[MATÉRIA] O café acolhedor da doce Gimeni

Da fala cantada e suave da mineira Gimeni Mota de Alkmim Fernandes, de Belo Horizonte, brotam palavras de carinho. A doce Gi fez do limão a limonada, transformando a solidão reclamada por ela e tantos outros pacientes oncológicos, em uma história de incontáveis personagens.

A pedagoga, que se faz querer bem desde o primeiro encontro, idealizou o Café & Acolhimento, em meados de 2012, encontros mensais destinados a reunir pacientes com câncer, amigos, familiares e profissionais da saúde para dialogar sobre os sonhos e a vida real, os medos e a superação, as dores e o alívio, as tormentas e a calmaria.

Para comer um bom pão de queijo mineiro com uma ‘xicrinha’ de café fresco!

A ideia do Café & Acolhimento, conta Gimeni, surgiu nos dias que sucederam o diagnóstico de mieloma múltiplo, em 2009. Apesar da presença irrestrita e o amor incondicional do marido, o Gou, ela diz que se sentiu só.

"Quando você tem um diagnóstico de câncer, as pessoas à sua volta, em princípio, cumprem uma espécie de papel social. Telefonam, visitam, mantêm-se por perto. Mas depois, por razões diversas, elas somem”, relata.

O despertar para a compaixão teve outro estímulo imprescindível. Aconteceu quando ela e o marido, com o diagnóstico em mãos, retornaram para casa e, por horas a fio, buscaram informações sobre o mieloma múltiplo na internet. Em meio a tantos dados sem referência e assustadores, e o peso da palavra incurável, ela encontrou o contato de uma médica paraibana, a Dra. Flavia Pimenta, e enviou-lhe um e-mail com questionamentos sobre o seu diagnóstico.

A médica retornou o contato prontamente, tranquilizando Gi sobre o seu caso e devolvendo a esperança à paciente e ao seu marido. "Então pensei... que se pudesse fazer o que a Dra. Flavia fez por mim para outras pessoas, me sentiria feliz, completa e realizada”.

E a doce Gi o fez.

Criou um perfil no Facebook, a página Pacientes Com Mieloma Múltiplo (com Raimundo Bruzzi, também paciente) na rede social e passou a trocar e-mails com pessoas de todo o país. "Quando eu vi, estava respondendo cerca de 150 e-mails por dia! De pessoas com medo, relatando histórias de abandono, comemorando uma vitória no tratamento...”.

Ela afirma, convicta, que as trocas de experiências fazem-na sentir-se uma pessoa melhor: "Eu choro com a tristeza relatada nos e-mails e quando algum desses amigos morre, para mim é uma perda irreparável. No entanto me sinto muito, muito feliz por ter compartilhado o sentimento do outro, sofrido e me alegrado com ele. Isso me faz sentir uma pessoa melhor”, diz.

Das trocas de e-mails, aos encontros em Belo Horizonte! Com a ajuda do Gou, Gi transformou a ideia do Café & Acolhimento em uma realidade saborosa. Todos os meses pacientes com câncer têm portas e corações abertos nos grupos idealizados por ela.

Os encontros acontecem em uma sala de Yoga, cedida para Gi por uma amiga, a mãe de um garoto que faleceu em 2009 em decorrência da leucemia, que a mineira acolheu e acompanhou outrora. "Além da sala ela, carinhosamente, nos oferece um lanchinho! E eu levo sempre um vaso de flores, para colorir e alegrar a o lugar...”.

Em média, uma dezena de pessoas comparece a cada Café & Acolhimento, e os novos participantes sempre agradecem Gi pela oportunidade.

"Mas eu digo: Eu é que agradeço! Por compartilhar a sua história e trazer energias para a gente!”.

O próximo de muitos e muitos encontros será no dia 12 de janeiro.

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