[MATÉRIA] Avanços cirúrgicos trazem boas perspectivas para casos de tumores de intestino
A grande maioria dos pacientes diagnosticados com câncer colorretal, tem que passar pelo tratamento cirúrgico. Se o tumor se encontra em sua fase inicial, a cirurgia pode curar até 95% dos casos, sem que o paciente precise se submeter a tratamentos pós-operatórios, denominados de adjuvantes. De acordo com o cirurgião oncológico Benedito Mauro Rossi, mesmo em casos em que o tumor já evoluiu com metástase, a cirurgia associada à quimioterapia trazem chances reais de cura em até 50% dos casos.
Apesar dos resultados, mesmo com as boas perspectivas de cura que traz, muitos pacientes ainda têm receios em relação à cirurgia do câncer colorretal. O principal medo está relacionado ao fato de que uma parte dos indivíduos que se submetem a ela acabam tendo que utilizar uma bolsa de colostomia depois da operação. Na maior parte das vezes, a bolsa serve para desviar o trajeto das fezes do local operado até que ocorra sua cicatrização completa, evitando assim o risco de infecções – esse procedimento é também conhecido como derivação de proteção.
Segundo o doutor Benedito Rossi, só uma minoria dos pacientes que são submetidos à cirurgia precisam de fato desta derivação e do consequente uso da bolsa. "A colostomia é feita somente naqueles casos em que o ânus ou os músculos dos esfincteres estão comprometidos pela doença”, afirma ele. "E mesmo que se tenha que realizar uma anastomose intestinal (junção entre segmentos do intestino) muito perto do ânus, geralmente é feita uma derivação de proteção apenas temporária, por cerca de 45 dias”, completa.
Ainda segundo o doutor Rossi, a qualidade de vida do paciente subsequente à cirurgia de câncer de cólon é geralmente muito boa. Ele explica que, quando se retira o reto com preservação do ânus, depois de um período de adaptação para normalização das evacuações, a vida do paciente volta ao normal. "Mesmo quando se faz uma colostomia definitiva, existem técnicas de manuseio e cuidado que deixam o paciente muito confortável e com uma vida muito próxima do normal”, completa.
Avanços das técnicas cirúrgicas
A evolução das técnicas cirúrgicas de modo geral ocorreu no sentido de permitir que o procedimento se tornasse cada vez menos invasivo. As vantagens de um tratamento cirúrgico menos invasivo para o paciente são inúmeras e estão relacionadas ao trauma cirúrgico mínimo, à recuperação mais rápida, e à consequente melhor qualidade de vida do paciente, sem comprometer em nada as chances de cura.
No Brasil, até o início dos anos 90, as cirurgias de câncer colorretal eram realizadas como procedimento cirúrgico aberto, utilizando pontos manuais para conectar as duas extremidades do intestino grosso que delimitavam o segmento ressecado (anastomoses intestinais). A partir de então, as cirurgias por videolaparoscopia começaram a se tornar mais e mais frequentes, e as técnicas de anastomose mais modernas, com a utilização de grampeadores.
A cirurgia por laparoscopia videoassistida (pequenas incisões pelas quais são introduzidos uma câmera e as pinças e bisturí) trouxe a vantagem de proporcionar ao paciente menor estresse cirúrgico e, consequentemente, recuperação pós-operatória mais rápida, menos dor, menor cicatriz. Porém, em relação à técnica invasiva tradicional ela possui uma desvantagem: é um procedimento mais demorado.
Por isso, nos últimos anos, uma técnica híbrida, que combina as vantagens de ambos os procedimentos vem sendo desenvolvida. Na técnica de cirurgia híbrida, geralmente, o acesso aos segmentos mais altos do cólon se dá por cirurgia laparoscópica, enquanto a mini-laparotomia (cirurgia invasiva com cortes menores do que a laparotomia tradicional) é usada em regiões mais baixas, tais como a pélvis e o abdome médio.
Novo procedimento agressivo que permite curar o que antes era incurável
A partir de 2005, uma nova e agressiva cirurgia surgiu como possibilidade para pacientes que apresentam câncer disseminado pelo peritônio (uma membrana que forra o intestino). Segundo o doutor Benedito Rossi, cerca de 10 a 15% dos pacientes com câncer colorretal apresentam envolvimento peritoneal ao diagnóstico. Dentre aqueles que são submetidos à cirurgia, aproximadamente metade pode desenvolver recidiva peritoneal e, em no máximo 35% desses casos, a recidiva é limitada ao peritônio. Para esses pacientes, o procedimento cirúrgico invasivo de citorredução associado à quimioterapia hipertérmica intraperitoneal proporcionou resultados nunca antes descritos, inclusive possibilitando casos em que anos depois ainda não havia evidência de recidiva da doença.
Porém, a seleção dos pacientes que podem se submeter a este tratamento é bastante rigorosa de modo a tornar o procedimento seguro. Ela leva em consideração, além da delimitação do tumor ao peritôneo, a origem do tumor primário, suas características patológicas, a extensão da disseminação e a condição clínica do paciente.
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