[MATÉRIA] A fragilidade da atenção oncológica no Rio de Janeiro
O tema Regulação em Saúde está presente em todas as edições do Fórum de Discussão de Políticas de Saúde em Oncologia, tanto as nacionais quanto as regionais. Isso porque, o Instituto Oncoguia entende que a grande maioria dos problemas enfrentados pelo paciente com câncer tratados na rede pública de saúde passa pela inexistência ou ineficiência de sistemas de organização do fluxo de atendimento oncológico, em todos os graus de complexidade do SUS.
Alguns estados brasileiros começam a dar sinais de melhoria, como São Paulo, que no mês de março anunciou a criação da Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer, um programa que objetiva fortalecer e reorganizar as unidades de tratamento como forma de garantir o acesso rápido e de qualidade para o paciente. O aporte de investimentos anunciado pelo Governo Estadual passa dos R$190 milhões, e o Programa terá três etapas de implantação dentro dos próximos 20 meses.
Os debates da Mesa Tirando o Paciente da Fila, na edição carioca do Fórum de Discussão de Políticas de Saúde em Oncologia, revelaram que o Rio de Janeiro, embora aloque o INCA (Instituto Nacional do Câncer) em seu território, não tem um sistema integrado e estruturado de regulação em assistência à saúde.
Os palestrantes, a grande maioria prestadores de serviço em hospitais públicos municipais e estaduais, afirmaram que enfrentam toda a sorte de problemas para tratar os pacientes oncológicos em tempo adequado e mostraram disposição e vontade de ‘brigar’ por melhorias.
Como disse um dos debatedores, Dr. Plínio Tostes Berardo - Diretor Médico Assistencial do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, "A gente não pode perder a esperança. Eu poderia estar no meu consultório, mas é meu perfil cavoucar os problemas!”. O ginecologista contou que levou ao evento, para mostrar ao público, a planilha da regulação do Município, mas não a apresentou para não expor a fragilidade do Rio de Janeiro.
Os problemas
Assim como em quase todo o território nacional, os problemas no Rio de Janeiro passam pela demora no agendamento de consultas com médicos especialistas, na marcação de exames de biópsia e início do tratamento.
Para ‘provocar’ as discussões, o coordenador da Mesa e diretor jurídico do Instituto Oncoguia, Tiago Farina Matos, expôs dados alarmantes do Relatório de Auditoria Operacional à Política Nacional de Atenção Oncológica do Tribunal de Contas da União, que, em 2011, apontou para a necessidade de capacitação de mão de obra, ampliação de serviços, principalmente de radioterapia, entre outras demandas.
"O relatório apontou que o paciente demora em média 113 dias para iniciar o tratamento. E o mais chocante é que 90 mil pessoas ficam sem acesso à radioterapia anualmente”, exclamou Matos.
Dra. Thereza Cypreste, fundadora da ADAMA e médica do Hospital Universitário Antônio Pedro, de Niterói, apontou que no município, a ausência de um sistema informatizado de regulação do atendimento tem gerado ociosidade no serviço. Ela contou, que alguns pedidos de mamografia encaminhados por médicos da família ficam "parados na pasta” por meses, enquanto há vagas disponíveis para a realização do exame.
Para a médica, o atraso para a marcação da mamografia é o primeiro problema mais grave enfrentado pelo serviço onde atua. O segundo, aponta, é o atraso para a conclusão do laudo dos exames.
"Faltam patologistas. Tenho um exame desde dezembro de 2012 ainda sem a biópsia. Médicos se aposentaram e o município não abriu concurso. Era ano eleitoral. Por isso, o dinheiro devia estar sendo gasto com campanhas. Só pode ser (...)”, lastima. E questiona: "É maravilhoso que tenhamos que iniciar o tratamento em, no máximo, 60 dias. Mas quanto tempo essa mulher demorou a conseguir o diagnóstico? E nesse tempo em que estava presa, parada na entrada do Sistema, a doença dela progrediu, não é?”.
Dr. Marcelo Perelló, representante da Federação dos Hospitais Filantrópicos do Rio de Janeiro (FEMERJ), discorda de seus pares. Para ele, as centrais de regulação brasileiras não são ruins ou péssimas (como afirmaram os médicos consultados pelo Tribunal de Contas da União). O médico entende que a carências de médicos e de serviços habilitados para o tratamento oncológico é o grande foco do problema.
"Se não há suficientes serviços em radioterapia, por exemplo, a regulação ficará com esse paciente parado”, diz. Ele acrescenta que a questão salarial é outro ponto a ser discutido, lembrando que no Hospital Santa Isabel (Cabo Frio), onde atua, não há filas para consultas e início de tratamentos, pois "o médico recebe seu salário assim que inicia a realização do tratamento do paciente”.
Notícia animadora?
Durante a abertura para a manifestação da plateia, um dos participantes, o Dr. José Eduardo Couto de Castro, contou que o Governo do Estado do Rio de Janeiro está ciente dos inúmeros problemas decorrentes da ausência de regulação e, com isso, planeja uma ampla reestruturação a fim de formalizá-lo. "A Fundação do Câncer está atuando neste projeto solicitado pelo Governo”, afirmou.
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