimento e seus efeitos colaterais.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Carin Ottoni - Sinto enjôos com a quimioterapia, mas não tenho do que me queixar, eles passam depressa e nunca tive dor ou qualquer outro incômodo, me sinto bem. Minha imunidade também se manteve estável até agora.

Instituto Oncoguia - Como é a relação com o seu médico?

Carin Ottoni - A relação é amigável e franca. O Dr. Renato Centrone (hematologista) sempre me explica tudo o que pergunto e o que não pergunto também, estou preparada para o que for preciso, inclusive para mudar de tratamento, caso esse não faça o efeito desejado. Na 1ª consulta ele puxou minhas orelhas pela negligência, mas sempre me incentivou muito, e tive uma grande empatia com ele, que além de médico é guitarrista - mas ainda não o ouvi tocar.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou? Você fez acompanhamento psicológico? E com nutricionista?

Carin Ottoni - Não fiz acompanhamento psicológico, sei que é importante, mas ainda não fiz. Nutricionista eu procurei logo após a biópsia, mas não continuei, meu médico me deu algumas orientações diferentes do que a nutricionista havia indicado, então não continuei, mas pretendo voltar.

Faço acompanhamento com estomatologista, que é um dentista especializado nas afecções da mucosa oral. Nunca tive nenhuma reação, mas prevenção é sempre bem-vinda. Tenho 3 dentistas na família, então sempre ouvi que a boca é a porta de entrada para diversas infecções, e por isso, ao ler sobre a mucosite, corri para marcar uma consulta com o dr. João Carlos Bacurau, que é meu vizinho, amigo e estomatologista.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Carin Ottoni - Estou terminando a quimioterapia, depois vou refazer os exames (tomografias e PET-CT) e fazer a radioterapia. Mas pela cintilografia realizada agora em abril, provavelmente não há mais linfoma, apenas tecido residual, como uma cicatriz, pois não foi detectado nenhum acúmulo da concentração do radioindicador em nenhuma parte do corpo.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Carin Ottoni - Hoje estou de licença no trabalho, pois as crianças de 4 a 6 anos têm muitas viroses, e não podemos facilitar em época de baixa imunidade. Mas continuo regendo o Coral das Casas André Luiz e, na medida do possível cantando no Coral Cultura Inglesa. No mais é vida normal, me sinto tão bem disposta quanto antes. Além disso estou fazendo cursos à distância na área da educação e revisando minhas próprias lembranças, arquivos e fazendo planos, a fim de melhorar meu dia-a-dia quando o tratamento acabar.

Tenho o blog Encontrando Dr. Hodgkin, que me ajuda a desabafar e a repetir menos minhas "descobertas” sobre os linfomas para as pessoas que estão à minha volta, e ao mesmo tempo faz com que eu conheça outras pessoas que passam por situações parecidas, cada uma no seu momento, mas sempre umas dando apoio às outras, tal qual acontece nas comunidades virtuais e no Messenger.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Carin Ottoni - Que não se apavore, pois existem tratamentos capazes de nos curar. Que não negligenciem os primeiros sintomas, e nem acreditem quando disserem que não é nada sem fazer exames complementares. Nós sabemos quando algo não vai bem conosco, então precisamos descobrir a causa para tratar e voltar a ter saúde.

E que a pessoa procure todos os seus direitos, pois eles foram conquistados por quem passou pelos mesmos caminhos antes. Exemplos: gratuidade dos transportes públicos, isenção de rodízio de carros em São Paulo, acesso à medicamentos e exames, apoio em ONGs, prioridade de atendimento no comércio, etc.

Instituto Oncoguia - Mais alguma coisa?

Carin Ottoni - Antes de iniciar o tratamento oncológico, que os pacientes passem por uma consulta odontológica, a fim de fazer uma revisão, limpeza e se necessário, tratar os dentes, pois com os tratamentos de quimio e radioterapia, algumas coisas ficam mais complicadas e a saúde bucal é primordial para a manutenção da saúde total. E a maioria dos médicos não fazem essa recomendação, que em alguns casos é fundamental para o bem-estar do paciente. Aqui no oncoguia há artigos interessantes sobre isso, que todos deveriam ler e seguir as orientações.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer? Você buscou se informar? De que maneira?

Carin Ottoni - Para mim, a informação durante o tratamento foi fundamental, fez toda a diferença. Antes de me informar eu achava que os tratamentos para câncer faziam mais mal do que bem. Que para extirpar a doença, eles debilitavam demais as pessoas, e isso não é mais assim. A medicina e todas as áreas da saúde estão em constante evolução e aprimoramento, garantindo cada vez mais a qualidade de vida durante e após os tratamentos, curando as pessoas, não mais apenas amenizando suas dores.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Você tem alguma sugestão a nos dar?

Carin Ottoni - Conheci o Oncoguia nas minhas pesquisas sobre linfomas na internet. Sugestão não, tenho apenas que parabenizá-los pelo excelente trabalho de divulgação de informações que fazem, desmistificando o câncer e apoiando quem passa pelas doenças.

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