[MATÉRIA] Para diagnósticos precoces, proatividade

A prevenção do câncer é tema que, cada vez mais, ganha evidência. Páginas de jornais reservando maiores espaços ao assunto, campanhas nacionais e globais empreendidas por grandes empresas, ações comunitárias etc.

Quando se fala em prevenção, para a grande maioria dos tipos de câncer, a adoção de hábitos de vida saudáveis - com baixa ingestão de alimentos gordurosos, não tabagismo, prática de atividade física – é fator mais que principal. É fundamental!

Porém, para determinadas neoplasias, muito mais que a manutenção da vida saudável e equilibrada, contam a regularidade em consultas médicas e a realização de exames determinados pelos profissionais.

Este é o caso do câncer de próstata, o segundo tipo de câncer mais prevalente em homens (atrás apenas do câncer de pele não melanoma), com cerca de 915 mil novos casos registrados em 2008. Aqui no Brasil, a estimativa em 2012 foi de 60.189 novos casos da neoplasia (Estimativa 2012 – Incidência do Câncer no Brasil. INCA).

Rastrear, um imperativo!


Alexx MellerA chance geral de um homem ter câncer de próstata ao longo da vida é muitíssimo alta: Entre cada seis pessoas do sexo masculino, uma será acometida pela doença. O principal fator de risco da neoplasia é o aumento da idade, ou seja, quanto mais tempo viver, maiores serão as chances de um homem ter o câncer de próstata.

É o que explica Dr. Alex Meller, urologista do Hospital Santa Paula (SP).

"Se você olhar os pacientes de 80 anos, poderá dizer que aproximadamente 60% a 80% terão o câncer de próstata. Isso não quer dizer que será um câncer agressivo e irá levar o paciente a  óbito.”, explica.

A alta incidência da doença no cenário de inversão da pirâmide etária em muitos países do mundo, que já aponta para o envelhecimento populacional, apresenta um cenário em que o rastreamento, com a regularidade em visitas médicas e a realização dos exames de PSA e do toque retal, é um imperativo.

PSA e Toque Retal

O PSA (antígeno prostático específico) é um exame de sangue muito simples de se realizar, que mede a quantidade de uma proteína específica da próstata no sangue.

Tão simples quanto o PSA é o exame de toque retal. Dr. Alex afirma que a realização do toque retal é rápida e indolor. "O homem não tem sensibilidade na próstata. O incômodo costuma surgir no esfíncter anal. Eu costumo brincar com meus pacientes (...) dizer que quanto mais relaxados estiverem, menos incômodo haverá!”.

O urologista tranquiliza os homens: "O incômodo acontece na primeira vez. Depois o homem se acostuma. Sem contar que é muito rápido. Em menos de 2 minutos já foi feito”.

Saiba mais: Com que idade recomenda-se começar o rastreamento do câncer de próstata?

Embora tal alerta esteja cada vez mais difundido, o rastreamento do câncer de próstata ainda é rodeado de estigmas, que afastam muitos e muitos homens dos consultórios médicos. O ‘pensamento mágico’ do homem viril, provedor e forte e que não adoece e a negação ao exame de toque retal levam a muitos diagnósticos em estágios avançados, quando as chances de cura do câncer de próstata em estágios iniciais é de 95%.

O empresário Antenor Rodrigues, 64, de São Carlos, é extremamente rigoroso com os cuidados a saúde da próstata. Ele lembra que o despertar para a proatividade veio quando adoeceu.

"Há alguns anos tive diverticulite e depois um problema cardíaco. Nunca imaginei que pudesse, de uma hora para outra, me ver em situação de tamanha fragilidade. Esse momento da minha vida representou uma quebra de paradigmas. Passei a olhar mais para minha saúde, a compreender as demandas do meu corpo”.

Com uma inflamação frequente na próstata, o empresário realiza os exames de rastreamento a cada 6 meses e afirma que, de forma alguma, este fato atinge a sua masculinidade.

"E o exame de toque é só mais um exame. Não há nada de errado com isso. Costumo brincar com a situação.  A dizer (...) é hoje, é hoje!”, diz descontraído.

Para o oncologista Rafael Kaliks, diretor científico do Instituto Oncoguia, a negação masculina à realização do exame do toque retal, está muito mais associada à baixa responsabilidade masculina com a sua saúde, do que com o preconceito à exposição do corpo, da região anal.

"A realização do exame não tornará o homem menos homem! Para mim, a adesão ou não ao exame está muito mais ligada à responsabilidade de cada homem com a sua saúde, consigo mesmo e com aqueles que estão em sua volta”, opina.

Para Dr. Alex, a prática clínica mostra que os mais resistentes ao exame são os idosos. "Aqueles abaixo dos 60 anos apresentam menos resistência a fazer o exame. Eles são mais frequentes no consultório e têm mais entendimento do que deve ser feito. Já o homem acima dos 60 têm mais resistência. Inclusive, são as esposas que marcam as consultas”, diz.

Roberto GouveiaO despertar da razão - Com Roberto Gouveia, 62, residente em São Paulo, aconteceu diferente. A razão veio com a idade. Ele conta que a maturidade levou-o a pensar sobre a manutenção do ‘sistema corpo’.

"Eu sou engenheiro civil, portanto com formação racional. Em uma certa hora que comecei a pensar na manutenção do corpo, que nada mais é que uma máquina! Não houve um episódio especial para que isso acontecesse. Simplesmente houve um momento em que pensei (...) poxa, está na hora de começar a me cuidar!”, lembra.

"Sem neura e apelos ao dr. Google”, como diz, Gouveia passou a realizar os exames determinados à sua faixa etária, a buscar ajuda médica quando o corpo sinaliza por ajuda. Já o estímulo aos cuidados com a próstata veio de casa.

O pai do engenheiro foi acometido pelo câncer de próstata há muitos anos atrás. "O médico dele me disse: Se seu pai teve, você também poderá ter. E então, passei a encarar de frente. A olhar para isso com frieza e isenção”.

A partir de 2010, os exames de PSA começaram a apontar para alterações, que o médico considerou serem decorrentes de um trauma emocional muito intenso sofrido, com a morte da primeira esposa do engenheiro.

Descontente com a consideração do profissional, Roberto quis se aprofundar mais. Pesquisou a respeito de exames adicionais que pudesse fazer, consultou diferentes médicos sobre a linha de seguimento que adotaria, tomou a dianteira de sua vida e saúde. "Um médico me sugeria passar pela biópsia e outro não. Fiquei duvidoso, mas optei pela biópsia”.

O resultado da biópsia foi positivo: Adenocarcioma em estágio inicial. Roberto, prático, resoluto, mesmo em meio ao ‘furacão’ do diagnóstico, partiu para ação. Consultou diversos oncologistas para decidir que linha terapêutica seguiria, e passou por cirurgia aberta. Como o câncer foi diagnosticado em estágio inicial, o engenheiro não realizou o tratamento adjuvante.

Ele lembra que ao sair da cirurgia, fez duas perguntas ao médico: "Vou ter incontinência? Vou poder fazer o bicho levantar de novo?!”, conta rindo. E os problemas logo se dissiparam...

"Quando consegui fazer xixi normalmente, me tranquilizei. Faltava o bicho ficar nervoso de novo! E ficou! Hoje, está tudo normal. Trabalho, viajo, sou feliz (...) Tudo normal”.
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